Tijolaço pode?

Ainda não completou um mês a morte do rubro-negro atingido por uma privada jogada do alto do estádio do Arruda. Pois bem, 22 dias depois do assassinato do rapaz na rua das Moças, um paralelepípedo tamanho GG voou das arquibancadas de outro estádio pernambucano, estilhaçou o vidro traseiro do carro do quarto árbitro de uma partida da série A, amassou o capô e foi parar no banco de trás.

Se o árbitro da partida e os bandeirinhas estivessem lá – pois nesse carro que eles foram do hotel para o estádio – alguém tinha passado dessa para melhor.

A coincidência das ações e do contexto – objetos pesados jogados do alto de estádios, minutos depois de partidas de futebol realizadas na mesma cidade – seria o bastante para que o fato merecesse bastante destaque e repercussão.

Nada disso. Quem usou os microfones para berrar que o Santa Cruz tinha de ser punido, calado ficou. As autoridades de segurança que apontaram o clube como culpado na primeira entrevista coletiva, não apareceram, não procuraram responsabilizar ninguém. Nenhum chargista se meteu a engraçadinho. Nenhum fotógrafo ou cinegrafista procurou outro ângulo para fotografar o carro (esperamos 48 horas por um foto melhor do que essa porcaria que ilustra a postagem), não apareceu um investigador para tentar adivinhar de onde foi jogado o pedregulho.

Na rádio, um comentarista – ou vários deles – disse com razão que não dá para comparar uma morte com um vidro quebrado. Não, não dá. Isso qualquer um pode compreender. O que é absolutamente incompreensível é que ninguém relacione um fato com outro. Não se trata de relacionar alhos com bugalhos.

Sinceramente, não acreditamos aqui no blog que a mídia, o ministério público e a polícia estejam de proteção com o Sport. Não é isso. Não é simples assim, apesar do clube se beneficiar com o silêncio.

É provável que o governo estadual não queira barulho com isso a tão poucos dias da Copa do Mundo. Compreensível, mas não é a coisa mais sensata a fazer: novamente “estão esperando morrer alguém” para usar o velho clichê. Quando a “merda virar boné” (agora este precário escriba recorre a um dito popular), como já virou há 22 dias, talvez já não baste botar a culpa no clube e ponto final, como fizeram na manhã do sábado pós-privada.

Já o silêncio dos profissionais da mídia, este eu não entendo. Será que consideram normal um tijolo voar da arquibancada, do mesmo jeito que não estavam nem aí quando tudo quanto é coisa era jogada das gerais do Arruda antes de 2 de maio? Marcaria um xis nesse resposta, caso fosse uma questão de múltipla escolha.

Ou será que precisam ser mobilizados por uma tragédia óbvia para deixar o estado de acomodação e a preguiça? Xis também.

É provável que raciocinem desse jeito: privada é notícia, tijolo acontece todo dias, tijolo pode”. E tome xis.

Não conseguem entender nada vezes nada da equação violência+futebol? Todas as respostas são verdadeiras.

Não sou hipócrita: torço para que o Sport seja punido, que se lasque, perca mandos de campos, jogue para ninguém. Mas sei que isso não vai resolver nada.

É o clube que paga as fortunas exigidas pelos jogadores, entrega as placas do seu estádio para a TV comercializar, paga as taxas que a CBF exige a cada partida, expõe sua marca e sua imagem, quase sempre é roubado pelos seus próprios cartolas. O clube está na ponta da corda que rompe quando os Três Poderes da República, a emissora da TV, os patrocinadores do campeonato, FPF e a CBF  – nenhum deles dependem dos tostões que entram pelas bilheterias – fingem não ter nada a ver com isso.