Vamos nessa! Domingo tem jogo, telão e escolha do samba-enredo do Centenário Coral na Galeria do Ritmo!

Amigos corais, o domingão promete.

A eficiente redação do Blog do Santinha apurou que no próximo domingo, às 18h, após a vitória do Santa Cruz contra o escrete do Betim, na quadra da Escola de Samba Galeria do Ritmo, no Morro da Conceição, haverá a finalíssima para a escolha do samba-enredo da escola, que terá como tema o Centenário do Santa Cruz.

Segundo o presidente da escola, Reinaldo Santos, a turma do Morro está eufórica com a escolha do tema para 2014. Ele detalhou a programação, que será a seguinte:

16h: Santa X Betim (com telão, cerveja e tudo o mais);

18h: Leno Galeria e seus convidados (para tocar fogo na massa coral);

20h: Bateria Nota 10 e o concurso (última etapa).

Concorrem os compositores: Nininho, Uita e Bibo.

Entrada franca!

Fomos informados há pouco que o senhor Gerrá Lima, editor e cronista deste Blog, foi convidado para ser um dos cinco jurados! Como carnavalesco, diretor de troças as mais diversas, deve ser um eficiente jurado mesmo.

A Galeria do Ritmo fica na rua Belarmino Henrique, 147, Morro da Conceição, logo após a sede do “Acadêmicos”.

Todos convidados.

Ps. O presidente pediu para o Blog anunciar  que no sábado, a partir das 22h, haverá a Terceira Festa do “Gayleria”. Fica o registro.

Entre na justiça você também

Virou zona. Virou não, sempre foi. Pelo menos agora não cabe mais a hipocrisia nem a pose dos cartolas.

Era balela aquele lenga-lenga que clube de futebol não pode nunca jamais entrar na justiça comum e, se entrar, a confederação do País é suspensa pela FIFA e bye bye. Antes, eram grupos de torcedores que entravam com as ações. Acabaram os disfarces.

Já que um juiz de Campina Grande pode determinar quais times podem ou não podem participar de um campeonato e outro de Betim, já no fim de expediente e prestes a ir para casa bota um papel em cima das coxas e assina uma decisão ignorando as regras de quem organiza o campeonato, tá valendo tudo.

Por isso, o departamento jurídico do Blog do Santinha resolveu, para colaborar com os clubes bicolores de Pernambuco e outros times de outras terras, sugerir algumas petições judiciais que poderão ser feitas em qualquer comarca deste Brasil varonil.

Sugestão jurídica para a coisa: com base na lei 9.605/98, os advogados da praça da Bandeira podem tentar anular as três lapadas que levaram do Santa Cruz na Ilha do Retiro em 2011, 2012 e 2013. Basta alegar que o Santinha desrespeitou o artigo 32 dessa lei que protege os animais. O artigo diz que é crime “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”. Animal exótico, o leão. Domesticado, o boi.

É botar na Justiça e no outro dia a polícia vai no Arruda tomar as taças. Se o advogado rubro-negro solicitar é capaz do meritíssimo obrigar Tiago Cardozo a jogar com uma venda nos olhos e de costas para o campo.

Sugestão jurídica para a coisa-rosa, ex-barbie: Como os torcedores alvirrubros vivem tentando ser amigos dos tricolores e são sempre repelidos com piadinhas e gozações as mais variadas, os causídicos alvirrubros podem alegar que a torcida do Santa Cruz está infringindo a lei 4.837 de maio de 2012, a lei do bullying.

Afinal, não é de hoje que a tricolozada pratica intencionalmente e de maneira continuada, de índole cruel e de cunho intimidador e vexatório, todo tipo de sacanagem contra o time de São Lourenço da Mata.

Na Paraíba não vai faltar juiz para bater o martelo e determinar que o Santa Cruz vá jogar o campeonato sergipano.

 

Se até Jesus está puto, sairemos dessa!

 

Vamos por partes, como diz o esquartejador.

O Santa se classificou em primeiro lugar no seu grupo, após uma luta brutal.

Jogaria neste sábado (19) contra o escrete do Betim-MG, no interior de Minas.

A FIFA exigiu a punição para o Betim. Seis pontos a menos na classificação. Rolos envolvendo grana. O Betim foi punido e perdeu a vaga para o Mogi-Mirim.

Tudo mudou. nosso jogo foi remarcado para segunda-feira (21), contra o Mogi-Mirim, no interior de São Paulo.

Dezenas, centenas de torcedores, que tinham gasto uma grana, para viajar a Betim, ficaram no prejuízo. Teve ônibus que voltou da Bahia.

Há pouco, as rádios informaram e que o Betim consegui liminar, na Justiça Comum. É o dono da vaga que foi do Mogi-Mirim por algumas horas.

Somente segunda-feira saberemos nosso destino – e olhe lá.

Mas há algo novo no ar.

Vi na TV, hoje, o Jesus Cristo Coral no saguão do Aaeroporto dos Guararapes!

Estava com aquela coroa de espinhos cravada na cabeça, os cabelos descendo aos ombros, a roupa de quem está pregando no meio do deserto de imbecís da CBF.

E notei algo. Jesus estava puto da vida. Invocado. Indignado. Por muito pouco, não soltou palavrões ao vivo, no horário nobre.

Do alto da minha prosopéia, ouso dizer que esses clubes podem fazer o diabo por debaixo dos panos, em comarcas do interior, usando advogados no lugar de centroavantes, procuradores no lugar de laterais, intimações no lugar de lançamentos, força política no lugar de divididas na bola, sentenças no lugar de gols – mas o fato concreto, evidente e cósmico é simples – nós vamos jogar bola e vamos classificar, dentro das quatro linhas.

Anotem em seus caderninhos: estamos vivendo nossos últimos minutos na Série C.

Amigos, se até Jesus está puto, sairemos dessa!

Mogi-Mirim x Santa na segunda feira! Ou: A “Poliesculhambose” do futebol nacional e “A constatação do óbvio”.

A Poliesculhambose do futebol nacional

Amigos corais, o futebol nacional continua uma poliesculhambose (múltipla esculhambação).

Acabamos de saber, por fontes diversas, que a CBF desclassificou o escrete do Betim do mata-mata da Série C, contra o Santa Cruz, colocando em seu lugar o escrete do Mogi-Mirim. Não vale a pena explicar agora a confusão. O mais importante é refazer as agendas e o psicológico.

O jogo foi remarcado para segunda-feira: Mogi-Mirim x Santa Cruz, em Mogi.

Ou seja, quem pretende viajar para ver o Santa em campo, mude a passagem com urgência.

Nossa valorosa equipe de repórteres do Blog do Santinha já está em campo, fazendo o levantamento sobre o próximo adversário, estatísticas, local do jogo, esquema tático e a repercussão na preparação do Mais Querido.

Quem souber de mais novidade, pode colocar nos comentários.

Abaixo, segue a mini-crônica escrita por este que vos fala.

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A constatação do óbvio

Abro o Diário de Pernambuco de hoje, vejo as manchetes, tragédias, coisas da política, a rotina de derrotas de barbie, até que reparo ao pé da primeira página uma pequena manchete:

“Fanatismo”

Leio o textinho logo abaixo:

“Pesquisa mostra que o torcedor do Santa Cruz está em quarto lugar lugar no ranking dos mais fanáticos por seu time do coração”.

Corro para a página 4, pego um café e vou aos detalhes.

Vai um resumo.

A “Pluri”, uma consultoria nacional, resolveu medir o grau de envolvimento de um torcedor com seu clube. Entrevistou 10.545 pessoas, em janeiro de 2012, em todo o Brasil, pedindo que dessem apenas uma resposta para a relação com seu time. As opções eram:

(x) Fanático

(  ) Torcedor

(  ) Simpatizante

(  ) Indiferente

Pois bem. O Santa Cruz Futebol Clube, o nosso Santinha, cravou o quarto lugar na pesquisa, no que se refere à autodefinição “fanático”.

Ficamos atrás do Grêmio, Internacional e Atlético-MG.

Deixamos para trás clubes milionários como Corínthians de Regatas, Flamengo, Palmeiras, Vasco, Bahia, Vitória, São Paulo, Botafogo, Santos e Fluminense. A coisa também foi citada na pesquisa, bem como a barbie. Todos bem distantes do Mais Querido.

Mas isso não importa. Aqui é o Blog do Santinha, quem quiser que crie seu blog para falar de seus respectivos clubes.

No final das contas, o que eu tenho percebido nessas pesquisas sobre futebol e sobre o Santa Cruz é que elas simplesmente constatam o óbvio.

Até os mortos sabem que temos uma torcida fanática e a mais apaixonada do Brasil. Inclusive, acho que se colocassem o ítem “apaixonado” na pesquisa, o Santa iria para o topo da tabela. Eu, particularmente, prefiro a paixão ao fanatismo.

De formas que só nos resta invadir  a Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, para empurrar nossos atletas rumo à vitória.

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Milagres acontecem

A diretoria do Santa fez uma ação de marketing, acreditem. Lançou a promoção “Décimo Segundo Jogador”.

É o seguinte: Quem for sócio (e estiver em dia), deve acessar o site oficial do clube, preencher um cadastro e mandar uma frase. A mais criativa dará direito a passagens, traslado, ingresso para o jogo contra o Betim, além de hospedagem junto com a comissão técnica e jogadores. Vale até 18h de hoje. O resultado será divulgado amanhã, 10h.

Vamos lá, galera, mandar uma frase sobre o Mais Querido!

Já tenho até uma, dita por minha mulher, na muretinha do Arruda:

“Ei Santa Cruz, venha para a luz!”

Mas eu dificilmente sou um sócio em dia.

A Raça é ser Santa Cruz

Ela vem de todos os lados.

Dos Altos. Dos baixios. Dos arredores. De longe.

Desce dos Córregos. Sai dos prédios. Empunha a bandeira. Veste a camisa.  Atravessa esquinas. Cruza estradas. Corre. Anda. Pula. Balança.

A Raça está ali.

Em cima. Embaixo. Atrás. No meio. No aperto da multidão. No riso inocente da criança. Em pé. Sentada. De frente.

Está na fé. Nos dedos cruzados. Nas mãos levantadas para os céus. Nos olhos fechados. Na promessa.

Tá No medo. Nas unhas. Na fumaça do cigarro. Na agonia. Na ansiedade dos que acreditam.

Tá no batuque do coração. No som que circula. Na energia que contamina.

Nas lembranças. Na esperança.

Nos que estão por perto. Nos que estão à quilometros.

A Raça ataca. Defende. Dribla.

Ela está no passe. No toque. No lançamento. No gingado do atacante. No pique. Na cara feia do zagueiro. No voo. No grito. No aquecimento. Na dor. No arremesso. Na queda.

A Raça é o carrinho que destrói. O empurrão de corpo. O bico da chuteira.

É o cruzamento na área. O chutão. O erro. O acerto.

O impedimento. A falta cometida.

Está no tiro certeiro. Na bola estufada na rede. Na explosão do gol. No sangue que escorre pelas veias. Na comemoração.

A Raça vem em lágrimas. Soluça de alegria. Chora. Abre o sorriso. Grita. Festeja. Canta. Aplaude. Abraça. Beija. Enlouquece. Transborda.

No balé das camisas que voam no ar, no sobe e desce do bandeirão, no tremor da arquibancada, está a Raça.

A nossa Raça não tem peso. Não tem tamanho. Não é rica. Não é pobre.

É nua. Anda descalça. Usa camisa. Veste saia. Calça tênis. Sandália. Tamanco.

A Raça tem cor.

É Preta-branca-vermelha.

A Raça, a nossa, não se pede. Não se dá. Não se compra.

Nossa Raça brota.

A nossa Raça é ser Santa Cruz.

Os Russos e Nós

De Moscou. Acabo de sair do escritório da Macmillan de Moscou, onde tive uma reunião desastrosa com um grupo de editores russos, para caminhar na praça vermelha do Kremlin, espraiar a cabeça e pensar nas últimas linhas que estou escrevendo para a introdução do próximo volume da Trilogia das Cores. Decidi escrevê-las em Moscou por dois motivos: o primeiro, a insônia; o segundo, a psicologia. Vamos aos fatos.

Desde que cheguei aqui, comecei a prestar atenção no comportamento dos russos. Por exemplo, numa reunião de negócios, os anfitriões normalmente se entreolham com sarcasmo durante o momento em que você fala. Em termos de etiqueta, este é o pior sinal, pois ao mesmo tempo que intimida o convidado, o impede confrontá-los sem parecer desrespeitoso. Dirigi um elogio a uma funcionária que acabava de fazer aniversário. Falei simplesmente: “bem-vinda aos trinta!” Ela retrucou num inglês com sotaque de Ana Karenina: “impolite”. Há uma inimaginável desconfiança dos russos contra os outros; e deles contra eles mesmos. Sinto dez olhos me perseguindo pelas costas; ao olhar de volta, estranhamente tudo parece normal. Talvez a circunstância do país colabore para isso.

Isso me fez pensar nos torcedores do Santinha, incluindo eu mesmo. Nossa desconfiança contra um punhado de pessoas (diretores, técnicos, jogadores) soa extremamente exacerbada, mesmo quando fundamentada. Da mesma forma soa nosso excesso de confiança. Após o último jogo, quando o Santa jogou na corda bamba até fazer o segundo gol, todos os torcedores destacaram qualidades que, com exceção da raça, foram praticamente inexistentes. Creio que o único comentário lúcido foi o do torcedor Paulo Jr, quando falou que beiramos a uma catástrofe. Porém, esquecemos isso por causa da vitória, que produz uma amnésia coletiva, como na França logo depois da Segunda Guerra. Os vilões do nosso time de repente tornaram-se heróis, como nas metamorfoses de Ovídio, apesar de que um olhar atento ao jogo vai revelar que, do meio campo pra frente, nosso time foi uma completa lástima. Não consegui ver metade do que Inácio viu em Tiago Costa e Caça Rato, a não ser novamente um excesso de ruindade e correria. O Santa ganhou indiscutivelmente na tática da “guerrilha”. Isso nos fez subir em 2005, mas nos rebaixou no ano seguinte. Como diriam os economistas, nossa glória não parece ter “sustentabilidade”. Já nossas misérias…

A psicologia russa nos explica, a nós tricolores e ao Santinha, de uma forma perfeita. Aqui tive o prazer de visitar a casa de Dostoievski, um dos meus escritores favoritos e que talvez moldou “meu espírito” como ninguém mais. Quando adolescente, fui capaz de vender todos os CDs do meu pai para comprar a sua edição completa publicada pela José Olympio. Lembro-me bem, foi no sebo Progresso, cujo dono me tapeou feio. O rapaz foi lá em casa, olhou para os discos de Roberto Carlos do meu pai, e disse: você paga seiscentos e cinquenta reais e me dá todos esses discos aí também. Percebi a gota de suor descendo da testa dele, um indício que inocentemente ignorei. Confesso meu pecado, torcedor. Realmente eu cedi à tentação; e logo depois fugi para a casa da minha avó, sabendo que o velho iria me esquartejar em praça pública. Ainda hoje, quando volto a Recife e olho a prateleira da minha biblioteca, observo  aqueles dez volumes com um misto de prazer e de culpa. Se o leitor conhece Dostoievski, vai me identificar com o Raskolnikov, o príncipe dos assassinos ideólogos.

Quando você pensa nos personagens de Dostoievski, não há como não traçar uma linha entre eles e nós. Por dois motivos principalmente. Ei-los:

Primeiro, eles se regozijam na miséria existencial de uma forma mística. O leitor vai achar que eu sou um esquisito escrevendo essas coisas, mas nós tricolores também o fazemos. Foi quando fomos ao fundo do poço na Série D que encontramos nossa unidade, ou como dizia Bergson, nosso “élan vital”. Os personagens de Dostoievski sentem isso quando tem um ataque epilético, o que acontece com frequência nos seus momentos melancólicos. As nossas tragédias são talvez nosso ponto máximo, como se caminhássemos cegamente para elas como Édipo para seu crime de incesto, arrastados inconscientemente. Às vezes eu penso (devo confessar?) que temos um deleite especial na derrota. Mesmo nossas vitórias são como a chegada da felicidade nos livros de Jane Austen, com um final feliz no último minuto, quase inacreditável. Encontramos nosso Mark Darcy nos descontos, num beijo arfante. Somos todos parentes psicológicos dos Irmãos Karamazov. Talvez por isso mesmo sempre nos reerguermos espantosamente, com uma força monstruosa. Torcedores viajando quilômetros para assistir a um jogo no fim do mundo, maridos abandonando suas famílias pelo Santa Cruz, vidas por um fio por causa da próxima partida, como eternos pagadores de promessa… Não entendem do que eu estou falando? Leiam seu livro chamado O Jogador.

Segundo, porque os personagens de Dostoievski são intrinsicamente tricolores ao serem sempre apresentados com as consequências antes das causas. “Um barulho surgiu, o trinco moveu-se, Dimitri apareceu na escuridão”.  Quem teve esse insight não fui eu, e sim o Marcel Proust, que também era fã do russo. Quem leu qualquer livro de Dostoievski, seja Crime e Castigo, Memórias do Subsolo ou mesmo Humilhados e Ofendidos, vai perceber que os “pobres diabos”, como ele os chama, são também guiados pelas consequências das ações e não pelas suas causas. Seu destino é traçado por uma série de desentendimentos, tal qual o funcionamento do nosso juízo (e também o dos radialistas!). Isso explica a nossa psicologia tricolor, a nossa violenta transição entre paixão e ódio pelos nossos jogadores, treinadores e dirigentes. Querem um exemplo em duas palavras? Denis Marques.

Convido o leitor a ler um livro de Dostoievski chamado Os Demônios , que é de uma pujança tricolora. Há um personagem chamado Stavogrin que se comporta exatamente como Caça Rato, como um possesso. Quem assistir novamente ao gol de Caça Rato na final contra a coisa, vai perceber que naquele momento ele não era ele. Ali, digamos, ele era “legião”. Às vezes observo Caça Rato e lembro do início diabólico do livro Memórias do Subsolo: “Eu sou um homem doente, um homem doente”. Dostoievski era certamente um tricolor ante litteram – nele encontramos a essência do que nós somos, talvez nossa “razão de ser”. Talvez por isso também somos os torcedores mais literários, nos nossos jogos há uma pungência artística. Vejam só, isso tudo descrito por um russo a quilômetros de distância do nosso Recife ensolarado, do Arruda e num clima tão diferente!

Nossa, ia falar do jogo contra o Brasiliense e das próximas partidas importantíssimas que nos aguardam agora, mas acabei falando dos russos e do Dostoievski. Foi melhor!

O choro das grandes felicidades

Amigos corais, a crônica esportiva, os rádios, as TVs, os sites, blogs dirão que o Santa Cruz jogou bem ontem, derrotou o escrete do Brasiliense por 2 x 0 e se classificou para a fase do mata-mata da Série C. É a informação básica, o que dizem as regras do jornalismo. Dirão também que o Arruda tinha 38.780 torcedores, e que a renda foi de R$ 531.241,00.

Mas não foi isso o que aconteceu.

O que tivemos ontem, de verdade, foi um daqueles jogos épicos do Santa Cruz. Vivemos uma noite de pura raça, lirismo, paixão. O amor transbordava nas arquibancadas, sociais, nas gerais, dentro e fora do campo. O amor às três cores nunca esteve tão vivo. Nossos jogadores literalmente comeram a grama. A cada chute, cada rebatida, o estádio respondia com urros, aplausos, gritos, canções.

No segundo gol,lembro que abracei vários camaradas, a minha “Turma do Escudo” e ficamos comemorando vários minutos. Nada mais importava ali, estávamos classificados.

Súbito, todos os fantasmas foram tangidos. Já estamos na próxima fase com uma rodada de antecipação. Os jogadores se voltaram para todos os lados do estádio, para agradecer o que fizemos. Nós atravessamos juntos teimosias, erros, fracassos e demos a volta por cima.

Mas há um momento inesquecível, nesta jornada épica. Foi à saída do Arruda.

A massa coral começou a sair, e no caminho até o último portão do estádio, vi uma multidão que ria. Era uma massa compacta, sorridente, abraçada, cantando e rindo.

Vi casais abraçados, rindo, fazendo brincadeiras, filhos dando cutucões nos pais, adolescentes se pendurando nos tios, velhos querendo dar cambalhotas. Vi senhoras que um dia foram sérias gritando de euforia, psicanalistas histéricos de felicidade, todos numa só pulsação. Todos juntaram mais essa vitória. Pouco depois, passou Capiba ao meu lado, em silêncio, com o rosto banhado de lágrimas e os óculos embaçados.

Escutei seu pianinho e pude vê-lo tocando, repetindo as três primeira notas: San-ta-Cruz/San-ta-Cruz…

Eram milhares de sorrisos, numa interminável alegria, numa algazarra, numa febre, numa procissão inversa.

Nós saíamos de nosso templo coral deixando para trás as dores da vida, os perdões nunca concedidos, os erros e naufrágios, as injustiças e maldades.

O Santa Cruz tem este mistério – renasce e nos faz renascer sempre. Parece que estamos condenados à eternidade.

É tudo que tenho a dizer. Desculpem, mas amanheci comovido, como esses meninos que têm asma e sofrem em silêncio, e choram nas grandes felicidades.