O pulso do Santa Cruz ainda pulsa

O pulso ainda pulsa

O pulso ainda pulsa…

Peste bubônica

Câncer, pneumonia

Raiva, rubéola

Tuberculose e anemia

Rancor, cisticercose

Caxumba, difteria

Encefalite, faringite

Gripe e leucemia…

E o pulso ainda pulsa

E o pulso ainda pulsa

Hepatite, escarlatina

Estupidez, paralisia

Toxoplasmose, sarampo

Esquizofrenia

Úlcera, trombose

Coqueluche, hipocondria

Sífilis, ciúmes

Asma, cleptomania…

E o corpo ainda é pouco

E o corpo ainda é pouco

Assim…

Reumatismo, raquitismo

Cistite, disritmia

Hérnia, pediculose

Tétano, hipocrisia

Brucelose, febre tifóide

Arteriosclerose, miopia

Catapora, culpa, cárie

Cãibra, lepra, afasia…

O pulso ainda pulsa

E o corpo ainda é pouco

Ainda pulsa

Ainda é pouco

Pulso

Pulso

Pulso

Pulso

(O Pulso) – Arnaldo Antunes

Por um milagre

Não era nem quatro horas da tarde e Anízio manda um zap avisando que já estava liberado para ir ao Arruda. Desde a segunda-feira havíamos convocado todos para irmos juntos ver o jogo da arquibancada. “Pra ver se dar sorte”. Na hora do desespero, até o mais ateu reza pra alguma coisa.

Da turma, Marconi, Micrurus, eu, Anízio e Odilon fechamos a corrente. Nos encontramos antes, aceleramos o passo, tomamos uma cerveja com caldinho de feijão no bar de Simone. Até Rafa veio também. Fazia tempo que não botava os pés no Arruda. Vi Samarone e sua juba. Encontrei o incansável Jathyles. Batemos um papo rápido.

As organizadas, de forma inédita, se juntaram atrás da barra e empurram o time pra frente. Inferno Coral, P-10, Império e outras, cada uma puxava um grito de guerra. Uma energia linda. Era como se nossa casa estivesse lotada.

E nosso esquadrão começou a todo vapor. Pressão no adversário. O gol era uma questão de tempo. Mas aí, eis que perdemos uma bola no meio e nosso jogador ao invés de matar a jogada, resolve derrubar o adversário dentro da nossa área.

“Fudeu”. “Puta que pariu”. “Vai tomar no cu”. “Filho da puta”. “Que bicho burro do caralho”.

“Vai ser por fora”. “Na trave”. “Esse porra vai perder”. “Defende Julio Cesar, te consagra”.

Que nada, a maldição do ex-jogador resolve dar as caras. Mazinho, aquele mesmo que perdeu um gol feito naquele jogo contra o DIM que nos tirou da Sulamericana, apenas tocou rasteiro para o fundo do barbante. Nosso goleiro, o ex-capibaribe, pula no outro lado e nem vê a bola se arrastar na grama  e entrar suavemente.

Mas vamos lá. Para o Santa Cruz nada é fácil, assim diz a lenda, assim é nossa história. Continuamos na luta, no grito e jogando com o nosso time. Para nossa sorte, Primão havia se machucado e Bruno Paulo tinha entrado ainda no primeiro tempo.

Eis que surge um penalti no velho Grafa. Ainda bem que ele continua batendo bem. Empatamos. E toda a força ressurge. A esperança volta correndo para nos abraçar.

Estamos com um jogador a mais. Continuamos na pressão. Ao meu lado tem gente querendo jogar uma pedra na cabeça do treinador para ver se ele bota alguém na ponta direita.

E aí, de novo, a maldição do ex-jogador. De novo ele, o Messi Black. Pega uma bola na nossa direita, ninguém chega junto, ele chuta cruzado, a bola vai rasteira, polindo a grama.

Ali de onde estávamos, vimos a imagem em HD. Vimos o ex-goleiro da Barbie levar um gol bisonho.

Aquela posição, meus amigos, a de goleiro, não é lugar para os fracos. Aquele habitat é para quem consegue garantir o resultado, é para quem consegue fazer uma defesa milagrosa, para quem consegue tirar uma bola indefensável. O bom guarda-metas é o cara que salva o time quando a turma da defesa falha.

De novo, o placar é adverso. Fomos pro abafa e até conseguimos empatar. Nos esgoelamos. Torcemos. Fizemos de tudo.

No apito final, um gosto amargo e uma sensação de que só um milagre nos salvará.

 

E assim, vamos chutando pedrinhas

Dois textos que li, resumem tudo que eu iria escrever. Um deles está no meio dos comentários da postagem de Zeca: Futebol, política e Arte.

Quando Geraldo Mesquita diz que “desde a Era Cabeção a gente ouve falar em mudanças. Ao final de cada gestão, a gente ver que nada mudou”, ele parece que leu meu pensamento.

Eu estava lembrando de quando juntamos cerca de 30 tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda, arregaçamos as mangas e fomos voluntariamente trabalhar no clube. A ideia era elaborar um projeto administrativo para o Santa Cruz.

Nos dividimos em vários grupos: administrativo(contadores, administradores de empresa, auditores, entre outros profissionais), jurídico (advogados), patrimonial (engenheiro civil e arquitetos) e outra áreas que não lembro bem, afinal isso já faz uns dezoito anos que aconteceu. Sonhadores, nos deslumbramos em estar contribuindo para modernizar o nosso amado Clube, o mais querido de todos, o nosso Santa Cruz. Passamos meses lá dentro. Produzimos alguns relatórios. Mas esbarramos em forças ocultas que não queria mudança. Fomos cansando e, do nosso trabalho, restou apenas algumas amizades.

Certa vez, fui levado para uma reunião de diretoria. Eu havia feito parte do grupo que apoiou a turma que foi eleita. Ao final, o então presidente, pegou um bocado de ingresso e fez todo mundo comprar alguns lotes. Não comprei nenhum e nunca mais participei de outra reunião. Nessa mesma época, uma turma boa que conheço se encontrava todos os sábados no Arruda para elaborar um planejamento estratégico para o Clube. Tudo de forma voluntária. Ao final tudo foi engavetado.

Ali é assim. Engana-se aqueles que acham que as portas estão abertas para quem quiser ajudar a mudar o Santa Cruz. Só é bem recebido, os que colaboram comprando rifas, dando  cesta básica, comprando um livro, um bolo ou um caminhão de areia. E tem que contribuir e ficar de olhos fechados para o que há de errado nos corredores das Repúblicas Independentes do Arruda.

O outro texto é de Pedro Costa e foi publicado no Arrudiando (ESPN FC). O título diz: Santa Cruz sucumbiu à sua eterna bagunça: só um milagre salva o Tricolor.

No texto, Pedro Costa vai pontuando os eternos atrasos de salários, o abandono do clube por parte da diretoria, dos jogadores que vieram e que não chegaram (Bileu, Walber, Alex Travassos, Pachu e outro que não lembro). Fico aqui pensando qual foi a lógica usada para se trazer tanto jogador ruim. Trouxeram até jogador que enfrentava sério problema de saúde na família e que não tinha a menor condição de jogar bola.

Como diz um amigo meu (que é tão Santa Cruz quanto todos que acompanham este Blog e todos que frequentam o cimento do José do Rego Maciel), nosso Clube é uma massa falida.

Na verdade a gente vai sobrevivendo apenas da paixão do nosso torcedor e dos acasos do futebol. Vez por outra um título, uma vitória, um campeonato na casa do adversário faz a massa coral vibrar de alegria e esquecer os problemas.

E assim nos resta apenas continuar criticando e ir chutando pedrinhas na esperança por uma vitória contra o Oeste.

São Bambo, escutai todas as nossas preces!

É rezar e beber

Desde o último jogo, a derrota para o América de Minas, algo como um “já vi isso” vem passando na minha mente. Clube abandonado, jogadores pedindo para ir embora, salários atrasados e a torcida sem esperança.

Quem ainda tiver uma dose de otimismo, por favor bote num copo e me dê uma lapada. Do jeito que tá, o certo é tomar uma para se animar e se agarrar a tudo que a fé. Vale promessa, fé, macumba, bruxaria e tudo que mais vier. As bebidas, sugiro as destiladas.

Sobre promessa, me indicaram São Expedito. Dizem que é o santo das causas urgentes. Bom, já passou da hora de vencermos fora de casa. Então,Santo Expedito dê uma força aí pra nós. “Santo Expedito das Causas Justas e Urgentes, socorra a gente nesta hora de desespero. Faça com que nosso Santa Cruz Futebol Clube ganhe o jogo desse sábado, para que isso traga paz e conforto para toda família tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda”.

Falaram também que Santa Rita pode ajudar. Segundo eu soube, ela também dá uma força nas causas impossíveis. “Santa Rita, minha querida! Interceda por nós. Nós que somos Santa Cruz, o time do santo nome que nasceu na frente de uma igreja. Fazei com que a gente vença nem que seja de 1 a 0. Pode ser até com um gol de Primão, de Barbio, de qualquer um”.

Um amigo sugeriu oferecer algo a Logunedé. Outra falou que eu me agarrasse com Iemanjá. E a mãe de um conhecido disse que na hora do jogo, o bom é pegar uma toalha molhada e ficar dando nó nelas, para amarrar as pernas do adversário.

E tem nosso eterno amigo e salvador, São Bambo. “Meu São Bambo, você que sempre esteve ao nosso lado, fazei com que neste dia 14 de outubro, quando o nosso Santa Cruz entrar em campo, todos os caminhos se abram na nossa frente e que todos os sinais fiquem vermelhos quando o adversário vier com a bola.

Faça com que o velho Grafite tire a inhaca e consiga mandar uma bola para os fundos da rede do nosso inimigo. Pode ser de penalti. Ilumine os pés de André Luiz para ver se ele consegue chutar uma bola no gol. Solte os braços de Julio César para que ele defenda tudo que vier contra nossa meta. Aprume o pé de Anderson Sales para que a gente volte a ver um golaço de falta. Abra a porra da cabeça desse treinador e não deixe demorar a mudar o time, nem fazer substituições equivocadas.

Por fim, meu santo São Bambo, traga a vitória para nós, porque o que vale são os três pontos. E se a gente perder amanhã, é fumo”.

No mais, meus amigos, quem for de rezar, reze.

Alá, Jesus, Maomé, Buda, Ogum, Nossa Senhora da Conceição.

E quem for de beber, beba.

Pitú, Teacher, Montilla, Vodka.

Na próxima a gente ganha

Texto enviado pelo nosso colaborador Lucas Pinto

Esse é um texto que eu sabia que iria escrever. Só não tinha certeza sobre o sentimento que iria colocar nele. Eis que me restou escrevê-lo com preocupação e esperança.
Mas eu queria mesmo era que fosse de entusiasmo e felicidade.
No sábado do jogo contra o América, estive pela manhã na escola da minha filha mais velha, era a feira de ciências dela. Durante uma apresentação, apareceram dois coroas com peças do Santa Cruz, o mais velho um boné e o outro uma camisa. Cheguei Pra Bia e falei “Bia, vai lá naquele tio, diz a ele que o Santa hoje vai ganhar e com gol de Grafitte”. A menina foi pra lá, foi pra cá, pensou, arrodeou e decidiu não dizer nada, estava com vergonha. Tudo bem.

Quando sai de casa indo comprar cerveja, esperando meu grande amigo coral Batata, passei pelo frigorífico do tricolor. Aí rolou aquele tradicional diálogo rápido, entre a caminhada:
– Dale tricolor!
– Bora tricolor!
– E aí, vamo ganhar hoje né?!
– Vamo, mas se não ganhar hoje, a gente ganha na próxima. – com um riso sincero, ele respondeu.

Essa resposta veio como uma bomba no meu juízo. Foi um misto de sentimento e de raciocínios. Foi nesse momento que este texto que vos escrevo nasceu. Sentia o medo da premonição, mas também, o orgulho de ter ouvido aquela frase forte, esperançosa e resistente “se não ganhar hoje, a gente ganha na próxima”. E veio o dilema, iria escrever sobre aquilo num momento alegre ou triste?

Eis-me aqui. Madrugada de Domingo, preocupado. Pensando em como precisamos encontrar o “x da questão” urgentemente. Voltar para o inferno é fora de cogitação.
Mas, e nós, torcedores? O que nos resta e cabe nesse momento? Uma coisa é certa: fugir da raia é que não é.

Infelizmente, a diretoria claramente demonstra estar com os recursos esgotados. Mas, buscou fazer o seu papel, isso é inegável. A comissão técnica parece um pouco confusa. Então, só quem pode tomar atitudes fortes a ponto de mudar o panorama, é o time e a torcida. Mais uma vez, como em tantas outras. Somente o time e a torcida podem fazer alguma coisa!

Então, guerreiros e guerreiras, os 9 mil de todo jogo ou os milhões de corais: não podemos baixar a cabeça! Vamos se manter firme na luta, firme no cumprimento do papel, pois a torcida também tem o seu, e acompanhar de perto, apoiando e cobrando, para que o elenco também cumpra o dele.

E levar, no coração e na alma, a convicção de um coral que conhece a camisa que veste e a ideologia que nos envolve: se a gente não ganhar hoje, a gente ganha na próxima!

A torcida guerreira de Pernambuco

Texto enviado pelo colaborador Lucas Pinto

Os tempos atuais são confusos. Muitos fatores alteraram a realidade das arquibancadas do Arruda, hoje vazias… Mas a história ninguém muda.

Sinônimo de torcida guerreira é a torcida do Santa Cruz. É o que constantemente ouvimos em todo o mundo. Sim, todo o mundo! Nossa resistência na peleja rodou o planeta e quando se fala no futebol pernambucano, nós que somos a representação da força na bancada.

Se engana quem pensa que fomos postos à prova somente nos “anos terríveis”. A vida nunca foi fácil na Zona Norte do futebol da cidade. Porém, a forma com que nossa nação entra de cabeça na luta, sempre chamou atenção e fez com que nos tornássemos uma torcida modelo.

Daí veio a paixão da maioria dos corais da minha geração. Vivemos décadas difíceis, de raras conquistas dentro de campo. A festa, o povão, a alegria de (simplesmente) ir ao Arruda ver o Santinha, a honra de suar essa camisa no concreto armado do Colosso, foi o que nos apaixonou. Tenho certeza, isso não está morto!

A luta é permanente. As vezes por títulos, as vezes por classificações, as vezes por permanências…, mas sempre estará acontecendo, sempre estará se desenrolando uma peleja e a nossa sede de lutar é infinita!

Guerrear pelas três cores é a nossa razão. Isso é o futebol para os torcedores corais!
Não iremos nos distanciar do time, não iremos ficar apenas assistindo. Vamos entrar em campo junto com o manto santa-cruzense. Vamos nos fazer efetivos e decisivos. Estaremos presentes!

Temos 6 jogos em casa até o final da temporada. Jogos estes que precisamos vencer! Mas, para que a Cobra Coral entre forte na cancha, seu povo deve estar nas arquibancadas, deve estar ao lado, jogando junto.
Se a gente levar um gol, vamos cantar pela virada! Se a partida tiver apertada, vamos fortalecer o Santa com nossos gritos. Vamos cantar os 90 minutos e “ai” de quem estiver com a energia contrariando nossa busca pela vitória!

O momento é de “sangue nos olhos”. Todo mundo se ajudar, mas também se cobrar.
Se queremos empenho no gramado, precisamos nos empenhar no concreto!

Daqui pra frente, nós é que vamos entrar em campo

Ivonaldo, o cara da xerox, descobriu meu zap. Vez por outra manda umas putarias, uns vídeos sem graça. Toda vez que acaba um jogo do Santa Cruz, ele envia uns comentários.  Assim que acabou o jogo lá em Porto Alegre, ele mandou um áudio.

“Dotô, só mesmo na base da emoção, alguém poderia acreditar que o Santa Cruz venceria o Internacional, lá dentro. Essa derrota já estava nos meus cálculos!”

Mandei um legal de volta.

Ivonaldo é uma onda. Está sempre com uma resenha na ponta da língua. O elevador chegou e ele subiu junto comigo.

” Dotô, só depende da gente. Da torcida, da diretoria e dos jogadores.” – ele escreveu.

Enviei um paz e amor.

E ele mandou o arremate final.

“Tá faltando 11 jogos. Seis em casa e cinco fora. Se a gente ganhar cinco, a gente não cai”.

Fiquei com esses cálculos na cabeça.

No domingo de manhã fui procurar a tabela para ver os jogos que faltam. Realmente, são 11 jogos. Seis em casa e cinco fora. A sequência é a seguinte:

Santa Cruz x América/MG, Figueirense x Santa Cruz, Santa Cruz x Oeste, Brasil x Santa Cruz, Santa Cruz x Luverdense, Santa Cruz x Capibaribe, Vila Nova x Santa Cruz, Boa x Santa Cruz, Santa Cruz x Paraná, Paysandu x Santa Cruz e Santa Cruz x Juventude.

Fácil não vai ser, meus amigos! A gente vai enfrentar times que tão lutando pra subir e outros que estão iguais a nós, na peleja para não cair.

Imaginem se chegarmos na última rodada precisando vencer para não ser rebaixado e o Juventude tendo que ganhar para subir para primeirona. Preparem o coração!

Para aliviar minha angústia, peguei os jogos que faltam e enviei pelo zap com alguns amigos. Junto com a mensagem, mandei a seguinte frase: “Escolha cinco jogos aí e reze para gente vencer”.

O primeiro a responder foi Tiburtius. “Oeste, Luverdense, Náutico, Boa e mais um”.

Logo em seguida, chegou a resposta de Raul de Holanda. “Oeste, Luverdense, Náutico, Boa e Paraná”.

Depois foi Claudemir. “América, Oeste, Luverdense, Náufrago, Paraná, Juventude. Escolhi seis só pra garantir”.

Como bom entendedor de futebol, Anizio foi bem sucinto. “Náutico e mais 5”.

E Felipe Lins do Portão 10, fez uma análise mais aprofundada. “Vitórias contra: Oeste, Luverdense, Náutico e Paraná. Empata com America, Figueirense, Boa e Juventude”.

Alguns não quiseram opinar. Outros lamentaram a má campanha. Uns falaram mal de Givalnildo. Mas o que todos concordaram é que daqui pra frente, é abstrair o passado e vestir a camisa. É a torcida dar apoio incondicional. Daqui pra frente, nós é que vamos entrar em campo.

Rezem, façam promessas, macumba, bebam e ceguem! Agora tem que ser apoio total e na base do grito. Sábado todos os caminhos nos levam ao Arruda. E quem não for vai levar um tá ligado.

São Bambo, escutai as nossas preces

Para que nossa defesa não vacile na hora do escanteio contra nós.

“São Bambo, escutai as nossas preces”.

Para que Nininho acerte metade dos cruzamentos que ele fizer.

“São Bambo, escutai as nossas preces”.

Para que Anderson Sales consiga fazer um gol de falta.

“São Bambo, escutai as nossas preces”.

Para que Grafite faça um gol, nem que seja de pênalti.

“São Bambo, escutai as nossas preces”.

Para que Wellington César acerte muitos passes.

“São Bambo, escutai as nossas preces”.

Para que Wellington César não seja expulso.

“São Bambo, escutai as nossas preces”.

Para que Wellington César consiga sair jogando.

“São Bambo, escutai as nossas preces”.

Para que Wellington César consiga roubar várias bolas sem fazer falta.

“São Bambo, escutai as nossas preces”.

Para que nosso goleiro Júlio César estique o braço e defenda todos os chutes do adversário.

“São Bambo, escutai as nossas preces”.

Para que Thiago Costa acerte os passes, os cruzamentos e a marcação.

“São Bambo, escutai as nossas preces”.

Para que Sandro não chegue atrasado nas jogadas.

“São Bambo, escutai as nossas preces”.

Para que o triângulo Wellington César / João Ananias / Primão joguem bem e nos surpreenda.

“São Bambo, escutai as nossas preces”.

Para que Bruno Paulo repita a bota atuação do segundo tempo contra o Goiás.

“São Bambo, escutai as nossas preces”.

Para que Bruno Paulo não tenha uma recaída e mantenha o bom futebol do segundo tempo contra o Goiás.

“São Bambo, escutai as nossas preces”.

Para que André Luiz faça um gol de fora da área.

“São Bambo, escutai as nossas preces”.

Para que Natan, se entrar, não se machuque.

“São Bambo, escutai as nossas preces”.

Para que o Santa Cruz consiga juntar mais uma vitória, mas um empate também serve.

“São Bambo, escutai as nossas preces”.

Irmãos tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda, hoje às 18h e também às 21h, estaremos juntos na casa de Samarone para fazermos está oração. Os que puderem, tentem nestes horários fazer uma corrente e se juntar a todos nós pedindo a São Bambo para iluminar nossos caminhos.

O futebol é uma coisa linda

Quando a gente estava passando na frente da casa de Dona Edná, já bem pertinho da entrada no Portão 7, a torcida gritou gol. Como se fosse possível ver o replay do gol, o corre-corre foi grande para entrar no estádio.

Passando pela catraca, Marconi profetizou: “hoje é goleada”. E quase foi.

O futebol é essa coisa linda e surpreendente. O jogo estava horrível, aos 15 minutos do segundo tempo já tinha gente pedindo para acabar. A irritação começava a tomar conta da torcida. Até minha filha disse que tinha se arrependido de ter ido pro jogo. Falei para ela: “calma. O jogo só acaba quando termina”.

De repente, com Wellington César e João Ananias na cabeça da área, o Santa Cruz mudou da água pro vinho e derramou alegria na massa coral.

Tivemos apenas 38% de posse de bola e vencemos o jogo com direito a perder alguns gols incríveis. Se as três bolas na trave tivessem entrado, seria somente 6 a 0.

Mas 3 a 0 foi ótimo.

Um gol para cada uma das minha mulheres. Alessandra, Mariá e Sofia.

Um gol para cada uma das nossas cores.

Um gol para Chiló, João Peruca e João Valadares, velhos companheiros da arquibancada e da Sanfona Coral. Nos encontramos ontem e fizemos aquela corrente pra frente.

Um gol para Madson. Outro para Guilardo. E o terceiro para Wlad. No golaço de Bruno Paulo, o terceiro gol, imaginei os três abraçados, cheios de aguardente no quengo e gritando: “agora a gente chega. No cu da jovem, no cu da jovem”.

Os 3 a 0 foi também para Caroline, Aurélie e Bertille. As garotas são francesas. Estão aqui há duas semanas e ontem foram levadas por Julio Vila Nova para conhecer a magia do Arruda. Elas são formadas em Letras, vieram com apoio da Embaixada da França para dar aula de francês. Caroline na UFRPE, Aurélie na UFPE e Bertille no Colégio de Aplicação. Julio tá meio na função de cicerone. Já levou elas para comer feijoada, para ver orquestra de frevo em Olinda e ontem foi a vez de ir ao futebol. As meninas ficaram encantadas com o que viram no jogo.

Bertille comentou para Julio Vila Nova.

— Le fut est très important pour comprendre la culture du Brèsil.

Julio ressaltou.

— d’accord. Mais à Pernambuco, Santa Cruz est plus important que le fut pour comprendre le peuple du Brèsil.

Bertille respondeu com aquele sotaque francês.

— Hum-run! Sí. Sí!

E eu fico aqui pensando… O futebol é mesmo uma coisa linda!

Só a vitória. Somente isso!

Ontem recebi pelo zap uma imagem do eterno Rosembrick. Parece que o Mago vai jogar pela Cabense. Sou fã dele.

Na mesma hora me bateu uma lembrança boa: aquele time de 2005. Ali era pura raça. Valença na zaga. Na cabeça da área, tinha Neto. Na lateral-direita, Osmar. O lateral-esquerdo era Peris e Xavier. Andrade Cabeção nosso batedor de falta. No ataque Bala e Reinaldo. E no meio, o Mago Rosembrick.

Na Sanfona Coral, a gente cantava assim: “devagar, que o Mago é de barro/devagar, que ele pode cair”.

Quando eu vejo jogadores do quilate de Barbio e outras desgraças que já passaram por aqui, tenho a certeza que Rosembrick levou azar no futebol. As vezes falta um bom empresário pra cuidar da carreira do atleta. As vezes falta uma boa estrutura familiar. As vezes falta juízo. Mas bola, o Mago tem. Melhor do que muitos Marcinhos e outros pernas-de-pau que vestiram a nossa camisa.

Aos 38 anos, se tivesse tido mais sorte, Rosembrick seria titular tranquilamente neste time do Santa Cruz.

Voltando para 2005, era um jogo no Arruda. Santa Cruz x Vitória da Bahia. Eu me lembro de um traço que ele deu em um jogador do Vitória. O Mago vem em velocidade em direção a linha de fundo, o adversário chega para marcar. Rosembrick prende a bola e mete de letra por baixo das pernas do baiano, que fica mais perdido do que cachorro quando cai do caminhão de mudança. Aquilo foi mágico.

Nesse time de hoje, não tem ninguém que jogue o que Rosembrick jogou. Podem juntar Léo Lima, Barbio e Pitibull que não dá um Rosembrick.

Tenho saudades de 2005. Daquela energia boa que tomou conta da gente. Fazíamos a festa no cimento da arquibancada. Quem acompanhou a Sanfona Coral sabe que a gente ficava sempre no mesmo lugar e que tínhamos alguns rituais e superstições.

Hoje vou para arquibancada pra ver se algum espírito bom daquele ano encarna nesse time de atual. Pra ver se alguma coisa sobrenatural que esteve no Arruda em dois mil e noventa e cinco, aparece de novo e nos salva do rebaixamento.

Por um instante vou tentar abstrair e esquecer que o Santa Cruz é um clube tratado como se estivéssemos nos anos 70. Um clube que não tem transparência. Para quem não sabe, nem o estatuto está disponível no site oficial. Um clube que parou no tempo.

Vou me mandar esquecendo dos Barbios, Facundos e tantos perronhas que vestem nossa camisa.

Daqui a pouco, quando a bola começar a rolar, quero cegar e ver apenas nossa vitória para sairmos dessa zona. Pra mim basta um a zero, com um gol de Primão de fora da área.

Cego, eu quero somente os três pontos. Somente isso.