Bacalhau, presente!

Recebi a noticia num grupo do whatsapp. Imediatamente, entrei em contato com nossa amiga Lígia que mora em Garanhuns. Era sempre através dela ou de Marcos que eu procurava saber sobre nosso amigo Bacalhau. Como quem não quer enfrentar a verdade, apenas perguntei: tens notícias de Bacalhau?

Lígia me confirmou o falecimento. Logo em seguida, Marcos me manda um áudio dando a notícia. E começou a chover mensagens no meu celular. E a dose de tristeza foi aumentando.

Alessandra mandou um áudio perguntando se era verdade. Estava na estrada e ouviu no rádio. Eu confirmei. Ela se entristeceu também.

Bacalhau tinha o costume de chamar Alessandra de mãe. É que certa vez, em pleno Festival de Inverno, saímos do Polo de Cultura Popular e fizemos um favor para ele. Dali em diante, ele passou a chamá-la de mãe. Era uma forma carinhosa que ele encontrou para expressar sua gratidão.

Quando eu encontrava Bacalhau, me sentia uma criança no momento que chega perto do seu ídolo. Ele fazia parte do meu imaginário, pois desde o meu tempo de menino, o via no Arruda, nos jornais, na televisão. Sonhava em falar com aquele cara. Tocá-lo. Vê-lo de pertinho. Depois de adulto tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente e passar a admirá-lo ainda mais.

Era uma figura linda. Carismática. Pura. Torcia apenas pelo Santa Cruz, não se importava com os demais.

Amado por toda a torcida tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda. Era querido, respeitado e admirado até pelos torcedores adversários. Por várias vezes, vi em Garanhuns, alvirubros e rubro-negros pararem pra tirar fotos com ele.

Bacalhau não se fantasiava com as cores do Santa Cruz. Bacalhau era daquele jeito o tempo todo. Era Santa Cruz 24 horas por dia, na alma, no corpo e em tudo que lhe pertencia. Como bem escreveu Bráulio de Castro, “Há quem veja o mundo azul, há quem veja cor-de-rosa, há quem veja o mundo cinza, cada um tem seu espelho. Bacalhau de Garanhuns vê preto, branco e vermelho”.

Escrevo esse texto revendo fotos dos nossos encontros e recordando os bons momentos que tivemos com aquele sujeito. Nosso casamento. Nos Festivais de Inverno de Garanhuns. No Poço da Panela. Nos jogos do Santa Cruz. Meus olhos lacrimejam.

Confesso que hoje estou triste! Mesmo sabendo do sofrimento que ele vinha passando, mesmo acreditando que ele descansou, estou triste!

Vai na paz, meu querido! Eternamente, tu serás lembrado!

Domingo estaremos no Arruda. Torcendo junto contigo, de corpo, alma e coração, por mais uma vitória do nosso Santa Cruz.

Bacalhau, presente!

Tem novidade na Minha Cobra

A turma da Minha Cobra, na qual eu me incluo, está iniciando uma pré-venda dessa camisa aí que está na imagem desta postagem.

A ilustração foi um presente do querido amigo Paulo Batista. Paulo é cartunista, nascido em São Paulo e que esteve por aqui no final do mês de maio. Foi ele quem fez aquela arte da camisa que fizemos em homenagem a Chico Science.

Pois bem, nessa nova camisa que estamos produzindo, teremos camisas para adultos, inclusive baby looks, e faremos também camisas para gurizada a partir de 8 anos). As camisas serão em malha de algodão. Além da camisa vermelha, teremos também a branca e a camisa preta.

A camisa adulto e a baby look custarão R$ 40,00 (quarenta reais) cada. A infantil será R$ 30,00 (trinta reais).

Um detalhe, a tiragem será limitada aos pedidos feitos antecipadamente, isto é, serão feitas sobe encomenda.
Então, quem quiser adquirir a camisa é entrar em contato com a Minha Cobra e informar o tamanho e a cor. E, lógico, fazer o pagamento. O contato pode ser feito pela nossa página no Facebook ou por nosso Instagram. Ou por um dos seguintes zaps:

Esequias Pierre 9.9917-3959;  Claudemir Pereira 9.9718-8408;  Gerrá da Zabumba 9.9976-8985; Robson Sena 9.9985-8597!

Um abraço, muito obrigado, de nada!

Quem vai?

E aí, tu vai?

— vou, mas é lógico!

— e eu nunca deixei de ir. Sábado tou lá!

— meu amigo, pode dar cachorro em trinta, mas sábado eu vou é pro Arruda. É jogo de seis pontos. E pense numa raiva que eu tenho de time da Paraíba!

— cinco hora eu tou largando e é direto pro Arruda. Eu vou!

— vai eu, a mulher e Netinho!

— oxi! E isso é pergunta! Tomo uma de leve na sexta. Acordo cedo no sábado. Dou aquela trepada, depois vou na feira. Meio-dia, começo a calibrar o fígado. Três horas tomo um banho, visto o manto sagrado e me mando. Dois a zero. Carlinhos Paraíba vai fazer o dele. E terça vou de novo!

— rapaz… o cabra que não for é mulher do padre! A pessoa só não vai pra um jogo desse em caso de morte ou doença grave. Tem que ir.

—  se jogar igual a jogou no segundo tempo contra o Globo, a gente ganha! Eu tou pensando que vai ser 3 a 0. Mas pode ser de meio a zero, o que interessa agora é vencer e garantir os três pontos pra ficar sempre no G-4. Se o Santa embalar não tem quem segure a gente.

— eu eu tou doido de não ir? Quem quiser que assista pela televisão. Eu vou é pra o Arruda!

— olhe, tem uma turma que reclama quando o time perde, quando empata e quando ganha. Mas agora é apoiar e jogar junto. Tem que ir todo mundo!

— tenho um trampo à noite. Mas já desenrolei a parada. Vou pro jogo e de lá corro pra tarefa.

— vou fazer a concentração no Posto. De lá pra arquibancada, pertinho do escudo.

— lá de casa, são cinco. Vai todo mundo! Até papai se animou. Simbora pro Arruda.

— tenho pra mim que Robert vai tirar a inhaca! Estarei lá.

— se o Santa Cruz vencer, vai ficar com moral! Eu não vejo nenhum elenco melhor do que o nosso. Tá faltando a gente encaixar. Tou confiante pra sábado. Sim, é claro que eu vou. Lugar de torcedor do Santa Cruz é no Arruda.

— quero nem saber quem vai ser o goleiro, o zagueiro e nem o atacante. Eu só sei que vou pro Arruda. É a gente que vai garantir a vitória. Vai ser no grito.

— mulher, ah mulher, você não precisa me esperar, eu vou chegar fora de hora, pois hoje o meu Santa vai jogar…

Bom, aqui em casa, vamos todos. Samarone também vai. Robson, Marconi, Odilon, Claudemir, Inácio, Esequias, Lukinha, Anízio, Micrurus, Coronel Peçonha, Ivonaldo, Zeca, João Valadares, Chiló, Pedoca, Jr. Black, Flávio, Victor, todos irão.

Campeonato doido, ingrato e cruel

No meio da semana, Samarone me perguntou quem seria nosso próximo adversário. Respondi que era o Globo.

Ele perguntou qual o dia. Respondi que seria na próxima segunda-feira.

Pra finalizar o questionário, Sama quis saber se o jogo era no Arruda.

Sexta-feira, foi Naná. Encontrei com ele no forró de Seu Vital.

O gordinho deixou de beber cerveja e agora só toma aguardente. Pelo que entendi, um tratamento de acupuntura está fazendo ele deixar de ter vontade de tomar cerveja e ativando um ponto que gosta de cachaça. Naná disse a mim e a Chiló: a gente não pode abandonar o Santa Cruz. Tem que tá junto.

Concordamos.

Ele emendou: quando é o próximo jogo? É no Arruda?

Outro dia, a minha filha menor estava se lamentando. “Papai, nunca mais a gente foi pro jogo do Santa. Ele vai jogar quando?”.

É, meus amigos, essa tal sericê é ingrata e cruel com nós torcedores. Praticamente o seu time do coração só joga de oito em oito dias. É tanto tempo de uma partida para outra que a gente até esquece que vai ter o próximo jogo, quando vai ser e com quem iremos jogar.

Eu mesmo, quase todo dia consulto a tabela. Faço isso pra não esquecer dos jogos e para não esquecer que estamos disputando o campeonato brasileiro da terceira divisão. Ocupo meu tempo ocioso, vendo jogos da seribê e sericê.

Assistir aos jogos da segundona do brasileiro me deixa de baixo astral. Cada time ruim danado e a gente fora dessa festa.

Por outro lado, ver as partidas da terceirona me trás esperança que temos condições de avançar. Até agora não vi nada do outro mundo. Nos times que estão na cabeça, não tem nenhum craque. No máximo um bom jogador. O que tem de sobra é muita raça e um feijão com arroz bem feito. Nada além disso.

Hoje, o Remo do velho Giva meteu 3 a 1, de virada,  no Botafogo da Paraíba. O jogo foi em João Pessoa. O Atlético do Acre goleou o Juazeirense, 5 a 0. E o Capibaribe, que muita gente achava que estava morto, venceu o Salgueiro por  3 a 0, no sábado, na Arena.

Nessa segunda, a gente joga contra o Globo. Só pelo nome, esse time merece perder. A depender do resultado, o nosso Santa Cruz pode ir pro G-4, pode ficar em sétimo lugar ou pode se encostar (toc, toc, toc) nos que estão para descer pro inferno.

Só sei que essa tal de Sericê é um campeonato doido da porra! A turma que se ligue, porque só são 18 rodadas e quem não ficar entre os quatro primeiros colocados de cada grupo, em agosto vai entrar de férias e deixará a torcida órfã por seis meses (toc, toc, toc).

Uma tempestade de otimismo e esperança

Acreditem!, quando estacionei o carro, São Pedro mandou uma tonelada de água e quase dei meia volta. Olhei para Alessandra e ensaiei ir embora para casa. Levar chuva na saída, voltar pra casa molhado, imagina se o Santa Cruz faz uma presepada, estes e outros argumentos quase me fizeram desistir de ver a partida. No meio da falação, apelei dizendo que Sofia iria se molhar, e gripe, e virose, e etc e tal.

Nossa filhota foi logo dizendo, “não papai! Não tem problema! Eu boto um saco na cabeça!

Pronto, resolvemos ficar. O carro ficou pertinho da rapaziada da P-10. Pode chover canivete que os caras não perdem o pique.

Entrei no posto de gasolina para sacar dinheiro e comprar brebotes para Sofia. Avistei Sérgio Travassos. O bicho tá é gordo. Ele estava bebendo umas cervas com um amigo. Trocamos umas palavras, sintonizamos o otimismo e na saída eu disse: anota aí, vai ser 3 a 0 pra gente!

Minha filhota corrigiu logo: três não, vai ser de quatro!

Saí da loja de conveniências e dei de cara com Marcel. Fazia tempo que não via aquele cabra. Satisfação danada ter encontrado ele. Gente boa é ali. Batemos um papo rápido. Marcel já tava bem calibrado de cerveja e animado feito pinto no lixo. Repeti a frase que eu havia falado para Sérgio Travassos, “anota aí, vai ser 3 a 0 pra gente!”. A pequena rebateu: “papai, vai ser 4. Qua-tro a ze-ro”. Alessandra me puxou. Saímos driblando as poças e avexados. A chuva tava engrossando.

Na entrada do clube vejo Julio Vila Nova. Uma moça estava tentando fazer a cabeça dele para conseguir ajuda para o Projeto Camisa 12. Ela, vestida com uma blusa preta, uma calça preta modulando a parte inferior, cabelos longos, toda formosa. Ele, de bermuda, uma camisa do Cordas e Retalhos, um copo de cerveja na mão e uma cara de lobo mau. Me lembrei do filme A bela e a Fera.

Bem perto, estava Samarone. Pra variar, já tava daquele jeito. Hoje, ele me perguntou ao telefone se eu tinha ido ao jogo.

Corri para comprar o ingresso.

Numa noite fria e chuvosa, todos transpiravam fé na vitória.

A cada encontro, em cada rosto, um clima de otimismo e alegria acenava pra gente.

Comprei os bilhetes. De longe ouvi um grito de guerra vindo de Abílio. Apressamos o passo. No caminho para as cadeiras encontro Tiburtius.  Trocamos um abraço. Era outro que compartilhava sorrisos. Parecia ter a certeza dos três pontos.

Subimos. Fomos para as cadeiras brancas. Quase sempre, quando vou para as cadeiras cativas, fico nas brancas. É onde encontro Vavá e cia. Ontem, ele tava com a filha Patrícia, o neto Diogo e o genro Guilherme. Guila é um dos maiores pé quentes que conheço. Não lembro ter perdido um jogo ao lado dele. Pertinho deles, exatamente atrás, estavam Inácio e Pedro França. Quando vi a turma ali, pensei “caramba, hoje é vitória certa” e fiquei junto deles. Ganhamos. Não foi 3 a 0, nem os 4 de Sofia. Mas foi lindo. Na raça, como nós, os tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda, gostamos!

Há quem não acredite muito nessas coisa. Eu muitas vezes sou bem descrente. Mas essa história de pensamento positivo e otimismo coletivo, parece que funciona no futebol. Ontem vi isso de perto. No meio dos quase quatro mil torcedores que foram ontem ao Arruda, encontrei alguns bons amigos da velha guarda do Blog do Santinha. Todos estavam molhados de otimismo e esperança.

Lista de treinadores

Toda vez que o Santa Cruz está procurando técnico, eu vou consultar minha lista de 100 nomes. Pois é, eu tenho uma lista com mais 100 nomes de treinadores. Chamo lista de 100 nomes, pra ficar mais fácil. Já até publiquei aqui no Blog, faz tempo.

Comecei com essa mania, depois que vi tanto técnico ruim passar por nosso comando. Se não me falha a memória, iniciei esse “hobby” quando o Santa Cruz contratou um tal de Bagé.

Quem daqui se lembra daquela invenção de botarem como técnico a dupla Ricardo Rocha/Zé do Carmo?

E Ferdinando Teixeira? O sujeito era sociólogo. Naquela época, quando ele veio pro Santa, eu fui num desses programas esportivos que a turma faz em bar, lanchonete, restaurante, essas coisas. Saí de lá com a sensação de ter conhecido um daqueles professores gente boa que aprova todo mundo sem maiores problemas e que, nos jogos comemorativos de final de ano, ele foi ser treinador do time dos terceiranistas.

Me recordei agora de Sabugosa. Sérgio “Sabugosa” Guedes. Ali era comédia. Um dos piores que já vi passar por aqui. Nas entrevistas que ele dava, era um lero-lero só. “As razões pelas quais não atingimos o esperado é porque estamos administrando muitas coisas. Não é fácil fazer isso. Inicialmente a equipe se mostrou desconfortável, esperando o adversário e depois teve iniciativa de sair no contra-ataque. Quando começamos a desarmar e atacar, tivemos mais ocasiões, só que não ocorreram os gols”, professor Sabugosa depois de um jogo contra o Avaí.

Mas, enfim, sempre que estamos precisando contratar um novo técnico, abro minha lista e vou procurando nomes. Tem de A a Z (Aderbal Lana, Artuzinho, Cairo Lima, Dado Cavalcanti, Klisman da Silva, Parreira, Roberval Davino, Zé Teodoro).

Nela, eu separo alguns profissionais por categoria.

Tem, por exemplo, a categoria Cientista Maluco. Neste grupo estão nomes como o de Milton Mendes, Lisca e o do ex-treinador Ferdinando Teixeira.

Tem o grupo Futibó é futibó. Givanildo Oliveira, Geninho, Zé Teodoro, Aderbal Lana e outros fazem parte desta categoria.

Sérgio Guedes está na categoria lero-lero.

Quando anunciaram que Junior Rocha seria treinador do Santa, corri para ver se o nome dele constava na minha lista. Pois bem, o senhor Dilceu Rocha Junior constava na lista, mas ainda não tinha sido incluído em nenhuma categoria.

Depois da desgraça que foi sua curta passagem por aqui e de ouvir tanta besteira dita por este treinador Jr Rocha, fico na dúvida se incluo ele no grupo dos cientistas malucos, se boto ele junto de Sérgio Guedes ou se crio a categoria “Técnico Nutella”. A única certeza que tenho é que quero que ele nunca mais venha vestir nossa camisa.

Sim…., se a diretoria quiser uma ajuda, posso enviar minha listinha com os nomes. Nela tem exatamente 123 professores de futebol.

Ofuscaram o brilho do jogo

Faz tempo que encerrei a minha carreira de ir para casa dos adversários.

Certa vez, fui para Caruaru. Era Santa Cruz e Central no Lacerdão, numa quarta-feira à noite. Pegamos um engarrafamento grande na saída do Recife e chegamos atrasados. Na correria para entrar e pela falta de sinalização que indicasse para onde devíamos ir, recorremos a um policial. Educadamente, mas sem preparo nenhum para dar a informação correta, o militar indicou um portão que dava justamente no meio da torcida do Central. Passamos um sufoco danado, quase brigamos, até que nos levaram para o lado onde estava a nossa torcida.

Em outra situação, dessa vez nos Aflitos, inventamos de comprar ingressos de cadeiras. Na bilheteria avisamos que queríamos ingressos para o local destinado a torcida do Santa Cruz. Era aquele jogo no qual Sandro Blum fez um gol contra. Chovia bastante naquela noite. Quando entramos, era tudo junto e misturado. Vimos o jogo no meio dos torcedores do Capibaribe. Tentamos ir para arquibancada, mas não foi possível. Não havia ninguém para resolver o problema. Assim que o jogo acabou, descemos rápido, mas não deixaram a gente ir embora. A justificativa foi: a torcida que sai primeiro é a do time adversário. Mostrei minha carteira de sócio do Santa Cruz. Falei que estava ali por ter comprado ingresso de cadeira. Argumentei. Pedi. Expliquei. Os senhores que faziam a segurança e o policial que estava perto não enxergavam um palmo além da ordem que haviam recebido e não nos deixaram sair.

Já levei carreira na Ilha. Já levei pedrada no Carneirão.

Ontem, assisti ao jogo pela TV. Ainda no primeiro tempo, vi dois belíssimos gols. Mas logo em seguida, logo depois do nosso golaço, acabaram com a festa. Para fazer valer as proibições impostas ao futebol moderno, a polícia desceu o sarrafo em um torcedor que acendeu um sinalizador. Uma atitude pra lá de exagerada e desnecessária por parte do policial. Tão exagerada que causou pânico nos três mil e poucos Tricolores-corais-santacruzenses-das-bandas do Arruda que estavam espremidos numa pequena área destinada a massa Coral.

Não houve briga, muito menos confusão. Houve tumulto. E, na agonia de sair de perto do local do rolo, as pessoas foram tropeçando e caindo umas por cima das outras, como se fossem um dominó. Correria, gente se arranhando, se quebrando, passando mal. Pedidos de ajuda e socorro. Desespero e pressa de querer entrar no campo para chamar aqueles que estão escalados com a função prestar atendimento médico. Afinal de contas, o pessoal da área de saúde fica no gramado.

Do lado da polícia, um despreparo fora do comum por parte de alguns policiais. A incapacidade de observar que não havia briga, de ver que eram pessoas pedindo socorro. Ao invés de ajudarem, jogaram combustível no desespero da torcida. Ou melhor, jogaram spray de pimenta na cara das pessoas. Uma atitude irresponsável e burra. Ao invés encontrar uma maneira de prestar socorro, aumentaram a quantidade de gente precisando de ajuda e a revolta dos que tentavam conseguir socorro para o próximo.

Somente depois de um certo tempo, abriram passagem para as pessoas serem atendidas. Foram mais de 50 estendidas no gramado que fica atrás da barra. Pela tela da televisão eu via sangue, roupas rasgadas e uma cena que não me sai da minha cabeça: um cara tendo convulsões. Daí para frente, o jogo havia acabado pra mim e pra muitos que conheço. Menos para a TV Globo e para Federação Pernambucana de Futebol. Mesmo com vários corpos espalhados atrás da barra, mesmo com ambulâncias entrando e saindo pelas laterais do gramado, e transitando na frente dos bancos de reserva, a bola continuou rolando. Eu só imaginava uma bolada em quem já estava lascado.

Nas peladas do meu tempo de menino, éramos bem mais cuidadosos do que a FPF. Naquela época, quando a gente jogava bola na rua, se passasse alguém, o jogo era interrompido. “Parou, parou!” – alguém avisava.

Ontem, por causa de uma Lei que proíbe se acender um inofensivo sinalizador, vimos estampadas toda a incompetência, irresponsabilidade e insensibilidade que está encruada na cabeça daqueles que organizam nosso sofrido futebol.

E vimos tirarem o brilho desse esporte que tanto nos encanta, que tanto nos apaixona.

Aquele passe de Héricles e o gol de Fabinho Alves, e também o gol do adversário, merecem todos os aplausos, gritos, fogos e sinalizadores do mundo. Merecem bandeiras tremulando, papéis picados e serpentinas jogadas no gramado. Merecem a alegria, o êxtase e a euforia que fazem do futebol o jogo mais espetacular do Universo.

Não! Não merecem a incapacidade, negligência e a crueldade de ontem.

Sobre Transparência e transparências

TEXTO DE INÁCIO FRANÇA

*Este texto foi escrito por Inácio França

Alguém aí sabe dizer quem começou a cobrar transparência no Santa Cruz? Quem tem menos de 30 não vai saber, daí vou dar uma pista: o pai de Mendoncinha nem tinha sido presidente ainda.

É preciso voltar ao final dos anos 90. Essa palavra começou a ser usada em um histórico e esquecido encontro no auditório do Sindicato dos Jornalistas puxado por Fernando Veloso, o atual vice Tonico Araújo e um monte de gente, incluindo este que vos fala. Para nossa surpresa, o auditório lotou. Lotou mesmo, sem exagero, ficou gente do lado de fora.

Certamente, numa época pré-redes sociais, foi a primeira vez que um monte de gente se encontrou e se viu pela primeira vez tentando interferir na vida do clube. Acho que o presidente na época era Edelson Barbosa, largado à frente do clube como aquele menino do filme atravessando o oceano com um tigre no bote e uma tuia de tubarões querendo almoçar os dois.

Conheci um bocado de tricolor nessa noite, Gerrá inclusive.

Cadoca apareceu. Quiseram lançar ele pra presidente, mas o bicho correu na hora, tá correndo até hoje. Quem topou foi Jonas, o empresário-pastor (sei que hoje é mais comum pastor-empresário, mas na época ainda não era), nome lançado como desdobramento daquela mobilização confusa, sem direção, sem amarração.

O importante era não deixar que os tubarões subissem no bote. O menino Edelson deu um pulo assim que chegou na praia, mas Jonas entrou antes que o tigrão saísse, aí ficou com ele fuçando suas oiças no meio do mar.

Depois de Jonas, um grupo menor de oposição, com vários empresários convenceu Mendonção a ser presidente. O sujeito era brabo, pai de vice-governador, podia arrumar dinheiro, patrocinador forte, essas ilusões que renovam a esperança de tudo quanto é tricolor há gerações. O problema é que Mendonção era político, queria agradar gregos, troianos, romanos, celtas, vikings, persas, chineses, americanos e o escambau. Seu bote ficou cheio de tubarões.

E os tubarões, como todos sabem não gostam de água transparente. Preferem atacar quando as coisas estão turvas. Meio mundo de gente se jogou na água, Mendonção também.

Foi aí que o Blog do Santinha surgiu trompeteando transparência, democracia, que o clube era da torcida e não de alguns, denunciando que a diretoria de então se comportava como uma milícia armada. A gente falava e acontecia. A seção de comentários do blog foi, com certeza absoluta, a segunda comunidade de rede social de santa-cruzenses, quando isso nem existia. A primeira foi o Fórum da Coralnet.

O tempo passou, muita coisa mudou. Mas o Santa Cruz continua no fio da navalha: um milímetro pra um lado, é a glória; um pé pro outro lado, fracasso, dor e agonia.

Nos últimos três anos encarei o desafio de mergulhar numa gestão que prometia transparência. Juro que o possível foi feito. Ou ao menos tentou se fazer. Alguns gestos foram esboçados, mas havia muita vontade e poucos para realizá-la. Hoje, do lado de fora, sei que os acertos só acontecem depois que se tenta, experimenta e erra.

Por isso, no grupo em que participo com Gerrá, fui eu a perguntar: “Antes é preciso definir o que é transparência”. Eu mesmo não sei exatamente o que é isso. Ontem, fiquei sabendo que existem uns parâmetros internacionais que definem o que é transparência institucional. E não tem nada a ver com aquilo que a Comunicação do clube tentou fazer sob meu comando: publicar detalhes de renda, público a cada jogo. Isso é voluntarismo, boa vontade, amostramento ou dar satisfação. Antes de ser publicado, qualquer valor precisa passar pela contabilidade, ser conferido pela federação e passar por outros procedimentos da área financeira e contábil que eu nem sei o nome.

O cara chamado Fábio Araújo, tricolor da Controladoria Geral da União, tá botando ordem na casa e está aprontando um site exclusivo só pra isso.

A galera que tá cobrando transparência de Tininho está certa em cobrar, mas é bom pensar um pouco enquanto cobra.

Costumo dizer que, depois que os tubarões rasgaram a carne e comeram os ossos do Santa, todos os dirigentes que vieram depois – e ainda virão – carregam o estigma daqueles tempos. São tratados como ladrões por definição, sem margem para dúvidas. E como amadores por natureza.

Se é preciso cobrar, é fundamental separar as coisas, principalmente para que a cobrança não soe desmedida ou mero histerismo: não há como comparar o passado em que capangas batiam em sócios nas dependências do clube dos tempos atuais, em que gente que nunca tinha se arriscado a colaborar está dentro do Arruda. Tem um especialista em tecnologia de informação no departamento de Futebol, tem procurador da Fazenda Nacional arrecadando recursos com projetos de lei de incentivo, tem técnico do TCU sistematizando projetos e ideias. Gente que sequer conhecia o presidente.

Não, não são os mesmos de sempre. São pessoas como qualquer um de nós, parecidas com aqueles que estão cobrando, mas não perceberam que podem estar no clube em breve e correm o risco de serem cobrados além da justa medida.

Também é preciso saber o que fazer e saber o que cobrar. E, sejamos sinceros, só transparência não vai alavancar o Santa Cruz aos “píncaros da glória”. É preciso cobrar do clube todo.

O Conselho Deliberativo tem umas poltronas bonitas no auditório, mas nunca teve um reles regimento. Isso mesmo: 104 anos depois o Conselho não tem regras internas de funcionamento, não se sabe quantas vezes precisa se reunir, como precisa se dar o processo de definição de uma pauta etc. Isso sem falar no Estatuto, um documento maluco que separa o clube em três partes desiguais, cada qual pro seu lado, mas que torna obrigatórios sirene e fogos de artifício três vezes ao dia no 3 de fevereiro. Pense numa besteira.

É preciso cobrar o mínimo de democracia: que todas as categorias de sócio possam votar, que cada chapa tenha representação proporcional no Conselho. Isso seria dar um passo fantástico, mas também não resolverá os problemas do Santa Cruz.

Para isso, todo mundo que está exigindo transparência agora e vai exigir outras coisas depois, precisa se juntar a quem é cobrado para enterrar de uma vez por todas a escrotice das cotas de transmissão de TV. Ou para exigir que os putos das emissoras engulam esse horário das 22h que tanto afasta o torcedor do estádio. Ou acabar de uma vez com as federações e lutar por uma liga de clubes.

Sim, não é por falta de transparência que o torcedor sumiu. Se fosse assim, ninguém lotava estádios na Europa, terra onde o Barcelona já foi acusado de lavar dinheiro do narcotráfico. O que falta é dinheiro no bolso do povo, tranquilidade para a mulherada ir no banheiro dos estádios, ônibus para voltar para casa, bandeira e música na arquibancada, segurança para andar nas ruas do seu bairro à noite depois de descer do ônibus.

Vamos construir nossa transparência?!

É algo raro de acontecer, mas vez por outra, se consegue uma boa discussão em alguns grupos de zap-zap!

Ontem, surgiu um bate-papo sobre transparência e a ausência do torcedor do Santa Cruz no Arruda. Como o grupo é relativamente pequeno, deu para turma debater sem maiores problemas.

O motivo que provocou a prosa foi essa história que alguns torcedores ficam dizendo por aí, que deixaram de ir para os jogos porque não há transparência no clube. Não entro no mérito se o cara que diz isto está certo ou errado, se o motivo é justo ou não,  mas penso que uma soma de fatores estão fazendo a arquibancada do Arruda ficar vazia. O povão, por exemplo, não estar indo por causa do liseu que tomou conta da vida deles. O fantasma da insegurança assusta as pessoas. A televisão e o conforto do bar faz com que muitos prefiram ficar sentados, bebendo uma cerva e vendo o jogo na tela da TV. Domingo, por exemplo, o nosso jogo vai ser transmitido ao vivo pela TV aberta. Pra quem tomou uma na praia, pro cara que tá liso, pra quem mora longe, etc, é claro que é mais cômodo ficar em casa e assistir a partida na televisão. E some a tudo isto, a decepção de ver o Santa Cruz voltar para perto do nível mais baixo do futebol.

Pois bem, trocamos umas ideias sobre essas coisas e entramos na questão da transparência.

No futebol brasileiro ser transparente é algo bem incomum. Os clubes, de uma maneira geral, não mostram suas contas, não deixam seu torcedor bem informado e não tornam claro como funciona seu dia-a-dia. No site oficial do Santa Cruz, por exemplo, não tem os nomes dos dirigentes, muitos menos o organograma, nem os nomes dos conselheiros.

Lá no grupo do zap, entre várias colocações, um dos amigos levantou uma questão bem importante: “primeiro tem que ser definido o que é transparência!”

Aproveitei o mote e emendei: o clube deveria era envolver a torcida nessa questão. Na verdade, eu já havia pensado nisto alguns dias atrás. Quando me informaram que essa gestão está elaborando um modelo de transparência, fiquei matutando sobre o assunto:  “caramba, bem que o Santa Cruz podia construir isto junto com seus torcedores”.

E comecei a viajar. Imaginei nosso Clube promovendo um grande encontro para discutir e formatar o modelo de transparência. Algo do tipo, “Torcedor Coral, qual a transparência que você quer para o seu Santa Cruz?”. Se quisessem ser mais agressivo, podia ser: “Ei, você que é do Santa Cruz, tire a bunda da cadeira, saia da rede, vamos construir a Transparência Coral”. Ou simplesmente, “Venha fazer parte da Transparência Coral”. Já começava a onda, mobilizando a torcida para eleger o nome do evento. Para isto, podia usar as redes sociais e fazer pesquisa nos dias de jogos no Arruda.

Depois, convocava a torcida, estabelecia um número de vagas, juntava todo mundo, organizava a massa, ouvia, falava, discutia e, ao final, elaborava o que todos clamam: um modelo de transparência para o Clube Querido da Multidão.  Seria algo inédito no futebol brasileiro.

Mas enquanto a transparência não chega, domingo é ir ao Arruda pra juntar mais uma vitória.

 

TCMOEE Minha Cobra, 12 carnavais

Primeiro surgiu o Blog do Santinha. Aliás, primeiro surgiu a Sanfona Coral. Depois, Inácio e Samarone inventaram este Blog. A turma do Blog, era praticamente a mesma da Sanfona e vice-versa.

Naquele ano de 2005, alegria era o nosso nome. Tudo virava festa, tudo brilhava. E aí, a gente estava dando uma volta em Olinda, apreciando o Olinda Arte em Toda Parte. Eu, Alessandra, Samarone, Chiló e Emília. Há poucos dias, o Santa Cruz tinha sacramentado sua volta a série A. E nós, os tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda, distribuíamos sorrisos por onde passávamos. Fomos andando sem pressa pelas ruas do sítio histórico. Praça do Carmo, Igreja de São Pedro e seguimos pela Prudente de Morais. Encontramos Luciana Santos. Ela sorriu pra gente e a gente para  ela. “Olha a turma da Sanfona Coral, aí!”, e nos deu um abraço.

E saímos por ali, caminhando tranquilo e calmo, passamos pelos Quatro Cantos, subimos a Rua do Amparo e ficamos na frente da Bodega do Véio comemorando aquele ano memorável. Alguns se chegavam, outros acenavam. Fazíamos brindes a todo tempo. Foi quando surgiu a ideia: “e se a gente fundasse uma Troça do Santa Cruz?”

Eu disse: “porra, a gente podia fazer uma cobra bem grande e sair pelas ladeiras”. Nesse momento, o saudoso Chico Arruda, fundador da Porta, estava na nossa conversa. E Chico começou a dar corda na história.

Pronto, ali, na frente da Bodega do Véio, no meio de uma grande farra, em novembro de 2005, foi fundada a Troça Minha Cobra. Não lembro exatamente quem sugeriu o nome. Só sei que, entre altas gargalhadas, o nome foi aceito por unanimidade.

Daí pra frente, já são 12 anos de fundação e 11 anos de carnaval. Subimos, descemos, subimos de novo, descemos outra vez e a Minha Cobra se mantém de pé.

Na próxima segunda-feira, dia 12, a gente completa 12 carnavais em Olinda. Na próxima segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018, a Troça Carnavalesca Mista Ofídica Etílica Erótica Minha Cobra, mais uma vez, vai frevar e pintar Olinda de Preto, branco e vermelho.

Viva o carnaval! Viva o nosso Santa Cruz!