A menina, o pai e o Santa Cruz

A menina entrou em casa ansiosa para assistir uma dessas séries feitas para alienar pré-adolescentes. O pai assistia ao jogo do Brasil.

— Aff, – ela reclamou – todas as televisões estão ligadas nesse jogo!

— Oxente, minha filha, você não gosta de futebol?

— Gosto de jogar futebol e de ver jogo do Santa Cruz.

— Vá lá pro quarto, então!

— Já fui. Mas mamãe tá lá, vendo esse jogo! – falou e fez cara de abusada.

Ficou ali, ao lado do pai. A cada jogada errada, a garota debochava. O pai adorava as cornetadas da menina. Lá pras tantas, Neymar erra um chute, chuta o chão e cai.

— Ah, que lindo! – ela rir sarcasticamente.

— Tu não gosta de Neymar? – ele pergunta.

— Eu não! Todo metido e não faz nada. Gosto não!

— Putz, como o tempo passa rápido. Era uma pirralha. Hoje tá aqui, vendo o jogo comigo, falando de futebol, reclamando, cornetando como deve ser todo torcedor. E eu, que não tive filho menino, achava que não iria ter esse prazer. Caralho, isso é lindo! – ele pensou.

Hoje, por um acaso, eles assistiram ao jogo nas cadeiras, juntinhos, sem a companhia de ninguém conhecido. A mãe e a outra irmã, ficaram um pouco afastadas, na fila da frente. Hoje não tinha outros amiguinho para encher o saco pedindo brebotes, nem ninguém para puxar conversa.

Eram só os dois.

Ela, concentrada no jogo. Não pediu nem pipoca.

Ele, na angustia para sair da zona.

— Papai, essa bola foi tiro de meta?

— Foi!

— Como assim? O goleiro bateu de fora da pequena área…

— É. Foi não. Foi impedimento!

O jogo segue. O Santa Cruz é pior do que o time dos Trapalhões. Jadson perdido em campo, faz lembrar Bolaños. João Paulo quase entrega a rapadura. O São Paulo toma conta da partida e a torcida mais apaixonada do Brasil começa a ficar impaciente.

Do lado deles, um rapaz xinga Jadson.

— Realmente papai, esse 7 não está jogando nada.

— É minha filha. E parece que só o burro do treinador não está vendo.

E eis que o 7 dá um passe errado, o adversário rouba a bola, o São Paulo vai lá e a gente leva um gol.

Naquele instante, todos quiseram matar Jadson. Outros também quiseram degolar o treinador. O pai ligou sua metralhadora.

— Treinador filho da puta. Vai tomar no teu cu. Burro. Cego. Filho da puta!

— Papai, não tou te entendendo. Quem errou foi esse 7. O bicho é muito ruim, viu!

— Filha, desde o começo que o 7 vem fazendo merda ali. O treinador já era para ter tirado ele daquela posição e mandado Danilo Pires para aquele setor. Bastava inverter um com o outro.

— Quem é Danilo Pires?

— É aquele de chuteira cor de laranja. Vermelha. Sei lá. Aquele com a camisa 8.

— Ah, tá!

Acaba o primeiro tempo. Ela pede água. O pai toma um gole e arrota. Ela acredita no empate. Diz que o time vai melhorar e que não gostou de Grafite.

Começa o segundo tempo. Artur entrou. O Santa Cruz pressiona. O gol tá maduro. Mas, num contra-ataque, o time paulista faz o segundo. Uma ducha fria para os tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda.

É quando Milton Mendes chama o eterno Renatinho.

— Caralho! Renatinho?! – ele diz.

— Bota Caça-Rato, Milton Doido! – ele grita.

— Renatinho? Minha nossa, eu nem lembrava mais que ele existia – a menina comenta.

— Papai, ele parece uma criança. Mas não é só pelo tamanho, mas pelo futebol ruim!

A peleja acaba. Grafite perdeu um penalti. Keno fez um belo gol. Encerramos o primeiro turno na zona.

Eles voltam para casa. São poucas palavras. Por uns minutos, o silêncio toma conta do carro. Chegam em casa.

— Filha, vai assistir ao jogo do Brasil?

— Eu?! – ela diz indignada.

— Vou nada. Vou é dormir. Se fosse o do Santa Cruz, até que eu assistia.

— Caralho! Isso é lindo! – ele pensou

 

 

Educação pela pedra

Texto do filósofo-metaleiro da Boa Vista, Zeca

Em 1965, o poeta recifense João Cabral de Melo Neto publicou Educação pela pedra. Escreve o poeta: “Uma educação pela pedra: por lições;para aprender da pedra, frequentá-la;captar sua voz inenfática, impessoal(pela de dicção ela começa as aulas).A lição de moral, sua resistência friaao que flui e a fluir, a ser maleada”.

João, além de poeta, era jogador de futebol. E foi campeão juvenil pelo Santa Cruz. Quem diria. E quem diria que esse poema –que dá título ao livro – seria tão atual para nosso amado Santinha.

Quem assistiu ao jogo do Mais Querido contra o Grêmio deve ter ficado surpreso. Milton Mendes, mais uma vez, criou um novo esquema tático. Abandonou as tentativas com o seu velho 4-3-3 ou 4-4-2 para esboçar um 4-1-3-2. O alcance do meio de campo cresceu com essa escolha. Abriram-se caminhos para atacarmos.

E, para mim, o mais interessante: o time jogou de maneira compacta.

Pois é, quem vai entender esse doido? Milton, meu filho, se decida. Na verdade, mantenha esse padrão que foi o que, em certo sentido, vimos contra o Inter no Arruda.

Acredito que a maioria dos torcedores estava esperando uma baita lapada no lombo neste jogo contra os gaúchos.

Mas tchê, que nada! A cobrinha se arretou e foi pra cima. Deu pressão na galera do churrasco e do chimarrão.

Quero só ver o que essa lapa de doido – claro que me refiro aqui a MM – vai fazer contra o São Paulo no próximo domingo.

Vou começar bebendo logo cedo, pois vai ser uma parada difícil. Mas, como não conseguimos prever nada com as loucuras de nosso treinador, talvez saiamos até mesmo com uma vitória.

O que me decepciona nesta séria A, além de nossos altos e baixos, é a pouca presença de nossa torcida nos estádios.

Educação pela pedra é isso mesmo, meu amigo: resistência fria diante dos absurdos, das vitórias e derrotas.

Avante, Santa Cruz. Junta mais essa vitória!

Voltando das férias…

A última partida que assisti do nosso Santa Cruz foi contra o Internacional. Aquele magro um a zero, onde Keno fez um golaço e Néris enfiou o dedo no fiofó do zagueirão do time gaúcho.

Logo em seguida, vi pela televisão, o jogo contra o Vasco no Rio de Janeiro pela Copa do Brasil. Fiquei até animado com o resultado, mas como nosso treinador é cheio de invenções, ao mesmo tempo em que eu comemorava o empate fora de casa, não sabia se a intenção era perder, empatar ou ganhar. Afinal, o time entrou com alguns reservas e no banco ficaram uns titulares. Lá pras tantas, os reservas foram saindo e os titulares entraram.

Depois disso, entrei de férias e me mandei pro interior. Fiquei longe do Recife, do Santa, do celular e da internet. Fui tomar banho de rio e de simplicidade.

Pra não dizer que não vi nada do nosso time nessas férias, assisti ao jogo de volta da Copa do Brasil. No sertão de Alagoas, num bar onde rolava um voz e violão ensurdecedor, com um repertório de doer o ovo, acompanhei a partida numa TV de plasma que vez por outra perdia o sinal da parabólica e a gente tinha que esperar um dos garçons desligar e ligar de novo a televisão para ver se pegava o sinal. Ao final da peleja, mais uma vez, fiquei sem entender se Milton Meme queria vencer, empatar ou perder o jogo. Até hoje carrego essa dúvida.

Nesses dias de folga, Zeca segurou a onda no Blog.

Bom, voltei. E o Santa Cruz voltou pra zona. Pra bem pertinho da seribê.

Pelo que li e ouvi, a turma não está nada satisfeita com Milton Meme. Pelo menos, quase todos os meus amigos tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda estão descendo o sarrafo nas costas do “professor” e pedindo sua saída.

Confesso que sempre fui meio ressabiado com nosso gabaritado treinador. Acho ele um sujeito bom, mas cheio de ideias mirabolantes e meio lunático.

Algumas atitudes dele é de quem não regula muito bem. Em Salvador, deu uma cabeçada em um integrante da comissão técnica do time adversário. Aqui, em um jogo às 11 horas da manhã, o cabra foi trabalhar vestido de paletó.

Se é nas quatros linhas, ele faz umas modificações pra lá de esquisitas, inventa umas novidades e o pior, quando o time leva um gol, MM fica doidinho e é capaz de deixar o time com apenas um zagueiro em campo.

Eu só espero que os jogadores não tenham cansado das invencionices do comandante. Tomara que todos estejam confiantes e fechados com o treinador.

Mas, enfim, como disse antes, não venho acompanhando o Mais Querido. Daí, não tenho como fazer uma critica mais aprofundada sobre o time e sobre o trabalho de Milton Meme nestas últimas semanas.

Quero mesmo é vencer os próximos jogos, gritar acabou o caô e fugir da zona.

Temos que nos desapegar

Texto escrito por Zeca, o filósofo-metaleiro da Boa Vista.

“Ele voltou! O boêmio voltou novamente. Partiu daqui tão contente. Por que razão quer voltar?”

Esta é um trecho célebre da composição de Adelino Moreira eternizada na voz do grande Nelson Gonçalves.

“Ele voltou” parece ser a tônica deste final de semana. Voltamos para o cabaré, meus amigos.

Antes deste fatídico retorno, Milton Mendes comentou:

“Talvez vocês vejam, neste jogo, algo diferente”.

Após a desastrosa derrota contra o Atlético-MG, ele pontuou:

“Nossa equipe jogou dentro do modelo, estava com corpo e segura. Infelizmente, numa transição perdemos a bola!”.

Por favor, alguém me responda: que porra de modelo é esse?

Agora, mais do que nunca, defendo a saída de MM.

Temos que nos desapegar. Foi muito bom sermos campeões pernambucanos e do Nordeste. Mas seguindo esse modelo aleatório de uma tática futebolística que muda para caralho, estamos condenados a retornar à famigerada série B. É preciso deixar o passado para lá e seguir em frente.

Tudo bem, jogar contra o Galo lá dentro não é fácil. Ainda mais com Robinho jogando demais e com um erro pra lá de infantil de Uilian Correia. Mas não tem como negar que MM está mais perdido do que cego em tiroteio.

Será que o modelo dele é não ter modelo?

Time confuso, sem sequência tática. E o pior: as substituições quase sempre são desastrosas.

A queda vertiginosa do topo da tabela para a zona do rebaixamento reflete a falta de um elenco de apoio e as doidices de MM.

Não acho que o Santinha jogou bem contra o Galo. Tirando um chute de Grafite, quase só levamos pressão. O time estava confuso em campo.

Se a diretoria não tomar uma decisão urgente, creio que essa pisadinha será a referência até o final do campeonato.

Vamos colocar um paletó velho, um chapéu de boêmio, tomar todas e cantar até morrer. O boêmio tinha partido tão contente, esfuziante com a nova vida. Mas enquanto esse espírito de ser pequeno não mudar, o boêmio vai ter que amargar uma estada na zona.

Desapega, porra.

Hasta la vista, MM.

Bola para frente que ainda tem muito jogo pela frente e nem tudo está perdido. Por enquanto!

Coração de aço

Por Zeca, filósofo, professor e metaleiro da Boa Vista.  

Joseph Conrad era um escritor polonês que escrevia em inglês. Seu livro mais famoso se intitula Coração das Trevas. Narra a estória de um capitão que se embrenha pelas florestas da África em busca de um comerciante, Kurtz, que ficou doido de pedra vivendo num ambiente tão selvagem.

O livro de Conrad é tão foda que virou o icônico filme Apocalypse Now do mestre Francis Ford Coppola. Aí, o caro leitor se pergunta:

“Mas que porra isso tem a ver com o Santa Cruz?”

Tudo. Explico-me. No post anterior, em que escrevi sobre nossa saída da zona com o espírito embevecido pela vitória contra o Inter, Gerailton Tricolor, leitor deste ilustre blog, comentou:

“10 dias sem novo post! Até o Blog  está sem alma!!!”.

Porra, mas não é que é isso mesmo. Parece que a torcida do Santinha, diante da tarefa gigantesca de enfrentar o Atlético-MG e o Grêmio fora de casa, caiu num marasmo de derrotismo antecipado. O coração das trevas é essa possibilidade desesperadora de retornarmos ao puteiro, digo, zona. Pior: zona do rebaixamento.

Mas diante das trevas iminentes que se anunciam, é preciso entender que futebol não é uma coisa lógica. A dimensão psicológica que há por trás desse esporte é, muitas vezes, decisiva. É preferível um coração de aço do que um das trevas.

Será que Milton Mendes deu uma de Kurtz e pirou de vez? Será que os boatos sobre os salários – especialmente a relação dos jogadores com o salário de Grafite – são realmente verdadeiros? Devemos desistir e imaginar que nem faremos 19 pontos na primeira fase? Tantos esquemas táticos tiraram a personalidade do time?Qual a saída?

São muitas perguntas que deixo ao caro leitor a tarefa de tentar esmiuçar que porra está acontecendo com nosso time.

Está na hora – mais do que urgente – de descobrirmos uma saída. E aplicá-la no mundo real. Efetivar soluções. E isso é papo de administrador.

E não é para isso que serve a ciência diante da crise? Encontrar soluções?

Pois, numa boa, não tenho saco nenhum de voltar para o puteiro.

Digo, zona.

Adeus, zona!

Por  Zeca, filósofo e metaleiro da Boa Vista.

Zona, puteiro, bordel, baixo meretrício, casa de Odete, casa de massagem, lugar duvidoso. Seja qual for o nome, a zona é um local bastante peculiar. Muitos se iniciaram aí ainda jovens enquanto outros dão uma escapadinha para lá para fugir da rotina de um relacionamento consolidado.

Também é lugar em que os olhares mais conservadores fingem que não existe. Mas zona é zona, não tem como negar. Está lá. Basta dar uma entradinha e pronto. Ou sair.

Alguns gostam tanto de lá que decidem não sair jamais. É o caso do Do Recife (a coisa) que está se sentindo muito bem entre as mulheres de vida nada fácil. Chegaram e ficaram – uma zona isso aí.

Outros, como é o caso de nosso Santinha ( e vejam só que contradição misturar sagrado e profano a um só tempo) decidem dar uma passadinha lá para conhecer o ambiente. Sem compromisso, só para conhecer mesmo. Chegam como quem não quer nada, dão uma provadinha e vão logo embora porque um recinto deste quilate não é lugar sério. Pega mal ser visto saindo de uma casa dessas.

Neste domingo, Tiago Costa, Marcílio e Artur se arretaram e decidiram sair da zona. O chefe Milton Mendes disse que já estava na hora de deixar de safadeza e voltar à vida séria. Tiago Cardoso, que é evangélico, estava puto com tanta putaria – desculpem o trocadilho infame. Ele não estava nada confortável naquele pardieiro.

Assim, decididos e imbuídos com o espírito tricolor de guerra, nossos bravos combatentes saíram da zona. Agora, meus amigos, é importante aprender a lição. Vá lá, visitar a zona não faz mal a ninguém. Mas permanecer nela é de lascar. Até mais nunca, puteiro.

O Blog do Santinha

Por Zeca, filósofo e metaleiro da Boa Vista.

Dez anos de histórias tricolores. O Blog do Santinha, dentro do universo digital, é o local onde a putaria, a pilhéria, as lágrimas, o riso fácil, a decepção, a paixão ensandecida e a alegria mais absurda se encontram. Local, antes de tudo, de um espírito democrático incomum.

No prefácio da Trilogia das Cores, Samarone assevera o inexplicável: “Fiquei pensando sobre esse mistério que é a presença do futebol na minha vida – e na vida de tanta gente. O futebol determinando alegrias e tristezas numa paixão fulminante”.  O mais incrível é como o Santa Cruz assume, em nossas vidas, esse papel absoluto, esse peso e leveza de existências marcadas por três cores e por um século de história.

Samarone Lima e Inácio França comandavam a árdua tarefa de escrever continuamente – sem ganhar um tostão – sobre a maior de todas as paixões: o Santinha. O que move uma pessoa? O que alimenta suas atitudes? O que dá sentido à sua vida? Antes de tudo, a motivação e a paixão. Retire a paixão e a motivação de sua vida e você tornar-se-á um morto vivo. É a paixão que nos impulsiona, que nos leva adiante, que nos faz crer e jamais desistir. A paixão alimenta a motivação.

Com a triste saída desses mestres da escrita, Gerrá assumiu as rédeas do blog com a ajuda de colaboradores. A dignidade que há por trás disso tudo é impressionante. Não foi sem uma grande alegria que recebi o convite de Sama para integrar os cronistas deste célebre, famoso e amado blog.

“Zeca, não posso mais escrever no blog do Santinha. Estou na imprensa do clube agora. Inácio também não escreve mais. Eu e Gerrá estamos atrás de novos colaboradores. Topas?”, ele afirmou.

Meu amigo, topei na hora. Que honra. Tenho 45 anos e escrevo desde os doze: poesia, romances, contos, filosofia e mantenho um blog – o Ars Diluvian – que trata de política, filosofia, literatura, poesia, cinema e artes plásticas. Mas escrever para um blog como este é uma experiência nova, gratificante e apaixonante. Escrever sobre futebol!

O que acho mais interessante neste espaço – além da dimensão literária das postagens e do tema principal ser o próprio Santa Cruz, nossa paixão – é como se trata de um espaço democrático. A partir de uma crônica, os assuntos mais diversos são debatidos nos comentários. Cada um defende sua posição e quase sempre as discussões tem pouco a ver com o texto principal. Isso é genial. Só sendo tricolor mesmo. Prestem atenção nos comentários que se seguirão logo abaixo. Alguns poucos comentarão este texto, mas depois irão direto ao que mais interessa e que está muito além de qualquer crônica: o Santa Cruz Futebol Clube.

É muito amor, meu amigo.

Uma confraria de doidos

Meus amigos, que azar! Esse Santa Cruz é pra deixar qualquer um que se meta a cronista esportivo, doido e em crise existencial.

Quem danado apostaria que, com o time que entramos, jogaríamos de igual pra igual e por pouco não saímos com a vitória?

Sobre o jogo, compartilho com vocês algumas opiniões de uma turma pra lá de boa de um dos melhores grupos de zap-zap que participo.

Tem de tudo, nele. Comuinstas, liberais, Fora Lula, Fora Temer, Volta Dilma, Acunha, ateu, católico, apostólico, protestante, a porra toda. Todos vivendo harmoniosamente bem. Uma verdadeira confraria de doidos. Doidos pelo Santa Cruz.

Bom, faz de conta que estamos numa mesa redonda e começa o bate-bola sobre a partida de hoje.

Lá vai.

Cronista 1: Dessa vez, MM não errou. Deu azar.  Mesmo assim, o resultado foi bom. E até podíamos ter vencido!

Cronista 2: O juiz sentiu a pressão. Só deu aquela falta escandalosa em Keno porque o bandeirinha explicou didaticamente um lance que todo mundo viu. Depois deixou de marcar falta contra o Santa. No fim, deu mais um minuto que virou trinta segundos quando o Santa partia para o contra ataque.

Cronista 3: MM viu que os reservas não iam abrir pro Vasco, colocou os titulares para o Vasco empatar… Minha visão!

Cronista 4: Bota esse time reserva contra o América!

Cronista 5: JP entrou no lugar de CHimbinha. Chimbinha tava bem. Mas quem imaginaria isso? João Paulo jogar pior do que Chimbinha? Nem Jesus.

Cronista 5, de novo: O time piorou quando tirou Wellington César!

Cronista 6: Quando todo mundo tava torcendo pra ganhar, o time levou um gol. Quando ninguém queria, tava lá ganhando. Isso é Santa Cruz!

Cronista 6, outra vez: Gol contra de goleiro. Existe isso?

Cronista 7: Negão em péssima fase. No dia q pegou tudo,  faz essa merda.

Cronista 8: Levou azar … Tava bem pra Kralho … Timeco do vascú ruim demais … A gente passa sem problemas …. TRIIIII !!!!!!

Fico imaginando o que não deve ter de opiniões espalhadas por aí. Cada uma com suas razões, emoções e doidices.

Não fossem essas nossas maluquices, o Santa Cruz não seria o Santa Cruz.

Futebol se ganha no detalhe (No fiofó do Inter)

Ontem, um conhecido me perguntou por quem eu torci na Eurocopa. Ora, por ninguém, é claro!

No domingo de manhã, outro colega, meio aluado, indagou se eu iria assistir à decisão entre os portugueses e os franceses.

Eu sou Santa Cruz, rapaz! Vou é pro Arruda. Quero que Portugal e França tomem nos seus respectivos furicos!

Por falar em fiofó, veja o que é o futebol.

Quem danado imaginaria que a gente venceria com um gol daquele?

Nem o mais otimista acreditaria que, com um lançamento aéreo, nosso time conseguiria fazer um gol no time colorado.

A história mostra que os times do sul são especialistas no jogo aéreo. Seja no ataque, seja na defesa, a eficiência na bola pelo alto é marca registrada das equipes gaúchas. Além disso, fomos para partida com um ataque de baixinhos.

Mas é no detalhe que se ganha esse jogo.

Pois bem, falta a nosso favor! João Paulo lança a redonda por cima, a pelota sobra e, num quase voleio, Keno, o melhor jogador em campo, manda para o fundo da rede.

Que gol. Um golaço.

Quando Keno joga bola, nosso time é outro.

Domingo vencemos nos detalhes. No futebol aguerrido e moleque de Keno. Na raça de Thiago Costa. Na boa partida de João Paulo e Uillian Correa. Na força que veio da arquibancada.

Mas meu velho, pode acreditar, no meio de tantos detalhes, ganhamos a disputa com essa jogada do nosso zagueiro Néris. Tenho pra mim que esse cabra vai longe. Esse garoto era pra ter sido convocado para seleção olímpica.

A jogada que falo é essa que está na foto, onde Néris mete o dedo no butico do adversário.

A dedada que ele deu no jogador do Internacional, foi algo fenomenal. Ali, naquele lance, nossa vitória foi garantida.

Tem boquinha não tchê! Aqui quem manda é a cobra. É pé no bucho, mão na cara, chute no ovo e dedo no rosquite.

Sem querer tirar o mérito do baile que Keno deu, da raça do nosso time e a força da arquibancada, o dedo de Néris na ruela do zagueiro Paulão, fez ele tremer e deixou a gauchada desequilibrada emocionalmente. Uns com raiva, outros com inveja.

Lembrei até do futebol society que jogo toda semana. Certa vez, o atacante, irritado com a marcação cerrada do zagueiro, aproveitou um empurra-empurra dentro da área e resolveu cutucar o furico do defensor. Pense numa confusão.

Não sei lá pros lados dos pampas, mas por aqui, meu camarada, uma dedada no caneco é pior do que um nocaute do UFC.

É simplesmente a desmoralização do adversário.

E hoje, contra o Vasco da Goma, tem que ser como diz Arnildo Ananias: Pau, cipó e peia.

O gol da redenção

Texto escrito por Zeca, o filósofo da Boa Vista.

16:46 h. João Paulo bate falta lançando a bola na área. Néris desvia a bola e Keno, de primeira, faz um golaço contra o Inter no Arruda.

Gritei gol feito um louco. O Arruda era só alegria. Todos se abraçavam, cervejas voavam pelo ar e aquela velha alegria estava de volta.

Ganhar em casa, ver a reabilitação do Santinha, saber que voltamos a jogar bem não tem preço.

Nota dez para Keno, Néris e principalmente Uillian Correia – jogou demais nesta partida. O espírito da vitória voltou!

15:20h. Me encontro com Samarone no Seu Abílio. Tomamos umas cervas, conversamos com outros torcedores e pensamos apenas na vitória.

Caminhamos para as arquibancadas com aquela estranha sensação de que aquele domingo seria especial.

O clima no Arruda estava diferente. Parecia que todos acreditavam que aquele jogo seria nossa ressurreição, nossa escalada definitiva para continuarmos na série A. Uma vitória é o que todos pediam aos deuses do futebol.

14:45h. Saio do mercado da Boa Vista em direção ao Arruda. Visto com orgulho a camisa do Santinha.

Me despeço de alguns amigos após a saideira. Penso na ausência de Grafite neste jogo decisivo para nós. Torcendo para que Marion dê conta do recado e Keno possa fazer os gols de nossa vitória. Torcendo para que Milton Mendes não invente tanto e consiga unir novamente a equipe.

Torcendo para que o time de guerreiros volte.

11:30h. Chego no mercado da Boa Vista com alguns amigos. Sarapatel, caldinho, cerva e serotonina (cana) para alegrar o espírito.

É preciso estar preparado para o jogo da tarde.

Falamos sobre literatura, filosofia, política e, claro, sobre a partida decisiva.

De certa forma inexplicável, uma sensação de vitória invade meu espírito. Estranhamente confiante. Creio que a última crônica de Gerrá acirrou este espírito de confiança.

É isso mesmo. Hoje venceremos.

09:00h. Acordo já pensando no jogo do Santa contra o Inter. Preparar o fígado para a longa jornada deste domingo.

Depois que me arrumo, ligo para alguns amigos e marco para começarmos os trabalhos no mercado da Boa Vista.

O dia está ensolarado, as pessoas riem na rua, o mercado está esfuziante, a alegria reina em todos os cantos.

E eu não sabia como aquele domingo seria tão especial. Dia de redenção.