Em dez anos de atividade, o Blog do Santinha arranjou dezenas de atritos com ex-presidentes do Santa. Jamais desistimos de tentar ajudar, com nossa visão crítica.
O texto abaixo,publicado no Diário de Pernambuco de hoje, está em sintonia com o que acreditamos para o futuro do clube.
Por isso compartilhamos.
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Por Alírio Moraes Filho
Corria o mês de março deste ano. O Santa Cruz amargava a última posição do campeonato estadual. O futebol do nosso time ainda não deslanchara e não permitia ilusões.
Sem resultados e com crise financeira: nada justificava otimismo.
Mesmo assim, apresentamos as metas do nosso planejamento. Naquele momento, passei a escutar todos os dias a palavra delírio em um criativo trocadilho com meu nome de batismo.
Desde então, acertamos e erramos bastante. Tentamos não repetir esses erros. E insistimos em nosso principal acerto: priorizar a torcida em todas as decisões. Considerar e respeitar cada torcedor como único proprietário do clube e da sua imagem.
A certeza de que todos os passos da caminhada que começava seriam dados lado a lado com “a torcida mais apaixonada do Brasil” era o que justificava a ousadia de nossas metas, todas realizáveis quando se procura fazer juntos com tantos homens e mulheres que amam o Santa Cruz.
Homens e mulheres que encontram um novo significado para sua paixão a cada vitória, a cada derrota, a cada vez que entram no Arruda ou seguem o time pelos estádios brasileiros.
Homens e mulheres que jamais esperaram uma virada de mesa, um drible no regulamento, pelo contrário, nos piores momentos chamaram para si a responsabilidade e a tarefa de reerguer o time.
Por saber que estaria ao lado desses homens e mulheres, entendemos que a única forma de respeitar seus sonhos e seus imensos esforços seria tecer sonhos à altura de tanta paixão. Somente imaginando o melhor no mais curto espaço de tempo, poderíamos colocar o Santa Cruz à altura de sua torcida.
Mesmo naquelas partidas em que o cimento do Arruda ficou esvaziado, estava presente a esperança daqueles milhares que, por qualquer razão, não podiam ir. Muitas vezes, honrar a esperança dos ausentes é tão importante quanto a confiança de quem sempre esteve por perto, cobrando, incentivando, exigindo e comemorando.
Seria hipocrisia repetir o clichê e dizer que “nem em nossos sonhos mais otimistas imaginávamos o que vivemos nesse final de semana” – e ainda vamos viver até o próximo sábado. Mas foi exatamente isso que sonhamos. E não apenas isso.
Continuaremos a disputar títulos, escalaremos os íngremes degraus do futebol porque jamais estaremos sozinhos na perseguição a metas audaciosas, porém possíveis de serem alcançadas, afinal os desafios do futebol são construídos por seres humanos. E o que é humano, é possível ser realizado quando se tem a força de milhões e a força de tanto amor.
Já não cabe dizer que “é a torcida do Santa Cruz que tem um time”.
Até mesmo esse velho bordão já não nos cabe: hoje time e torcida são um só.
Poema do Santa Cruz
Que louco fui eu
Ao te escolher, Santa Cruz?
Porque é raro
Ser arrebatado
Por um amor
Que vem de tão longe.
Eu, que saí de outras terras
Que não tinham o teu nome
Encontrei um pai, uma mãe
um país, milhões de irmãos.
Encontrei
Meus amigos negros
Meus dentes
Meu sangue
Meus segredos.
Que tonto fui eu
Ao te inscrever em meu sangue, Santa Cruz…
E é tão simples
Gritar o teu nome
Como quem pede
Um pouco de pão.
Que sonho foi esse, Santa Cruz
Que te sonharam há tantos anos?
Os que te criaram
te inventaram
Com os pés descalços
Como se as sandálias do destino
Fossem a primeira barra
Do sonho dos homens.
O que criaste, Santa Cruz
No peito dessas legiões
Que te amam tanto?
Uma primavera em plena tarde?
Uma nova espécie de saudade
Que nos atormenta e nos acalma?
Ah, Santa Cruz…
Nós que te descobrimos
Somos como aqueles navegadores doidos
Que encontraram terras tão lindas
Que não sabiam decifrar
Que não tinham um batismo para dar.
Um dia
Esses homens de longe
Avistaram a “Terra da Santa Cruz”
E aqui ficaram.
Mas há outra pátria
Onde moram milhões.
Os que vivem
Os que morrem
Os que nascem
Têm esta estranha loucura
Essa estranha saudade.
E quando sussurramos
“Vai, Santa”
Os mortos também falam
Estamos gritando teu nome
Como se o coração gritasse.
Recife, 16.11.2015
Botafogo 0 x 3 Santa. Postagem bicado
Não se posta nada chapado.
Vitória, Porra!
de 3 x 0 na casa deles!
jogando um futebol lindo.
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Divirtam=se com os links.
sama
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vitoria coralBotafogo 0 X 3 Santa.
Bêbadyo não posta nada.
Se der, um link lindo.
E a manchete da ESPN:
“Santa atropela Botafogo”.
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[one_third]que belezaSção 23h45.
Botafogo 0 x 3 santa.
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http://espn.uol.com.br/noticia/557700_santa-cruz-atropela-o-botafogo-no-engenhao-e-fica-proximo-da-elite
É pau, é pedra, é o começo do caminho…
Amigos corais, comemos bola. Eu e Gerrá combinamos milhares de textos durante a semana, mas era conta para pagar, reunião de projeto, fila para o Timemania, tentativas as mais infelizes de comprar passagem com desconto para o Rio de Janeiro, que chegamos ao dia do jogo contra o Botafogo de Regatas com uma postagem irada sobre o desastre que foi o acesso ao Arrudão no jogo passado.
Deixemos as águas de março para lá, vem chegando o verão.
O poeta que nos perdoe, mas hoje é pau, é pedra, é o começo do caminho para o Santa. O Botafogo já está garantido na Série A (não fez mais que a obrigação, com seus R$ 40 milhões de cota de TV,por sinal). Eles já estão curtindo a vida numa boa.
Hoje, para o Santa, é peroba no pé, é madeira.
Nessas horas (e em muitas outras), eu gostaria de ter muito dinheiro na conta, para viajar com vários amigos para curtir o Rio de janeiro na sexta, ir à praia no sábado e, depois de tomar umas, seguir para o jogo do Santa.
Depois da vitória suada, curtir a Cidade Maravilhosa na noite do sábado, o restante do domingo e chegar ao Recife.
Bem, para isso terei que trabalhar muito, escrever algum best-seller etc.
Por hoje, é procurar algum boteco aqui perto de casa com uma TV boa e pedir uma gelada.
E torcer, torcer, gritar, pular e, se tudo der certo, seguir firme rumo á Série A.
Bora, Santa!
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ps. Para tirar qualquer dúvida sobre a “cessão” do nosso estádio para o jogo do Náutico, vejam a excelente nota oficial publicada no site do Santa:
http://www.santacruzpe.com.br/futebol-profissional/nota-oficial-sobre-cessao-do-arruda-para-o-jogo-nautico-x-bahia
Polícia para quem?
Não é indignação o que estou sentindo com o acesso da torcida no famoso Portão 9. É a mais pura raiva mesmo.
Depois alguém escreve sobre a importante vitória. Que encontre inspiração.
Eram 20h quando cheguei com meu ingresso para ver um jogo decisivo do meu time. Ou seja, estávamos a meia hora do início da partida.
Havia um caos completo. A rua estava numa escuridão quase completa. Cenário perfeito para confusão, roubos, brigas.
Falam rios das “Torcidas Organizadas”, mas ninguém lembra que temos uma “Polícia Desorganizada”, incapaz de organizar o acesso de pessoas com ingresso a um evento esportivo.
A cada minuto, a multidão se amontoava, porque ninguém saia do canto.
Ficamos parados, por vários minutos, até que saí e fui para perto da entrada, ver o que estava acontecendo.
Os PMs da Tropa de Choque estavam retirando todas as barras de ferro que botam, em um jogo ou outro, para organizar a fila, e jogando na calçada!
Tudo isso no breu.
Era inevitável que, quando abrissem para a massa entrar, haveria mais confusão.
Minha sorte foi ter dado uma de jornalista, para ver a merda toda.
No meio desse caos completo, uma quantidade imensa de carros, no meio do povo que estava do lado, esperando algo se resolver.
Quando a PM liberou a massa, foi correria, gente caindo, chorando.
“Painho, painho!”, gritou um jovem, ao ver seu pai quase sendo esmagado. O homem se levantou e saiu correndo.
Foi assim que a torcida do Santa entrou ontem, nas arquibancadas. Tropeçando, correndo, esbaforida, tentando se proteger. Uma manada. Cada um tentando escapar de uma queda. Isso implica estudo, planejamento, previsão de torcida, reconhecimento do local.
Eu vivo batendo nesta tecla. A PM só vai trabalhar de forma decente e ordenada quando criar um batalhão não de CHOQUE, mas de acesso e acompanhamento de eventos esportivos.
Consegui entrar, porque no meio disso tudo, um sujeito afastou a barra de ferro e algumas pessoas conseguiram passar.
Quando passamos pelas catracas, parecíamos uns refugiados que tinham pisado em um solo seguro.
Teve gente entrando com 15, 20 minutos depois do jogo, e repetindo:
“Tem meio mundo de gente do lado de fora”.
Na saída do estádio, vocês sabem o que mais atrapalhava o fluxo da massa coral: a escuridão e os vários ônibus da PM.
Ou seja – o único lugar do entorno do Arruda que não poderia estar escuro, era na saída do Portão 9.
O único lugar que vários ônibus não deveriam estar, era junto da saída do Portão 9.
Sei que nem o governador, nem o comandante da PM, nem ninguém vai fazer porra nenhuma.
Torço para que o presidente do Santa Cruz Futebol Clube, Alírio Moraes, lidere um movimento por uma “Polícia Organizada” em Pernambuco, antes que tragédias aconteçam.
Até isso, vou perguntar seguidas vezes: Polícia para quem?
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Para quem quiser apoiar meu projeto literário, é só clicar:
www.catarse.me/ze_apml
(doações a partir de R$ 20,00)
A alma de um time em um gesto
Amigos corais, o futebol tem lances que são eternos. Lances e gestos.
Poderia passar a manhã lembrando alguns. Vou a um dos mais inesquecíveis.
Final da Copa de 1958, na Suécia. O Brasileiro jamais tocara na taça Jules Rimet. Final conta os donos da casa. Aos quatro minutos e pouco, gol da Suécia. Quem não gelou, lembrando da tragédia de 1958. Um jogador brasileiro que não identifico pega a pelota e Didi sai do meio de campo para buscá-la. Ele vai com ela segurando com a mão esquerda, altivo, dono de si. Vai caminhando mansamente, quase assobiando algum chorinho, como quem diz aos demais jogadores – “calma, que o jogo nem começou direito, vamos virar essa partida já já e dar olé nesses Zé Ruela”.
Resultado: apresentação de gala do Brasil. Vitória por 5 x 2 e o primeiro título mundial.
Não foi um lance, foi um gesto.
Mas não posso me estender. Já é final início da tarde e a cidade do Recife respira as três cores corais. Os telefonemas se multiplicam, o zap-zap está em tempo de entrar em colapso. Twitter, facebook estão feito a gora, gritos para chamar o vizinho para tomar umas, enfim. Tudo caminha para a Avenida Beberibe, logo mais à noite. São milhões de combinações de horários, lugares, botecos, barracas, caronas, desculpas no trabalho para sair mais cedo, além dos efeitos colaterais, como a absoluta falta de concentração para abotoar até a camisa, nervosismo para botar açucar no café ou para discutir qualquer coisa lógica. Se sua mão já está tremendo, não se preocupe, você é absolutamente normal, torce mesmo pelo Santa.
E no meio deste frenesi, um lance não me sai da memória.
O jogador do Bahia se prepara para bater a falta – perigosíssima, por sinal.
Nosso zagueiro, Alemão, está na barreira. Ele sabe que o lance pode ser fatal para o Santa, precisa fazer algo.
Então ele resolve provocar.
Começa a bater com a mão no peito esquerdo, olhando fixamente para o jogador do Bahia. Pela TV, dá para ver ele gritar:
“Chuta aqui, é! Aqui!”
Ele fica repetindo com força, e batendo no escudo coral. Parece tomado. Não tira o olho dos olhos do adversário. Está em transe. Ao seu lado, está nosso artilheiro Grafite, um mero coadjuvante.
Alemão segue aos berros. Foram alguns segundos, mas me pareceram intermináveis minutos.
“Aqui! Chuta aqui!”
Ninguém, em sã consciência, quer levar uma bicuda no peito. Quem joga pelada, sabe que isso dói pacas.
Mas Alemão, ali, preferia sentir a dor no corpo, do que sentir a dor da massa coral, em caso de um gol baiano.
Na hora me ocorreu estar presenciando um desses gestos inesquecíveis do futebol. Ali, Alemão sabia que estava sendo um dos milhões de torcedores do Santa Cruz, defendendo a barra do paredão Thiago Cardoso.
O jogador do Bahia, certamente querendo dar um troco, não chutou no ângulo, como costuma fazer. Pegou ar e acertou uma bicuda no nosso Grafite, que ficou vendo estrelinhas. A bola não chegou à barra e o jogo seguiu.
Para mim, o lance da falta, acompanhado do gesto do nosso zagueiro, definiu uma mudança definitiva nesta reta final de Série B.
São 11 homens correndo, chutando, brigando, batendo no peito, por causa de uma nação de apaixonados. Não por acaso, ele ficou batendo do lado do coração e do escudo coral.
Quem pensa que o jogo contra o Oeste vai ser fácil, pode tirar a sua Shinerayzinha da chuva. Vai ser osso duro, e teremos que lutar muito.
Mas até o mais depauperado torcedor coral repete isso, a cada rodada:
“As coisas nunca foram fáceis para o Santa”.
Mas o espírito do time, para mim, está representado no gesto de Alemão, batendo no peito e pedindo para levar um bombaço.
Ali estava alma do Santa Cruz, nesta jornada épica, para voltar à Série A.
Vamos todos ao Arruda, arrancar mais esta vitória.
Hoje não escrevo sobre futebol
Amigos corais, há dez anos ocupo este precioso espaço voltado para tudo o que envolve nosso amado clube, o Santa Cruz Futebol Clube. Primeiro com o amigo-irmão, Inácio França, depois com vários colaboradores, e finalmente com o nosso prata da casa, o grande Gerrá Lima, amigo de todas as horas.
Bem, como temos jogo apenas no sábado, achei que poderia falar sobre outro assunto, que não a nossa luta para voltar à Série A, a expectativa etc.
Meu texto de hoje é para pedir o apoio dos leitores deste Blog para um projeto que lancei dia 28 de outubro, no site www.catarse.me, para conseguir financiar uma nova edição do meu primeiro livro, publicado em 1998, intitulado “Zé – reportagem biográfica”, e que há alguns anos está esgotado.
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Resumindo cinco anos de pesquisa (1993 a 1998):
Zé era o apelido do José Carlos Novais da Mata Machado, mineiro que teve uma grande atuação durante a Ditadura Militar (1964 a 1985). Filho de um grande jurista mineiro, Edgard da Mata Machado, o Zé cresceu respirando política, acabou se tornando uma das lideranças da Ação Popular (AP), foi preso no Congresso da UNE de 1968, cumpriu a cana, e quando saiu, e mergulhou na clandestinidade.
Ele foi preso em 1973, quando militava na APML e morto no DOI-CODI do Recife, após brutais sessões de tortura, na madrugada de 27 para 28 de outubro de 1973. O DOI-CODI funcionava onde agora é aquele Hospital do Exército, ali perto do Parque 13 de maio.
O que tornou a história mais dramática foi que o cunhado do Zé, Gilberto Prata, aceitou trabalhar para a repressão. Foi um “infiltrado” na APML para repassar informações. Foi por causa disso que ele foi encontrado pela repressão. Várias pessoas morreram por conta dessa infiltração. Dois deles eram pernambucanos: Eduardo Collier Filho e Fernando Santa Cruz, presos em 1974 e desaparecidos.
O livro conta a história dele, desde a adolescência em Belo Horizonte, até a morte. Em uma passagem pelo Recife, o Zé fez vários amigos, que consegui entrevistar, para construir a narrativa. Na verdade, conta várias histórias e como era o país, debaixo de uma ditadura.
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Agora, quero reeditar o livro, com muitas novas informações sobre o caso, que a Comissão da Verdade de Pernambuco já conseguiu. Coisas que a gente não tinha acesso, como jornalista, na década de 1990.
Aos que compartilham meus textos, aqui no Blog, ou que já leram algum dos meus livros, peço uma pequena pausa para ver um vídeo que postei no site, além do texto que embasa o pedido de financiamento coletivo. O link é:
É bem simples e fácil. Você pode doar valores que vão de R$ 20,00 a R$ 5 mil (mas corra, porque só tem duas vagas para este tipo de doação).
Mas uma grande ajuda, de verdade, é também espalhar o link do projeto em suas redes sociais. Tenho até dia 29 de novembro para conseguir a meta. Se não alcançarmos o valor, tudo é devolvido para quem colaborou.
A vida me levou a esta história incrível, de um sujeito que passou por tudo, lutando por aquilo que acreditava. Foi líder estudantil, preso, virou clandestino, casou, teve filho, passou fome, até que foi preso e massacrado até a morte.
Seu corpo foi enterrado como indigente no Cemitério da Várzea. Coube a uma valente advogada, Mércia Albuquerque, encontrar o corpo e lutar, em nome da família, para que os restos mortais fosse exumados e enviados para Belo Horizonte. A família recebeu um caixão lacrado, para que não vissem o que tinham feito com ele.
É isso o que pretendo – trazer de novo essa história. Quando vejo algumas pessoas, de forma tresloucada, pedindo “intervenção militar”, em manifestações públicas, acho que precisamos saber mais sobre como foi aquele período.
Como jornalista e escritor, me coube também este cargo de cronista do Blog do Santinha, coisa que me enche de orgulho.
Peço a vocês que me ajudem, nesta empreitada. Se você acha que R$ 20,00 é pouco, basta ver o número de comentário deste blog. Se 90 pessoas doarem R$ 20,00 é uma puta ajuda.
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Amanhã, o Blog do Santinha volta a se dedicar à nossa obsessão infinita – o Santa Cruz Futebol Clube.
Pois eu acredito até o último apito
Segunda-feira, 6h47. Abro o Blog do Santinha para a tradicional postagem semanal e vejo a quantidade de comentários:256.
Não me dei ao trabalho de ler todos, porque acabaria meio-dia e com úlcera.
Para uma grande parte dos que deixam mensagem aqui, o Santa parece mais um time da Muribeca, ou da Mustardinha, a diretoria é abençoada pela incompetência, todas as quizilas do mundo estão do nosso lado, nosso elenco é composto de atletas em fim de carreira, pangarés de todos os tipos.
Aqui-acolá, um torcedor coral faz ponderações, ressalta coisas positivas, aponta viradas memoráveis, jogos que pareciam perdidos, lembra que ainda temos chances reais de conseguir uma vaga para a Série A.
Do alto da minha prosopopéia futebolística-santa-cruzense, eu aviso: minha obsessão pelo acesso só termina quando o juiz apitar pela última vez e o sujeito da rádio consultar a combinação de resultados para nos informar que “não dá mais para o Santa subir”. (toc toc toc).
Mas minha obsessão quer mesmo escutar é:
“Uma classificação dramática! No último minuto! O Santa Cruz está classificado para a Série A em 2016! Festa da torcida coral em todo o estado! Os jogadores estão desmaiados em campo!”
Amanhã temos mais um jogo decisivo. E depois mais outro. E espero que seja assim até a última rodada.
O Santa pode estar perdendo de quatro a zero, faltando dez minutos. Eu nunca saio. No futebol, tudo é possível.
Algum desses mau-humorados corais, que acham o time “uma desgraça”, vai uma pergunta: eles acreditavam, com sinceridade, que o Santa Cruz tinha alguma chance de ser campeão pernambucano de 2015.
(Isso é uma pergunta. O computador que estou usando, da minha mulher, não tem o ponto de interrogação).
Pois fomos comendo belas beiradas e a taça está no Arruda.
Quando acabou o contrato de João Paulo, ouvi horrores sobre a diretoria, a incompetência etc. O contrato já foi renovado até dezembro.
A Fifa botou para quebrar em Raniel, botou o atleta para o gancho até fevereiro de 2016, o clube recorreu, o moleque já está de volta aos campos. Se não desencantou ainda, paciência.
Até a última rodada, o último apito, estarei com a esperança acesa, apoiando o Mais Querido.
Não é que eu seja otimista ou pessimista.
É que eu sou puto com esse negócio de não lutar até o fim.
Isso, por sinal, nunca combinou com o Santa.
Até amanhã, no Arruda, mesmo que chova aquelas facas da Tramontina.
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Nossa homenagem, do Blog do Santinha, ao grande craque Henágio Figueiredo dos Santos, que sempre estará na memória da massa coral.
Táticas obsessivas para não perder o “Clássico do ano”
Amigos corais, mandem avisos a todos.
Seja por email, facebook, bilhete, telegrama. anúncio em jornal.
Sem meias palavras, sábado que vem, dia 17 de outubro, você que é uma pessoa cordata, que aceita aniversário de tudo que é de criança no Recife, que topa casamentos ao entardecer, que comparece a formaturas em geral, eventuais funerais, que acha fundamental as boas relações com amigos, parentes, com as pessoas essenciais em sua vida – você, definitivamente, vai dizer um sonoro não.
Não vai poder ir ao aniversário de ninguém, porque, a partir do meio dia do sábado, estará inteiramente à disposição do Santa Cruz Futebol Clube.
Não vai poder participar de nenhum evento familiar depois das 12h, porque a família tem 365 dias para cobrar sua presença, e no dia 17 o Santa começa uma arrancada para o acesso à Série A.
Avise a todos os conhecidos, chegados, chapas, camaradas, amigos do peito, que estão absolutamente proibidos de morrer, entre a madrugada de sexta-feira e as 18h30 do sábado. Só após você sair do Arruda cantando “Junta mais essa vitória”, com um latão gelado na mão, avisos fúnebres, em geral, poderão, ser enviados.
Anuncie logo, faça alarde.
Fique nervoso já de agora.
Faça pantim.
Seja inventivo, criativo.
Qualquer ameaça de evento, que não seja no Arruda, sábado à tarde, faça um escândalo. Quando alguém comentar coisas do tipo “você não está bem”, comemore em silêncio.
Como um bom zagueiro, antecipe-se. Corte qualquer pretensão de tirá-lo de junto da massa coral.
Frases como “mas tem jogo do Santa toda semana” devem ser tratadas como uma infâmia, causadora de separação por justa causa. O que tem toda semana é feira, pagamento de contas, ministro sendo demitido.
Filhos cheios de manha e pedidos, têm até sexta à noite para algum pantim, eventual choramingo. Se você for ríspido, a partir de amanhã, a explicação é simples:
“Papai está nervoso com o jogo do Santa, filho!”
A partir de amanhã, as ligações ao celular devem triplicar.
Frases-mantra que devem ser repetidas (mesmo com o aparelho sem sinal):
“A turma vai se encontrar a partir das 13h no mesmo boteco, né”;
“Já comprei meu ingresso”;
“Só se o cara estiver doente, para perder esse clássico”;
“Até o Carlão decidiu ir…”;
“Não, minha mulher nem é doida de marcar nada no sábado”;
“Nem se fosse o aniversário do Papa, eu iria”.
No meio do jantar da quinta-feira, uma cruzada solene dos talheres, e a frase teatral:
“Estou absolutamente nervoso”.
No meio de um filme romântico, pela Netflix, tomando um vinho:
“Acho que o gol da vitória vai ser de Luizinho. Ele está comendo a bola”.
Além disso, você próprio, torcedor, que está lendo esta crônica – você está absolutamente proibido de adoecer, entre sexta de madrugada e sábado à noite.
Morrer, nem pensar.
Não se trai o Santa Cruz assim, na véspera de um jogo decisivo, sonhando com um minuto de silêncio póstumo.
Deixe para morrer depois do jogo.
A vitória seguirá com você para a eternidade.
A batalha da PM contra a festa nas arquibancadas do Arruda (Parte 1)
Amigos corais, meu lugar sagrado na arquibancada, junto ao escudo do Mais Querido estava me incomodando há algum tempo.
Não sei o que era, mas uma espécie de impaciência com a morgação.
Em muitos jogos, eu sentia falta da vibração da torcida, de músicas para empurrar o time. Via aquela multidão da Inferno Coral calada, ficava invocado, começava a puxar um coro que ninguém seguia. Como diz o Tom Zé, “Que porra!”
Antes de começar aquele jogaço contra o Bragantino, tomei uma decisão fundamental – fui para o lado esquerdo do estádio, onde estavam os bravos torcedores do “Portão 10 – Avante Santa Cruz”. Vou ver se o negócio ali é mais animado, foi o que pensei.
Era o único local da arquiba que tinha algumas bandeiras, música (um sujeito virado num trompete), bandeirolas e o principal – um bando de malucos que cantava e pulava o jogo inteiro.
Isso mesmo, camaradas. Durante 90 minutos os caras não aliviam.
Fiquei logo amigo do Lucas Souza, um camarada bem novo, sorriso largo, que ficava se mexendo pra todo lado, cantando, vibrando.
Mas o que me espantava era a espontaneidade. Ali, o maestro era a paixão coral.
Em vários momentos, a turma da “Portão 10” começava a puxar uma música e daqui a pouco a arquibancada inteira, sociais, estavam seguindo o mesmo canto. De arrepiar.
Foi graças a esse encontro, e aos papos com Pablo, que pude entender a luta desta pequena e raçuda torcida, para levar alegria e festa ao Arruda.
Breve história
Resumindo tudo, a Portão 10 é uma torcida organizada do estilo barra brava (como se vê nos principais estádios da América do Sul, onde a galera canta antes, durante e depois do jogo, seja qual for o resultado). Nasceu em 2007 com o nome de “Avante Santa”.
Passou por inúmeras dificuldades, parou de funcionar em 2012 por “vários problemas”, inclusive com a “principal organizada do clube”, que não vem ao caso destrinchar aqui, mas acabou firmando seu espaço, crescendo e ganhando a simpatia da massa coral. A história é bem bacana, inclusive pela consciência que os caras têm de que o Santa é um clube popular, e não pode se afastar nunca de suas origens.
Os caras têm pulmões de madeira. Também levam bandeirolas (coisa antiga nos estádios), além de bandeiras com frases voltadas para a cultura do clube. Recentemente, começaram a fazer paródias, como era costume da gloriosa e agora exilada Sanfona Coral.
“Seguimos na luta pelo diferente para trazer novamente nossa antiga torcida”, diz Pablo.
Perdão pelo trocadilho, Pablo, mas é uma torcida sem sofrência.
Tudo muito bom e bonito, é o que o leitor coral vai pensar.
Que nada, meus amigos. Eles enfrentam uma batalha, a cada jogo para driblar o “pode não” da PM.
PM: A tropa da morgação
A torcida do Santa não pode entrar ao estádio com papel picado, bandeira (por menor que seja), bandeirola, bobina de papel higiênico, nada de pirotecnia em geral, pano, enfim.
“Além da recorrente truculência e ignorância, sofremos com a censura em cima dos nossos trapos (bandeiras com frases que ficam na mureta) como “Sociedade Alternativa” e “Coral Antifa””, prossegue Pablo.
Ou seja, a PM “escolhe” o que deve ou não entrar, sem argumento algum, sem embasamento. Depende do humor, sem nenhum documento que defina critérios. Na linguagem jurídica, o nome disso deve ser “protocolo”.
“Além da recorrente truculência e ignorância, sofremos com a censura em cima dos nossos trapos (bandeiras com frases que ficam na mureta) como “Sociedade Alternativa” e “Coral Antifa”, tendo que aceitar as bandeiras que eles decidem deixar entrar, sem darem nenhum argumento ou embasamento para as proibições”.
“Além de termos as mãos atadas em relação aos artefatos festivos, como papel picado, bobinas e papel higiênico, pirotecnia em geral e principalmente nossas bandeiras (que por décadas foram marcantes na característica da torcida coral e pernambucana). Tudo com o argumento de que são “armas” para aqueles que eles não prendem”.
Depois da vitória, da comemoração pelos 3 x 1 contra o Bragantino, ficamos conversando um pouco na arquibancada, cheios de alegria.
Pablo então soltou uma frase que me parece a marca deste período absurdo em que vivemos:
“A batalha dos caras é contra a festa”.
Eles estão ganhando, mas a torcida do Santa tem a arte de resistir.
“Avante Santa, olê olê olê…!”