Após dois péssimos resultados – na verdade, duas derrotas vergonhosas contra o Vitória e o Salgueiro – o Santinha conseguiu arrancar um empate salutar com o CSA. A bela cobrança de falta de Pipico nos garantiu a liderança na Copa do Nordeste.
Nessa quinta, no Arruda, o time precisa se reencontrar no Pernambucano e sair com uma vitória contra o Central. Vou levar falta: estarei em aula na UFRPE. Uma pena.
Esse jogo da quinta me fez pensar na minha neta, Liz, de um ano e meio. Esperando a oportunidade certa para leva-la ao Arruda. A peregrinação ao Mundão é uma coisa que tenho como quase sagrada, um ato de devoção.
Minha família é cheia de hereges. Minha esposa e minha filhas são barbies assumidas. Meu genro torce pelo Do Recife. Todo jogo, quando assistimos alguma partida aqui em casa, é uma greia só.
Regado a muita cerveja, tira-gosto e gritos de alegria, xingamento ou tristeza, a polaridade é a tônica dos jogos televisivos. Mas, em meio a esse mar de heresia, surgiu uma grande esperança: minha neta.
Evidente que a presença do avô, no que se refere a futebol e ao Santa Cruz, é constante. Tem que se educar as crianças desde o berço. Minha neta é de uma alegria ímpar. Simpática por natureza e trelosa como qualquer criança saudável.
Faz um tempo que coloco a camisa do Mais Querido nela, canto o hino do Santinha, mostro gols no Youtube, músicas do time e desenhos de nossa mascote.
Minha neta, toda vez que me vê com a camisa do Santinha, abre um imenso sorriso, fica batendo palmas e repetindo “cruis… cruis…” que, evidentemente, significa Santa Cruz. Meu genro está enlouquecendo. Todas as suas tentativas de corromper minha neta foram devidamente rechaçadas.
A alegria dela quando ver o escudo do Santa – ou até mesmo quando mostro minha carteirinha de sócio – é comovente. Pense na coisa mais linda do mundo. E quando ela dança quando canto o nosso hino é melhor ainda.
Já disse lá em casa:
“O presente de Liz de dois anos vai ser assistir a um jogo do Santinha no Arruda”.
A choradeira é geral. Mas não adianta. Está em formação mais um novo coração tricolor coral santacruzense com todo orgulho e toda raça.
Não vejo a hora em que esse dia de leva-la ao Arruda chegue. Vai ser emoção demais. Vou, com certeza, me lembrar de meu pai e de minha infância. Se ele estivesse vivo, estaria todo orgulhoso.
Fico pensando na cena: bola na área, Pipico corta o zagueiro, puxa para cima do goleiro e manda a bola para as redes. A torcida, em delírio, grita gol, o estádio explode em alegria, todos se abraçam, o placar marca dois a zero para o Santinha. Eu canto “Santa Cruz… Santa Cruz… junta mais essa vitória”. E minha neta, batendo palmas e toda sorridente, repete “cruis… cruis…”. Vai ser lindo.