
Amigos corais, ser cronista do Santa Cruz implica em algumas obrigações, que faço com rara felicidade.
Ir a todos os jogos em casa (não tenho um superprograma de milhagens para viajar Brasil afora) e ver tudo o que acontece dentro e fora das quatro linhas;
Ter reuniões semanais de pauta com os demais cronistas Inácio França e Gerrá Lima;
Levar alguns esporros monumentais de Inácio, porque posto crônica sem foto;
Acompanhar as notícias sobre o Santa;
Ver as novidades da TV Coral, que agora é de uma velocidade incrível;
Desenvolver e tratar alguma obsessão semanal envolvendo nosso clube.
Pois bem. Minha obsessão atual é nosso craque da camisa 10.
Minha é forma de dizer. É a obsessão da massa coral, o craque João Paulo.
**
Ouso dizer que nosso título começou a nascer na Ilha do Retiro, quando ele fez o gol de cabeça nos acréscimos, botando a cabeça sem medo e rasgando o rosto com uma botinada do zagueiro adversário. Saiu batendo no peito e sangrando. Quando vi a imagem, pensei:
“Começamos a pensar no título”.
Ele não sentia dor nem nada. Só pensava no empate, que calou a torcida adversária. Depois vi as imagens da TV Coral, no vestiário. Os jogadores eram uma alegria só.
Assisti a partida contra o Paraná acompanhado de uma sucessão de gemidos, lamentos. A cada matada de bola do nosso 10, a cada passe rasteiro, no pé de algum atacante coral, aquele tipo de bola que só falta o sujeito dizer “toma, faz o teu”, eu escutava um sofrido comentário.
“Meu Deus, vão levar ele!”
João Paulo dava um drible, alguém sussurrava ao meu lado:
“Sei que o miséria do Sport está já está de olho!”
Um passe, uma dividida, e um senhor com ar grave, dois lances de arquibancada acima do escudo soltava:
“Tem que proibir passar jogos do Santa na TV. Se ele aparecer jogando, vão levar na hora”.
A cada gol do Santa, a comemoração durava trinta segundos. Logo se instalava uma mesa redonda do pessimismo.
As especulações são as mais malucas. De que o contrato dele está prestes a acabar. Que podem leva-lo por qualquer trocado. Que o Santa precisa fazer um contrato mais longo, fora as perguntas biográficas as mais diversas. De onde ele veio. Como Tininho foi encontrar o rapaz, que estava meio abandonado no Goiás. Quanto custa para levá-lo.
Macumbas as mais diversas estão sendo feitas para o Sport tirar o olho grande, até porque dificilmente eles acertam, quando vêm com ingresias para o nosso lado. Vejam o caso de Anderson Pedra. Levaram e deu errado. Há vários outros casos históricos.
Por trás disso tudo, de especulações e sofrimentos antecipados, devemos reconhecer o trabalho nos bastidores dessa selva futebolística para garimpar – no meio de milhares de jogadores, procuradores, blefadores, pilantras – um craque da camisa 10.
Temos um craque no Arruda, e o nome dele é João Paulo.
Anotem no caderninho de vocês o que digo, neste 18 de maio de 2015, já segunda-feira. Se nosso craque ficar e o moleque Raniel jogar na fase final da Série B, a gente começa 2016 na série A.
Deus queira que eu tenha conseguido colocar a foto. Caso contrário, Inácio vai descer a lenha, na hora do almoço.