A tabela, o melhor antidepressivo

Aos que ainda estão choramingando a eliminação da Copa do Nordeste e da final do Pernambucano, aos que acham que estamos no pior dos mundos, que as coisas estão péssimas, que tudo está ruim, que estão com aquela conversa fiada de que só vão voltar ao Arruda por algum motivo muito especial, eu dou uma sugestão prática – pegue a tabela da Série B, puxe a sua agenda para o lado e vá anotando, semana após semana, os jogos do Santa Cruz, no Arruda e fora.
Vai durar meia hora e a depressão vai passar na hora.
Foi isso o que fiz sexta-feira, antes mesmo do jogo contra os portugueses de desportos. Anotei com caneta todos os jogos e horários. Senti um alívio tremendo.
Pela primeira vez, desde o longínguo ano de 2008, quando fizemos a estreia na Série C, estamos de volta a um campeonato nacional com 38 rodadas. Foram sete anos na base de poucos jogos e mata-mata, pouco dinheiro, fora da TV, com uma sortezinha de transmitirem a Série C pela TV Brasil.
Trinta e oito rodadas, porra!
Nós comemos o pão que o diabo amassou, jogamos contra times que nem lembro o nome, viajamos feito uns doidos em carreatas de desepsperados, passamos por humilhações as mais terríveis, vimos o fundo do poço e o pós-fundo-do-poço e agora fica esse faniquito?
Olhe sua agenda de 2008.
Lembra que nós fomos eliminados na segunda fase da Série C?
E que beijamos a lona na Série D? Tem coisa pior que isso?
Pois pegue a tabela da Série B e veja o que nos espera, ao longo do ano. Dois jogos por semana, às terças e sábados.
Vamos ao caso de maio, o singelo maio, mês das mães.
Na véspera do meu aniversário (2/05), sexta-feira que vem, pegamos o Paraná, no Arruda (21h).
Dia 10 de maio (sábado), pegamos a Luverdense, às 16h20.
Dia 17 de maio (sábado seguinte) vamos ao estádio Mauro Sampaio, pegar o escrete do Icasa.
Dia 20 de maio (terça), vamos ao estádio Dos Amaros, enfrentar o Oeste.
Dia 23 de maio (sexta), 19h30, pegamos o America-MG no Arrudão.
Dia 27 de maio (terça), vamos ao estádio Dilzon Melo, encarar o Boa Esporte.
Dia 30 de maio (sexta), encaramos a Ponte Preta, no Arrudão.
Ou seja: Em um mês, é bem provável que tenhamos mais jogos pela Série B do que em toda a Série C de 2008.
Eu poderia copiar a tabela inteira, para os deprimidinhos corais verem o tamanho do buraco que saímos (e o tamanho do desafio que nos espera), mas não sou corno para gastar uma hora e meia anotando nome de estádio, de clubes adversários e horários.
Sim, perdemos duas semifinais para o principal adversário, que tem dinheiro para contratar e descontratar, que tem uma infraestrutura fuderosa, que só o departamento de marketing deve gerar mais receita que nossos ingressos, mas eles, até outro dia, estavam aí engasgados, doentes, alarmados e infelizes com o tri-vicecampeonato (dois deles em casa) para um clube à beira da falência que foi o Santa Cruz. Toda entrevista ou reportagem vinha com os dois bordões: “desde 2010 não ganhamos nada”;”estamos engasgados com o Santa Cruz”; “desde 2010 não ganhamos nada”; “estamos engasgados com o Santa Cruz.
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Durante o ano de 2014, você, torcedor coral, vai ter jogo no São João, no aniversário do filho, no batizado do sobrinho, no dia do noivado, no Dia das Crianças, nos 50 anos de casamento do sogro, na formatura do sobrinho, na véspera de Finados, vai ter hora que sua mullher vai dizer:
“Esse campeonato não acaba nunca?”
Nessa hora, você vai dar um sorrisinho e lembrar do pesadelo que viveu.
O último jogo do Santa pela Série B será dia 29 de novembro, no Serra Dourada, contra o Atlético/GO.
O que temos a fazer é sair dessa letargia, achando que estamos no pior dos mundos, cobrar contratações, pressionar a diretoria dentro dos moldes legais, ir a campo, levar nossa turma, pegar o manto coral, a bandeira e dar a volta por cima.
Outro dia éramos tricampeões, tiramos onda, curtimos, tomamos todas com os amigos, mas o futebol é assim mesmo, ele dá voltas e rasteiras.
Poderíamos ser tetracampeões, mas não fomos. Paciência. Os caras fizeram (e bem) o dever de casa.
Pegue sua tabela. É melhor que antidepressivo. Em alguns casos, melhor que Viagra.