Vou levar falta, amanhã. Vi todas as possibilidades, mas não poderei ir. Muito menos assistir em alguma televisão.
É lasca. Logo contra o Guarany de Campinas. Carlos Alberto Silva, Gomes, Almeida. Aquele nosso time de 1983. Eu era um pirralho. A gente ia para o jogo tudo misturado. Preto, branco encarnado. Branco e encarnado. Preto e encarnado. Eu sempre de kichute, meião do Santa, calção preto e minha camisa com listras verticais. Rolete de cana e amendoim. A Santamante, a Santanás, a Força Jovem e outras organizadas.
Naquele ano, fomos pro terceiro turno do campeonato como azarões. E aí, a história que nos acompanha desde o berço. Não deixe a cobra crescer, que a bicha bota pra fuder. No peito e na raça vencemos o terceiro turno e provocamos um super-campeonato.
O jogo final daquele campeonato, o de 1983, eu tenho todo na memória. Desde a nossa saída de casa.
Fomos num Opala. Era de um senhor, vizinho nosso. Sem GPS, sem celular, sem cinto de segurança, sem extintor, o cara era um tipo Uber dos anos 80. Ele acertava de nos levar pro jogo. Combinava um preço e nos levava.Quase sempre, o Opala ia com lotação acima do permitido. A gente entrava no estádio e o coroa ficava nos esperando, bebendo cerveja e escutando pelo rádio. Até hoje não sei porque ele não entrava. Eu perguntava a meu pai, porque o Coroa não via o jogo. Meu pai respondia: “sei lá. Ele é meio doido”.
Enfim, essas doidices que cada um tem e ninguém sabe o motivo.
Ficamos na arquibancada. Eu, meu pai e um amigo dele. Um dos maiores públicos que já vi no Arruda. Quase 80 mil pessoas. Falam até que tinha mais gente.
A turma do Capibaribe dava como certo a conquista. Falavam que já tinham encomendado as faixas de campeão. Mas já naquele época, eles nadavam e morriam na praia. Está no sangue do Capibaribe.
Eu quase não consegui se mexer, mas não soltava minha bandeira. Metemos um a zero. Na hora do gol, fui levantado feito um troféu. Um senhor começou a passar mal perto da gente.
A partida caminhava para o final, até ali éramos campeões. Pertinho do fim da peleja, eles empataram. Na base da raça, seguramos a prorrogação e fomos para os penaltis. Nosso time estava com um jogador a menos.
Vencemos nas penalidades. Depois de 5 a 5, Luis Neto defendeu uma bola que ficou em cima da linha. Foi uma confusão. Depois de muito rolo, Gomes sacramentou nossa vitória.
Que jogo. Eu, menino, gritava: “enfia a faixa no cu, seus porras!” Meu pai ria a vontade. O amigo dele me abraçava. A cidade estava em festa. Tudo era felicidade. O Santa Cruz era tri-super campeão!