O Blog do Santinha e o ex-presidente do Santa Cruz, José Neves, já não têm qualquer pendência jurídica. Depois de anos parada na Justiça, a ação cível impetrada contra o Blog teve marcada sua primeira audiência em meados de maio. O problema é que, a essa altura do século XXI, quando o Santa Cruz vive um momento totalmente diferente com paz e a busca pela união entre todos os protagonistas que fazem parte da história do clube, já não havia razão para continuar uma briga tão velha. O que passou passou e priu. Tanto os blogueiros quanto Zé Neves resolveram se antecipar à Justiça: antes mesmo da audiência, trocamos não sei quantos telefonemas e acertamos tudo.
Pelo acordo, Inácio e Samarone entregariam 10 cestas básicas cada um ao clube, para serem distribuídas entre os funcionários mais humildes do quadro administrativo. Zé, em troca, concordaria com a extinção da ação de uma vez por todas. A audiência teve que acontecer. A cena foi até engraçada: a assessora do juiz toda séria, toda cheia de dedos, com medo que nos engalfinhásssemos. E nós rindo, contando histórias de torcedores fanáticos, das demências de Samarone, dos apertos que Zé Neves passou em plena arquibancada da Ilha, quando tentou assistir sem ser reconhecido à final de 2013. Ou de 2012, já não lembro. A moça achou que estivéssemos tirando onda.
Ontem, tudo foi resolvido: as 20 cestas foram entregues ao diretor de Relações de Mercado & Comunicação do clube, o ilustríssimo senhor Jorge Arranja. Zé não pôde ir, enroscou-se numa reunião complicada, mas era para ele ter aparecido na foto. Samarone também não foi para Fortaleza lançar seu livro de poesias premiado junto com outros poetas cearenses desgarrados.
Antes de responder, juro que não consigo entender tanta curiosidade por um macho véio como eu. Viadagem das grossas.
Sim, é verdade que estou começando o segundo volume dos Irmãos Karamazov. Devagarzinho porque o Santa Cruz consome muito a gente.
Sim, é verdade que estou desovando a escrita de um livro durante muito tempo represado em meu juízo. O ritmo já foi melhor, desacelerou por causa do Santa Cruz. Mesmo assim continuo indo escrever pelo menos duas vezes por semana num escritório secreto no centro da cidade, sem internet e com sinal de celular fraquinho que é para ninguém encher meu saco.
Também é verdade que dar conta de três filhos toma muito meu tempo, mas até isso está indo aos trancos e barrancos por causa do Santa Cruz.
A essa altura do texto, vocês devem estar se perguntando como torcer por um time pode dar tanto trabalho. Torcer é duro mesmo. Pior é ajudar a montar uma estrutura e uma cultura de comunicação no Santa Cruz, desde sempre um clube sem nada disso (ou quase nada, pois felizmente pôde contar com o esforço solitário do assessor de imprensa Jamil Gomes).
Entenderam? Há pouco mais de um mês, estou dando uma contribuição profissional ao meu clube de coração. Vou receber por isso. Pouco, mas vai entrar uns trocados pelo trabalho de consultoria. Não faria nada voluntariamente por não acreditar na qualidade desse tipo de trabalho e, principalmente, porque o voluntarismo no futebol é uma prática que enfraqueceu institucionalmente o Santa Cruz.
Sou sincero: eu praticamente me convidei para esse serviço. Mesmo cheio de coisa para fazer (livro, programa de rádio, projeto de uma nova plataforma de jornalismo em andamento…) achei que tinha de contribuir com essa gestão que se propõe a ser nova, mas que corria o risco de ser mais do mesmo se não se abrisse a novas práticas.
Primeiro fiquei enchendo o saco do presidente Alírio depois daquela conversa com a turma do Blog do Santinha, em dezembro, sobre os erros que ele não podia repetir no clube. Devo ter deixado o sujeito em pânico. O próximo passo foi abrir minha rede de contatos (a famosa network), afinal eu não sei fazer nada que preste, mas conheço todo mundo que sabe trabalhar bem. Quando Alírio topou escutar as pessoas que eu indiquei, pudemos avançar um pouquinho.
Apresentei o presidente a Nivaldo Brayner, professor de marketing na UPE que tentou fazer um trabalho mais profissional de marketing no início da gestão de Fernando Bezerra Coelho. É dele a adoção da frase A torcida mais apaixonada do Brasil. Brayner, por sua vez, trouxe para o grupo Jorge Arranja, professor de Gestão de Marketing, que acabou assumindo a diretoria de Marketing e Comunicação do clube. O detalhe é que Arranja não torce pelo Santinha. Ele é “aficionado” do FC Porto, de Portugal. Problema dele.
Depois, chegou a hora de incorporar Laércio Portela à equipe. Portela é um nome um tanto desconhecido entre vocês, leigos nessa arte, mas vem a ser um dos melhores especialistas em redes sociais do Brasil, quiçá da América Latina. Está de volta a Pernambuco e torce tresloucadamente pelo Santa. Só não vou mencionar o currículo dele porque o sujeito é tímido e todo esquisito. Ele é o tal “Cético” de quem Samarone tanto fala. Eu sou o “Cínico”. E Samarone é um frango, por falar nisso.
Começamos a botar para moer há algumas semanas com as redes sociais, as promoções e coisa e ta. Alguns já devem ter notado. Mais coisas virão, incluindo um site tamporoso e a construção de uma relação da presidência do clube com a imprensa em novos parâmetros institucionais.
Enquanto isso, dificilmente terei tempo de escrever para o blog, a não ser para dar pau nos escrotos da Tropa de Choque da PM (vocês nem imaginam o quanto aqueles puliças se esforçam para prejudicar o Santinha!). Mas voltarei. A ideia é deixar a coisa funcionando para voltar a ser torcedor.
Ah, a imagem lá de foi cima postada por Marcelo Mello no facebook e não tem nada a ver com esse texto, mas é uma das melhores coisas que circulam na internet desde que os bicolores da Madalena começaram a enfrentar a situação adversa na qual se encontram.
E voltei em dúvida: desço a lenha em Ricardinho ou no goleirinho? Começarei com o vigia da barra, mesmo achando que o verdadeiro responsável tem cabelos grisalhos, é metido a bem educado e estava do lado de fora do campo.
Escolho o goleiro porque estou com vontade de mudar o nome do meu filho caçula. Não estou conseguindo chamá-lo de Bruno. Da avenida Beberibe até em casa vim chamando o pirralho de pirralho. ‘Pirralho, quer comer alguma coisa?” ou “Vai tomar banho pirralho”. Se for chamar de Bruno vai ser pra mandar à puta que o pariu. E o bichinho não merece isso. Nem a mãe, uma verdadeira santa (apesar da gente ter chegado do jogo às nove horas e ela ainda não estar em casa).
Quando se está com raiva é preciso cuidado pra não perder o fio da meada.
Toda vez que Tiago Cardoso se machuca é esse deus-nos-acuda. Sem o paredão, não subimos em 2012. O esforçado Fred até que faz o trivial básico, mas não milagres. No ano anterior, suportamos as trapalhadas do mã0-de-lodo André Zuba, um rapaz que tinha tudo para ser bancário ou comerciante de secos & molhados, mas inventou de pegar no gol. Pior: no nosso gol.
Agora. esse tal de Bruno. É uma sina.
Mais do que sina, é bola cantada. Quando anunciaram a sua contratação, a primeira coisa que todos tricolores lembramos foi a imagem dele com bola passando por debaixo das pernas, num jogo do Palmeiras na Libertadores. Um peru clássico. Como se contrata um goleiro que se notabilizou por um frango? Goleiro tem que ficar conhecido por uma defesa arrojada, por uma saída corajosa, por um pênalti que espalmou. Ninguém contrata um atacante famoso por perder muitos gols.
E goleiro que papa frango não merece segunda chance. Essa frase é de Gerrá e eu a roubei para usar aqui.
Verdade se diga: Bruno vinha se esforçando para engolir uma bola desde o primeiro jogo. Só escapou porque Bileu, Léo Veloso e a zaga foram mais incompetentes que ele. Contra a Salgueiro, o inevitável aconteceu.
A insegurança do frangueiro é tão grande que a torcida, com um humor finíssimo, comemorava como se fosse gol toda vez que ele saía do gol e segurava a bola, sem socá-la desesperadamente. Quem estivesse do lado de fora, pensaria que estávamos vencendo de goleada.
Acabo de ler o que ele disse no fim do jogo (um elogio: ele se comportou com dignidade, dando entrevistas a torto e a direito enquanto escutava as vaias a que fazia juz) e concordo que a culpa não pode ser jogada só sobre seus ombros. Quem o escalou, o escalou errado. Pronto, eis minha deixa para descer o pau em Ricardinho. Aliás, não só em Ricardinho, mas na comissão técnica e nos diretores que contrataram um goleiro peba, um lote de atacantes hospitalizados e nenhum lateral que preste.
O Ricardinho é uma góga só. Fala bonito, com voz grossa e diz que é o principal responsável. E tem tudo para marcar época com o pior início de campeonato estadual da história recente do clube e pela mais estúpida substituição jamais feita em Pernambuco. Não lembro de uma reação tão instantânea e violenta dos torcedores como a que explodiu no exato instante em que acendeu o luminoso com o número de Biteco.
Numa tacada só, ele desmontou a organização no meio de campo, tirou o jogador que injetava tesão e aumentou a pressão sobre os que ficaram em campo.
Antes, um aviso. Se quiserem saber de reforma no estádio, de jogos na Arena, novos jogadores, placar eletrônico e não sei mais o quê, vá escutar alguma resenha ou ler os jornais. Isso aqui não é um site de notícias. Não damos furo, nunca saímos na frente. Neste blog você vai rir, chorar ou ter raiva, jamais se informar. Não estamos nem aí pra isso.
Realmente, até imaginamos que daria para fazer uma entrevista com Alírio, mas nem tirei o gravador do bolso. E não usei o caderno do tamanho de um bonde que levei e que virou uma tralha incômoda de ficar segurando.
A entrevista virou conversa. E foi melhor assim.
O que mais me chamou atenção é que parecia haver dois Santa Cruz em campo. Um deles era o Santa de Tininho. Esse era o Santa Cruz nosso de cada dia, o Santa Cruz real, que deixa o sujeito maluco com tantos problemas a serem resolvidos ao mesmo tempo.
Tininho permaneceu o tempo todo estressado, nervoso, recebendo ligações, respondendo a mensagens, e-mails, esperando retorno de jogadores, de prováveis técnicos. Sempre aperriado, com um olho na conversa e outro nas contratações, renovações…
O Santa Cruz de Alírio parecia o Santa Cruz de quem ainda não botou a mão na massa e que está muito instigado. Cheguei a escrever “Santa Cruz utópico” na linha acima, mas apaguei. Talvez muitos ridicularizem as utopias e achem que a palavra é pejorativa. Mas pelo jeito, o novo presidente está mesmo a fim de construir utopias.
Alguns traços desse clube sonhado por ele soam como música aos meus ouvidos: ele realmente imagina que o Santa Cruz se torne um espaço de participação de pessoas que podem contribuir, mas não sabem como.
Não sei se isso ele vai conseguir, pois a cultura das pessoas que fazem o Santa Cruz é de exclusão. Eu e muitas outras pessoas que nós conhecemos já tivemos experiências irritantes na avenida Beberibe. Mas não posso duvidar de um sujeito que conseguiu reduzir as dívidas do clube de R$ 110 milhões para pouco mais de R$ 20 milhões sem desembolsar um puto.
Parece um delírio, não é? Aliás, ele deu gargalhadas quando soube que já sendo chamado assim nas redes sociais. Disse que esse apelido ele quer ter, “pois quem delira muitas vezes está vendo coisas que os outros não conseguem ver”.
O homem, peso pesadíssimo do Direito Tributário, explicou que só faltam alguns prazos serem cumpridos para a liberação das certidões negativas. Além disso, deu alguns detalhes técnicos de como ajudou a reduzir as toneladas de dívidas. Usou recursos legais como prejuízo fiscal, pesquisou as prescrições, descobriu duplicidades e um monte de minúcias jurídicas que eu não sei nem quero saber. Boa parte desse trabalho quem fez foi sua esposa Fernanda, também advogada.
Aliás, Gerrá tem razão: aposto que Alírio será o primeiro presidente do Santa a contar com o apoio de uma esposa que é mais fanática que ele e que está curtindo muito o desafio.
Espero que o casal não desanime quando, depois de uma derrota qualquer, as crianças voltem para casa chorando porque algum menino tricolor do colégio avacalhou o pai.
Alírio diz que pretende melhorar a péssima comunicação entre o clube e a torcida. E acha que a conversa com o Blog do Santinha foi um passo nessa direção. Estamos dispostos a ajudar e a meter o pau em zagueiro ruim, em técnico burro, em atacante covarde e em dirigente que atrapalhe essa comunicação.
É bem verdade que talvez tenha se arrependido depois que Samarone quis ficar mais pouquinho. Sabe aquela história do dono da casa, por pura educação, dizer “está cedo, não vão agora”. Pois é, Samarone ficou. Até quatro horas da manhã. E bêbado. E babando o sofá. Uma vergonha. O capítulo dele vai se chamar Nove horas com Alírio.
Ah, ficamos sabendo o nome de dois jogadores que estão quase acertados. Coisa fina. Mas não vou dizer, pediram segredo. Lamento muito. Sobre o placar, ninguém sequer lembrou de perguntar sobre isso. Como não conheço nenhum time que foi campeão do mundo por ter um placar eletrônico melhor que os outros, pouco importa.
Explicação importante: Coronel Peçonha participou de toda conversa, mas não aparece em foto nenhuma. Como comandante das imaginárias forças especiais de inteligência coral, ele sempre fica atrás da câmara, mantendo o anonimato tão necessários para desferir golpes de surpresa nas hostes adversárias.
Para acabar, um P.S. – reparem que na minha postagem escolhi uma foto em que estou mais simpático e menos ridículo do que a imagem que Gerrá botou só para me sacanear.
Everton de Melo Santana. Este é o nome e sobrenome do vencedor do Bolão que o Blog do Santinha organizou sob o otimista (e bote otimismo nisso) título de “Bolão do Acesso Coral”.
Ele acertou o maior número de palpites ao longo de toda a Série B e vai ganhar um CD da Minha Cobra e já garantiu a camisa dele pro desfile da Minha Cobra no Carnaval 2015.
A bem da verdade, sejamos sinceros: na reta final Everton competiu com ele mesmo. A maior parte dos apostadores desistiu depois que o Santa começou a levar lapadas contra América de Natal e Bragantino. Para piorar, muita gente largou o bolão depois de perceber que não tinha como alcançar o primeiro colocado. Como já era mesmo o primeirão, Everton persistiu. E ganhou o bolão.
Em breve, ele vai começar a ganhar uns trocados fazendo apostas na Loteca, cobrando R$1,00 por palpite.
Não deve ser fácil presidir um clube de futebol, principalmente uma estrutura desmantelada como a do Santa Cruz. É pressão por todos os lados: torcedores cobrando resultados, jogadores a fim de seus salários, treinador querendo comissão técnica nova e outros jogadores, oficiais de justiça batendo na porta, o pessoal da manutenção pedindo dinheiro para consertar o banheiro da geral, dirigentes vaidosos querendo aparecer mais do que os outros.
Mas deve ter alguma coisa boa também, pois não me lembro de ter faltado candidatos disponíveis para o cargo.
Mesmo sem saber como é estar no meio desse furacão, aqui da tranquilidade do meu quarto-escritório, ao lado de um janela de onde posso ver ninhos de passarinhos na galharia de algumas árvores, me dou o direito de imaginar o que faria nesse momento de tensão se eu fosse presidente do Santinha.
Pois, bem, se eu fosse presidente…
…eu tinha escolhido um jogador para ser linchado pela torcida. Antes do jogo, chegava ali na avenida Beberibe com dois caras arrastando um sujeito do elenco. Podia ser qualquer um que não fizesse falta nenhuma (são muitas as opções). Dizia que ele tava querendo entregar o jogo e a turba ignara que resolvesse. Pronto, os 11 que entrassem em campo iriam dar o sangue metaforicamente para não ter de dar o sangue no sentido literal da coisa.
…eu instalaria um painel ali perto da entrada das sociais com o modelo, cor e placa do carro de cada jogador. Facilitaria o trabalho da torcida e evitaria injustiças. Duvido que o cabra tivesse coragem de fazer corpo mole, de zagueiro tentar tirar a bola da área dando cabeçadinha xôxa, de artilheiro dar bombão na hora de colocar ou atrasar a bola pro goleiro na hora de bater forte.
…eu tirava Oliveira Canindé e botava no banco aquele cachorrão marrom que todo santa dia se espreguiça ao lado do portão da sede. O vigia me contou que ele é manso de dia e uma fera sanguinária à noite, não deixa ninguém sair nem entrar do clube quando se enfeza. Com certeza as substituições seriam mais eficientes, com a vantagem do cachorro não deixar o jogador substituído sair do campo. Jogaríamos com 14 (o inconveniente dessa decisão é que precisaríamos saber o que fazer quando as partidas fosse à tarde).
…juntava uma turma para invadir a Casa da Moeda para imprimir dinheiro e pagar os salários sempre em dia.
…oferecia um vaga de contínuo a Adilson no meu gabinete da Câmara Municipal. Jogador a gente já sabe que ele não é, quem sabe vinga como barnabé.
De cara, me veio a ideia de escrever um texto sobre a impossibilidade de contratar raça, garra ou vontade. Jogador de qualquer posição o clube até encontra, nem que seja na Bolívia. Raça não se encontra por aí. Era por esse caminho que pretendia alinhavar meu raciocínio.
Besteira.
Resolvi deixar a pseudofilosofia de lado quando li as declarações dos jogadores do Santa dizendo “que não estavam abatidos” e que “ainda há possibilidade de acesso”. Não tenho mais dúvidas: esses caras estão tirando onda.
Ontem à tarde, durante o primeiro todo, só me vinha uma pergunta à cabeça: por que um time faz um gol logo no começo da partida e depois se comporta daquele jeito, sem ânimo, dormindo em campo, rifando bolas fáceis? Como? Por quê?
Pois bem, tenho certeza que a resposta não está dentro de campo, mas na cabeça de cada jogador: o time do Santa Cruz não quer subir. Não é uma metáfora, estou sendo literal: esse elenco não tem qualquer comprometimento, envolvimento ou desejo de fazer o clube jogar a primeira divisão do Campeonato Brasileiro em 2015.
A razão disso, não sei. Pode ter sido o episódio dos salários atrasados, pode ser divisão no elenco, pode ser ciumeiras, pode ter sido alguma merda que o treinador falou ou fez (as que vimos foram muitas, imagine então nos bastidores), pode ser emputecimento do grupo com a postura de um dirigente qualquer.
Pode ser qualquer coisa, mas na verdade pouco importa. Por um motivo ou por outro, um Arruda vazio os aguardará na próxima terça. Para eles, isso também não importa, afinal, com atrasou ou não, o clube tem de pagar os salários de qualquer maneira.
Seria fácil chamar de frouxo um time que tem três chances consecutivas de entrar no G4 e refuga os três obstáculos como um Baloubet de Rouet dos pobres. Mas o futebol (!?) jogado pelo Santa nessas partidas, mostra que não é só isso.
Gols perdidos cara-a-cara foram muitos. A falta de pegada do time é tão constante quanto irritante. As bolas lançadas para o vazio a todo ataque é coisa de quem quer se livrar da bola, fingir que fez alguma coisa, que tentou sem ter tentado.
E não me venham falar de falta de qualidade dos jogadores. Perdemos para dois times horríveis, que lutam contra o rebaixamento. E se houver algum elenco forte nessa Segundona, por favor me digam de quem se trata, porque até agora não entrou em campo. O que existe são dois times com vontade.
A cara de “tô nem aí” do artilheiro revela muito mais do que esconde.
“Nunca fui na Arena, não vou, não irei. Nem de graça. Não vou, não quero saber como se faz pra ir e tenho raiva de quem já foi. Quero que a Arena se lasque”.
É o que vive repetindo meu cunhado. Sempre com ênfase, sempre taxativamente.
Pensei que no jogo em que o Santinha poderia entrar no G4, ele cederia. Não resistiria aos encantos da recuperação sob os cuidados de Oliveira Canindé. Dois dias antes, com o ingressos já comprados, quis saber se o irmão de minha mulher já tinha mudado de ideia. A resposta: “Quero bem ao cunhado, mas não vou não. Não perdi nada naquele fim de mundo. Comprei o pêi-pé-viu do Sportv só para ver os jogos do Santa naquela desgraça”.
Admiro a coerência, mas não dei a mínima. Ele está antecipando o velho ranzinza que, certamente, será. Foi o que pensei, afinal que mal faz o cara experimentar, abrir a alma para o novo? Nem que seja para provar suas próprias hipóteses.
A partida acabou e eu já tinha mudado de ideia. Eu estava errado. E ele certo. Mais do que certo. Certíssimo, aliás.
A Arena Pernambuco é um erro grotesco. Não o estádio, mas sua localização estapafúrdia, seu entorno e o grave problema de mobilidade e trânsito que sua construção criou. Mas um, como se a Região Metropolitana do Recife já não os tivesse aos montes.
Os jornalistas esportivos e os marqueteiros do governo (e da empresa parceira, a Odebrecht) vivem repetindo um mantra: “a Arena proporciona ao torcedor uma nova e moderna experiência para assistir a um jogo de futebol”. Com poucas variações, é mais ou menos essa a frase. Não há dúvidas disso.
Antes da Arena, ninguém precisava consultar mapa, GPS e sair perguntando para descobrir o melhor caminho para chegar em um estádio de futebol. Realmente uma experiência novíssima.
Antes da Arena, ninguém pagava dez contos por um saco de pipocas de microondas.
Antes da Arena, o elemento podia chegar ao Arruda, por exemplo, usando não sei quantas linhas de ônibus, táxi, bicicleta ou pedir para a mulher deixar por perto, quando fosse para a casa da mãe. Conta-se nos dedos as linhas de ônibus que levam pra lá. De táxi, nem pensar, a não ser que o torcedor cague dinheiro. De bicicleta, só se o ciclista for do time olímpico. E mesmo que sua sogra more em Paudalho, duvido que sua mulher vá topar o engarrafamento na BR só para facilitar sua vida.
A mais inovadora das novas experiências fica para depois do jogo. Sair de lá é pior do que chegar. Muito pior. Bota pior nisso.
Antes da Arena, o sujeito pagaria cinco ou dez contos para o guardador de carro que já conhece há anos, acaba o jogo e vai embora. Se for no Arruda, enfrenta um engarrafamento tamanho M ali pelo Rosarinho ou em Campo Grande, caso tenha de passar por esses lugares. Se morar muito longe, tipo Piedade ou Rio Doce, em quarenta minutos está em casa.
Na Arena, quarenta minutos depois você permanece dentro do estacionamento, sem poder ir para lugar nenhum, a não ser que tenha desistido da partida 10 minutos antes do fim. Se foi de ônibus, você estará dentro do ônibus, parado, num calor da pleura, sem ir a canto nenhum.
Sábado foi assim: quase uma hora e meia depois da partida, permanecíamos no estacionamento, cujo preço é três vezes maior do que aquele cobrado pelos honrados guardadores do entorno do Arruda, ou da Ilha, ou do extinto Aflitos. E olhe que foram 34 mil torcedores, metade da multidão que enche o Arruda quando é pra valer.
No final das contas, saí de casa às 13h30min. Voltei às 21h. E isso tudo para ver Oliveira Canindé errar no atacado em suas substituições, para ver Tiago Costa se esconder do jogo, para ver Léo Gamalho no mundo da lua, para ver Wescley não conseguir se desmarcar, para ver quatro gols perdidos embaixo da barra, para ver os potiguares descerem o sarrafo, para ver o juiz fingir que o jogo não foi violento.
Enfim, para ver o time acovardar-se e ter medo de ser feliz.
Pelo menos a derrota serviu para silenciar a tabacudice de que “a Arena dá sorte pro Santa”. Não dá não, nem para quem construiu ou mandou construir.
Por tudo isso, é hora de voltar para o Arruda. Esqueçamos a Arena. De preferência, para sempre. Porque toda viagem, por melhor que seja, enche o saco e dá vontade de voltar para casa.
Estacionamento da Arena Permambuco, às 19h15, quase uma hora depois do fim da partida Santa Cruz x América-RN
O Blog do Santinha nunca tirou o pé nas divididas. Aqui, sempre tomamos posição, mesmo quando a posição é não ter posição nenhuma. Mas esse não é o caso num segundo turno de eleições presidenciais. Aqui, os três editores não hesitariam se fossem consultados por algum hipotética entrevistadora do Ibope:
– Em qual desses candidatos o senhor votaria para presi…
– Lula.
– Não tem Lula entre as opções do questionário…
– Então é Dilma. E priu.
– E em qual desses candidatos o senhor não votaria de jeito nenhum?
– Em todos os outros. Tudinho: Serra, FHC, Alckmin, Marina, Afif, Tancredo, Covas, o da cova, Aécio… em nenhum deles, pode botar aí minha filha.
É bem verdade quem se o entrevistado fosse Gerrá, ele iria contar uma piada pornográfica na esperança da pesquisadora ficar excitada e querer dar em praça pública. Samarone tentaria vender um livro de poemas com 25 páginas por R$ 40,00. E eu daria uma ou duas respostas a meio caminho entre a grosseria e o sarcasmo. Sou horrível para isso. Às vezes, fico com vergonha de mim mesmo.
O que interessa é que esse blog vota fechado em Dilma. Fechados e desde sempre.
Primeiro porque nossas leituras não se resumem a jornais, revistas semanais e manchetes de tevê. Modéstia a parte, temos um espírito crítico desgraçado, o que nos impede de levar o gato por lebre que tentam nos empurrar goela abaixo todos os dias. Leitura e espírito crítico são, na maior parte do tempo, de lascar o juízo, deixa o sujeito inquieto, melancólico, azedo, amargo, mas servem para alguma coisa, inclusive para discernir que mudança para valer é votar com o Governo Federal. Enxergamos as entrelinhas sem precisar de lupa.
Depois, somos de esquerda.
Ah, dirão os pragmáticos, isso não existe mais.
Existe sim. Nós acreditamos que é preciso lutar o tempo todo por um mundo mais igualitário, menos injusto. Isso é ser de esquerda. Você acredita que a desigualdade é natural, que Deus fez a humanidade assim? Então você é de direita. E não ache ruim o fato do Sport ter feito parte do clube dos 13 e ter se entupido de dinheiro da Rede Globo por tanto tempo.
Ser de esquerda é ter a convicção que o Estado precisa atuar para garantir que a educação e a saúde deixem de ser uma mercadoria para que a maioria da população tenha acesso a esses serviços sem precisar pagar. Você concorda, por exemplo, que as universidades tem de ser privatizadas para que o “mercado” dê conta de um ensino focado no mercado de trabalho e abandone a pesquisa e o ensino formador do pensamento crítico, humanista, das ciências sociais. Parabéns, você é de direita. E nós queremos derrotá-lo sempre, provavelmente só estaremos juntos nas arquibancadas do Arruda (isso se você não estiver em casa, vendo o jogo na TV a cabo)
Ser de esquerda é acreditar que o esporte é um direito de todos, que deveria ser praticado em espaços livres nas grandes cidades. E que o futebol faz parte da identidade cultural do povo brasileiro e que o acesso aos estádios deveria ser algo sagrado para todos. Você acha que o futebol é um negócio e que deve ser cada vez mais um produto caro, consumido por quem pode pagar? Você é de direita. E não joga no nosso time.
Dilma é de esquerda, por mais que tenha que governar com uma coalizão de forças heterogêneas (muitas delas, aliás, se bandearam pro lado de lá pensando que a onça não vinha beber água). Tem mais um ponto favorável a Dilma: ela tem jeito de beque de usina, daqueles que espanam a bola pro mato que o jogo é de campeonato, que não tira o pé na hora do vamo-vê. Do jeito que a torcida coral gosta.
E além disso, Aécio nunca foi visto com uma bandeira do Santa Cruz e jamais fez o T. Desconfiamos aliás, que esse sujeito gosta mesmo é de jogar tarimba. Com o cu da gente, óbvio.
Achou ruim? Vá ler a Veja, escute Miriam Leitão com atenção e faça de conta que é um menino sabido.
Sexta-feira, início de noite. Não há dúvidas de que esse é o horário ideal para jogos de futebol. Não entendo como torcedores, dirigentes, radialistas, autoridades constituídas, colunistas, técnicos de nosso Brasil varonil desperdiçaram todo o século XX e alguns anos do XXI sem perceber que, esse sim, era o horário mais propício para dois times profissionais que disputam o Futebol association entrarem em campo com garbo e afinco.
Não há condição melhor: o sujeito sai do trabalho direto para o estádio, deixa para comer depois e ainda dá tempo de fazer uma frente com a família no restinho da noite. Dá, por exemplo, para ir na esquina comer uns espetinhos com a esposa amada, enquanto os pirralhos ficam em casa jogando videogame. Se os pirralhos forem pirralhos demais, o torcedor pode comprar uns pastéis de vento no caminho e levar para casa para comê-los com guaraná enquanto assiste o finalzinho de Globo Repórter em companhia de sua senhora no recesso do lar.
Graças aos executivos da programação da Sportv (abençoada sejam as Organizações Globo), agora há jogos nesse horário tão conveniente para a torcida brasileira.
Agora, perfeito mesmo é se a partida da sexta, às 19h30min, estiver marcada para a casa de caralho. Para quem não conhece, trata-se do endereço físico da Arena Pernambuco.
Nesse caso, o torcedor poderá, antes de vibrar pelo seu time, experimentar o frenético trânsito da Abdias de Carvalho, onde atualmente está o melhor engarrafamento de Pernambuco, com direito a uma sensacional vista panorâmica da interminável fila de carros e caminhões na BR-101. Imperdível. E tudo isso pelo preço de apenas um ingresso de arquibancada!!!
Quem preferir fazer outro caminho, também terá acesso a mais entretenimento, afinal quem botou o “estádio da Copa” na encruzilhada entre o fim dos tempos e o fim do mundo pensou em tudo, afinal o que podíamos esperar de quem tem ideias assim tão brilhantes.
A turma que optar pelo metrô, por exemplo, terá a oportunidade de viver a experiência de pegar o trem na hora do rush mesmo sem ter necessidade para tal. É uma forma de compartilhar a visão de mundo – ou, pelo menos, de transporte público – das massas trabalhadoras. Quem sabe quantos mestres em sociologia, PhDs em urbanismo e doutores em antropologia serão gerados dessa aventura sobre trilhos?
Algumas das promoções concebidas conjuntamente pelo consórcio Arena Pernambuco+Organizações Globo/SporTV+CBF são obviamente inspiradas pelo movimento slow food e similares, aqueles que pregam menos pressa, menos agitação e menos ansiedade para se obter mais qualidade de vida.
Sei de dois amigos rubro-negros que, numa dessas partidas do time deles na Arena, entraram no ônibus cedido pela diretoria do clube para os sócios em dia poderem ir à longínqua arena. O ônibus partiu às 17h30min. O jogo era às 19h30min e a saída foi da Ilha do Retiro. Quando o time entrou em campo, eles estavam no veículo, socializando junto a mais 50 torcedores. Chegaram no intervalo da partida, já sem pressa nenhuma. Perderam 45 minutos de jogo, é verdade, mas aprenderam algo fundamental sobre a vida, o tempo e a importância relativa das coisas. Se não aprenderam é porque não souberam aproveitar a oportunidade.
Estou citando esse fato vivido pelo meus amigos do time rival para que aqueles tricolores que estão alugando kombis e vans para fazer essa excursão aos arredores de São Lourenço da Mata (Saint-Laurent de la Forest, como diziam durante a Copa), possam viver a plenitude dessa vivência.
Eu, pessoalmente, pretendo abrir mão disso tudo em prol de terceiros. O melhor é que não precisa ter receio de estar prejudicando o clube, afinal o pacote dos cincos jogos na Arena garante ao Santinha, no mínimo, R$ 250 mil livres, sem contar a reforma no gramado do Arruda que será feita pela Arena. Se a renda for de R$ 100 mil, a Odebrecht que se vire para pagar os 250 contos pro Santa. Acima de meio milhão, vai ter rá-rá. Por isso, ficarei em Recife tranquilo, sem peso na consciência.