O advogado da palavra abalizada

Nos últimos dias, os holofotes da mídia estão apontados para a morte do torcedor nos arredores do Arruda, logo após o término do jogo entre o Santa Cruz e o Paraná.

Diante de tantos comentários, teses e opiniões, resolvemos fazer um bate-bola com o advogado Fred Dias, enfocando as questões jurídicas.

Fred já fez parte do Depto. Jurídico do Santa Cruz e dedica parte do seu tempo estudando Direito Desportivo. Sim, e lógico, ele é Santa Cruz de corpo e alma.

Segue a conversa:

– Qual o grau de culpa que o Santa Cruz Futebol Clube tem no episódio da morte do torcedor Paulo Ricardo?

É preciso separar as coisas. Existem neste caso três tipos de responsabilidades. A civil, a penal e a desportiva. A responsabilidade civil do clube, qualquer clube, neste caso é objetiva, independe de culpa, mas também são responsáveis a CBF e os dirigentes das duas entidades, conforme reza o Estatuto do Torcedor.

Na esfera penal, a responsabilidade é do autor do fato criminoso e daqueles que se omitiram na possibilidade de impedir que tal ato fosse praticado, de acordo com suas responsabilidades.

Nos dois casos acima, civil e penal, a justiça, através do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa é que definirá os culpados e as penas, não cabendo a nenhum de nós apontar qualquer tipo de responsabilidade neste momento.

No âmbito desportivo, que na verdade é um processo administrativo e não judicial diferente dos casos acima, a responsabilidade dos fatos ocorridos dentro do estádio é do mandante do jogo. O que a legislação desportiva prevê, entretanto, é que o mandante deve comprovar que atendeu a todas as exigências previstas na legislação para que a partida transcorresse e que em caso de tumulto, desordem ou lançamento, possa identificar os infratores para que se exima de sua responsabilidade.

– O STJD puniu preventivamente o Santa Cruz para dar uma resposta à opinião pública ou realmente há base jurídica e legal para punir o clube com dois jogos com portões fechados?

Na verdade não existe previsão na legislação ordinária da punição “portões fechados”. A lei Pelé no seu art. 50 é taxativa quando diz quais as punições que devem ser impostas no âmbito da justiça desportiva. Essas mesmas punições são previstas no Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que não é uma lei ordinária, mas uma Resolução do Conselho Nacional do Esporte, ou seja hierarquicamente é inferior à lei Pelé.

Na verdade a punição “portões fechados” existe no Código Disciplinar da FIFA, mas não existe na legislação brasileira.

Somente para as competições em 2014 a CBF passou a incluir em seu Regulamento Geral de Competições (um ato normativo administrativo interno da CBF) um artigo que recepcionava o Código da Fifa no tocante a possibilidade de punir com “portões fechados”.

Entretanto, isso é totalmente discutível no âmbito jurídico já que uma lei inferior não pode se sobrepor a uma superior hierarquicamente, nem podemos recepcionar legislações estrangeiras sem a chancela do Congresso Nacional.

Dessa forma, entendo que a punição dada de forma preventiva ao Santa Cruz, além de ilegal é uma antecipação de julgamento, sem direito de defesa e sem o devido processo legal, ferindo princípios constitucionais e certamente foi prolatada em virtude da gravidade da situação (a morte de uma pessoa) na ânsia de uma resposta rápida das autoridades competentes, sobretudo em virtude da ampla cobertura internacional da tragédia ocorrida.

– O Atlético Paranaense e o Vasco receberam alguma punição pela briga na última rodada do Brasileirão 2013 ou, como não morreu ninguém, o STJD fez vista grossa?

Ambos foram punidos rigorosamente. As penas só foram reduzidas após recurso ao pleno do STJD. O Vasco teve a pena reduzida de oito perdas de mando (sendo quatro com portões fechados) para seis mandos – três deles sem torcida. Já o Atlético, punido inicialmente com a perda de 12 mandos – seis com portões fechados -, teve a punição diminuída para “apenas” nove partidas – quatro sem a presença de torcedores.

O STJD também decidiu reduzir as multas aplicadas a ambos os clubes. O Vasco, multado em R$ 80 mil no primeiro momento, passou para R$ 50 mil. Os paranaenses, que inicialmente foram condenados a pagar R$ 120 mil, passou para R$ 80 mil.

Reafirmo o posicionamento, inobstante as punições acima, que ainda mais em 2013, não há previsão legal no ordenamento jurídico brasileiro para a punição “portões fechados”.

– Qual medida e quais argumentos o Santa Cruz precisa usar para reverter a punição do STJD?

Pelo que consta, o Santa Cruz foi denunciado nos seguintes artigos: 191 – inciso I; 213, I e III e parágrafo 1º e 211, caput, na forma do artigo 183 todos do CBJD.

O art. 191, inciso I, trata de “Deixar de cumprir, ou dificultar o cumprimento de obrigação legal” Nesse caso deve ser apurado na leitura da denúncia qual obrigação legal não foi cumprida ou teve seu cumprimento dificultado pelo clube.

A pena para a condenação neste artigo é multa de R$ 100,00 (cem Reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais), com fixação de prazo para cumprimento da obrigação.

O art. 211 trata de “Deixar de manter o local que tenha indicado para realização do evento com infra-estrutura necessária a assegurar plena garantia e segurança para sua realização.” A pena em caso de condenação é multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais), e interdição do local, quando for o caso, até a satisfação das exigências que constem da decisão.

Nesse caso deve ser apresentado pelo Santa Cruz, caso existentes, os laudos da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, CBF e demais órgãos que aprovaram e atestaram as condições do clube em realizar eventos no estádio.

Já o artigo 213, I e III, trata respectivamente de tumulto e (ou) desordem na praça esportiva e lançamento de objeto no gramado. Neste caso, a própria lei informa que “A comprovação da identificação e detenção dos autores da desordem, invasão ou lançamento de objetos, com apresentação à autoridade policial competente e registro de boletim de ocorrência contemporâneo ao evento, exime a entidade de responsabilidade, sendo também admissíveis outros meios de prova suficientes para demonstrar a inexistência de responsabilidade.”

O art. 183 apenas informa que quando o agente, mediante uma única ação, pratica duas ou mais infrações, a de pena maior absorve a de pena menor, ou seja, a pena maior é que deve ser cumprida, mesmo que o clube venha a ser apenado em todos os artigos.

De toda forma, como já mencionei acima, o grande problema é a gravidade do fato, pois estamos falando da perda da vida de um ser humano e da proximidade da copa, mas também entendo que o departamento jurídico do Santa Cruz é formado por pessoas competentes que saberão conduzir o processo da melhor forma para o clube.

 Qual o artigo da Justiça Desportiva Brasileira que prevê jogos com portões fechados?

Não existe essa previsão na legislação ordinária (lei Pelé) ou no Código Brasileiro de Justiça Desportiva, apenas no Regulamento Geral de Competições 2014 da CBF (que é um ato administrativo da entidade) que recepcionou a possibilidade deste tipo de punição conforme reza o código disciplinar da FIFA.

 Por que o Estado foi rápido em passar toda a culpa do episódio para o Santa Cruz? O que a Polícia deveria ter feito e não fez?

Penso que naquele momento e com todo o aparato policial, a polícia poderia ter ordenado o cerco ao estádio e solicitado a guarda patrimonial do clube que fechasse os portões e iniciasse uma varredura no mesmo.

Não há como de forma subjetiva adentrarmos no mérito do Estado passando a culpa para um ou outro, ou ainda, os motivos que levaram a polícia a não agir naquele momento do fato. Talvez o fato do Estatuto do Torcedor trazer as figuras dos responsáveis pela segurança pública e policiamento como figuras necessárias para elaboração do plano de segurança para o torcedor e a eventual responsabilização destas pessoas nas esferas civis, tenham levado a esse posicionamento, mas entendo que estas perguntas devam ser feitas às autoridades constituídas.

– O que a torcida pode fazer, neste momento, para ajudar o clube?

Muito tem se falado em torcedores entrando com ações contra a interdição preventiva, para garantir o direito de assistir ao jogo, mas neste momento, além da dificuldade de serem recepcionados no âmbito judicial local, esses processos certamente não teriam tempo hábil de serem julgados até a data do jogo.

No meu entendimento, neste momento a melhor forma é tentar mostrar nos meios de comunicação e nos jogos que a torcida do clube não pode ser equiparada a pessoa que praticou tal ato e procurar tentar afastar a mancha na imagem que ficou do clube no cenário nacional em virtude do fato praticado.

– E o Santa Cruz, pode “dançar” nessa história?

Creio que em virtude da gravidade da situação, a perda de uma vida, e pela proximidade da Copa, com todas as atenções internacionais voltadas ao Brasil, o clube deverá sofrer uma punição severa, nos moldes das sofridas por Vasco e Atlético Paranaense – que pode ser ainda maior se o clube não comprovar que cumpriu as exigências que a procuradoria requisita na denúncia ou identificar os infratores – principalmente no primeiro julgamento, sendo que no segundo a tendência é termos uma revisão da punição para diminuí-la. Mas penso que independentemente do clube vir a ser punido ou não, deve ser apurado a responsabilidade de todos os entes e agentes previstos no Estatuto do Torcedor e que passemos a exigir que todos os estádios do Brasil, não só o Arruda, sejam fiscalizados de forma mais rigorosa, para que eventos como esse não voltem a ocorrer.

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P.S. Na próxima sexta-feira, com novo layout e nova diagramação, estaremos de volta ao antigo endereço: www.blogdosantinha.com.br

Demagogia mata

Não recordo de outro dia em que o Recife acordou como no sábado, logo depois da morte do rubro-negro Paulo. As pessoas desta cidade, que já andam murchas, murcharam ainda mais. A vergonha era maior que o medo, a desorientação maior que a indignação ou a raiva.

Alguns disseram ser bizarro a pessoa morrer atingida por uma privada. Considerando onde e como o rapaz morreu, talvez sua morte tenha sido simbólica e não bizarra. Afinal a bacia sanitária que matou o rubro-negro Paulo poderia receber todas as políticas e ações tomadas em Pernambuco para conter a violência das torcidas organizadas. Eu escrevi em Pernambuco. Troco por Brasil.

Leis são aprovadas, medidas “urgentes” são tomadas, decisões judiciais são proferidas. O problema é que, quem aprova a lei, quem põe as operações em prática e quem assina a sentença não compreende absolutamente nada desse fenômeno social. Não compreende e não faz a mínima questão de entender.

Em 2009, a Assembleia Legislativa de Pernambuco aprovou a lei seca nos estádios. É para diminuir a violência nos estádios de futebol. Demagogia pura. A morte de Paulo, o ferimento de Lucas Lyra e os ônibus quebrados todos os domingos provam que essa lei fracassou, é inócua, não serve para nada. E quem a aprovou continua tomando uísque nos camarotes e nas tribunas em todas as partidas. A polícia não se mete com eles.

No mesmo ano, pouco antes da lei ser votada, um gênio da raça humana, o juiz Ailton de Souza, disse a seguinte besteira “o número de incidentes nas praças esportivas reduziu bastante com o fim das vendas de bebidas alcoólicas”. Ainda não li a opinião dele depois de tudo o que anda acontecendo por aqui.

Talvez as pequenas brigas entre sócios e as discussões entre um torcedor e outro tenham diminuído. Essas confusões localizadas, nem com muito pessimismo, poderiam ser caracterizadas como problema de segurança pública.

Algum desses deputados dirão: “Se não houvesse a lei, estaria pior”. Meu pai, debochado e cético, responderia: “Se minha mãe tivesse uma carreira de peitos, seria uma porca”. Os fatos demonstram apenas que a lei seca é inútil. Está claro que, o que move a violência nesses rapazes, não é a cerveja que o gasoseiro vendia. É outra coisa que nenhuma lei é capaz de impedir, só não sei o que é.

Não me arrogo a dizer que conheço as raízes desse fenômeno, mas não é difícil perceber que o problema é mais profundo, reflete-se no entorno do futebol é verdade, mas nasce nas comunidades da periferia, na vida vazia cheia de pequenas violências cotidianas. Às vezes me pego pensando que as velhas rivalidades entre garotos de ruas diferentes se transformaram nessa guerra. E que tudo desagua no futebol porque o futebol é, no Brasil e em boa parte do mundo ocidental, é válvula de escape, grande negócio, moda, mania, meio de vida, lazer.

Não, o Estado não precisa aguardar os teóricos para fazer alguma coisa. Não é isso. Só não dá mais para apostar em leis demagógicas e repressão, repressão e repressão. O Batalhão de Choque não tem a capacidade e não deveria ter os poderes para elaborar política pública para esse assunto.

Um magistrado pode ser tão demagogo quanto um deputado. O Tribunal de Justiça (sic) de Pernambuco proibiu os torcedores entrarem no estádio com camisas, faixas e símbolos de torcidas organizadas. Mais um investimento na pirotecnia e na inutilidade. Agora está mais difícil localizar quem é quem nas arquibancadas e nas gerais.

Se promotores, delegados e juízes sabem que organizações com CNPJ e advogados constituídos organizam quebra-quebras, arrastões, marcam brigas de ruas, armam tocaias para matar gente, porque nunca as investigaram para valer? Porque não apreendem os computadores em suas sedes? Porque nunca ouvimos falar de apreensões nas residências de seus dirigentes? Nem de escutas telefônicas ou ambientais aprovadas pela Justiça?

Provavelmente porque a Inferno Coral, a Torcida Jovem, a Fanáutico e seus iguais pelo Brasil afora não incomodam o privilégio dos donos do dinheiro. Por muito menos os movimentos sociais, que brigam por terra, por justiça social, por habitação e por direitos sofrem infiltração dos espiões dos serviços reservados, são criminalizados e sofrem tudo quanto é tipo de perseguição.

No dia em que uma torcida organizada lutar pelo fim do monopólio da Rede Globo nas transmissões de futebol , por transparência nas contas da federação ou por um processo democrático de escolha dos cartolas, aí sim, não vai sobrar pedra sobre pedra. No outro dia, vamos saber quem são os dirigentes das organizadas, quanto ganham, de onde vem o dinheiro, suas redes de ligações, o que eles comeram no jantar…

Enquanto esse dia não chega, tudo sobra nas costas da PM resolver na marra, na base do todos apanham e nada muda. O Ministério Público, a Polícia Civil, a Federal (sim, a PF, afinal torcidas de um estado são articuladas com as de outros times de outros estados, numa rede sem fim), os gestores de Segurança só se mexem “se provocados” ou se a merda virar boné, como agora.

Além do quê, é sempre fácil culpar os clubes.

Nos próximos dias, veremos vários senhores engravatados nos telejornais e nas páginas de opinião dos jornais. A mídia permanecerá histérica, mas só enquanto a morte de Paulo for notícia. Os porta-vozes das organizadas repetirão o porta-voz da PM e dirão que “a violência vem de elementos isolados e não a instituição”, mesmo que os elementos paguem mensalidades, viajem no mesmo ônibus, participem das festas etc.

Vai dar vontade de vomitar.

Blog de luto

Nós que fazemos o Blog do Santinha estamos de luto pelo assassinato de um jovem, vítima de um assassino, ontem, no entorno do Arruda. Um assassino foi capaz de jogar um vaso sanitário, de uma das áreas do estádio, em cima de pessoas inocentes.

Poderia ter sido qualquer um dos 8.039 torcedores que foram ao Arruda ontem.

Ou qualquer um que faz parte da família dos blogueiros aqui reunidos (e que estavam no estádio, ontem);

Gerrá Lima, sua esposa, Alessandra, a as duas filhas;
Inácio França e o cunhado, Paulo;
Samarone Lima.

Todos andaram no entorno do Arruda, ontem, e tiveram a sorte de não serem atingidos por um vaso sanitário, na cabeça.

Nós que fazemos o Blog esperamos que seja feita Justiça, com a prisão do(s) responsáveis. E torcemos para que mais uma morte de torcedor nos ajude a refletir e mudar esta realidade do futebol brasileiro.

A Emoção é Branca, mas é ruim demais ser destro

Texto enviado por André Batista. Leitor do Blog do Santinha. Frequentador do cimento do Arruda.

Se eu tivesse nascido no medievo, ao fazer meus primeiros rabiscos com a mão esquerda, chamariam vigário, padre ou cardeal para com a Santa Cruz em mãos, expulsar os demônios que faziam de mim, um sinistro. Somente na contemporaneidade, teóricos exorcizaram a ideia de espiritualidade associada à sinistralidade.

Coitado do meu tio Borges, que apanhou de Dona Iraci, lá pelas bandas de Jardim São Paulo, simplesmente por escrever com a mão esquerda.

Experimentei esta semana como é ruim ser destro. Imobilizei a mão esquerda após um entorse no polegar, neste mesmo dia, recebi o Vol 2 da Trilogia das Cores do Blog do Santinha.

Acordei no dia seguinte às 07 da manhã, já com o livro na mão e iniciei o descabassamento da obra.  Comecei a ler antes de dar aquela mijadinha matinal, 10 minutos depois, levantei-me com certa dificuldade para apoiar as mãos no chão e fui ao banheiro, ao fim da urinação, na tradicional balançadinha, foi mijo pra todo lado, tinha pingo na bacia, chão, no box, pense numa mão direita miserável. Voltei à sala, pensando no sermão que escutaria quando minha senhora acordasse.

Quando vi a capa do livro, lembrei-me de um dos encontros com  Samarone, quando estava em preparação para o lançamento de “ O Despertar do Gigante”.

Fui até o espaço Parságada, a casa da infância de Manuel Bandeira, era praticamente o quintal da casa dos meus pais, pois moram na rua da união há 30 anos e minha infância foi toda por lá, no nostálgico e apaixonante bairro da boa vista. Lembro de jogar barrinha em frente ao Pasárgada e um de nossos divertimentos era acertar a cabeça de Manuel Bandeira com a bola, o que não era tarefa difícil, mas tínhamos que correr bastante, quando um guarda patrimonial aparecia e gritava…”Maloqueiro Fiiii da rapariga”….. Aguardei um pouco na recepção e fui saber do Sama suas impressões sobre a leitura da obra, após dar mais voltas que a roda gigante da festa de São Cristóvão, me disse que faltava molho no texto, pensei que gastronomia literária não é pra todo mundo.

Meus textos são mais lentos que Raul, parece que joga com um saco de cimento nas costas e inflexíveis como Renan Fonseca, parece que engoliu uma vassoura.

Diferente dos textos destes poeteiros etílicos e estilísticos do blog, que fluem com a velocidade do Vitória de Alex Alves e a maestria do Palmeiras de Edmundo na inesquecível final de 93, indefectíveis.

Resta portanto a leitura de A Paixão é Vermelha, nesta saga em três cores, melhor que A queda do governador em The Walking Dead.

Faltam três dias para tirar o gesso, respirei aliviado quando fui ao caixa eletrônico, pois a mão direita era só o que  precisava, na leitura biométrica, para realizar o saque da grana do ingresso para Santa x Paraná, nossa primeira vitória, rumo a Série A.

Nóis sofre, mas nóis goza

Estudei com Bruno Cara de Vassoura. Gente da melhor qualidade. Tricolor coral Santacruzense das bandas do Arruda.

Em se tratando de futebol, para ele todo diretor é ladrão, todo jogador é cachaceiro e todo técnico é burro. Mulher de rubro-negro só fode com tricolor e o náutico é um time de moças.

Bom de bola, era titular absoluto no time do colégio. Jogava no ataque. Exímio cabeceador e chutava bem pra caramba com a canhota.

Numa partida pelos jogos estudantis, lá no campo da UFRPE, fez dois golaços. Foi contra o Salesiano, Marista, sei lá! Enfim, um desses colégios de padre. A gente perdia de um a zero e ele virou o placar. O primeiro gol, uma cabeçada certeira no ângulo. O segundo, uma cipoada de fora da área, daquelas que o goleiro não ver nem o azul da bola. Neste gol, Cara de Vassoura foi expulso porque comemorou mostrando o pau pra torcida adversária. Mas conseguimos segurar o jogo e vencemos.

O bicho era meio doido, impaciente e esparrento. E presepeiro, também.

Certa vez, num amigo secreto da turma do segundo ano, ele deu de presente a uma colega nossa, uma calcinha bem escrota com o escudo do Santa Cruz.

— Isto aqui é pra você usar quando a gente for campeão! – ele disse querendo ser carinhoso.

A garota jogou a calça no chão e foi uma confusão dos infernos. A menina não gostou da brincadeira. Nem lembro o nome dela e não sei se ela torcia pelo Santa.

Mas Bruno era estudioso. Até passou no vestibular. Foi cursar Engenharia Cartográfica, depois mudou para Administração de Empresas. Eu fui para o curso de Ciências Econômicas. Quase sempre a gente matava as aulas da sexta-feira e tomava uma no Abacaxi.

Fazia tempo que eu não via Bruno Cara de Vassoura. A última vez, se não me falha a memória, foi na saída do jogo contra o Betim, no ano passado. Falei rápido com ele.

E não é que ontem, eu encontrei aquele sujeito!

Era perto das quatro da tarde. Fui resolver uma bronca em um cartório na Siqueira Campos e por obra do destino, dou de cara com Cara de Vassoura. A mesma barba, o mesmo bigode, meio careca e mais gordo.

O mesmo esparro de sempre.

— EI TRICOLOR! Tás perdido? – ele falou chamando a atenção de todo o cartório.

Me deu um abraço.

— Diz aí, Cara! Tás bem? Novidade boa. Tens feito o que da vida? – eu perguntei.

Cara de Vassoura se separou, tem mais ou menos três meses. Depois de quase dez anos de casado. Enquanto organiza as coisas, está morando na casa da mãe.

— Tou na casa de mamãe. O perigo sou eu me acomodar e ficar por lá. – ele sorriu.

E fomos por ali, pelos arredores do Diário de Pernambuco. A Praça do Diário, a Igreja de Santo Antônio, a Dantas Barreto, a 1º de Março, a Duque de Caxias, as putas, os crentes. Caminhamos até o Pátio de São Pedro, sentamos numa mesa e pedimos uma cerveja. Era perto das seis horas da noite.

— Meu velho, e o nosso Santa Cruz? Eu não imaginava nunca que o time iria decepcionar desse jeito. – eu disse.

— Fale não. Mas tu não sabe, fui bater em Caruaru, na decisão da Copa do Nordeste  -tomou um gole e continuou – tou com uma figura por lá. Vinte e sete anos, separada também. Implorou para eu ir ver o jogo por lá. Meu amigo, a tal da boceta é um negócio que vicia. Eu nem sabia que ela gostava de futebol e muito menos que era rubro-negra. Só sei que passamos a noite fazendo amor. Mas depois da final do estadual eu dispensei. O negócio tava ficando complicado. A figura tava querendo exclusividade.

Lembramos de uma vez que ele, numa calourada da Universidade, só pra se agarrar com uma boyzinha do curso de Odontologia, jurou que torcia pela barbie.

Bruno Cara de Vassoura é um sujeito sacana.

Conversamos outras amenidades. Pedimos a saideira.

Ele tomou o rumo da estação do metrô. Eu me mandei para o lado da Avenida Guararapes.

Nunca mais eu havia andado pelo centro da cidade.

A tabela, o melhor antidepressivo

Aos que ainda estão choramingando a eliminação da Copa do Nordeste e da final do Pernambucano, aos que acham que estamos no pior dos mundos, que as coisas estão péssimas, que tudo está ruim, que estão com aquela conversa fiada de que só vão voltar ao Arruda por algum motivo muito especial, eu dou uma sugestão prática – pegue a tabela da Série B, puxe a sua agenda para o lado e vá anotando, semana após semana, os jogos do Santa Cruz, no Arruda e fora.
Vai durar meia hora e a depressão vai passar na hora.
Foi isso o que fiz sexta-feira, antes mesmo do jogo contra os portugueses de desportos. Anotei com caneta todos os jogos e horários. Senti um alívio tremendo.
Pela primeira vez, desde o longínguo ano de 2008, quando fizemos a estreia na Série C, estamos de volta a um campeonato nacional com 38 rodadas. Foram sete anos na base de poucos jogos e mata-mata, pouco dinheiro, fora da TV, com uma sortezinha de transmitirem a Série C pela TV Brasil.
Trinta e oito rodadas, porra!
Nós comemos o pão que o diabo amassou, jogamos contra times que nem lembro o nome, viajamos feito uns doidos em carreatas de desepsperados, passamos por humilhações as mais terríveis, vimos o fundo do poço e o pós-fundo-do-poço e agora fica esse faniquito?
Olhe sua agenda de 2008.
Lembra que nós fomos eliminados na segunda fase da Série C?
E que beijamos a lona na Série D? Tem coisa pior que isso?
Pois pegue a tabela da Série B e veja o que nos espera, ao longo do ano. Dois jogos por semana, às terças e sábados.
Vamos ao caso de maio, o singelo maio, mês das mães.
Na véspera do meu aniversário (2/05), sexta-feira que vem, pegamos o Paraná, no Arruda (21h).
Dia 10 de maio (sábado), pegamos a Luverdense, às 16h20.
Dia 17 de maio (sábado seguinte) vamos ao estádio Mauro Sampaio, pegar o escrete do Icasa.
Dia 20 de maio (terça), vamos ao estádio Dos Amaros, enfrentar o Oeste.
Dia 23 de maio (sexta), 19h30, pegamos o America-MG no Arrudão.
Dia 27 de maio (terça), vamos ao estádio Dilzon Melo, encarar o Boa Esporte.
Dia 30 de maio (sexta), encaramos a Ponte Preta, no Arrudão.
Ou seja: Em um mês, é bem provável que tenhamos mais jogos pela Série B do que em toda a Série C de 2008.
Eu poderia copiar a tabela inteira, para os deprimidinhos corais verem o tamanho do buraco que saímos (e o tamanho do desafio que nos espera), mas não sou corno para gastar uma hora e meia anotando nome de estádio, de clubes adversários e horários.
Sim, perdemos duas semifinais para o principal adversário, que tem dinheiro para contratar e descontratar, que tem uma infraestrutura fuderosa, que só o departamento de marketing deve gerar mais receita que nossos ingressos, mas eles, até outro dia, estavam aí engasgados, doentes, alarmados e infelizes com o tri-vicecampeonato (dois deles em casa) para um clube à beira da falência que foi o Santa Cruz. Toda entrevista ou reportagem vinha com os dois bordões: “desde 2010 não ganhamos nada”;”estamos engasgados com o Santa Cruz”; “desde 2010 não ganhamos nada”; “estamos engasgados com o Santa Cruz.
*
Durante o ano de 2014, você, torcedor coral, vai ter jogo no São João, no aniversário do filho, no batizado do sobrinho, no dia do noivado, no Dia das Crianças, nos 50 anos de casamento do sogro, na formatura do sobrinho, na véspera de Finados, vai ter hora que sua mullher vai dizer:
“Esse campeonato não acaba nunca?”
Nessa hora, você vai dar um sorrisinho e lembrar do pesadelo que viveu.
O último jogo do Santa pela Série B será dia 29 de novembro, no Serra Dourada, contra o Atlético/GO.
O que temos a fazer é sair dessa letargia, achando que estamos no pior dos mundos, cobrar contratações, pressionar a diretoria dentro dos moldes legais, ir a campo, levar nossa turma, pegar o manto coral, a bandeira e dar a volta por cima.
Outro dia éramos tricampeões, tiramos onda, curtimos, tomamos todas com os amigos, mas o futebol é assim mesmo, ele dá voltas e rasteiras.
Poderíamos ser tetracampeões, mas não fomos. Paciência. Os caras fizeram (e bem) o dever de casa.
Pegue sua tabela. É melhor que antidepressivo. Em alguns casos, melhor que Viagra.

Quando pior melhor?

Sem rodeios, vou direto ao ponto: o único resultado do “protesto” de ontem foi destruir o imenso patrimônio imaterial construído com o esforço de milhares de apaixonados que lotaram o Arruda “n” vezes em 2013. A valiosa mística da torcida apaixonada sofreu um imenso revés. De uma hora para outra, a torcida coral lançou-se à vala comum dos trogloditas de tantos clubes pelo mundo afora.

O estrago foi muito maior do que a porta do vestiário ou algum eventual arranhão no carro do presidente. Prejuízos são grandes demais para serem enxergados a olho nu.

O mais incompreensível é que o tal “protesto” foi completamente desproporcional aos fatos que o geraram.

Encurralar diretores, berrar gritos de guerra, ameaçar jornalistas, arrombar portas, invadir vestiários porque o time de futebol foi eliminado de duas competições, de forma justa diga-se de passagem? Porque dois ou três jogadores demonstraram incapacidade de suportar pressão, o que é comum quando se fala de seres humanos? Porque os rubro-negros estão greiando da nossa cara? Vamos convir, quem não quiser ouvir graça por causa de futebol, é melhor dedicar-se apenas à seleção brasileira. Ou ao tricô.

Tudo o que aconteceu com o Santa Cruz faz parte do futebol.

O time andava de salto alto no início do semestre? É verdade, mas a torcida também estava tão intragável quanto rubro-negros. Pelo jeito, a queda do salto desnorteou a todos.

A diretoria confiou e concedeu poderes em demasia ao ex-treinador? Pode ser, dizem que sim. Mas a torcida também o idolatrou, jurando de pés juntos que um nó tático estava prestes a ser dado em todos os adversários da terra e do céu.

A comissão técnica e os diretores de futebol erraram em contratar pouco e mal? Com certeza, mas em janeiro nós torcedores éramos capazes de morrer jurando que Caça-Rato e Renatinho resolveriam todos os nossos problemas.

Eu fiquei arretado com as derrotas. Todos ficamos. Qualquer torcedor fica. Mas no mundo do futebol, isso se resolve com estádio vazio, vaias de arrombar, faixas raivosas, críticas descabeladas, exigências ululantes. E pronto.

O novo treinador não é o dos meus sonhos. Não, não é. Eu preferia Pep Guardiola – também não vou com a cara de Mourinho. Mas só vou largar pau no teclado para criticá-lo depois que ele botar o time em campo. Aqui no meu canto, fico lembrando de Cuca e Paulo Autuori e espero pelo que virá.

O que Cuca tem a ver com isso? Quando ele foi para o Atlético Mineiro diziam que ele não ganhava nada, era um chorão e que Ronaldinho Gaúcho iria comê-lo com farinha. Ganhou a Libertadores. Paulo Autuori, ao chegar no mesmo Atlético, era um gênio, sempre foi um gênio, um lord, uma mistura de Einstein com Yves Saint-Laurent. Foi demitido essa semana.

Sérgio Guedes não deu certo em canto nenhum? E eu com isso? Só quero que ele dê certo no Santa e que se lasque em tudo que é clube que vier a treinar depois.

O “protesto” de ontem, principalmente da forma como aconteceu, foi completamente fora de tempo, fora de lugar. Reparem que escrevi protesto três vezes entre aspas. Sou de um tempo em que protesto tinha objetivos claros, era estratégia definida e reivindicações a serem apresentadas.

Os pirralhos que puxam esse tipo de coisa pelas redes sociais devem ter uma auto-imagem semelhante a de um Che Guevara, um Emiliano Zapata, um Ho Chi Minh, talvez um Mandela, só para ficar nos melhores. Ninguém se enxerga como um tonto raivoso e inconsequente. Dói se enxergar assim.

Ontem, eles conseguiram colocar a raiva para fora, enfrentaram um presidente de clube – fosse presidente um daqueles outros, teriam levado porrada em cima de porrada e só iriam ver jogo nas gerais com medo de apanhar mais durante as partidas – mas não perceberam que não tinham o controle de nada.

Oportunistas pegaram carona e fizeram discursos. Uma gangue apareceu para dar porrada e apostar no quanto pior melhor. E agora, devem estar por aí arrotando que fizeram alguma coisa e não ficaram calados. É verdade, mas o resultado foi só um e, como no facebook ninguém faz autocrítica ou avalia os próprios atos, forneço de bandeja no primeiro parágrafo desse texto, o resultado alcançado.

Post scriptum longo: Li nos jornais e portais que os jornalistas já identificaram os vilões encapuzados. Para eles, são os de sempre: as torcidas organizadas. Pra que pensar ou investigar, se há vilões fáceis sempre a mão, sempre odiados pelas pessoas de bem. Eu, um ex-repórter de polícia cada vez mais chato e enjoado de ler besteira, me dou direito a um questionamento: porque a torcida organizada iria entrar no clube encapuzada, mascarada e com capacete de motoqueiro, se eles sempre enfrentam a Tropa de Choque de cara descoberta? Porque cobrir a cara, se aparecer no jornal rende pontos para eles entre seus iguais?

Notícias para Samarone

Samarone, cabra bom! Voltei!

Não sei se Inácio já retornou. Sexta-feira ele telefonou pra mim, todo animado. Estava na 232, indo para um hotel fazenda na região do Agreste.

Eu saí do Recife já na quinta-feira.

Juntei a família, entupi a mala do carro de comidas, bebidas, roupas, ventilador e brinquedos, pendurei duas bicicletas na traseira do veículo e me mandei para praia.

Peguei leve na noite da quinta, apenas um vinhozinho e uns petiscos com a patroa!

Mas na sexta, enfiei o pé. Incentivado pelo marido de uma prima minha, entrei na aguardente. O sujeito é lá de Santa Cruz do Capibaribe e é daqueles que tem a cachaça como bebida preferida, depois vem o uísque e por último a cerveja.

Passavam das 10 horas, quando chegamos à praia. Mal sentei e ele foi pedindo uma cerveja e um quartinho de cana. Eu ainda tava sentindo o gosto da vitamina de banana que havia bebido no café da manhã.

No começo, peguei leve. Só que o miserável saboreava a Pitú e vez por outra, lavava a goela com um copo de cerveja. Fui entrar na onda do fela-da-puta e quase me lasco. Minha sorte foram os mergulhos e uns caldos que levei das ondas do mar. Puxei o freio de mão e fiquei só na cerveja pelo resto do dia.

Voltamos pra casa e aí, puxei do frei de mão. Fiquei só na cerveja pelo resto do dia. Tacamos um pen-drive cheio de bregas e forró, e ficamos bebendo e comendo.

E sabe quem tava?

Parral.

Meu amigo, pense que o bicho bebeu e comeu! Eu tenho pra mim que o estoque de tomates acabou naquela tarde.

E tu não sabe da maior, não é que no sábado resolvi ir pro jogo no Arruda.

Liguei pra Claudemir oferecendo carona e ele topou ir junto. Arrastei meu pai e o marido da minha prima, também. Fazia mais dez anos que eles não iam ao nosso estádio.

Pois é, meu amigo! Fui ver o último jogo da era Vica.

Vou lhe dizer, não fosse o futebol um esporte tão dinâmico e cheio de surpresas, eu apostaria que o Santa Cruz e o ABC iriam brigar pra ver quem chegava em último lugar nessa seribê.

E lhe digo mais, pelo que vi, se a gente não descer, eu já me dou por satisfeito.

Pra não dizer que foi de tudo ruim, o garoto Raniel mostrou serviço. O bicho só precisa pegar mais uma musculaturazinha e um pouco mais de experiência. Mas o menino tem futuro.

Voltando para praia, depois que deixei Claudemir, pelas ondas do rádio eu ouvi Vica entregando o cargo. Na hora que ouvimos, meu pai foi prático e objetivo: “rapaz, com esse time, não tem treinador que dê jeito. Precisam trazer uns seis jogadores que saibam jogar bola”.

Bom, hoje eu fiquei sabendo que contrataram Sérgio Guedes e trouxeram Sandro Barbosa de volta.

Tomara que dê certo.

Mais tarde vou para decisão do terceiro lugar.

Quanto ao que vem pela frente, eu só digo uma coisa: quem for de beber, beba! Quem for de rezar, reze!

Recolhendo os escombros

Amigos Inácio França e Gerrá Lima;

Não sei por onde vocês andam, nesta segunda-feira, feriado de Tiradentes. Creio que em alguma praia com a mulher e os filhos ou tomando umas com os amigos. Pela quantidade de comentários a serem liberados no Blog do Santinha e pela última crônica, postada dia 15 de abril, vocês realmente perderam a paciência.
Pois bem, amigos, tenho uma nova. O treinador Vica agora é ex.
No sábado passado, após o empate melancólico com o ABC (o gol deles foi de Dênis Marques, vejam que ironia), finalmente ele passou na sala da diretoria e disse o óbvio – “não dá mais”.
O que mais lamento, meus amigos, é que o homem chegou com o time muito mal na Série C, deu um tranco, um freio de arrumação, o famoso “só joga quem treina bem”, e embalamos.
E fomos campeões da Série C.
Depois disso, amigos, mergulhamos num desastre.
Porque um time de futebol pode perder tudo, menos a alma. O Santa, nos últimos jogos, não era nem a sombra daquele time de guerreiros que tantas alegrias nos deu, durante três anos. Perdeu a alma. Depois de muito tempo, vivemos um pesadelo trágico – um Santa Cruz com medo de ir ao ataque, de ganhar jogo, sem arrojo. Sem a alma, não há como ter coragem. Sem coragem, o sujeito é humilhado até na liga de dominó.
Nosso time ficou burocrático como uma repartição pública, funcionando a base de máquina de datilografia e carimbo. Faltou pouco para os jogadores escreverem um ditado antes de cada jogo, com a frase “proibido se arriscar” ou “nada de assustar o adversário”.
Nossa maior desilusão era olhar para Catatau, sonhando com mudanças no time que todos sabiam quais eram, e nada.
Nunca Roberto Carlos foi tão citado.
“Perdemos nos detalhes”.
“Eles venceram num detalhe”.
“Clássico se perde no detalhe”.
Pois é, caros França e Gerrá. Estamos ainda recolhendo os escombros. Eliminação da Copa do Nordeste e do Estadual. Tudo bastante dolorido, sofrido. Onde estão Natan, Renatinho, Everton Sena? Onde estão os jogadores? O outro, que bateu o pênalti errado, ficou deprimido. Mas ele vai buscar o salário integral ou não?
Não fui ao jogo do sábado. Ausência absoluta de vontade. Não li resenhas, não escutei rádios, nada vi na TV.
Demoras, no futebol, são fatais.
Nisso, nosso principal rival é muito eficiente. Se tivessem perdido três partidas seguidas para nosso time, o técnico teria sido demitido depois do jogo. Era o que deveria ter sido feito. Mas vocês sabem como as coisas funcionam no Arruda…
Aguardo o retorno de vocês para ver se animamos o espírito da massa coral. A sorte é que essa massa tem o dom de dar a volta por cima por qualquer alegria mínima.
No momento, não tenho a menor idéia de qual seria esta alegria mínima.

Faltou dignidade e sobrou covardia

A frase que mais se encaixa para vergonha de domingo, é uma que foi dita por Vanderley Luxemburgo: o medo de perder, tira a vontade de ganhar!

Senhores, eu não lembro a vez que vi o Santa Cruz se apequenar tanto num jogo de futebol. Nem no auge das retrancas de Givanildo Oliveira, muito menos nos esquemas defensivos de Zé Teodoro.

Vica conseguiu superar estes dois treinadores.

Para mim existe uma diferença grande em jogar recuado e jogar com medo. Domingo, fizeram a opção por jogar com o rabo entre as pernas, como cachorro vira-lata da mais baixa categoria.

A história foi tão exagerada, o medo de jogar foi tão grande, que o zagueiro Renan Fonseca, perto dos 35 minutos da primeira etapa, levou amarelo por estar catimbando.

As substituições feitas pelo treinador indicam o seu temor. Inácio no outro texto, com categoria pontuou as mudanças.

Ficou evidente até para os deficientes mentais que ele, o medroso e limitado Vica entrou exclusivamente para empatar.

Como bem disse Esequias Pierre num e-mail enviado pra mim, o time e o treinador foram convardes.

Domingo passado nosso esquadrão foi formado por uma porção de frouxos, anêmicos de medo, que colocaram os cus na parede e ficaram se borrando no gramado. Tudo devidamente orientado e ensaiado pelo comandante, o treinador.

Ouvir o treinador dizer ao final do jogo de ontem que perdemos por um detalhe e que tudo estava perfeito até levarmos o gol é ter a assinatura de Vica, com firma reconhecida, para a mediocridade que vimos na tarde deste domingo.

Antes o time titular tivesse ido jogar no meio da semana, no interior de Sergipe, pela Copa do Brasil. Só assim não teria tido tempo suficiente de treinar e assimilar esse esquema fundamentado no medo.

Não meus amigos, não somos acostumados e não compactuamos com a covardia.

O Santa Cruz sempre foi conhecido pela superação. Nossas vitórias e conquistas têm alma. Nossa história é calcada na raça.

A covardia não faz parte da nossa cultura. A covardia nos envergonha. Nos deixa com raiva.

Faço minhas as palavras escritas por Dimas no Blog Torcedor Coral, nós torcedores do Santa Cruz não temos vergonha de derrotas. Nós ficamos indignados é com postura covarde.

O medo de ganhar banha nosso coração de ira.

Foi por isso que meu pai, um senhor pacato, no auge de seus quase oitenta anos, ainda nos primeiros minutos do segundo tempo, chamou raivosamente os jogadores de safados e o treinador de frouxo. E previu o que o mais incompetente dos profetas teria a capacidade de prever: se continuar assim, vai levar um gol.

Thiagão, presidente de honra da Troça Minha Cobra, por motivos banais, inconscientemente descarregou seu ódio na namorada. Quase foram as tapas. Quase acabam o namoro.

Gilvan, gente da melhor qualidade, amigo meu, um sujeito da paz, me confidenciou que nunca havia tido vontade de matar alguém. Ontem, sentiu vontade de atirar em Vica e de enforcar alguns atletas.

Artur, nosso estagiário de contabilidade definiu Vica de fuleiro. Paulo, zelador do condomínio, chamou Vica e jogadores de sebosos.

Toda esta revolta tem explicação: a forma medrosa e covarde que o nosso time jogou ontem.

Só espero que Antônio Luiz Neto, Tininho e Jomar sejam tão torcedores quanto nós e que tenham tido a capacidade de enxergar o que todos os espectadores viram ontem: que Vica e alguns jogadores não tem dignidade para vestir nossa camisa.