Minha nova obsessão: o camisa 10

Foto: Antônio Melcop
O craque-guerreiro sangrando

Amigos corais, ser cronista do Santa Cruz implica em algumas obrigações, que faço com rara felicidade.

Ir a todos os jogos em casa (não tenho um superprograma de milhagens para viajar Brasil afora) e ver tudo o que acontece dentro e fora das quatro linhas;

Ter reuniões semanais de pauta com os demais cronistas Inácio França e Gerrá Lima;

Levar alguns esporros monumentais de Inácio, porque posto crônica sem foto;

Acompanhar as notícias sobre o Santa;

Ver as novidades da TV Coral, que agora é de uma velocidade incrível;

Desenvolver e tratar alguma obsessão semanal envolvendo nosso clube.

Pois bem. Minha obsessão atual é nosso craque da camisa 10.

Minha é forma de dizer. É a obsessão da massa coral, o craque João Paulo.

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Ouso dizer que nosso título começou a nascer na Ilha do Retiro, quando ele fez o gol de cabeça nos acréscimos, botando a cabeça sem medo e rasgando o rosto com uma botinada do zagueiro adversário. Saiu batendo no peito e sangrando. Quando vi a imagem, pensei:

“Começamos a pensar no título”.

Ele não sentia dor nem nada. Só pensava no empate, que calou a torcida adversária. Depois vi as imagens da TV Coral, no vestiário. Os jogadores eram uma alegria só.

Assisti a partida contra o Paraná acompanhado de uma sucessão de gemidos, lamentos. A cada matada de bola do nosso 10, a cada passe rasteiro, no pé de algum atacante coral, aquele tipo de bola que só falta o sujeito dizer “toma, faz o teu”, eu escutava um sofrido comentário.

“Meu Deus, vão levar ele!”

João Paulo dava um drible, alguém sussurrava ao meu lado:

“Sei que o miséria do Sport está já está de olho!”

Um passe, uma dividida, e um senhor com ar grave, dois lances de arquibancada acima do escudo soltava:

“Tem que proibir passar jogos do Santa na TV. Se ele aparecer jogando, vão levar na hora”.

A cada gol do Santa, a comemoração durava trinta segundos. Logo se instalava uma mesa redonda do pessimismo.

As especulações são as mais malucas. De que o contrato dele está prestes a acabar. Que podem leva-lo por qualquer trocado. Que o Santa precisa fazer um contrato mais longo, fora as perguntas biográficas as mais diversas. De onde ele veio. Como Tininho foi encontrar o rapaz, que estava meio abandonado no Goiás. Quanto custa para levá-lo.

Macumbas as mais diversas estão sendo feitas para o Sport tirar o olho grande, até porque dificilmente eles acertam, quando vêm com ingresias para o nosso lado. Vejam o caso de Anderson Pedra. Levaram e deu errado. Há vários outros casos históricos.

Por trás disso tudo, de especulações e sofrimentos antecipados, devemos reconhecer o trabalho nos bastidores dessa selva futebolística para garimpar –  no meio de milhares de jogadores, procuradores, blefadores, pilantras – um craque da camisa 10.

Temos um craque no Arruda, e o nome dele é João Paulo.

Anotem no caderninho de vocês o que digo, neste 18 de maio de 2015, já segunda-feira. Se nosso craque ficar e o moleque Raniel jogar na fase final da Série B, a gente começa 2016 na série A.

Deus queira que eu tenha conseguido colocar a foto. Caso contrário, Inácio vai descer a lenha, na hora do almoço.

 

 

Recolhendo os escombros

Amigos Inácio França e Gerrá Lima;

Não sei por onde vocês andam, nesta segunda-feira, feriado de Tiradentes. Creio que em alguma praia com a mulher e os filhos ou tomando umas com os amigos. Pela quantidade de comentários a serem liberados no Blog do Santinha e pela última crônica, postada dia 15 de abril, vocês realmente perderam a paciência.
Pois bem, amigos, tenho uma nova. O treinador Vica agora é ex.
No sábado passado, após o empate melancólico com o ABC (o gol deles foi de Dênis Marques, vejam que ironia), finalmente ele passou na sala da diretoria e disse o óbvio – “não dá mais”.
O que mais lamento, meus amigos, é que o homem chegou com o time muito mal na Série C, deu um tranco, um freio de arrumação, o famoso “só joga quem treina bem”, e embalamos.
E fomos campeões da Série C.
Depois disso, amigos, mergulhamos num desastre.
Porque um time de futebol pode perder tudo, menos a alma. O Santa, nos últimos jogos, não era nem a sombra daquele time de guerreiros que tantas alegrias nos deu, durante três anos. Perdeu a alma. Depois de muito tempo, vivemos um pesadelo trágico – um Santa Cruz com medo de ir ao ataque, de ganhar jogo, sem arrojo. Sem a alma, não há como ter coragem. Sem coragem, o sujeito é humilhado até na liga de dominó.
Nosso time ficou burocrático como uma repartição pública, funcionando a base de máquina de datilografia e carimbo. Faltou pouco para os jogadores escreverem um ditado antes de cada jogo, com a frase “proibido se arriscar” ou “nada de assustar o adversário”.
Nossa maior desilusão era olhar para Catatau, sonhando com mudanças no time que todos sabiam quais eram, e nada.
Nunca Roberto Carlos foi tão citado.
“Perdemos nos detalhes”.
“Eles venceram num detalhe”.
“Clássico se perde no detalhe”.
Pois é, caros França e Gerrá. Estamos ainda recolhendo os escombros. Eliminação da Copa do Nordeste e do Estadual. Tudo bastante dolorido, sofrido. Onde estão Natan, Renatinho, Everton Sena? Onde estão os jogadores? O outro, que bateu o pênalti errado, ficou deprimido. Mas ele vai buscar o salário integral ou não?
Não fui ao jogo do sábado. Ausência absoluta de vontade. Não li resenhas, não escutei rádios, nada vi na TV.
Demoras, no futebol, são fatais.
Nisso, nosso principal rival é muito eficiente. Se tivessem perdido três partidas seguidas para nosso time, o técnico teria sido demitido depois do jogo. Era o que deveria ter sido feito. Mas vocês sabem como as coisas funcionam no Arruda…
Aguardo o retorno de vocês para ver se animamos o espírito da massa coral. A sorte é que essa massa tem o dom de dar a volta por cima por qualquer alegria mínima.
No momento, não tenho a menor idéia de qual seria esta alegria mínima.