Seja bem-vindo, meu nobre!

Era inicio do campeonato brasileiro. Naquele jogo, resolvi ir para as sociais. Mal bateram o centro, a turma já estava reclamando. Ao meu lado, Gilvandro se invocava. Não com o time, mas com chatice da turma das sociais. “Deixem o time jogar, bando de filho da puta”, ele resmungou.

Lá na frente, o ataque perde um gol feito e a chiadeira é geral. “Vai ser grosso assim, na casa da rapariga da tua mãe”. “Bicho ruim do caralho”.

Foi quando Gilvandro olhou pra mim, ajeitou os óculos e disse: “esse negão não é de todo ruim não. Esse cara tem potencial. A merda é que a torcida não tem paciência, nenhuma”.

Gilvandro falava como se fosse o mestre Telê Santana.

Foi quando meteram uma bola pro negão, ele botou a pelota na frente, deixou uns três marcadores para trás, entrou na área e chutou por fora. O azedume das sociais atingiu seu limite máximo. Um cara ao meu lado ameaçou entrar em campo pra tomar satisfação com o nosso centroavante. Um senhor se esgoelava e cuspia tudo que era de xingamentos em direção ao camisa nove.

Gilvandro respirou fundo, controlou os nervos e preferiu se retirar daquele lugar. Movido pela mesma causa, acompanhei meu amigo.

Assistimos o resto da partida, perto do portão de saída das sociais.

Dali pra frente, nosso papo foi sobre Grafite. Não exatamente sobre os tantos gols que ele perdeu naquela partida, mas sobre seu traquejo, sua disposição em campo e, principalmente, sobre sua história.

Pedimos uma cerveja.

“Meu camarada, ele começou a jogar profissionalmente aos 20 anos. Esse rapaz só precisa aprender alguns fundamentos. Tem tudo pra ser um grande atacante”.

Gilvandro foi certeiro. Grafite deslanchou.

Menino pobre, preto, nem pensava ser jogador profissional. Chegou por aqui em 2001, enfrentou a pressão da massa coral, não amarelou e se mandou por esse mundo afora, levando o Recife e o Santa Cruz no coração.

Por onde passou, conquistou títulos, fez gols, foi artilheiro, se tornou ídolo.

Seguindo pela contramão da atual lógica do futebol, depois de quase quinze anos, Grafite chega de novo ao Arruda.

O carinho, o amor e a paixão o trouxeram de volta para vestir nosso manto sagrado.

Seja bem-vindo meu nobre!

Saiba que o povão está em festa e com orgulho de ser Santa Cruz.

Uma geração de tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda que nunca te viram jogar, já te tem como ídolo.

Cá pra nós, Grafite, tu és a cara da nossa torcida!

Fazendo contas

Tá lasca acompanhar o meu time nesse período junino. Até agora, só pude ver alguns jogos do Santa Cruz. No Arruda, não fui a nenhum. Pela televisão, assisti aos jogos contra Macaé, Paraná e Luverdense.

Vou logo deixando claro que não é por mi-mi-mi, muito menos por cornura.

A bronca é que, infelizmente, os jogos têm coincidido com os forrós que a gente anda fazendo por aí. Parece que a CBF fez questão de atrapalhar minha ida ao Arruda, marcou esses nossos três primeiros jogos em casa, sempre na noite da sexta-feira.

Mesmo assim, tenho acompanhado essa campanha medíocre que estamos fazendo. Vejo os melhores momentos na internet, converso com um amigo, dou uma espiada nos comentários do Blog, essas coisas.

Confesso que já comecei a usar a calculadora.

Até agora, temos somente 23,8% de aproveitamento. Quase nada pra quem entrou na competição falando em se classificar para Série A.

Disputamos vinte e um pontos, ganhamos apenas cinco. E o pior, jogamos três partidas em casa e só fizemos quatro pontos.

Desde que inventaram os pontos corridos na Seribê, o percentual mais baixo de aproveitamento para um clube se livrar do rebaixamento foi em 2012. Naquele ano, o Guaratinguetá se segurou com quarenta e três pontos, o CRB fez quarenta e dois pontos e foi rebaixado. O Santa fez uma pífia campanha na Sericê (toc, toc, toc).

O ano onde a pontuação foi mais alta para não ser empurrado pra Sericê foi em 2007. Justamente o ano em que nosso Santa Cruz começou a rolar ladeira abaixo(toc, toc, toc, de novo).

Naquele brasileiro, o Ceará fez cinquenta pontos e conseguiu ficar em décimo sexto colocado. O primeiro dos rebaixados foi o Paulista que fez quarenta e cinco.

Ainda nos restam trinta e um jogos. Desses, dezesseis serão no Arruda. Não dá para saber ainda, quantos pontos são necessários para fugir desta sericê, mas dos jogos que restam em casa, para não correr risco de rebaixamento, vamos ter que ganhar praticamente todos.

Bom, mas trocaram o treinador. E torcedor que é torcedor, sempre renova as esperanças.

Espero que Martelloti consiga ajeitar esse time e animar o elenco. Só assim eu esqueço a calculadora de lado e deixo de fazer cálculos para ver se a gente consegue ficar na Seribê.

Um ano que nunca será esquecido

Dei uma passada para ver os comentários e me deparo com uma boa nostalgia. Daquelas que faz o sujeito voltar no tempo e ter saudades.

O ano era 2005. O Santa Cruz foi campeão estadual. Ganhamos os dois turnos. No segundo, jogamos em Petrolina, numa quarta-feira e ganhamos o campeonato de forma antecipada e incontestável. O time do velho Giva foi campeão com os pés nas costas.

Da quarta-feira até a última rodada, o jogo contra a Barbie no domingo, a cidade ficou pintada de preto-branco-encarnado e o estoque de bebida da Região Metropolitana sofreu uma grande baixa.

Entramos na série B com o time todo organizado e fomos embalando. Lembro que ainda nas primeiras rodadas, metemos um 4 a 2 no Bahia, lá dentro.

Sem grandes craques, sem salário em dia e sem coordenador técnico, fosse aquela seribê de pontos corridos, teríamos sido campeões.

Naquela época, eu, Chiló e Alessandra já fazíamos uns forrozinhos para os amigos. Voltando do São João de Arcoverde, com triângulo, sanfona e zabumba no carro, Chiló deu a ideia de irmos para o Arruda tocar forró. Era um domingo de junho e o Santa Cruz iria jogar em casa. Fomos direto pro jogo e a farra foi grande. Ali nasceu a Sanfona Coral, que dias depois, numa mesa do Empório Sertanejo, foi constituída como torcida musical organizada.

Muita gente ainda pergunta por que a Sanfona não volta. Por um simples motivo, éramos movidos à cerveja e o precioso liquido não pode mais entrar na arquibancada.

Foi naquele ano mágico que Inácio e Samarone tiveram a brilhante ideia de fazer um blog, o Blog do Santinha.

Era em 2005 que João Peruca, filho de Zé, promovia o fezão. Se a rodada fosse no final de semana e o Santa jogasse no Arruda, Joãozinho fazia uma suculenta feijoada, botava umas aguardentes na roda e estava organizada a preliminar. Isso foi virando um ritual e todos tinham certeza que o fezão dava sorte. Ir para o jogo, sem antes comer a feijoada, dava um azar danado.

Tinha a Kombi Coral. Seguíamos para os jogos fazendo forró dentro da Kombi, dando carona a todo mundo que estivesse pelo caminho e parando de bar em bar para abastecer o organismo e jogar álcool dentro da pança de Naná.

Certa vez, íamos pela Santos Dumont e um rapaz vestido com nosso manto sagrado caminhava pela calçada. Paramos a kombi e oferecemos carona. Ele aceitou. Pra puxar conversa nos disse que estava vindo a pé do Mercado da Boa Vista, que sempre fazia isto. Quando ele acabou de dizer, Naná parou a kombi e botamos ele pra fora.

— Tu tás doido, é? Vai a pé que o Santa tá ganhando tudo. A gente não pode dar sopa pro azar.

2005 nunca será esquecido.

Um ano cheio de boas histórias. Nossa viagem para ver o jogo contra a Portuguesa. Nossa invasão ao treino no Arruda. As amizades que duram até hoje. As figuras. Os pergonagens.

Passaria horas e horas escrevendo sobre aqueles dias.

Ainda há tempo

Eu já contabilizava essa derrota de ontem e também a do próximo sábado. Essa frase foi tirada de um e-mail que recebi hoje pela manhã de Milton Jr.

Pois bem, eu havia conversado com a primeira dama sobre isso antes do jogo de ontem (sim, lá em casa a gente conversa sobre futebol). Tinha dito a ela que com o futebol que o Santa Cruz tá jogando, se a gente voltasse dessas duas partidas fora de casa com um ponto, já seria um bom negócio.

Mas meus nobres, eu só não imaginava que na nossa conta de derrotas continuássemos levando gols ridículos.

Não bastasse as pixotadas contra o América Mineiro e o gol que levamos do ABC, outra  vez tomamos gols típicos de pelada.

Ontem começou pela lambança do goleiro Fred. Aquela tapinha que ele deu na bola, nos mostra o quanto é limitado esse rapaz. Pra completar a cena, o adversário que fez o gol se livrou tranquilamente da marcação.

No segundo gol, o jogador do Paysandu, que é um pouco mais alto do que Renatinho e Catatau, nem precisou pular pra cabecear e estava livre na nossa área.

Desculpe os que pensam diferente, mas essa nossa dupla de zaga mais parece dois retardados. Jogam como dois meninões adonzelados que ainda não tiraram o queijo.

Não é de agora que muita gente percebeu que nosso time é fraco.

Aqui pra nós, ganhamos o estadual numa cagada histórica. Na primeira partida da final, o Salgueiro brincou de perder gols. No segundo jogo, o do Arruda, não jogamos nada e graças aos deuses, Anderson Aquino achou aquele gol.

Levantamos a taça por uma dessas surpresas que saem da caixinha do futebol.

Alguém pode dizer que a sorte faz parte do futebol. Ok, mas ela não marca presença eternamente. Principalmente, num campeonato longo feito a seribê.

Alguns falam que nosso problema é o atraso de salários. Claro que o correto é pagar em dia, mas isto não pode ser visto como um fato isolado. Temos exemplos e mais exemplos de times que, mesmo com a folha de pagamento atrasada, conseguem ser vencedores. Pra quem não lembra, em 2005 subimos para Série A e tínhamos salários  atrasados. E mais, podem pagar em dia rios de dinheiro a Emerson Santos, Pedro Castro, Nathan e outros perronhas que eles vão continuar nos aborrecendo.

A culpa é dos jogadores? Não!

A culpa é de quem os indicou e de quem os trouxe.

Não sei quem foi indicado por Ricardinho, por Sandro, por Tininho, nem por Alírio. Não sei se Adriano, Ataíde e Jomar trouxeram alguém.

Não faço a mínima ideia de quem contratou ou deixou de contratar.

A única coisa que sei é que ainda há tempo para consertar.

Porém, é preciso atitude e é necessário dar o tiro certo. Talvez  esta seja a bronca: dar o tiro certo.

O poeta cansou (de colecionar)

Samarone foi um dos cinco mil e poucos que enfrentou chuva e greve de ônibus e foi ver a derrota para o ABC.

“E aí Sama, ficasse muito puto?”, eu perguntei.

“Tu acredita que não?! Tou mesmo é morgado”.

O fato é que o poeta cansou.

Ontem, marcamos para comer uma mão de vaca e resenhar sobre o jogo. Para nossa surpresa, Sama chegou com uma mochila cheia de camisas, bandeiras, faixas e outras coisas, e se desfez de praticamente todo seu acervo de lembranças corais.

To

 Nota do Samarone

Faltou acrescentar no título que cansei de ser colecionador.

Vinha juntando camisas, bandeiras, faixas, tudo autografado pelos amigos da ocasião, mas percebi que não era, de fato, um colecionador.

Resolvi doar tudo ao querido Esequias Pierre, que coleciona até cueca do Santa.

Balanço da doação:

12 camisas diversas;

8 faixas de campeão;

4 bandeiras autografadas;

Alguns ingressos originais, como o do dia 13 de maio de 2012, quando fomos bicampeões na Ilha, em pleno Dia das Mães.

Esequias chegou a marejar, ao ver todo o material.

Mas que o time está dando calo nos olhos, isso está mesmo.

A “outra” era do Santa Cruz

Seu Ismael era um mecânico de primeira. Durante muito tempo foi nosso vizinho e tinha uma oficina em Afogados. Limpeza de carburador era o seu forte, mas também cuidava de elétrica e mecânica.

Se orgulhava do ofício e de ser sócio do Santa Cruz desde antigamente. Na capanga ele carregava sua carteirinha do clube querido.

Eu lembro perfeitamente de Seu Ismael.

Tinha um rosto meio quadrado. Era branco, não usava barba, nem bigode e nem óculos. Era pai de dois filhos. Um que tinha um defeito no pé e uma menina que era meio retardada.  A turma dizia que a esposa de Seu Ismael era prima dele, daí os filhos tinham nascido com problemas.

O coroa era desses que fala manso. A gente só ouvia sua voz alterar o volume quando o Santa ganhava. No estádio ele se transformava. Gritava, esculhambava o treinador, chamava diretor de ladrão, jogador de cachaceiro e juiz de filho da puta.

Comecei a ir pro Arruda com meu pai, nos jogos do domingo.  Era comum, logo depois do almoço, a gente pegar carona na Variant branca de Seu Ismael.

Fui crescendo e, além dos jogos aos domingos, passei a ir a jogos no meio da semana. A gente ía de casa e encontrava com Seu Ismael que sempre estava acompanhado de uma morena do bundão. Cabelo curto, meio feiosa de rosto, mas proprietária de um par de peitos e uma bunda que me cabiam dentro.

O traje da morena era sempre o mesmo. Camisa do Santa Cruz e calça jeans apertada que realçava ainda mais sua poupança.

Eu achava aquilo tudo muito esquisito e ficava pensando:

Por que Seu Ismael não traz a esposa dele?

Como é que essa mulher gosta tanto de futebol e de cerveja?

Ela também chamava uns palavrões. Não tanto quanto Seu Ismael. Lembro dela acompanhando o coro da torcida, “freeeesco, freeeeesco”.

Passei um tempo sem saber direito quem era aquela mulher. Certo dia, fomos buscar o fusca do meu pai na oficina e descobri que ela trabalhava lá. Era uma espécie de secretária. A sala dela era a mesma de Seu Ismael.

Durante muito tempo, fiquei meio sem entender tudo aquilo. Seu Ismael não levava a esposa para o Arruda. Por sua vez, levava a secretária, mas só nos jogos do meio da semana. Bebiam juntos, ele pagava tudo, ficavam coladinhos no cimento das sociais, se abraçavam quando o Santa Cruz fazia gol.

Uma vez ele deu uns gritos xingando o bandeirinha e a vi limpando o cuspe que ficou no canto da boca dele. Foi nesse dia que avistei os dois saindo do Arruda de mãos dadas e comentei:

— Pai, ele tá pegando na mão dela.

— É porque tem muita gente, menino. É pra ela não se perder.

Aquilo soou como uma boa desculpa. E era.

Depois de algum tempo, as peças do quebra-cabeça se juntaram. A vila toda já sabia que Seu Ismael tinha outra mulher. E que ela era do Santa Cruz.

Quem pariu a Arena que balance

Vou dando minha espiada na internet e me deparo com a seguinte notícia:

Em entrevista à Rádio CBN, o vice-governador de Pernambuco, Raul Henry, voltou a comentar sobre o processo de viabilização econômica da Arena Pernambuco. A ideia citada pelo político é que haja uma revisão no contrato entre Arena, Náutico – clube parceiro do Consórcio – e Governo, explorando a possibilidade dos rivais Santa Cruz e Sport utilizarem mais o palco pernambucano que recebeu cinco jogos da Copa do Mundo do ano passado.

“A nossa obrigação é buscar a viabilização da Arena. Eu não posso fazer isso apenas ouvindo a opinião de um conjunto de pessoas. Estamos conversando com os clubes e com a federação (FPF) para que eles (Santa e Sport) façam mais jogos lá. Mas para isso a gente precisa criar facilidades e desobstruir os acessos à Arena. Proporcionar condições para que o torcedor chegue e saia com segurança”, disse o vice-governador.

O deputado estadual Romário Dias (PTB) foi mais incisivo. “O Sport e o Santa Cruz têm que abrir mão de jogos no José do Rego Maciel e na Ilha do Retiro para jogar na Arena e ajudar na viabilização do estádio”, cravou.

No começo da temporada, a Arena Pernambuco fechou uma parceria com o Santa e o Sport. O Tricolor mandaria seis jogos no estádio. Um deles já aconteceu, no clássico contra o Náutico, pelo Pernambucano. Os outros cinco serão pela Série B, ainda sem data ou adversários definidos. Já o Leão faria dez partidas na Arena. Duas delas já aconteceram: contra o Nacional/URU, em um amistoso internacional, e contra o Náutico, pelo Estadual.

Pra quem quiser checar é só entrar no Blog de Primeira da Folha de PE.  http://www.folhape.com.br/blogdeprimeira/?p=125854

O vice-governador fala em criar facilidades e desobstruir os acessos à Arena. Não meu caro, a questão não é apenas esta. No Arruda, além de acesso mais fácil, tem o carinho que temos pela nossa casa. Tem os caminhos floridos de bandeiras, buzinas, espetinhos, cervejas e calor humano. E mais, lá no Arrudão, a gente coloca 50 mil fácil. Basta ter uma decisão de seja lá o que for.

O deputado, o senhor Romário Dias, vem com essa que temos que ajudar na viabilização do estádio.

Ora, quem pariu Mateus que balance.

Eu queria saber o que é que o Santa Cruz tem a ver com essa história da Arena de Eduardo estar dando prejuízo. Antes de nós, tem os responsáveis por este acordo com a Odebrecht, tem os parlamentares que ficaram calados e outras tantas instituições que não fizeram nada.

O fato é que o tempo passa, e toda vez que o poder público faz suas lambanças, a conta no vermelho e o prejuízo são sempre enviados para quem não tem nada a ver com a história.

Pelo visto, meus amigos, o Governo do Estado vai jogar pesado.

Só espero que nosso atual presidente, o Alírio Moraes, não tome decisões sem consultar a massa e sem deixar claro o que está fazendo.  E que, se por acaso for negociar algo, não pense exclusivamente em dinheiro. É bom Alírio lembrar que o estádio José do Rego Maciel, o Arruda, é nosso templo sagrado, nosso terreiro, é a nossa casa.

Raniel e o jogo de hoje

Vi ontem que Raniel pegou quatro meses de punição. O garoto só vai voltar a jogar bola no começo de setembro.

Confesso que eu esperava que ele fosse absorvido. Mas levando em consideração que esses tribunais desportivos normalmente decidem pelo que está literalmente escrito na lei, penso que a punição ficou de bom tamanho.

Nesse tempo sem poder jogar, era bom que o Santa Cruz aproveitasse e cuidasse do rapaz. Se for preciso, até levá-lo junto com o elenco em alguns jogos.

Raniel tem tudo para se tornar um grande jogador.

Para isso precisa ser lapidado com cuidado e com carinho. Todo esse tempo que  ele vai ter que ficar sem jogar oficialmente, pode ser aproveitado de forma positiva.

Treinamentos específicos de colocação. Chutes a gol. Cruzamentos. Torná-lo um exímio batedor de faltas. Aumento de massa muscular. Enfim, o certo é não deixar o rapaz ocioso e sem perspectiva.

Nessa hora, o clube precisa dar a mão a Raniel. É mostrar para o jovem atleta as vantagens que ele pode tirar destes cento e vinte dias afastados das quatro linhas.

Quatro meses em futebol, não é nada. Passa rapidinho.

Estamos quase na metade de maio. Daqui a pouco chega a Copa Améria e o São João. Aí, já foi o mês de junho embora. Em seguida, vem julho. Férias, festival de inverno, essas coisas e o mês acaba. Entramos em agosto, tem o dia dos pais e rapidinho chega o feriadão do sete de setembro e Raniel volta aos gramados.

Mudando de assunto, hoje tem disputa.

Série B, meus amigos, não tem mistério, é ganhar todas em casa e fazer alguns pontos fora.

É preciso vencer para pontuar e animar torcida.

É contra o Paraná, às 19h30.

Para alguns o horário é dos piores. Para outros, a hora do jogo é bem convidativa. Sexta-feira, sete e meia da noite, dá para sair do trabalho, tomar uma antes de entrar no estádio e depois, quando o jogo acabar, dá para aproveitar o resto da noite. Dá até pra dar uma voada e sair pra traquinar.

Esse jogo de hoje, me lembra da época que eu era pirralho. Tinha um amigo do meu pai, um vizinho nosso, que só ia para o Arruda acompanhado da secretária. Eu não entendia como aquela mulher gostava tanto de jogo. Uma vez, num jogo à noite, vi os dois saindo do Arruda de mãos dadas e disse:

— Pai, ele tá pegando na mão dela.

— É porque tem muita gente, menino. É pra ela não se perder.

Outro dia conto essa história.

Hoje, todos ao Arruda!

 

 

Sou mais meu Santa Cruz

A conversa de ontem foi o jogo entre o Barcelona e o Bayern. Hoje pela manhã, assim que cheguei ao trabalho, a primeira coisa que o estagiário me perguntou foi seu eu havia assistido ao jogo.

– assisti, não! Vi o da noite. 2 a 0 pro timão da Chapecoense.

Ele arretou-se e ficou resmungando umas coisas.

Quem quiser que se encante com esse futebol pasteurizado, ou melhor, goumertizado,  que tentam empurrar na gente a todo instante.

Tudo cheirosinho, arrumadinho e bonitinho. Um luxo só. Mas não consigo me ver enquadrado nesse padrão.

Eu fico imaginando se o Santa Cruz fosse o Barcelona, e se aqui fosse igual ao que vemos na tela da TV. Essa tal Champions League.

Pense numa chatice, que seria!

Não teríamos a feijoada no Poço da Panela. Não ouviríamos a orquestra Venenosa mandando seus frevos na nossa concentração.

Ninguém tomaria uma no Mercado da Encruzilhada.

Dimas, Artur, Murilo e outros bons não se encontrariam para beber no Caldinho do Bonitão.

A Avenida Beberibe seria bem mais feia e tristonha.

Bacalhau não usaria sua chapa preta-branca-encarnada. Chico da Cobra vestiria apenas uma camisa oficial e o SuperSanta não teria capacete.

Ninguém tomaria uma cerveja gelada na beira do canal. Nem sentiria o gostoso cheiro de espetinho assado.

O nosso calor humano seria gelado.

Dentro do Arrudão, tudo bem organizado. Nada de ver jogo em pé na mureta e de ficar pulando no cimento da arquibancada.

Após a conquista, nada de invadir o campo, de batucada na sede, de mergulhar na piscina, de zoar no Tepan, de ir na segunda-feira tomar uma no mercado da Boa Vista. Comemoraríamos de maneira comedida. Sem barulho e sem gritaria.

Não, meus amigos. Prefiro que o Santa Cruz seja o nosso Santa Cruz. O time do povão. Da massa coral. O time da poeira.

Prefiro meu tricolor do Arruda. Clube querido da multidão que nasceu no Pátio de Santa Cruz e viverá para sempre.

***********************************

Nesta sexta-feira, a partir das 16h, no Pátio de Santa Cruz, o Blog do Santinha e a turma da Minha Cobra estarão comemorando a conquista do Estadual. É pra lá que eu vou e quem quiser pode chegar.

Do jeito que tá, tem que ser com a gente

Ainda era por volta do quinze minutos do segundo tempo, quando eu comecei a balançar as pernas e implorar para que os ponteiros do relógio corressem ligeiro e o juiz acabasse o jogo.

Meus amigos, se não fosse a sorte e a ruindade de alguns jogadores do adversário, tínhamos levado uma boa lapada ontem no Sertão e a vaca poderia ter ido pro brejo.

Fazendo um resumo do que vi, eu diria:

— Um time lerdo, que só jogou alguma bola nos primeiros vinte minutos.

— Uma lateral direita que mais parecia a Avenida Agamenon Magalhães de madrugada.

— Um meio-campo sem o mínimo de criatividade.

—Um ataque que consegue ser pior do que aquela época de Fábio Saci e Creedence.

— E dois jogadores que nem deveriam voltar com a delegação: Emerson Santos e Bileu.

Eu até daria mais uma chance a Nininho e até ao destrambelhado do Betinho, desses dois eu tenho pena. Mas as duas murrinhas que citei, Emerson Santos e Bileu, deviam ser mandados embora quando o ônibus estivesse passando por Arcoverde.

Era dar uma parada na frente do Arcoverde Palace e educadamente pedir para os dois descerem.

Quem sabe eles não arranjavam um emprego por lá e se davam bem na vida.

Se Tininho e Alírio quisessem, eu poderia dar uma força. Falaria com Seu Damião ou com Assis Calixto e consiguiria uma vaguinha para Emerson Santos participar do Samba de Coco Raízes de Arcoverde. Uma boa função pra ele seria dançar o trupé.

Eu poderia indicar Bileu para ser o roadie. Mas acho que não iria dar certo. Ele é meio atabacado e rodie que se preze tem que está ligado na função. Como gosto muito daquela turma do Raízes de Arcoverde e tenho o maior respeito pelo que eles fazem, não pedirei por Bileu. Ele que se dane e vá procurar emprego.

Nobres Tricolores Corais Santacruzenses das bandas do Arruda, a verdade seja dita, nosso time é muito ruim.

Depois do que vi ontem, só nos resta entrar em campo. Somente a torcida poderá ganhar esse título de 2015.

Vai ter que ser no grito e na pressão.

Vai ter que ser como foi de tantas outras vezes. Domingo que vem, todas as ladeiras, ruas e avenidas nos levarão para o Arruda.

Por hora, esqueçamos um pouco do que vimos ontem. Deixemos um pouco pra lá os Bileus, os Emersons e outras desgraças que insistem em nos chatear.

É colocar a racionalidade de lado, vestir a camisa que dá sorte, se enrolar na bandeira, repetir os rituais e se mandar para o jogo.

Até porque, há quem diga que estamos com a sorte de campeão.

Tomara. Oxalá. Assim seja.

Se já ganhamos campeonato com gol de Landu e Branquinho, nada impede que a gente vença domingo com um golaço de Betinho de bicicleta, depois de um cruzamento milimétrico de Nininho.

De toda forma, quer for de rezar, reze. Quem for de beber, beba!