Se deixarem, a gente entra.

Meus amigos tricolores, estou preparando um texto, a pedido do amigo André Tricolor, sobre a relação do capitalismo globalizado com o futebol – tema de extrema relevância e que nos afeta diretamente. Por enquanto, vamos comentar a rodada desse final de semana.
A nossa vitória contra o Salgueiro revelou alguns pontos fundamentais: Primeiramente, nosso goleiro está se firmando como um verdadeiro paredão – os gritos da torcida no início do jogo corroboraram essa impressão. Percebi como Júlio César é inteligente na saída de bola. Muitas vezes, quando ia lançar a bola para um lateral e via a chegada da marcação, lançava a bola para o outro lado. E quando é exigido na defesa, não tem nem o que falar, perfeito.
A zaga está se mostrando uma grata surpresa. Bem posicionada e segura. Poucas as vezes que fomos atacados com perigo. E a mudança de posição de Thomás foi excelente. Ele precisa melhorar o fôlego para render os 90 minutos.
Mas nem tudo é um mar de rosas. A transição do meio de campo para o ataque continua sendo um problema sério. Parece que quando a bola chega no meio de campo, um branco total se abate sobre os jogadores. Ficam perdidos. O posicionamento é equivocado, a falta de talento para tocar a bola é alarmante e falta o mínimo de criatividade. É preciso resolver isso o mais rápido possível. A tal da séribê está chegando.
E essa nossa incompetência crônica afeta o desempenho do ataque. Não tem Pitbull, Hottweiler ou Doberman que dê jeito. Se a bola não chega, é isolamento na certa. O ponto positivo – e posso até dizer que assombroso – é nossa bola parada.
Na primeira falta, a bola estava bem longe da meta adversária. Meu amigo Fábio Martins, que estava comigo no Arruda, não acreditou:
“Tá muito longe”, ele comentou.
“Vai ser gol”, eu disse.
O velho Anderson Salles foi lá e quase faz uma pintura. A bola foi caindo, mudando de rota – por um triz não tivemos um golaço. Mérito do arqueiro adversário. Mas que foi uma cobrança linda, foi. O mesmo se deu na segunda falta. E no pênalti, não tem nem o que dizer.O Arruda gritava num misto de loucura, alívio e felicidade.
Não sei se os amigos tricolores perceberam, mas tanto na Rádio Jornal quanto na CBN, durante a narração do jogo, toda vez que o Santinha ataca entra uma porra de uma propaganda. Isso é para deixar o sujeito puto da vida. Fiquei sem entender essa.
No outro lado, o Capibaribe segue sua sina. Mas mostrou que o Do Recife não mete medo em ninguém. Fraquinho.
Por fim, como disse um professor amigo meu sobre o Mais Querido:
“Meu velho, o time não é lá essas coisas, mas se forem deixando, a gente vai colocando a cabecinha e seremos campeões”.
Isso mesmo.

Temos que ir aonde o povo está!

Quando meu pai chegou ao Recife, foi morar numa pensão na Rua do Imperador. Com 16 anos de idade, ele veio direto de um sítio em Brejo da Madre de Deus para a capital pernambucana.

Tudo foi novidade. O mar de Boa Viagem, o movimento da cidade, as festas, a bebida, as putas, o futebol!

Certa vez perguntei ao meu pai, como foi que o Santa Cruz foi injetado no sangue e na alma dele.

Na pensão da Rua do Imperador, tinha gente que torcia pelo América, pelo Sport e pelo Santa Cruz. Meu velho se identificou com as cores, com o nome e, principalmente, com a torcida. Sempre que conversamos sobre esse assunto, Seu Geraldo na titubeia: “O Santa sempre foi o time do povão. Eu pobre, matuto, só podia ser do Santa Cruz!”

Hoje, quando me deparei com várias mensagens divulgando a ação das vendas de ingressos na periferia, a primeira coisa que lembrei foi do meu pai e de como me tornei tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda. Foi ouvindo jogo pelo radinho de pilha. Foi vendo a greia e as discussões no balcão da venda do meu velho. Foi sentindo o calor do cimento e o gosto do rolete de cana da arquibancada.

Foi morando na periferia do Recife que me fiz torcedor do Santa.

Assim foi meu sogro em Afogados. Assim foi meu amigo Jerônimo que nasceu e se criou em Peixinhos. Ailton no Alto José do Pinho. Ivonaldo da Xerox em Rio Doce. Assim foram tantos outros por aí afora!

Não se trata de orgulho exacerbado em ser torcedor do clube do povão. Existem ricos e abastados na torcida do Santa Cruz? Claro que existe. Todos somos Santa Cruz. Independente de classe social, preferência sexual, cor e altura, temos a mesma paixão. Mas nunca deixamos ou deixaremos de ser o time da massa.

O povão continua sendo Santa Cruz e o Santa Cruz continua sendo o clube do povo. É a massa coral que enche becos, ruas e avenidas.

Como bem já disseram por aí, nós não somos um clube de futebol, somos um movimento popular.

Quem quiser que tenha vergonha de negar suas raízes populares e seus primos pobres. Nós, os tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda, nunca tivemos e nunca teremos.

A todos que pergunto e com quem compartilho a novidade das vendas dos ingressos, vibram como se fosse um gol de Anderson Sales no ângulo. Dona Sueli, tia de Felipe Gomes, mora em Peixinhos. Quando soube da ideia das vendas do ingresso em um carro, foi categórica: “que ideia de gênio. A periferia tá gostando”.

Essa ação de vendas,  o carro de som circulando por aí vendendo ingressos, é algo espetacular. É como dizia aquela canção: todo artista tem de ir aonde o povo está.

 

Salvem nosso Estadual

Domingo, 09 de abril. Céu azul. O sol ilumina o Recife e toda região metropolitana. Por aí afora, o futebol é o principal assunto do dia. Por aqui, um campeonato estadual que não empolga. Rodadas duplas bizarras. Clássico adiado para uma segunda-feira à noite. Campos interditados. Uma bagunça.

Hoje, neste nove de abril, em outras épocas, estaríamos todos na pilha para ir ao jogo. Os bares ficariam ornamentados com as cores dos nossos times. Na praia, a cerveja seria acompanhada de resenhas, comentários e as mais diversas opiniões. Nos mercados estaríamos discutindo sobre a escalação do time e a burrice do treinador. No almoço da família, a criançada já estaria vestida com a roupa do time preferido.

Mas neste domingo de abril, aqui em Pernambuco, a não ser para lamentarmos o que fizeram com o futebol daqui, pouco falaremos sobre futebol.

Hoje, apenas o Arruda será aberto para receber um jogo que não pode ser realizado em Caruaru. O pobre Central terá que vir mais uma vez ao Recife, pois seu campo não tem condições de jogo. Na última quarta-feira, o time de Caruaru precisou vir para São Lourenço Mata jogar contra o Capibaribe. Os atletas não jantaram e jogaram com fome. Não tinham nem água para beber. Espero que hoje tenham pelo menos um PF pra dar aos atletas da patativa.

Nesta semana que passou, vimos a maior bagunça já feita no futebol pernambucano. Uma verdadeira esculhambação. Um mesmo time jogou no domingo e na segunda-feira. Na quarta, promoveram uma rodada dupla em São Lourenço da Mata, na desgraçada Arena Pernambuco. Pouco mais de 1.000 torcedores tiveram coragem de ir aos dois jogos lá na Arena.

Enfim, a impressão que fica é que há algo intencional por parte Federação para enfraquecer cada vez mais o nosso estadual. É difícil acreditar que se trata apenas de incompetência.

Por outro lado, fica a indagação de porque os clubes e a imprensa não tomam uma posição mais dura em relação a este descaso.

É necessário aos que fazem o futebol daqui, terem a sensatez de já começarem a trocar ideias sobre  o próximo campeonato. Assim que acabar o deste ano, é preciso começar a discutir o estadual de 2018. A Federação precisa salvar o futebol local. É obrigação convocar todos, os Clubes, a imprensa  e  incluir a torcida nessa empreitada.

Para quem gosta de futebol, para quem foi criado se alimentando da rivalidade local, é triste ver o que fizeram com nosso Campeonato Pernambucano.

Surrealismo pernambucano.

Meus amigos tricolores, era 22 horas quando sai da faculdade nessa quarta. Liguei o rádio e só escutava uma coisa: “Não tem ninguém na Arena”. O elemento ilógico desse campeonato traduz a estupidez de uma Confederação que precisa, urgentemente, mudar essa fórmula.
Em casa, liguei a TV para acompanhar esse estranho jogo entre o Santinha e o Belo Jardim. A cena era tão surreal que, a cada gol do Mais Querido, as câmeras mostravam os poucos torcedores rindo, alezados, parecendo que tinham fumado uma maconha pra lá de estragada.
Vencemos de 4 a zero. Vitória relativamente fácil, uma vez que esse Belo Jardim não faz gol em ninguém. O resultado, inegavelmente, foi muito melhor do que o primeiro encontro. E, ao menos, fizemos dois gols que não foram de bola parada. Na verdade, nem precisa comentar muito o jogo. Todo mundo já sabe do que precisamos. O cara da TV repetia irritantemente: “O Santa Cruz não possui intensidade e criação”. É nada?!
Para além das críticas, creio que é preciso discutir possibilidades. Principalmente no que se refere à nossa saída de bola e a criatividade e transição entre defesa, meio de campo e ataque. Venho conversando com alguns amigos tricolores da cobra coral e as ideias que vão surgindo variam de acordo com a loucura, criatividade e conhecimento de cada um.
Se Tiago Costa e Vítor, que possuem bom posicionamento e bom domínio e toque de bola, não se limitassem, na saída de bola, a uma distribuição em linha reta, mas corressem em diagonal para abastecer o meio de campo de nosso lado? Se Parra jogasse mais ao meio, centrado, do meio de campo para o ataque, distribuindo bola para Pitbull que se alternaria entre esquerda e direita?
Nininho é uma oportunidade de criação? O retorno da zaga principal vai manter ou melhorar o padrão defensivo? Elicarlos, que está em transição no DM, permitirá, enquanto volante, um maior volume de jogo na transição? Pereira, que está indo bem, pode compor o meio e alternar seu posicionamento para dar agilidade ao meio de campo? Léo Costa irá compor, em definitivo, o elenco nessa arrancada final do PE e do NE?
Pitbull, para dar mais consistência ao ataque, deve ser assistido por quem? André Luís e Thomás devem treinar mais passes e melhorar o condicionamento físico para garantir o segundo tempo? Alguém duvida que, em bola parada, Salles faz? São muitas possibilidades e, mais do que respostas, questionamentos. É isso que temos e é essa nossa realidade.
Da minha parte, acredito plenamente que sairemos campeões das duas competições. Mesmo que alguns temam os baianos, eles, para mim, não metem medo porque não possuem nossa garra. O Do Recife é que não me mete medo mesmo. A folha de pagamento deles não traduz futebol. Penaram feio diante de um time de séridê. Até nossos reservas deram pressão nesse timinho.
No Pernambucano, o jeito é esperar que as semifinais comecem logo e que esse show de horrores – surreal em si mesmo – acabe logo. No Nordestão, é jogar com garra, treinar para acertar o que tem que ser acertado, mesmo com pouco tempo, e fazer a alegria da torcida.
Sugestões?

A oitava maravilha do mundo.

Meus amigos tricolores, é uma alegria imensa estar no Arruda. Há algo de místico nesse lugar, algo de sublime. Finalmente tirei o gesso do pé e, mesmo mancando, fui ver meu Santinha em campo. E o melhor: o Arruda estava cheio de tricolor. Que coisa mais linda.
Comecei a tomar umas às 13 horas na Bodega do Abel que é um grande tricolor português. Havia um clima de confiança no ar. Todo tricolor que eu conversava dizia a mesma coisa:
– Estamos classificados, professor. Tem erro não.
Às 16 horas estava no Arruda. Fiquei tomando umas e comendo os salgados do velho Abílio enquanto escutava a resenha pelo rádio. Eu me senti como se estivesse em casa. Era uma sensação de ter voltado de uma longa viagem e, finalmente, respirar o ar de nosso lar.
Apesar de estar sozinho – não consegui encontrar Esequias, Gerrá ou Samarone – eu não me sentia só. Bastava me virar e tinha um tricolor para bater um papo sobre o jogo e nossa futura classificação. O otimismo era surpreendente. O clima era muito bom e não tinha como não seguir aquela onda de felicidade.
Entrei pelo portão 7 para as arquibancadas inferiores. Fiz meu ritual de sempre: cerveja, cachorro-quente (o melhor do mundo) e espetinho. O Arruda estava tomado por sua torcida.
O início da partida mostrou que Eutrópio entrou para ganhar. A marcação na saída de bola foi pegada – o Santnha queria jogo. O primeiro tempo finalizou com a certeza de que iríamos ganhar – só não sabíamos como.
Até que, meus amigos, a oitava maravilha do mundo surgiu no segundo tempo. Quando o juiz marcou a falta na entrada da área do Itabaiana, eu me virei para os meus novos amigos tricolores de 90 minutos e disse:
– Eita, porra. Vai ser gol de Salles, meu velho. Vai ser gol.
Todos se abraçaram antes da cobrança e riam com a alegria mais profunda que existe. E não é que Anderson Salles fez o que ele sabe de melhor: bateu a falta com uma precisão cirúrgica. Que golaço. O Arruda explodiu. Todo mundo se abraçava novamente, gritava, pulava e chorava de felicidade. Até Juninho Pernambucano se rendeu diante dessa oitava maravilha do mundo.
A transição do meio de campo para o ataque ainda está fraca? Sim. Pitbull está mais isolado do que Tom Hanks numa ilha perdida? Sim. Everton Santos, André Luís e Barbio são ruins que doem? Sim. Falta melhorar a zaga? Sim. Falta um homem de criação? Sim.
Mas não quero saber disso hoje. Quero apenas dizer ao senhor Ailton Silva que ele vai calar é a puta que o pariu. Aqui no Arruda quem manda somos nós. Aqui é Santa Cruz, porra.

É na raça e no grito

De um tempo pra cá, uns amigos meus se goumertizaram. Cerveja só se for importada ou artesanal. Cachaça boa é a mineira. Comidinha de food-truck. Essas coisas…

Lasca é que os caras, a maioria torcedor coral santacruzense das bandas do Arruda, se tornaram gourmet até no futebol. Preferem ficar em casa, coçando a cabeça do cachorro, sentados no sófá e vendo futebol na TV ao invés de irem para o estádio.

— Fulano, tu vai hoje?

— Gerrá, acho que não. Vai passar na TV, né?

— Sei não. Virasse goumert, foi? Lugar de tricolor é no Arruda.

Nessas horas a vontade que dá é dizer um bocado de desaforo, pra ver se o individuo acorda!

Não passa pela minha cabeça, trocar a  grandeza do Arruda pelo conforto do sofá.

Foi sentindo o cheiro da grama, o calor da massa coral e o aconchego daquele lugar que me tornei Santa Cruz.

Na minha família, na família da minha mulher, na dos nossos irmãos e em várias que conheço, desde cedo, a gente mostra aos nossos filhos e filhas os caminhos que nos levam ao nosso estádio. De quebra, ainda levamos os amiguinhos que têm pais gourmet. Levamos até os filhos dos torcedores adversários, pois se derem bobeira, a gente trás os pirralhos pro nosso lado.

Ali, o Arrudão, é o nosso reduto. O nosso templo sagrado. A casa desse movimento popular chamado Santa Cruz Futebol Clube.

Nossas cores estão espalhadas por todos os rincões de Pernambuco e pelos quatros cantos do mundo.

Neste sábado, pensaremos somente na vitória, daremos somente o apoio, mostraremos nossa força.

Pretas, brancos, vermelhos. Altos, baixas e magras. Gordos, velhas e moços. Seremos um só movidos pela paixão e o amor ao Clube Querido da Multidão.

Neste sábado, somos todos nós contra eles. Apoiaremos, jogaremos, empurraremos nosso esquadrão.

Neste sábado, meus nobres, ninguém vai nos calar. Afinal, desde 1914, faça chuva, faça sol, em todos os momentos, nosso grito e nossa força permanecem vivos. E permanecerão eternamente.

 

 

A sexy e o homem de criação.

Meus amigos tricolores, será uma vergonha se não tivermos, ao menos, 20 mil torcedores no próximo jogo do Santinha contra o Itabaiana aqui no Arruda no próximo sábado no horário muito louco das 18h15.
Sai voando da faculdade. Assim que cheguei em casa, liguei a TV e coloquei os fones do rádio. Minha esposa disparou na hora:
– Que doidice é essa? Rádio e TV?
-É, minha doidice é o Santinha mesmo – disse de olho no jogo e ouvido na transmissão do rádio. Isso é que é uma vontade de estar no campo.
O que me chamou a atenção, de cara, foi a péssima qualidade do gramado e a torcida sergipana que lotou o estádio Eltevino Mendonça. Nossa torcida tem que ter vergonha na cara e invadir o Mundão do Arruda. Não tem desculpa. Tirei o gesso do pé e vou tomar todas matando a saudade do meu time e de meu amado Arruda.
Quanto ao primeiro tempo, creio que “horrível” é pouco. Um espírito de lezêra pairava no campo. Até que Tiago Costa se arretou, levou a bola na intermediária e sofreu falta da zaga. E aí, meus amigos, pode chamar Anderson Salles. Como disse Pitbull: é o cara que melhor bate falta no Brasil. Exageros à parte, a cobrança foi perfeita. Salles foi o homem do primeiro tempo.
O segundo tempo começou mais arredio, mas a qualidade do futebol passou longe. A lateral direita do Santinha estava perdida. Vítor estava firme e segurou a onda. Na lateral esquerda, ao contrário, Tiago Costa dava segurança. A marcação, nesse setor, estava bem armada. No ataque, alguém me explique como é que André Luís não consegue fazer um cruzamento ou um passe que preste? E Pereira não contribuiu muito quando entrou no lugar do perronha.
Gino me surpreendeu. Muita vontade e boa movimentação. Pitbull não comeu ração e tava mais morto do que peixe na Páscoa. Barbio pode ir pra equipe de Usain Bolt ou para a puta que pariu. Meu filho, quem disse que você joga bola? Vá ser corredor, vá!
Júlio César, como sempre, muito seguro. E bom saber que temos Jacsson como reserva. Estamos muito bem servidos de goleiros.
Mas tem uma coisa que todos concordam: pelo amor de Deus, quando vai aparecer um homem de criação nesse time? Não tem como render ou criar sem esse elemento. Precisamos de um homem de criação urgentemente.
Enquanto o jogo rolava, Gerrá me mandou uma mensagem da musa do Santa Cruz, Madelayne, publicada no Facebook. Ela é atriz e modelo – inclusive modelo da Sexy. Teve um rolo com um colégio aqui no Recife. O tal colégio a acusa de ir vestida de maneira “indecorosa”. Eu acho é que as mulheres dos pais dos alunos ficaram é putas com ela desfilando pra lá e pra cá no colégio e tacaram uma circular defendendo uma moral burguesa do século XIX. Ficaram com medo. E medo, meus amigos, gera cada assombração. Hipocrisia estilo século XXI.
O Blog do Santinha dá todo apoio à nossa musa. Esperamos que ela também esteja no Arruda no próximo sábado. Como disse, não tem desculpa. É o caminho do bicampeonato – sai da frente que a cobrinha vai entrar.

Eles se borram de medo da gente

O título do último texto foi: “O clássico dos reservas”. Num dos parágrafos, Zeca escreveu, assim:  O Santinha vai enfrentar o Do Recife nesse domingo na Ilha da Fantasia e dos Festejos. Eutrópio já disse que vai entrar com o time reserva. Até Jacsson vai entrar no lugar de nosso paredão, Júlio César. Do Recife também virá com um time reserva ou misto.

Mas a turma da Abdias sacaneou com o filósofo. Deram uma de morto e entraram com o time titular.

Enquanto uns se alopraram em dizer que íamos levar uma goleada, que isso e que aquilo, confesso que pensei diferente e achei bom o Do Recife jogar com o time principal. Assinaram e reconheceram firma que se borram de medo de nos enfrentar.

Pra minha alegria, algumas boas estreias. Pra minha surpresa, nosso banco não é a desgraça que muitos afirmavam.

Só sei que o dia de hoje foi de tiração de onda. Acordei, revi o golaço de Pereira, comi uma besteira, vesti meu manto sagrado e fui para academia. Mal cheguei e o manobrista foi logo dizendo:

— Tá alegre, né mestre? Conseguiu empatar…

— Pois é…, no próximo jogo a gente vai entrar com o Sub-20 e com dois jogadores a menos pra ver se vocês conseguem ganhar.

Ele ficou amoado.

Entrei e comecei a fazer minha física. Ao lado da bicicleta ergométrica dois sujeitos conversavam.  Um era de cabelo já grisalho, meio buchudo e com o rosto avermelhado. O outro era alto, magro e com um jeitão de metrossexual. Tenho pra mim que me viram vestido com a camisa do Santa Cruz e já foram inventando desculpas.

— Rapaz, vou te dizer. Eles tiveram  muita sorte. Foi muito gol perdido. Se a gente fizesse a metade, tinha goleado! – falou o buchudo.

— Se a gente tivesse mais um pouquinho de sorte, tinha vencido. – completou o metrossexual.

“Se a mãe de vocês tivesse uma carreira de peito, uma era uma porca e a outra era uma cachorra”, eu pensei.

No trabalho, encontro Ivonaldo, o cara da xerox. Tá gozando com a cara de um rapaz da limpeza.

— Ei, tu soubesse? O Campinense pediu emprestado o juvenil do Santa Cruz pro jogo de quinta-feira.

A turma caiu na gargalhada.

Aí, Ivonaldo me pegou pra conversar. Fazia tempo que eu não via ele tão animado.

— Dotô, vou lhe dizer! Eu achava que só tinha perronha no banco da gente. Tá, o lateral direito joga, viu!

E assim foi passando o dia. A cada segundo uma piada, um meme, uma greia.

Mas quarta-feira já tem decisão. É o jogo da ida contra o Itabaiana de Sergipe. Hoje a tarde me mandaram um zap informando sobre uma Van que estará saindo aqui de Recife na quarta de manhã. Estou atrás de um atestado médico pra ver se consigo ir.

O Clássico dos Reservas

O Salgueiro está se consolidando como a quarta força do Estado. Sendo assim, o futebol pernambucano possui, atualmente, quatro grandes times: Santa Cruz Futebol Clube, Clube Náutico Capibaribe, Sport Club Do Recife e Salgueiro Atlético Clube. As denominações de Futebol Clube, Sport Club, Atlético Clube e Clube Náutico são definições universais. Há vários Sport Club, Atlético Clube,Clube Náutico e Futebol Clube espalhados por aí. Vide Corinthians, Paysandu, Internacional etc.
Sendo assim, Pernambuco tem os seguintes grandes clubes na atualidade: Santa Cruz, Capibaribe, Do Recife e Salgueiro.
O Santinha vai enfrentar o Do Recife nesse domingo na Ilha da Fantasia e dos Festejos. Eutrópio já disse que vai entrar com o time reserva. Até Jacsson vai entrar no lugar de nosso paredão, Júlio César. Do Recife também virá com um time reserva ou misto.
Está todo mundo de olho na Copa do Nordeste. Por aqui, torcendo para que o Campinense dê um chute na bunda do Do Recife novamente. E torcendo para que o Mais Querido possa “estraçaiar” o Itabaiana. O Capíbaribe, na última rodada, como disse o AQUI PE, ganhou como nunca e foi eliminado como sempre. Coisas do futebol.
Mesmo com todas as limitações de nosso elenco, dá para perceber que estamos, em alguns jogos, evoluindo. Basta jogar com raça. Os outros clubes estão mostrando que há uma mediania, independente do valor das folhas de pagamento. Inclusive soube que os salários dos jogadores do Santinha estão em dia. O que é muito bom para a moral e o bolso dos jogadores.
Mas antes da Copa do Nordeste, teremos esse estranho jogo contra os coisados. Só pode ter sido um gênio do mal que decidiu por esse formato do campeonato pernambucano. Trata-se mais de um jogo com cartas marcadas. Joga-se esperando apenas as finais, sem muita empolgação no meio do caminho. Uma pena que seja assim.
Não é à toa que Eutrópio e Daniel Paulista estejam apostando as fichas num campeonato em que a grana é melhor e o resultado mais incerto. É preciso foco. E essa atitude, que julgo sensata e necessária, possui um lado que vai deixar as coisas bem esquisitas: o Clássico das Multidões será o Clássico dos Reservas. Será que os gandulinhas serão os reservas também?
Os reservas terão uma grande oportunidade nesse clássico tão atípico. Entretanto, quem viu o treino dos reservas contra o Agap deve estar para lá de receoso. Possivelmente, o time será Jacsson; Gabriel Vallés, Jaime, Eduardo Brito e Roberto; Wellington Cézar, Gino e Júlio César; André Luís, Wiliam Barbio e Facundo Parra. Vamos ter que aturar Roberto e Barbio. Fazer o quê?!
Desde a semana passada que estou com o pé direito no gesso. Perdi os jogos contra o Central e a Campinense e vou perder esse. Vou comprar umas cervas, preparar o tira gosto, ligar a TV e o rádio, deixar o pé pra cima e torcer por mais uma vitória do meu Santinha.
Pode ser o Clássico dos Reservas, mas ganhar dos coisados do Do Recife é sempre bom e faz muito bem para a alma. Além do mais, vai dar moral para os reservas – o que é fundamental para um time que participa de mais de uma competição ao mesmo tempo.
Alguém imagina o que vai acontecer nesse Clássico? Difícil, não? Mas Santa Cruz é raça, força e espírito de guerreiro – e arrisco um palpite: vamos ganhar de 1 a zero. E sem auauauau!

Boné, doido pelo Santa Cruz

Fui ontem para o Arruda, junto com Marconi. A turma do bate-papo coral estava toda lá. Até Anizio foi pro jogo.

Uma parte foi para as sociais, outros foram para P10. Eu e Marconi ficamos acima do escudo.

Assim que entrei, encontrei Jathyles. Batemos um papo rápido. Em seguida Milton apareceu. Subimos uns degraus e ficamos abaixo da superior. Confesso que só gosto de assistir ao jogo, vendo as quatro linhas do gramado.

Nem bateu o centro, um senhor magro que estava ao nosso lado foi logo dizendo que a barbie já havia feito 1 a 0.

Um cara de boné branco, bermuda quadriculada e camisa do Santa, pegou o celular e gravou uma mensagem de voz.

— Eu quero que você se anime. Fique bem animadinho. No final vou botar no seu oiti! Faça gol. Faça gol! – ele gritou.

O jogo seguiu. O Santa Cruz era nitidamente superior em campo. O gol era apenas uma questão de tempo. Falta na entrada da área e Anderson Sales mete no ângulo. O goleiro paraibano consegue defender.

O cara do boné deu uma tapa da caralho no outro que tava do lado dele.

— Acredita, Miséria! A gente vai ganhar nessa porra!

O Senhor Magro era daqueles que gostam de apavorar. Nos avisou que o jogo lá no Ceará já estava 4 a 0.

Lá longe, avistei a cabeleira de Samarone.

A gente continuava dominando. Falta no lado da área. Anderson Sales mete uma curva na bola, a pelota caprichosamente bate no travessão. No ângulo de novo. A torcida foi à loucura. Aplaudiu de pé.

Meus amigos, faz tempo que eu não via no Santa Cruz, um batedor de falta feito esse zagueiro. Na hora do pênalti, eu fui o primeiro a gritar: “quem tem que bater é o zagueiro! É Anderson Sales!”

Ele foi lá e conferiu. Bateu o pênalti como se deve bater. Bola para um lado, goleiro para o outro. Vibramos. A esta altura, todos ali já éramos grandes amigos. O cara de boné deu socos no ar, abraçou quem tava ao redor, gritou se esgoelando. Pegou o celular e mandou: “Chuuupa! Chupa, porra! Aqui é Santa Cruz, caralho! Faz mais gol aí, faz mais. Vou botar no rabinho de vocês! Poooorrra!”. E gargalhou pro estádio todo ouvir.

No intervalo puxei conversa com Boné. Ele é conhecido de Milton. Boné é o otimismo em forma de gente. “A gente vai vencer esses paraibanos”. “Vou ser bicampeão do Nordeste”. “E vou ser outra vez campeão na casa dos festejos”. E sacudiu os braços pro ar.

Começa o segundo tempo. O Capibaribe já vencia por 6 a 0. Boné não estava nem aí. Vez por outra cutucava o zap. O Santa Cruz voltou com o freio de mão puxado. Parecia que tava satisfeito com o resultado. No único lance que corremos perigo, Anderson Sales nos salvou. Boné descontou no zap: “Seca, fela da puta. Seca! Eu gosto assim! Não perco esse jogo, não! Pode fazer 50 gol aí. É tricolor, porra”.  E deu umas sacolejadas num pirralho que tava do lado dele.

— Tu tem que vim é numa decisão – Boné disse para o garoto.

Nos minutos finais, voltamos a dominar o jogo. Se o time tivesse perna, teria feito outro gol. Ao apito final, vibramos como nunca. Boné, já sem camisa, por pouco não leva uma queda. Abraçava um, empurrava outro. Deu uma tapa na cabeça do pirralho.

Toquei nele e avisei: tu não vai mandar mensagem não?

— Eita, é mesmo!

— Chupa, barbie. Chuuupa! – ele gritou.

E cantou em seguida: “quer dá cu, quer dá cu, vá torcer pelo timbu”.

Depois, descobri que Boné é xará do nosso lateral direito.