Estava prestes a generalizar: não gosto de marqueteiros de futebol. Era o que eu iria dizer, mas parei. Vou ser mais específico, é um esforço para me aproximar da minha verdade verdadeira: não gosto dos marqueteiros de futebol que conheço, incluindo nessa lista duas subcategorias, a dos “candidatos a” e os que pensam ser.
Nunca ouvi nada que preste sair da boca dessa turma que prolifera como coelhos, só para comparar com um bicho bonitinho que não ofende ninguém.
O papo que escuto é sempre o mesmo: “o mercado”, “as arenas”, “a força da marca”, “agregar valor com a marca tal”. Lorota. Tudo lorota. Discurso macaqueado, imitação dos manuais que aprendem na escola de MBA ou nos sites esportivos.
Quando o Santa Cruz está na berlinda, nunca escutei unzinho sequer falar de uma ideia ou proposta que considerasse o que o clube, a cidade e o estado têm de singular, de original. Que nada, é tudo ideia copiada.
Só não generalizei lá no início porque sempre aparecem na televisão ações de marketing que parecem ter saído por encomenda para esse ou aquele clube. O pessoal do Corinthians, por exemplo, é quentura.
É por isso, senhores, que eu sou arretado com certas viadagens de marqueteiros. Aliás, eu não. Nós. Falo por mim, por Gerrá e por Samarone.
E a viadagem da moda é essa de se referir a um jogador pelas suas iniciais e o número da camisa que ele veste. Pior ainda é que foi Ronaldo Fenômeno que começou esse história. Era R9 isso, R9 aquilo. O publicitário criou a marca e os jornalistas ficam repetindo, fazendo um favor para ambos, jogador e marqueteiro, ficarem ricos.
Pelo menos o agente de Ronaldo foi criativo. O de CR7, NJR11 e R10 são meros operadores de marca xerox. Se é que eles existem, pois às vezes eu acho que é tudo invenção dos redatores que fazem de tudo para parecerem moderninhos.
Sinceramente, quando o sujeito deixa de ser Cristiano Ronaldo para ser CR7, deixa de ser gente, passa a ser objeto à venda. Exceção faço para Caça-Rato, quando ele passa a ser CR7, é por greia, tiração de onda e chacota com o original. Mais humano e pernambucano impossível.
Os leitores, torcedores e radialistas sem imaginação adoram copiar e ficar repetindo as fórmulas que vêem na TV. Porque diabos chamar de André Dias de AD99, quando nem ele mesmo se submete a esse ridículo? André Dias é um sujeito simpático, educado, falante e atencioso com todos. AD99 não é nada vezes nada. Só dois dígitos e duas letras. É falso e artificial.
Ainda bem que antigamente não tinha essa frescura toda. Alguém imagina a genialidade de Pelé representada pela sigla P10?
E Garrincha como um reles e insignificante G7? O “bloco dos sete países mais ricos” morreriam de inveja, era capaz até de usarem o rosto de Mané como marca d’água nos banners dos encontros em Davos.
E a elegância de Platini por P10? Ops, nesse caso teríamos um problema judicial a ser resolvido. Mas, sinceramente, essa batalha na Justiça não daria nem para a saída. Duvido que um juiz desse ganho de causa a Platini, que teria de se virar com MP10.
E aquela leveza de Zico, que parecia levitar em campo, como um pesadíssimo Z10? Imagino até o quiproquó com Zidane, que usaria o Z10 também, mas o staff de Zico se arretaria, os assessores de Zidane fariam uma proposta ainda mais esquisita 10Z2 , numa alusão ao duplo Z de Zinedine Zidane. A ideia de usar ZZ10 seria descartada de cara, pois ficaria muito parecido com a expressão do sono e do ronco nos quadrinhos.
Diego Maradona seria o DM10, o que, admitamos, viria bem a calhar para DM9.
E o que dizer do bravo Constantin Ulansky, zagueiro eslovaco que protege a área do brioso Slovan Bratislava, mas já brilhou no futebol romeno? Ele seria o CU4? Não o conheço, mas duvido que mereça uma coisa dessas.
A escalação do Santa virá assim: TC1, OZ2 (ou N2, Sérgio Guedes na dúvida), ES3, RF4, R6 (na falta do bom TC6); SM5, M11, LS8 (pode ser também LJ8), CA10; CR7 e LG9. Coisa para endoidar estudante de Física no primeiro ano da faculdade.
Antes de publicar esse texto, Gerrá da Zabumba levantou o dedo e pediu: “Bota lá que eu seria o GL24”? Geraldo Lima 24, o número da camisa dos sonhos do nosso zabumbeiro. “Sei, é Gays e Lésbicas 24”, emendou Samarone, o S44, em homenagem a uma camisa com esse número que ele usa na pelada do campo dos clube dos oficiais da PM.
Vou combinar com meu marqueteiro para ser o IF69. Porque eu gosto mesmo é de sacanagem.