Quando o Santa joga… (com arremate de Inácio França)

Lembro dos excluídos, dos descamisados, dos sem destino.
Lembro dos sírios, dos que tentam sobreviver pelo mundo.
Lembro dos meninos todos do mundo.
Lembro da alegria.
Lembro dos amigos queridos: Naná, Vital, Inácio, Gerrá, Laércio, Esequias, Robson e outros milhares de corais.
Lembro de Bruno, filho de Inácio e meu afilhado por escolha mútua.
Lembro de Sofia, gritando de felicidade ao pisar no gramado do Arruda.
Lembro dos gols abraçando amigos e desconhecidos.
Lembro da rua Beberibe, que o oportunismo quer agora transformar em rua Santa Cruz.
Lembro de andar de sandálias, pelas ruas do Recife.
Lembro de quem está longe do Recife e do Arruda.
Lembro do Arruda.
Lembro dos mercados.
Lembro dos velhos torcedores corais, que nos fizeram a chama chegar até hoje.
Lembro de uma cerva gelada e uma dose de “serotonina”, como diz o amigo Zeca.
Lembro de uma partida de dominó.
Lembro de boas conversas, antes de um jogo.
Lembro de Capiba.
Lembro dos morros do Recife.
Lembro dos corais que estão crescendo com a paixão coral.
Lembro de tudo.

Mas, como lembrou há pouco meu amigo Inácio França…

Só não lembro do jogo…

Ei, Fifa, vai tomar…

Amigos corais, acabo de acessar o site coral (www.santacruzpe.com.br).
Perplexo, vejo que a Fifa fez um novo julgamento do atleta Raniel, no dia 15 passado (à revelia, portanto, porque o clube sequer foi citado para nada) e decidiu “banir mundialmente” o jovem craque coral até 22.02.2016.
Desnecessário comentar o impacto que isso vai ter nesse jovem (mas creio que o futuro só pode estar reservando coisas espetaculares para ele).
Desnecessário também comentar o asco que esta entidade, a FIFA, me prova asco. Montada em bilhões de dólares, segue firme no seu raro e obsessivo apetite para destruir a paixão pelo futebol, em todo o planeta.
Desnecessário dizer que é momento do elenco, diretoria e torcida se juntarem para enfrentar mais essa pancada e seguir firmes, rumo à classificação.

Vejam a nota oficial no site:

www.santacruzpe.com.br

O Santa e o caso Raniel

Vamos pelo fim.
*Caso Raniel superado
COMPARTILHE:
(www.santacruzpe.com.br)

Petição requerendo a extinção do processo movido pelos representantes legais de Raniel contra o Santa Cruz foi encaminhada nesta sexta-feira à Justiça do Trabalho

O Santa Cruz Futebol Clube comunica que, conforme havia sido acordado em reunião realizada no início da noite de ontem entre a diretoria do clube, o atleta Raniel e a DUTS MKT ESPORTIVO, representante legal do jogador, foi encaminhada nesta sexta-feira petição requerendo a extinção do processo movido na Justiça do Trabalho contra o clube.


O Santa Cruz considera que, com esta medida, o caso está superado e reitera sua confiança de que Raniel pode vir a ser uma peça importante no caminho do time tricolor rumo à Série A.

O Santa apoiou e continuará apoiando o jogador dentro e fora de campo. Ao clube, o próprio Raniel expressou sua alegria de continuar defendendo as cores do Santa. O clube entende que um jovem atleta promissor como Raniel precisa de estabilidade e segurança pra desenvolver todo o seu potencial. O Santa sempre trabalhou para garantir essas condições e continuará trabalhando.
##
Pensei em escrever sobre isso, mas um leitor do blog matou a charada. Vejam o que ele escreveu:
##

Somente o clima de intolerância presente no país hoje é que explica boa parte dos comentários acerca do “caso Raniel”.
Uma notícia assim chateia, é óbvio, qualquer um.
Mas como se trata de um garoto que já enfrentou até aqui uma vida tão cheia de obstáculos, eu me pergunto: o que faria se fosse ele?
Pra analisar um situação dessas, sempre que possível, é interessante a gente se colocar no lugar do outro.
Pra quem já foi abandonado pela mãe, viveu numa “boca de fumo” e com tantas outras dificuldades já vividas, fico pensando se seria fácil recusar uma oferta de algum advogado que me oferecesse o céu como limite.
Sentado onde estou, com as minhas condições atuais e com a cabeça que tenho hoje seria muito fácil tomar uma decisão. Mas, se eu fosse Raniel, sinceramente, não sei o que faria.
Ele errou? É claro que sim. Mas crucificá-lo é simplificar demais a questão.
O cara – queiramos aceitar os fatos ou não – é apenas um garoto. E pelo que dá pra perceber, muito mal orientado.
Caso Raniel permaneça no Arruda, espero que não seja hostilizado de maneira tão dura como o é agora.
Se até o “ético” Martelotte foi perdoado pela maior parte da Torcida Coral após fazer o que fez com o Santa Cruz, por que um garoto pobre, desorientado e nascido em família desestruturada não poderia ter de volta o nosso respeito?

##
É o que penso.
O moleque errou e agora todo empresário pilantra sabe que pode passar vergonha.
Data vênia:
Raniel é do Santa, pediu desculpas e vamos pensar no jogo contra o Ceará.

O que anda dizendo a massa coral…

Que o barbudo Daniel Costa está comendo a bola;
Que Raniel vem aí, e o bicho vai pegar contra o Boa Esporte;
Que a TV Coral está bombando;
Que o “Sambão Coral” tem tudo para pegar;
Que o negão Grafite anda meio estressado;
Que os comentários dos leitores do Blog vão do céu ao inferno em questão de minutos;
Que a Cobra está subindo, subindo, subindo…

Por hoje, é só.

Seleta dos leitores invocados do Blog do Santinha

Amigos corais, perdi a pelada por causa de uma reunião, marcada para 18h. Só fiquei sabendo dos gols pelos telefonemas do amigo Naná, cheio das bicadas.
Não tive animação nem tempo para escrever hoje.
O senhor Inácio França está de licença sem remuneração do Blog e nem sequer telefonema atende mais.
O senhor Gerrá Lima não deu as caras. Foi visto gritando “Ah, é o Aquino!”, na hora do pênalty.
Selecionei, portanto, alguns comentários dos leitores, os mais variados, para superarmos esta infeliz derrota, que teve um gosto de derrota mesmo, daquelas que o sujeito fica lembrando o dia inteiro, de dez em dez minutos, pior às vezes que uma gaia.
**
Alexandre Dias
SETEMBRO 9, 2015
Essa derrota não estava nos planos.
**
Gerailton Tricolor
SETEMBRO 9, 2015
Sabemos nossa limitação.
Mas, será que vi outro jogo?
O time abafou, e não conseguiu fazer o gol.
Paysandu foi 2 vezes e fez 2 gols, em falha nossa.
Já falei em outra oportunidade:
Futebol é uma paixão, sem razão.
Isso nunca vai mudar!!!
**
Pedro
SETEMBRO 9, 2015
É muito torcedor chato, viu?
Chamar essa diretoria de amadora? Pedir a cabeça do técnico?
Ah, vai pra puta que pariu.
**
Hélio Mattos
SETEMBRO 9, 2015
Arnildo deve estar tão P.U.T.O, que não quer nem postar!
Rsss…
**
Victor Fernandes
SETEMBRO 9, 2015
Fui ao templo do arruda, voltei muito invocado dizendo que ñ iria mais a jogo esse ano, nem conseguir dormir direito, hj de cabeça fria vejo que não adianta sofrer por antecipação,(aprendi isso na serie c 2013 onde perdiamos quase todos os jogos fora de casa antes do vica) tem muito campeonato pra rolar ainda, aproximadamente 40 pontos em disputa, tem o lateral esquerdo, Raniel, e o novo meia pra estrear e se for o caso a tal contratação bomba, ontem estava derrubado, hj me levantei e estou renovado,futebol eh assim amigos tem sempre o próximo jogo para se levantar, do mesmo jeito q ocorreu essa derrota inesperada,vão vir vitorias inesperadas tbm,o Santa eh assim,quem ñ lembra de 99? resumindo…quem morre de véspera é peru…se for pra sofrer vai ser em novembro! sábado eu vou.
**
Gerailton Tricolor
SETEMBRO 10, 2015
No fundo, no fundo, todos nós continuamos acreditamos no acesso.
É ou não é????
Publicar uma Resposta
**
marcelo almeida
SETEMBRO 10, 2015
E lá vamos nós pro sábado então, felizes e apaixonados feitos o pior tipo de corno: Aquele desconfiado que nem tem certeza e nem se conforma… A dúvida é que mata he he he Todos ao Arruda então EHHHH…Até a próxima gaia, espero que seja só em 2016 e que eu continue achando que a insistência nos erros é só coisa (VTNC) que tão botando na minha cabeça rs rs rs EU ACREDITO!!!!
**
mauricio pais
SETEMBRO 10, 2015
Ei, que negócio é esse de contratação de um “homem-bomba”?
É alguém do Talebã, Jihad islâmica ou do Hamas?
**
Coral
SETEMBRO 10, 2015 (Editar)
Eu quero saber é que já estou com meu ingresso comprado e vou ao jogo torcer. O clube está se estruturando e o que vier de bom é lucro num ano complicado como esse (sem campeonatos e com país em crise).
Esses jogos não são o filé da série A ainda, mas pra quem roeu o osso de uma série D é um baita banquete, ou vocês preferiam estar acompanhando jogo pelo rádio contra Águia de Marabá, Cuiabá, Motoclube, Coruripe ou Guarani de Sobral ???
Quem for ao jogo, vá na intenção de ajudar porque pra ficar em casa a gente tem de dezembro a janeiro sem jogos e depois não fiquem postando aqui que estão com saudades do Arruda.
Saudações Tricolores

O relógio contra o futebol

Amigos corais, vai uma confissão – estou ficando maluco com esses horários noturnos da Série B, especialmente os que acontecem no Arrudão, nosso glorioso estádio.
No dia 1 de setembro, derrotamos o escrete do América-MG com a partida começando no horário das 20h30. Logo, o apito final acontece apenas às 22h30.
Bote aí mais uns dez minutos (se o sujeito não parar em nenhum boteco para tomar umas e comentar os lances, esculhambar o juiz ou reclamar que Anderson Aquino, o queridinho de Gerrá, perdeu 122 gols) para chegar à parada de ônibus.
Sim, muita gente pode não saber, mas milhares de corais vão ao Arruda de ônibus, eu, inclusive.
Neste horário, metade da frota (para não dizer toda) já recolheu.
Fiquei uns 25 minutos esperando um reles, mísero, velho ônibus que me deixasse no parque 13 de Maio e nada.
O jeito foi pegar um táxi mesmo.
Hoje o jogo será às 19h, me informou o amigo Esequias Pierre, o sujeito mais bem informado de Pernambuco. Ele sabe coisas que nem o Obama imagina.
Pois bem. Se um jogo começa num horário péssimo para quem vai voltar do estádio, este horário das 19h é o que denomino “empata-sopa”.
O sujeito não tem tempo de sair do trabalho direito, de botar uma camisa e uma bermuda, não tem tempo de tomar umas com os amigos e chega ao estádio esbaforido e, regra geral, atrasado. Isso quem consegue.
Entre o local de trabalho ou residência, temos um dos maiores inimigos da bilheteria coral – o trânsito do Recife.
De formas que você, amigo coral, que está desempregado ou não tem horário de trabalho fixo e que vai estar nas imediações do Arruda ali pelas 18h, pode se considerar um privilegiado. Outros milhares estarão morrendo nas ondas do rádio, onde toda jogada é perigosíssima e a pelota, depois do meio campo, parece estar dentro da pequena área.
E celebremos o sábado, dia 12 de setembro. Jogaremos contra o escrete da Luverdense, às 16h.
Já imaginaram se acontecesse um milagre cósmico e já tivéssemos umas Itaipava geladas para serem vendidas durante o jogo?
Nosso dia chegará.

No mundo das frustrações

Amigos corais, não sei o que diabos esses jogadores do Santa têm no espírito e nas pernas.
Quando jogam no Arruda correm feito o cão, fazem gols, sustentam vitórias, viram jogos memoráveis, não tomam conhecimento de ninguém, nos enchem de alegria e esperança, mas…
Basta sair da fronteira de Pernambuco, que os caras literalmente amarelam.
Quando começa um jogo fora de casa, eu fico até com raiva quando sai um gol. Eles, os jogadores, imediatamente abandonam o padrão de jogo que vinham impondo ao adversário, recuam vinte metros depois do meio do campo e ficam esperando o óbvio ululante – o empate adversário. É questão de minutos.
Ontem, quando terminou o primeiro tempo, comentei com meu cunhado Pedoca:
“Eles vão levar um esporro do caralho do Martelotte e vão entrar no segundo tempo cuspindo fogo, comendo a grama”.
Qual o quê.
O time parece que aproveitou os 15 minutos do intervalo para tirar um cochilo.
Voltaram tirando a remela dos olhos, bocejando, lamentando ter deixado o lençol e travesseiro no hotel.
No segundo gol do escrete do Paraná, parecia que a bola dava choque em quem botasse o pé nela.
Ela foi sendo tocada de pé em pé. A pelota passou pelo lateral, pelo meia, passou pela zaga, pelo roupeiro, massagista, pelos médicos do Santa, e de repente o adversário estava na frente do Paredão. O atacante tirou o celular do bolso, fez uma selfie, postou no facebook, recebeu 22 curtidas e fez o gol. E nossos atletas bocejando.
Depois veio o terceiro. Foi nessa hora que rezei para não levarmos uma goleada.
Ainda fizemos o segundo gol, mas a sina continua – vitória, só em casa.
Eu já estava puto, quando vi na TV ao lado (estava no Clube Alemão, no aniversário de um sobrinho) o gol da Barbie, digo, do Náutico, no apagar das luzes.
Um sujeito de uns 60 anos começou a pular, quase quebrou a cadeira, aos gritos de “É campeão, porra!”
Que merda, foi o que pensei.
Ou seja, o meu sábado, graças aos atletas corais, terminou numa frustração que nenhuma avaliação merda ou comentário de jogador (ou de treinador) pode curar.
Até porque eles sempre dizem “é levantar a cabeça e pensar no próximo jogo”, e qualquer perna de pau de pelada sabe que quem está com a cabeça baixa joga olhando para o chão – e não acerta um passe.
*
Mas já estou com o ingresso da terça no bolso, porque esse sonho da Série A, pelo que estou vendo, vai render até a última rodada…

Uma obsessão: O acesso

Amigos corais, sem obsessão, o sujeito não faz sequer a feira.
Falo, obviamente, do Santa Cruz.
Começamos o campeonato estadual como reles coadjuvantes. Na Paixão de Cristo, seríamos o bilheteiro, e olhe lá.
A muito custo, dizia a crônica esportiva, chegaríamos em quarto lugar.
O título já era do Sport, vinte rodadas antes da tabela. O clube que recebe da TV uns R$ 35 milhões por ano, que é patrocinado pela Adidas, só treinava depois de tirar a foto de campeão. Os jogadores receberam o bicho antes de chegarem as chuteiras novas, feitas na Europa, com couro de búfalo criado em cativeiro.
Enquanto isso, nós fazíamos vaquinha para ficar entre os vinte da Timemania. Com os R$ 350 mil mensais em 2015, garantiríamos pelo menos metade do salário do elenco. Teve gente que vendeu a Variant 1977 para ajudar.
Para resumir, o Santa Cruz foi foi o vigésimo colocado na Timemania e papou a taça de Campeão Estadual de 2015.
Pois bem.
Começamos a Série B como sempre. Aquele cão pulguento, que fica olhando os galetos rodarem na maquininha.
Isso, se o tricolor for bem de vida, como Gerrá, Robson Senna, Esequias, Inácio França.
Se for um tricolor bolsa-família, o negócio é ficar olhando o galeto assar na brasa, com 200 kg de fumaça para encher o bucho dele e dos filhos.
O Clube Náutico, por exemplo, começou a Série B com 377 pontos à nossa frente. Eu não podia ver um alvirrubro passando de carro, que ele parava seu Citroen, abria a carteira e dizia:
“Olha aqui o que temos sempre – dinheiro. Para a elite, não falta dinheiro. Já estamos na Série A de novo, porque nascemos para a elite”.
O alvirrubro seguia para o restaurante Leite, para comemorar suas vitórias e sua maldição, o hexa.
Agora eles têm uma nova maldição – a Arena, que vai minando a já frágil Torcida Citroen.
Eu não respondia. Seguia para o bar Sukito, defronte ao 13 de Maio e pedia uma cerva, um tira-gosto e um quartinho. Juntando tudo, dá R$ 15,00 + R$ 2,00 do garçom.
Pois bem de novo.
O jogo de ontem foi sofrível
Não fumo, mas ontem fumei uma carteira de Derby.
Quem se preocupa com a saúde, durante um jogo do Santa Cruz, torce pelo time errado.
Nada funcionava direito e o mais pessimista já olhava para o placar que não existe e pensava: um empate vai ser uma tragédia. E seria.
Ontem foi a divisão do campeonato. Um empate, e estaríamos de novo na lona.
Mas o time agora tem Grafite, e aquele noivado eterno dele com a bola.
Diria que Grafite não teve direito a mamadeira, peito de mãe, papa. Deram a ele a bola e diseram: Te vira!
O negão foi lá e fez o que aprendeu na vida – driblar as broncas e criar vitórias.
O fato é que se instalou em mim e na massa coral, uma reles, simples e canina obsessão vira-lata: O acesso à Série A.
Estar entre os 20 melhores clubes do país é nosso dever moral, cívico, existencial.
Se fosse vivo, o filósofo Sartre diria:
“Le Santa Cruz cest la Série A”.
O poeta Garcia Lorca não deixaria por menos:
“Puro como la negra noche – Santa Cruz!”
Aos incomodados com o jogo ruim de ontem, lembro que o Santa Cruz é o time mais improvável do Brasil.
Produzimos Givanildos, Rivaldos, Ricardo Rochas, Caça-Ratos, Thiago Cardosos, fazemos ressurreições improváveis, com Dênis Marques e descobrimos o óbvio ululante: havia um craque jogando no fim do mundo, apaixonado pelo Santa e que pensava em voltar.
ÔôôôO o Grafite chegou….
Então, lembro que, de ontem, trouxemos algo maravilhoso – a vitória e os três santos pontos.
Ganhamos títulos improváveis, passando o chapéu, fazendo rifas, jantares, bingos.
Do alto da minha prosopopéia, já começo a sentir aquela fisgada emocional coral e aquela certeza:
Vamos subir.
Até amanhã, em Feira Nova, com a diretoria e parte do elenco.

Quem diria, heim?

 

Amigos corais, vamos e convenhamos – esse Santa Cruz está mudando ligeiro demais para ser verdade.

E aqui confesso. Eu raramente olhava o velho site coral. Me dava uma preguiça enorme ver alguma velha novidade do treino, o resultado do jogo da semana passada. Se ligasse para um amigo, apaixonado pelo Santa Cruz, ele tinha mais novidades.

Pois bem.

Minha mulher de vez em quando me flagra:

“De novo olhando o site do Santa Cruz? Não estás ficando viciado não”?

“Hamm, glub”, respondo.

Então vejamos o site de hoje:

“Parceria Santa Cruz/Esposende vai oferecer noite de fotos com craques corais”

http://www.santacruzpe.com.br/futebol-profissional/parceria-santa-cruzesposende-vai-oferecer-noite-de-fotos-com-craques-corais

Arregalo os olhos.

A notícia está também no twitter, facebook, instagram, essas coisas todas. Esequias Pierre já deve ter mandado para os milhares de torcedores mexicanos, asiátios, da Costa do Marfim, com quem ele se comunica, via satélite.

Como hoje é quinta e já trabalhei muito esta semana, vou ter que copiar um pedaço da matéria do site, adaptando só as datas:

“A Esposende encomendou um lote especial de camisas oficiais de todos os três padrões do Santa que começam a ser vendidas nesta quinta-feira (20) nas lojas dos shoppings Tacaruna, Recife e Guararapes.

Os mil primeiros torcedores corais que comprarem uma camisa oficial do Santa Cruz numa das lojas da Esposende desses três shoppings, a partir de hoje (20),  ganharão, no ato da compra, convite para uma noite de autógrafos com os craques Grafite, Tiago Cardoso, Renatinho, Anderson Aquino e Raniel.

A noite de autógrafos acontecerá na próxima terça-feira (25), das 18h às 22h, em uma das lojas da Esposende do Shopping Recife. A loja estará fechada para o público em geral. Só terão acesso ao espaço os torcedores de posse do convite.

Os primeiros mil torcedores que comprarem camisa oficial do Santa nas lojas Esposende a partir desta quinta-feira (20) também receberão um ingresso de arquibancada superior para o jogo do dia 1 de setembro do Santa Cruz contra o América/MG, no Mundão do Arruda, pela 22º rodada da Série B. 

As camisas oficiais do Santa Cruz serão vendidas por R$ 169,90 em 5 vezes no crediário Esposende e em 6 vezes nos demais cartões, sem juros”.

**

Os idiotas da objetividade poderão dizer – “Sim, mas o que isso tem a ver com o jogo de amanhã, contra o escrete do Macaé?”

Tudo, meu amigo Objetivo, tudo.

Pela primeira vez, o óbvio ululante está nascendo, feito graminha, no Arruda. Departamento de Marketing + Comunicação+ Futebol se articulam, para ações que possam projetar a imagem do clube, garantir novos negócios e melhorar toda a estrutura que possibilite à diretoria, dinheiro em caixa, para fortalecer o próprio futebol.

Alguém aguentava, por acaso, o famoso “jantar de adesão”, após vários jogos com casa cheia?

Vamos a mais uma novidade: o “Santa Cruz Sem Fronteiras”

Eu já tinha avisado aos amigos essa novidade do Marketing + Comunicação – o “Santa Cruz Sem Fronteiras”.

Copio do site, de novo:

“Visando fortalecer a relação entre o Santa Cruz e seus torcedores e com o intuito de conquistar novos sócios, no próximo domingo (23), iremos começar uma séries de eventos para interiorizar os nossos serviços, possibilitando uma experiência especial para os torcedores corais. O primeiro município escolhido para esta jornada foi Feira Nova, localizado no agreste pernambucano.

O evento será um almoço adesão e contará com a presença da diretoria coral, nas figuras do presidente e vice-presidente do Santa Cruz, Alírio Moraes e Constantino Júnior, respectivamente, e de alguns jogadores do elenco profissional do Mais Querido. Além deste momento único tanto para o Santa Cruz quanto para os tricolores, os participantes poderão conferir algumas peças do nosso museu e também adquirir produtos oficiais, em espaços que serão montados no local.

O encontro ainda terá sorteios de brindes exclusivos para os sócios-torcedores presentes no local. Para participar, é preciso ser sócio torcedor do Santa Cruz e estar em dia com a mensalidade do plano. O associado poderá optar entre pagar uma taxa de R$ 10,00 ou vir acompanhado de uma pessoa interessada em se associar ao Santa Cruz. Nesta segunda opção, a entrada sai de graça. Já para os torcedores não-sócios do clube, basta associar-se a qualquer um dos planos do Santa Cruz que a entrada no evento é automaticamente liberada”. 

SERVIÇO

Santa Cruz Sem Fronteiras – edição Feira Nova

Dia: 23/08/2015 (Domingo)

Horário: a partir das 11h

Local: Clube Municipal – Estádio Gonzagão | rua da Aurora, em Feira Nova – PE

**

Depois de ver esse projeto, liguei para Gerrá.

“Bora pra Feira Nova domingo?”

Bastou ele saber do que se tratava, que já começou a imaginar uma ação dessas em Bezerros, onde ele tem uma forte base eleitoral e onde a “Minha Cobra” já fez sua particiação, no aniversário de um famoso torcedor coral (fez 100 anos). Quando começou a fazer a previsão das cidade e chegou em Petrolina, eu toquei.

“Rapaz, a gente leva a Minha Cobra, uma orquestra de frevo, articula com a galera, vai ser uma onda”, disse. “Vamos fazer isso até no exterior”.

O bicho é meio exagerado.

Terminou a conversa e já fui na geladeira, procurar uma cerveja.

O fato é que o Santa está começando a pensar grande, dentro e fora do Arruda.

Quem diria, heim?

Diário de um delírio

Amigos corais, abri os olhos hoje de manhã e pensei em pedir minha mulher para me beliscar. Terei sonhado muito? Foi delírio de minha parte?

Pois bem, vamos ao diário de um dia inesquecível, para mim e para a massa coral.

Primeiro o “esquente” no Sukito, boteco modesto cá no centro, defronte ao Parque 13 de maio. Uma cerva, uma dose de “serotonina”, como diz o amigo e filósofo Zeca (uma lapadinha de Pitucilina com limão) e um rango.

Às 14h em ponto, ônibus para o Arruda, já coalhado de torcedores. O portão 9 como estará hoje, meu Deus. Meu sofrimento é o portão 9, por onde entram os arquibancadinos.

Primeiro bom sinal – a avenida Beberibe estava bloqueada bem antes do Arruda, facilitando o fluxo da multidão. Dou alguns passos, e passa o Ônibus Coral. A torcida entrou em festa. Acenei com minha bandeira. Meu sonho é chegar a algum jogo dentro dele, vendo a massa acenar. Nessa hora, o jogador mais frio se sente um herói, se enche de brios. Após passar por uma multidão apaixonada, não precisava nem de preleção. Eu, se fosse o treinador, ficaria apontando os torcedores de todas as classes sociais e diria:

“Joguem por eles”.

Tentei ir ao bar de Abílio, onde estariam vários amigo, mas estava impraticável. Fiquei do lado de fora, tomando umas nas barracas de isopor.

O portão 9, eu só pensava no portão 9, aquela fila esculhambada pra cacete. Encontrei Júlio Vilanova, que outro dia chegou de viagem da China. Passou três semanas entre Xangai e outras cidades menores. Cidade menor na China é aquela que tem vinte milhões de habitantes. Ele chega com uma cadernetinha com a imagem de Mao Tsé-Tung.

Só mesmo um torcedor do Santa mesmo, ser capaz de comprar um caderno na China e levar para um amigo que gosta de tomar notas de tudo. E ainda ter a esperança de encontrá-lo, no meio de milhares de pessoas.

Guardei o caderno, tomamos umas e depois peguei o beco, rumo ao Portão 9. Eram 15h e calculei chegar ao ferrinho, junto ao escudo, lá pelas 17h.

Eis o choque existencial e psicológico. Barreiras policiais logo no início da rua. Nem me revistaram, o que achei uma covardia. Poderia ter levado uma ampolazinha de Teachers.

A fila andava rápido. Mais adiante, aquelas grades de ferro, que impedem o empurra-empurra.

Não entendi nada. Em dez minutos, creio, estava dentro do estádio. Meu lugar no ferrinho só cabia mesmo a mão. Botei ela e, aos poucos, fui me esgueirando.

A massa coral em festa. Dia lindo. Dia de Grafite. Dia de arrancarmos rumo à ponta da tabela, de pegar ar e se impor na competição como um grande clube que somos.

O jogo… Ora bolas, o jogo é o óbvio. Se eu for pago pelo Blog do Santinha para escrever sobre o jogo, serei demitido.

Um sujeito ao meu lado reclamava com Grafite.

“Está fora de forma”.

“Não é o mesmo”.

E eu já amolando minha língua para dar um troco.

O sujeito esperava que Grafite entrasse, saísse driblando todo mundo e fizesse quatro gols em dez minutos.

“Eu botava Luisinho”, dizia.

E eu esperando.

Lá pelas tantas, cruzamento na área e gol de quem?

“Graaaaffiiiiiiiiiiiiiiiteeeeeeeeeeeeeeeeee!”

O sujeito se vira e me abraça, às lágrimas. Um abraço de quem chegou de um exílio no Uruguai, de vinte anos.

“Eu sabia! Esse Grafite é um predestinado”, disse ele.

“Joga demais! Tem estrela!”

Essa memória do torcedor é algo que impressiona.

A vitória foi a coroação de um trabalho enorme de um monte de gente competente. Presidência+marketing+comunicação+torcida chegando junto.

Foi uma vitória dentro e fora das quatro linhas, coroada com o gol do nosso craque.

À saída, uma nova surpresa. TODOS os portões das arquibancadas estavam abertos. Não havia aquela centena de vendedores de cerveja logo de cara, facilitando o fluxo.

Como ninguém é de ferro, a PM insiste em deixar seus ônibus da Tropa de Choque estacionados justo ali, na rua, atrapalhando a multidão.

Mas registro uma vitória: não vi um cavalo, a tarde inteira. Nem spray de pimenta na cara da gente.

Passei em Abílio, vi os amigos, alguns assinaram seus nomes na minha bandeira, que , ao final do ano, vai para a coleção de Esequias Pierre.

Passei na sala de Imprensa, para ver se Inácio estava lá. Nada. Mas vi uma entrevista de Tininho, dizendo que até o bicho do jogo já tinha sido pago.

Só deu tempo de comprar mais uma cerva, pegar um ônibus e voltar para casa, com um sorriso na alma.

O Santa está passando por uma mudança que ainda não percebemos direito – é de mentalidade.

Os jornalistas, logo que o presidente Alírio Morais assumiu a presidência do Santa, começaram a apelidá-lo de “Delírio”, por causa de suas idéias pouco convencionais.

Recorro ao “Aurélio”:

“Delírio”: “1. Distúrbio mental caracterizado por idéias que contradizem a evidência e são inacessíveis a crítica; 2. Exaltação do espírito; desvairamento”.

Deixem que ele delire à vontade – e leve consigo uma equipe profissional azeitada e competente e toda uma nação apaixonada.

Não existe nada mais parecido com o Santa Cruz do que a exaltação do espírito, ao desvairamento.

Lembro agora de Chico Buarque, o poeta, que se refere a “estar doente de uma folia”.

É isso o que sinto.