Concentração coral para domingo

Domingo, dia 6 de abril, é o momento de pegar ar e partir para cima do leão.
Naná, da Kombi Coral, acaba de ligar.
Já cheio das bicadas, informa que domingo vai ter a tradicional feijoada na “Sede”, defronte ao bar de Seu Vital. A orquestra “Venenosa”, que só é escalada em jogos decisivos, vai entrar rasgando. Ela está invicta.
Vai ter Pitú + feijoada.
Além disso, a “Minha Cobra” vai dar uma voltinha pelo Poço.

Inconsolável
Naná está inconsolável. Perdeu um leão de pelúcia, feio de doer, que sempre ficava dentro da boca da cobra. Ele não sabe se perdeu ou se levaram.
Quem puder levar um novo (ou usado mesmo, para que o sujeito vai comprar um leão novo?), vai ser um grande favor. A Cobra tem que abocanhar sempre o leão.
Hoje, por sinal, é o aniversário de Naná.
49 anos.
Perguntei o que ele queria de presente nesta data tão importante.
“Uma lapada na coisa”, respondeu, sem pensar duas vezes.
Vamos lá, tricolozada!

O descanso dos justos*

Amigos corais, não sei como foi o dia seguinte ao título da Série C.

Eu acordei, respirei fundo e senti um profundo alívio, uma sensação arrebatadora de descanso, de missão cumprida. Me veio algo como “o sono dos justos”, mas com um fundo existencial atravessando por fora – senti mesmo que iniciava o descanso dos justos.

De 2006, quando caímos a primeira vez, até o dia 1 de dezembro de 2013, foram sete anos. Eu sou ruim em matemática, mas pelas minhas contas, foram sete anos, a duração de uma infância.

Eu tinha 37 anos, estou com 44. Morava no Poço da Panela e dividia minha vida dando aulas de literatura numa escola no Bairro do Recife, farras monumentais em Seu Vital, no Poço da Panela, e viagens cada vez mais complicadas, para o Cabo, onde vivia minha tia-avó, com vários problemas de saúde.

Depois me mudei para o Cabo, porque a situação dela piorou. Minha tia morreu. Depois casei. Depois me mudei para a rua da Aurora. Depois recebi um convite inacreditável, para trabalhar como assessor de imprensa de um secretário de governo chamado Ariano Suassuna. Um rubronegro capaz de fazer uma aula-espetáculo para homenagear seu grande amigo, Capiba, tricolor fanático. Capaz de pedir um cenário com as cores do Santa, para homenagear seu amigo. Uma lição para esses imbecis que matam os outros por causa de uma paixão diferente.

Neste período, vivemos derrotas, fracassos, quedas. Choro e ranger de dente. Mas com o Santa eu não choro. Eu não consigo. Quando perde, quando fracassa, eu tenho raiva de quem não honrou o manto sagrado. Eu trinco os dentes, mas não choro. Minha vocação é chorar com a alegria.

Neste período, junto com Inácio, seguramos uma peteca dos diabos. Como escrever crônicas, em meio ao inferno? Várias pessoas colaboraram, depois chegou Gerrá, que vestiu a camisa e disse – “se é pra falar do povão, o negócio é comigo”.

Viagens loucas, invasões de estados vizinhos. Lembro que teve um jogo em Campina Grande que faltou tudo nos bares, restaurantes, lanchonetes.

Série A, B, C e D.

O Santa na Série D!

Não, nunca. Isso nunca deveria ter acontecido. Mas aconteceu.

O futebol nacional só existia de duas formas. A série A ou o “Inferno” da série B. Lembro de matérias com torcedores que beiravam ao suicídio, quando seu clube caía para a série B.

Inauguramos o pós-inferno. A Série C. Foi pouco. Botamos a cruz nas costas e fomos inaugurar a inexistente D.

Inauguramos também a liderança de audiência da TV Brasil, transmitindo a Serie C. Inventamos um ídolo, Caça-Rato, que acreditou em nosso pantim e fez gols decisivos. O Brasil assistiu, impressionado, um estádio abarrotado a cada jogo. A torcida coral transformou a tragédia em um episódio épico.

Neste período, um presente dos deuses – o tricampeonato em cima do principal rival.

O refrão criado por Nivaldo Breyner – “A torcida mais apaixonada do Brasil” invadiu corações e se espalhou por todo o país.

Não há um jornalista amigo meu, em qualquer estado da federação, que não me saia sempre com esta pergunta:

“E o Santinha?”

Acordei no dia 2 de dezembro pensando nisso tudo. Passou um filme em minha cabeça. Minha tia morreu sem ver nossa volta por cima. Ela adorava usar um anelzinho com o escudo do Santa.

Nós, que vivemos esta verdadeira viagem ao subsolo do futebol brasileiro, estamos marcados para sempre. Poucas torcidas no mundo seriam capazes de fazer o que fizemos.

Sinto que agora vivo o descanso dos justos. Tirei um peso das costas.

Um dia eu morrerei, mas o Santa Cruz ficará. Esta minha certeza ultrapassa o futebol.

* Este texto dedico a Nelson Mandela, que morreu ontem, dia 5 de dezembro de 2013. Um símbolo de resistência e amor.

 

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seven

Faltam 7 dias para o lançamento do 2º volume da Trilogia das Cores (A emoção é branca), no bar Mamulengo da praça do Arsenal, às 18h30min do dia 12 de dezembro (na outra quinta-feira). Enquanto a tricolozada enche a lata, Gerrá, Inácio e Samarone vão entortar a munheca de tanto dar autógrafos. 

Na mesma ocasião será apresentada a camisa da Troça Carnavalesca Mística Ofídica Etílica e Escrota Minha Cobra para o tríduo momesco de 2014. Se a malharia correr, já vai ter para vender. 

 

Betim 0 X 1 Santa Cruz. Cronistas corais se recuperam e prometem textos para hoje à tarde

Amigos corais, ainda não estou em condições físicas e psicológicas de escrever para este afamado Blog do Santinha, sobre a histórica vitória de ontem. Órgãos mais atingidos, assistindo a transmissão pelo rádio: fígado e coração.

O senhor Inácio França quase infartou duas vezes. Depois do jogo, foi à Escola do Samba Galeria do Ritmo, ver a disputa final do samba-enredo do Carnaval 2014 da Escola, que terá como tema o “Centenário Coral”.

O cronista Gerrá Lima está possivelmente em Seu Vital, no Poço da Panela, analisando todos os lances com Naná, o homem da Komby Coral. Ele, a exemplo de Inácio, foi á Galeria do Ritmo, na condição de jurado da disputa do samba-enredo. Suas notas foram tão malucas, que ele foi apelidado pelos moradores do Morro da Conceição de “Pedro de Lara da Galeria”.

Nos resta aguardar.

Respiremos fundo. Estamos bem perto de sair desta desgraça que se chama Série C. A cidade, por sinal, está uma maravilha para andar. Tem tricolor esbarrando um no outro.

Vamos nessa! Domingo tem jogo, telão e escolha do samba-enredo do Centenário Coral na Galeria do Ritmo!

Amigos corais, o domingão promete.

A eficiente redação do Blog do Santinha apurou que no próximo domingo, às 18h, após a vitória do Santa Cruz contra o escrete do Betim, na quadra da Escola de Samba Galeria do Ritmo, no Morro da Conceição, haverá a finalíssima para a escolha do samba-enredo da escola, que terá como tema o Centenário do Santa Cruz.

Segundo o presidente da escola, Reinaldo Santos, a turma do Morro está eufórica com a escolha do tema para 2014. Ele detalhou a programação, que será a seguinte:

16h: Santa X Betim (com telão, cerveja e tudo o mais);

18h: Leno Galeria e seus convidados (para tocar fogo na massa coral);

20h: Bateria Nota 10 e o concurso (última etapa).

Concorrem os compositores: Nininho, Uita e Bibo.

Entrada franca!

Fomos informados há pouco que o senhor Gerrá Lima, editor e cronista deste Blog, foi convidado para ser um dos cinco jurados! Como carnavalesco, diretor de troças as mais diversas, deve ser um eficiente jurado mesmo.

A Galeria do Ritmo fica na rua Belarmino Henrique, 147, Morro da Conceição, logo após a sede do “Acadêmicos”.

Todos convidados.

Ps. O presidente pediu para o Blog anunciar  que no sábado, a partir das 22h, haverá a Terceira Festa do “Gayleria”. Fica o registro.

Se até Jesus está puto, sairemos dessa!

 

Vamos por partes, como diz o esquartejador.

O Santa se classificou em primeiro lugar no seu grupo, após uma luta brutal.

Jogaria neste sábado (19) contra o escrete do Betim-MG, no interior de Minas.

A FIFA exigiu a punição para o Betim. Seis pontos a menos na classificação. Rolos envolvendo grana. O Betim foi punido e perdeu a vaga para o Mogi-Mirim.

Tudo mudou. nosso jogo foi remarcado para segunda-feira (21), contra o Mogi-Mirim, no interior de São Paulo.

Dezenas, centenas de torcedores, que tinham gasto uma grana, para viajar a Betim, ficaram no prejuízo. Teve ônibus que voltou da Bahia.

Há pouco, as rádios informaram e que o Betim consegui liminar, na Justiça Comum. É o dono da vaga que foi do Mogi-Mirim por algumas horas.

Somente segunda-feira saberemos nosso destino – e olhe lá.

Mas há algo novo no ar.

Vi na TV, hoje, o Jesus Cristo Coral no saguão do Aaeroporto dos Guararapes!

Estava com aquela coroa de espinhos cravada na cabeça, os cabelos descendo aos ombros, a roupa de quem está pregando no meio do deserto de imbecís da CBF.

E notei algo. Jesus estava puto da vida. Invocado. Indignado. Por muito pouco, não soltou palavrões ao vivo, no horário nobre.

Do alto da minha prosopéia, ouso dizer que esses clubes podem fazer o diabo por debaixo dos panos, em comarcas do interior, usando advogados no lugar de centroavantes, procuradores no lugar de laterais, intimações no lugar de lançamentos, força política no lugar de divididas na bola, sentenças no lugar de gols – mas o fato concreto, evidente e cósmico é simples – nós vamos jogar bola e vamos classificar, dentro das quatro linhas.

Anotem em seus caderninhos: estamos vivendo nossos últimos minutos na Série C.

Amigos, se até Jesus está puto, sairemos dessa!

Mogi-Mirim x Santa na segunda feira! Ou: A “Poliesculhambose” do futebol nacional e “A constatação do óbvio”.

A Poliesculhambose do futebol nacional

Amigos corais, o futebol nacional continua uma poliesculhambose (múltipla esculhambação).

Acabamos de saber, por fontes diversas, que a CBF desclassificou o escrete do Betim do mata-mata da Série C, contra o Santa Cruz, colocando em seu lugar o escrete do Mogi-Mirim. Não vale a pena explicar agora a confusão. O mais importante é refazer as agendas e o psicológico.

O jogo foi remarcado para segunda-feira: Mogi-Mirim x Santa Cruz, em Mogi.

Ou seja, quem pretende viajar para ver o Santa em campo, mude a passagem com urgência.

Nossa valorosa equipe de repórteres do Blog do Santinha já está em campo, fazendo o levantamento sobre o próximo adversário, estatísticas, local do jogo, esquema tático e a repercussão na preparação do Mais Querido.

Quem souber de mais novidade, pode colocar nos comentários.

Abaixo, segue a mini-crônica escrita por este que vos fala.

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A constatação do óbvio

Abro o Diário de Pernambuco de hoje, vejo as manchetes, tragédias, coisas da política, a rotina de derrotas de barbie, até que reparo ao pé da primeira página uma pequena manchete:

“Fanatismo”

Leio o textinho logo abaixo:

“Pesquisa mostra que o torcedor do Santa Cruz está em quarto lugar lugar no ranking dos mais fanáticos por seu time do coração”.

Corro para a página 4, pego um café e vou aos detalhes.

Vai um resumo.

A “Pluri”, uma consultoria nacional, resolveu medir o grau de envolvimento de um torcedor com seu clube. Entrevistou 10.545 pessoas, em janeiro de 2012, em todo o Brasil, pedindo que dessem apenas uma resposta para a relação com seu time. As opções eram:

(x) Fanático

(  ) Torcedor

(  ) Simpatizante

(  ) Indiferente

Pois bem. O Santa Cruz Futebol Clube, o nosso Santinha, cravou o quarto lugar na pesquisa, no que se refere à autodefinição “fanático”.

Ficamos atrás do Grêmio, Internacional e Atlético-MG.

Deixamos para trás clubes milionários como Corínthians de Regatas, Flamengo, Palmeiras, Vasco, Bahia, Vitória, São Paulo, Botafogo, Santos e Fluminense. A coisa também foi citada na pesquisa, bem como a barbie. Todos bem distantes do Mais Querido.

Mas isso não importa. Aqui é o Blog do Santinha, quem quiser que crie seu blog para falar de seus respectivos clubes.

No final das contas, o que eu tenho percebido nessas pesquisas sobre futebol e sobre o Santa Cruz é que elas simplesmente constatam o óbvio.

Até os mortos sabem que temos uma torcida fanática e a mais apaixonada do Brasil. Inclusive, acho que se colocassem o ítem “apaixonado” na pesquisa, o Santa iria para o topo da tabela. Eu, particularmente, prefiro a paixão ao fanatismo.

De formas que só nos resta invadir  a Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, para empurrar nossos atletas rumo à vitória.

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Milagres acontecem

A diretoria do Santa fez uma ação de marketing, acreditem. Lançou a promoção “Décimo Segundo Jogador”.

É o seguinte: Quem for sócio (e estiver em dia), deve acessar o site oficial do clube, preencher um cadastro e mandar uma frase. A mais criativa dará direito a passagens, traslado, ingresso para o jogo contra o Betim, além de hospedagem junto com a comissão técnica e jogadores. Vale até 18h de hoje. O resultado será divulgado amanhã, 10h.

Vamos lá, galera, mandar uma frase sobre o Mais Querido!

Já tenho até uma, dita por minha mulher, na muretinha do Arruda:

“Ei Santa Cruz, venha para a luz!”

Mas eu dificilmente sou um sócio em dia.

O choro das grandes felicidades

Amigos corais, a crônica esportiva, os rádios, as TVs, os sites, blogs dirão que o Santa Cruz jogou bem ontem, derrotou o escrete do Brasiliense por 2 x 0 e se classificou para a fase do mata-mata da Série C. É a informação básica, o que dizem as regras do jornalismo. Dirão também que o Arruda tinha 38.780 torcedores, e que a renda foi de R$ 531.241,00.

Mas não foi isso o que aconteceu.

O que tivemos ontem, de verdade, foi um daqueles jogos épicos do Santa Cruz. Vivemos uma noite de pura raça, lirismo, paixão. O amor transbordava nas arquibancadas, sociais, nas gerais, dentro e fora do campo. O amor às três cores nunca esteve tão vivo. Nossos jogadores literalmente comeram a grama. A cada chute, cada rebatida, o estádio respondia com urros, aplausos, gritos, canções.

No segundo gol,lembro que abracei vários camaradas, a minha “Turma do Escudo” e ficamos comemorando vários minutos. Nada mais importava ali, estávamos classificados.

Súbito, todos os fantasmas foram tangidos. Já estamos na próxima fase com uma rodada de antecipação. Os jogadores se voltaram para todos os lados do estádio, para agradecer o que fizemos. Nós atravessamos juntos teimosias, erros, fracassos e demos a volta por cima.

Mas há um momento inesquecível, nesta jornada épica. Foi à saída do Arruda.

A massa coral começou a sair, e no caminho até o último portão do estádio, vi uma multidão que ria. Era uma massa compacta, sorridente, abraçada, cantando e rindo.

Vi casais abraçados, rindo, fazendo brincadeiras, filhos dando cutucões nos pais, adolescentes se pendurando nos tios, velhos querendo dar cambalhotas. Vi senhoras que um dia foram sérias gritando de euforia, psicanalistas histéricos de felicidade, todos numa só pulsação. Todos juntaram mais essa vitória. Pouco depois, passou Capiba ao meu lado, em silêncio, com o rosto banhado de lágrimas e os óculos embaçados.

Escutei seu pianinho e pude vê-lo tocando, repetindo as três primeira notas: San-ta-Cruz/San-ta-Cruz…

Eram milhares de sorrisos, numa interminável alegria, numa algazarra, numa febre, numa procissão inversa.

Nós saíamos de nosso templo coral deixando para trás as dores da vida, os perdões nunca concedidos, os erros e naufrágios, as injustiças e maldades.

O Santa Cruz tem este mistério – renasce e nos faz renascer sempre. Parece que estamos condenados à eternidade.

É tudo que tenho a dizer. Desculpem, mas amanheci comovido, como esses meninos que têm asma e sofrem em silêncio, e choram nas grandes felicidades.