Por Amil Enoramas, novo cronista coral.
Amigos corais, como assumi recentemente a coordenação de conteúdo do Mais Querido, estou impedido, eticamente, de ficar escrevendo no Blog do Santinha, que sempre foi independente.
Então tive uma idéia muito interessante: criei um pseudônimo (Emil Enoramas).
Ninguém da diretoria vai associar este pseudônimo ao meu nome.
De formas que posso escrever sobre nossa loucura coral.
Ela voltou!
Sempre rezei com mil velas acesas, para que parassem aquela doidice de ingressos a R$ 40,00 e R$ 20, separando a arquibancada inferior da superior. Quem paga R$ 40,00 para ver um jogo do Santa às 21h45 está, no mínimo, empregado e tem como voltar pra casa. Quem paga R$ 20,00 no andar de cima, está corroendo seus R$ 880,00 do salário mínimo e vai voltar pra casa nos poucos ônibus lotados ou, não se enganem, a pé mesmo.
Colocar o andar de cima (que, no Brasil, é o andar de baixo) a R$ 5,00 foi coisa de gênio. Não vou citar coisas dos bastidores, porque posso ser demitido antes de ser aprovado nos três meses probatórios.
Mas o Santa Cruz F.C. acaba de assinar um tratado de sociologia, de história do Brasil, de leitura da realidade. É isso! Temos um estádio gigante, uma torcida gigante, sedenta por futebol, e ficávamos dando bobeira.
Resultado: Mais de 40 mil apaixonados cantando e gritando.
Uma coisa linda, contagiante, que estava fazendo falta. A torcida da barbie, digo, Nautico, ensaiou uns miados, uns gritinhos, mas foi engolida pela massa coral, enlouquecida.
Vi pela primeira vez, em dezenas, centenas e milhares de anos no Arruda, o treinador fazer o “T” para a massa coral.
O “T” que fazemos instintivamente, em qualquer lugar do mundo, unindo o punho da mão direita no osso do braço esquerdo, para nos identificarmos.
Milton Mendes fez isso.
Melhor. Ao final do jogo, a massa coral gritou “Ah, é Milton Mendes!”
Eu sei que o cara é durão, mas até os durões amolecem, numa hora dessa. O cara deve ter pensado: Como é que não vim pra cá antes?
Como estou substuindo o senhor Samarone Lima, me dou ao direito de escrever sem rumo.
Vocês viram o que eu vi?
Que zagueiro é aquele, o Néris?
Por que só agora o homem pode mostrar sua técnica, seu posicionamento sempre na medida?
E as triangulações de João Paulo com aquele galego que agora esqueci o nome, que já nasceu com a bola nos pés?
O time é outro. Tem foco, raça, toca a bola, está cheio de confiança e jogando muito. Nem parece aqueles desalmados da era Martelote, no início do ano.
Sei que vocês devem estar com aquela dorzinha na pá, pensando “porra, era para a gente ter dado uma enfiada historica”.
Mas os deuses do futebol gostam de dar lições.
Precisamos pensar no próximo domingo como mais uma decisão. Não tem nada ganho.
Eu, que tenho ódio mortal da palavra “olé”, fiquei espumando quando a torcida puxou o coro maldito.
Resultado: levamos um gol besta no final.
No meu tratado de sociologia universal do futebol, só se grita “olé” se o time estiver ganhando de 3 x 0 no último minuto dos acréscimos.
O saldo do jogo de ontem, com a massa enchendo o Arrudão, é simples:
A loucura voltou.
E a minha loucura, até domingo, é só uma: chegar à final.
Depois é que vou pensar na outra final.
Nada de botar os bois no lugar das vacas. O bicampeonato está na minha lista de prioridades para 2016.
E a Copa do Nordeste também.
Vou ali, comemorar com meus amigos do Poço da Panela.