Em dez anos de atividade, o Blog do Santinha arranjou dezenas de atritos com ex-presidentes do Santa. Jamais desistimos de tentar ajudar, com nossa visão crítica.
O texto abaixo,publicado no Diário de Pernambuco de hoje, está em sintonia com o que acreditamos para o futuro do clube.
Por isso compartilhamos.
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Por Alírio Moraes Filho
Corria o mês de março deste ano. O Santa Cruz amargava a última posição do campeonato estadual. O futebol do nosso time ainda não deslanchara e não permitia ilusões.
Sem resultados e com crise financeira: nada justificava otimismo.
Mesmo assim, apresentamos as metas do nosso planejamento. Naquele momento, passei a escutar todos os dias a palavra delírio em um criativo trocadilho com meu nome de batismo.
Desde então, acertamos e erramos bastante. Tentamos não repetir esses erros. E insistimos em nosso principal acerto: priorizar a torcida em todas as decisões. Considerar e respeitar cada torcedor como único proprietário do clube e da sua imagem.
A certeza de que todos os passos da caminhada que começava seriam dados lado a lado com “a torcida mais apaixonada do Brasil” era o que justificava a ousadia de nossas metas, todas realizáveis quando se procura fazer juntos com tantos homens e mulheres que amam o Santa Cruz.
Homens e mulheres que encontram um novo significado para sua paixão a cada vitória, a cada derrota, a cada vez que entram no Arruda ou seguem o time pelos estádios brasileiros.
Homens e mulheres que jamais esperaram uma virada de mesa, um drible no regulamento, pelo contrário, nos piores momentos chamaram para si a responsabilidade e a tarefa de reerguer o time.
Por saber que estaria ao lado desses homens e mulheres, entendemos que a única forma de respeitar seus sonhos e seus imensos esforços seria tecer sonhos à altura de tanta paixão. Somente imaginando o melhor no mais curto espaço de tempo, poderíamos colocar o Santa Cruz à altura de sua torcida.
Mesmo naquelas partidas em que o cimento do Arruda ficou esvaziado, estava presente a esperança daqueles milhares que, por qualquer razão, não podiam ir. Muitas vezes, honrar a esperança dos ausentes é tão importante quanto a confiança de quem sempre esteve por perto, cobrando, incentivando, exigindo e comemorando.
Seria hipocrisia repetir o clichê e dizer que “nem em nossos sonhos mais otimistas imaginávamos o que vivemos nesse final de semana” – e ainda vamos viver até o próximo sábado. Mas foi exatamente isso que sonhamos. E não apenas isso.
Continuaremos a disputar títulos, escalaremos os íngremes degraus do futebol porque jamais estaremos sozinhos na perseguição a metas audaciosas, porém possíveis de serem alcançadas, afinal os desafios do futebol são construídos por seres humanos. E o que é humano, é possível ser realizado quando se tem a força de milhões e a força de tanto amor.
Já não cabe dizer que “é a torcida do Santa Cruz que tem um time”.
Até mesmo esse velho bordão já não nos cabe: hoje time e torcida são um só.
Voltamos, a Poeira subiu!
Voltamos. Subimos. Primeira. É seriá!
O povão está em festa. A poeira subiu.
“Ui papai, o Santinha já chegou!”. “Ei, você aí, avisa a elite que a mundiça já subiu”.
O texto de hoje será escrito por nós. Aqueles que nestes dez anos, suaram paixão e transpiraram amor.
Nós que, na doença, na dor, na miséria e na tristeza, não abandonamos o Clube Querido da Multidão. Esse movimento popular chamado Santa Cruz.
Parabéns Santa Cruz. Parabéns Alírio, Tininho, jogadores, comissão técnica, diretores, colaboradores, todos que fazem o Mais Querido. Zés, Marias, Severinos e Anas. Parabéns a torcida mais apaixonada do Brasil.
Hoje, cada comentário, cada palavra, cada sentimento, é a nossa crônica.
Morte e vida Santa Cruz
* Texto enviado por Danilo Marinho, Tricolor Coral Santacruzense das Bandas do Arruda, exilado em São Paulo.
O meu nome é Santa Cruz, não tenho outro de pia. Mas como há muitos Santa Cruz, símbolo de sofrimento, salvação, nome de cidade, igreja, templo, colégio e até viação, passo a ser o Santa Cruz que de divisão emigra.
Mas de quê morreu este Santa Cruz anos atrás, irmãos das almas, que nesta rede levastes de letra em letra até esta cova rasa e sem série? Morremos de morte matada, irmão das almas.
Afinal, somos muitos Santa Cruz, iguais em tudo e na sina. E morremos de morte igual, a mesma morte que se morre de falta de vontade antes dos 15′, displicência antes dos 30′, de ódio aos 90′ e de cartolagem um pouco por dia.
Desespero, pancada, silêncio e queda. Ressurreição e mais lapada, e outra queda. Crise.
Assombração. Queda e mais queda. Fundo do poço, pavor da Ameriquização, medo do fim.
Não podia ser a parte que nos cabia deste latifúndio.
União. Povo na rua e no estádio, povo no piscinão. Maior torcida do Brasil. Cabeça em pé, trabalho, redenção. A saga passa rapidamente na cabeça, como a subida pra a B passou pela de Caça Rato.
Distante do Recife, nós Cobras Corais retirantes na Paulicéia, pouco a pouco, a cada jogo, ganhamos fama de pés quentes.
Fomos a Bragança Paulista arrancar a primeira vitória fora de casa no campeonato. Ocupamos a Vila Madalena. O bar era o Empanadas, onde garçons tricolores servem generosas doses de uísque e as mais geladas cervejas para a torcida Coral.
A reação estava começando. Bambeamos contra o Oeste, tudo no Santa Cruz é difícil, mas ao final fomos recompensados: poder estar nas duas partidas decisivas pra a subida. RJ era logo ali, e vimos uma vitória maiúscula. Vibramos vendo o Santinha triturar o campeão. Festa da poeira no Engenhão.
E, nesta semana que está durando um século, vejo a chegada de mais Cobras Corais pra se juntar à nossa torcida por estas bandas, pra a decisão contra o Mogi.
Ansiedade, insônia, agonia, movimentação. Sábado que não chega. Alugamos uma Van, veio mais gente, trocamos por um micro ônibus e o tempo não passou. Mais memórias, mais ansiedade.
Como o fim desta saga ainda não foi escrito pelas linhas da história, deixo-os com os versos finais da obra prima do poeta João Cabral de Melo Neto. O criador do Severino retirante, que foi Campeão Juvenil, jogando de center-half, pelo Santinha em 1935.
E, correndo, como ensinaram os caranguejos, seguiremos na esperança e na torcida pelo começo de uma nova vida. E que seja esta a explosão de uma Vida Santa Cruz.
Fragmento de Morte e Vida Severina
O CARPINA FALA COM O RETIRANTE QUE ESTEVE DE FORA, SEM TOMAR PARTE DE NADA
Severino, retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, Severina
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida Severina.
Poema do Santa Cruz
Que louco fui eu
Ao te escolher, Santa Cruz?
Porque é raro
Ser arrebatado
Por um amor
Que vem de tão longe.
Eu, que saí de outras terras
Que não tinham o teu nome
Encontrei um pai, uma mãe
um país, milhões de irmãos.
Encontrei
Meus amigos negros
Meus dentes
Meu sangue
Meus segredos.
Que tonto fui eu
Ao te inscrever em meu sangue, Santa Cruz…
E é tão simples
Gritar o teu nome
Como quem pede
Um pouco de pão.
Que sonho foi esse, Santa Cruz
Que te sonharam há tantos anos?
Os que te criaram
te inventaram
Com os pés descalços
Como se as sandálias do destino
Fossem a primeira barra
Do sonho dos homens.
O que criaste, Santa Cruz
No peito dessas legiões
Que te amam tanto?
Uma primavera em plena tarde?
Uma nova espécie de saudade
Que nos atormenta e nos acalma?
Ah, Santa Cruz…
Nós que te descobrimos
Somos como aqueles navegadores doidos
Que encontraram terras tão lindas
Que não sabiam decifrar
Que não tinham um batismo para dar.
Um dia
Esses homens de longe
Avistaram a “Terra da Santa Cruz”
E aqui ficaram.
Mas há outra pátria
Onde moram milhões.
Os que vivem
Os que morrem
Os que nascem
Têm esta estranha loucura
Essa estranha saudade.
E quando sussurramos
“Vai, Santa”
Os mortos também falam
Estamos gritando teu nome
Como se o coração gritasse.
Recife, 16.11.2015
Levanta Tricolor, estamos voltando
* O texto abaixo é de autoria do nosso amigo Eduardo Tiburtius, cuja bermuda branca aparece na foto.
Nesta longa caminhada no caminho de volta a elite do campeonato brasileiro, inúmeras foram as viagens que a torcida coral fez para acompanhar o seu time.
Por muitas vezes, eu tinha a sensação que não éramos apenas torcedores, mas responsáveis para a continuação da existência do clube. Vez por outra escutávamos sobre a teoria de que em Pernambuco não havia espaço para três times ou sobre a diminuição de clubes que outrora já foram respeitados em seus estados.
Difícil dizer nestes dez anos qual a viagem mais marcante.
Alguns se lembrarão de nossa estreia na série C em 2008 contra o Campinense e aquele mar de carros em uma romaria tricolor. Outros vão comentar sobre o jogo em João Pessoa, em que as fortes chuvas interditaram a BR 101 de volta ao Recife.
Para mim, esta viagem ao Rio de Janeiro, está no mesmo nível das citadas acima.
Desde o aeroporto percebíamos que seria uma viagem diferente.
Logo após imprimirmos nossos cartões de embarque, fomos abordados por um jovem. Mochila nas costas, bermuda e chinelo, ele nos perguntou: estou doido para ir para este jogo, como eu faço?
Indicamos a loja da companhia aérea e até achamos graça da inocência do rapaz. Tamanha foi nossa surpresa, quando identificamos ele como o último passageiro a embarcar no avião.
Alguém perguntou: velho, quanto você pagou na passagem?
— Mil e duzentos Reais só a ida, ele respondeu.
Ao desembarcar no Rio, todo contente com o manto coral, ele seguiu direto para o Engenhão. Nós, seguimos para Copacabana, onde ficaríamos hospedados. O taxista, vascaíno, nos confessou que estava doido para jogar novamente com o Santa, só que desta vez na série A.
Chegamos, deixamos as malas e fomos nos encontrar com nosso amigo Fred Arruda.
Fred já tinha organizado o local onde iríamos almoçar e as vans que nos levariam ao Engenhão. Entre tantas conversas, Fred nos disse como eram difíceis as vezes que ele vinha para Recife e tinha de voltar para o Rio. A saudade da família e do Santa Cruz pesam muito, confessou.
Três da tarde, hora de seguir para o Engenhão. Na viagem aquela greia que muitas vezes você vai se lembrar mais que o jogo.
Nosso amigo Beto gritava: pra que ter jogo, só isto aqui já bastava.
Mal sabia que o melhor estava por vir.
Chegamos ao Engenhão. Quatro coisas chamaram a atenção. Primeiro, a quantidade de tricolores presentes. Não que isso seja novidade, mas sempre impressiona. Segundo, como fomos bem tratados pela torcida do Botafogo. Do início ao fim, fomos cumprimentados e referenciados. Clima da mais completa harmonia, como sempre deveria ser. A terceira observação é como o Engenhão é um estádio ruim. A visibilidade de quem está nos locais mais baixos é nula. E por fim, uma grata surpresa: lá vende cerveja com alcool dentro do estádio.
Começa o jogo e o clima é de festa na torcida do Botafogo. Pelas ruas, vimos bancas de jornal vendendo a Placar do Botafogo Campeão.
Mesmo equilibrado, o adversário tem as melhores chances. Dani Moraes salva uma bola que tinha direção certa. Outra bola passa por cima de Tiago Cardoso e milagrosamente vai para fora. Contamos os minutos para terminar o primeiro.
No início da segunda etapa os resultados nos favoreciam e o empate já parecia um bom resultado. Mas algo estava diferente. O adversário já não agredia mais e como nos últimos jogos, o Santa crescia no momento decisivo. Veio o primeiro gol, êxtase total. Nos celulares as mensagens pipocavam. Abraços. Gritos. Confiança.
Logo depois Luisinho dispara e fica cara a cara com o goleiro, ao invés de finalizar, rola para Grafite que com tranquilidade manda para os fundos das redes. Nos abraçávamos sem acreditar que aquilo estava acontecendo.
E então, veio o derradeiro gol. Cruzamento da esquerda e entre o toque da chuteira de Bruno Moraes e a bola no fundo da rede, parece que passa uma eternidade. Eternidade que pareceu passar os anos difíceis. Das quedas consecutivas. Dos anos da série d. Da bola sair da cabeça de Caça Rato e entrar no gol do Betim.
Emoção que pode ser expressada nesta foto. De nós que descemos ao inferno e estamos tão próximos do paraíso. Que nunca nos ausentamos. E como dizia a frase estampada nas camisas da Coralnet, na época da série C e D: “E se você cair eu posso não consegui te segurar, mas com certeza eu te ajudo a levantar”.
Levanta meu amigo tricolor, estamos voltando para a série A.
Falta apenas uma vitória
Quando acabou o jogo de ontem, a casa de Boy já estava em festa. A turma já havia gritado olé, “chupa barbie”. Já havíamos cantado “ui papai, o Santinha tá chegando” e o “tri-tricolor”.
O terceiro gol do nosso “General” Bruno Moraes, botou todo mundo pra festejar antes da partida terminar.
Após abraços, brindes, apertos de mão e gritos de guerra, estanquei por alguns segundos uma lágrima que tentava escorrer pelo meu rosto e fui lembrando esses últimos dez anos.
A felicidade em 2005. As decepções. A esperança. Nosso anel superior interditado. O gol de Caça-Rato contra o Betim. O inferno da Série D. Nossos três títulos estaduais. Sem ordem cronológica, um roteiro de recordações foi sendo montado na minha caixola.
Quem não lembra da nossa épica viagem para João Pessoa?
Ontem, por várias vezes, me lembrei daquele momento. Chuva, inundação e a gente lá pra resgatar nosso Santa Cruz do fundo do poço.
Em todas as cenas que me vieram, nosso maior patrimônio e nossa maior riqueza, se fez presente: a torcida do Santa Cruz, seu amor e sua paixão.
De 1914 até hoje, é ela o ator principal da nossa história.
Uma torcida que não nega fogo, nem mede distância. Que caminha por cima de pau e pedras e nunca abandona seu maior amor.
Quando ganhamos, é dela que lembro. É por ela que me orgulho. É sobre ela que quero falar e escrever.
Meus amigos, não me canso de ver os gols, os lances e a entrevistas de ontem.
Estamos há três pontos da Série A. Falta bem pouquinho. Apenas uma vitória. Ganhando o próximo jogo, concluímos essa longa e dolorosa jornada e estaremos de volta.
Um horizonte preto, branco e encarnado embeleza nossa paisagem. O povão está em festa. E a cidade está feliz.
Que seja assim e que continue assim.
Difícil vai ser viver esta semana, sem pensar no Santa Cruz.
Botafogo 0 x 3 Santa. Postagem bicado
Não se posta nada chapado.
Vitória, Porra!
de 3 x 0 na casa deles!
jogando um futebol lindo.
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Divirtam=se com os links.
sama
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vitoria coralBotafogo 0 X 3 Santa.
Bêbadyo não posta nada.
Se der, um link lindo.
E a manchete da ESPN:
“Santa atropela Botafogo”.
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[one_third]que belezaSção 23h45.
Botafogo 0 x 3 santa.
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http://espn.uol.com.br/noticia/557700_santa-cruz-atropela-o-botafogo-no-engenhao-e-fica-proximo-da-elite
É pau, é pedra, é o começo do caminho…
Amigos corais, comemos bola. Eu e Gerrá combinamos milhares de textos durante a semana, mas era conta para pagar, reunião de projeto, fila para o Timemania, tentativas as mais infelizes de comprar passagem com desconto para o Rio de Janeiro, que chegamos ao dia do jogo contra o Botafogo de Regatas com uma postagem irada sobre o desastre que foi o acesso ao Arrudão no jogo passado.
Deixemos as águas de março para lá, vem chegando o verão.
O poeta que nos perdoe, mas hoje é pau, é pedra, é o começo do caminho para o Santa. O Botafogo já está garantido na Série A (não fez mais que a obrigação, com seus R$ 40 milhões de cota de TV,por sinal). Eles já estão curtindo a vida numa boa.
Hoje, para o Santa, é peroba no pé, é madeira.
Nessas horas (e em muitas outras), eu gostaria de ter muito dinheiro na conta, para viajar com vários amigos para curtir o Rio de janeiro na sexta, ir à praia no sábado e, depois de tomar umas, seguir para o jogo do Santa.
Depois da vitória suada, curtir a Cidade Maravilhosa na noite do sábado, o restante do domingo e chegar ao Recife.
Bem, para isso terei que trabalhar muito, escrever algum best-seller etc.
Por hoje, é procurar algum boteco aqui perto de casa com uma TV boa e pedir uma gelada.
E torcer, torcer, gritar, pular e, se tudo der certo, seguir firme rumo á Série A.
Bora, Santa!
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ps. Para tirar qualquer dúvida sobre a “cessão” do nosso estádio para o jogo do Náutico, vejam a excelente nota oficial publicada no site do Santa:
http://www.santacruzpe.com.br/futebol-profissional/nota-oficial-sobre-cessao-do-arruda-para-o-jogo-nautico-x-bahia
Polícia para quem?
Não é indignação o que estou sentindo com o acesso da torcida no famoso Portão 9. É a mais pura raiva mesmo.
Depois alguém escreve sobre a importante vitória. Que encontre inspiração.
Eram 20h quando cheguei com meu ingresso para ver um jogo decisivo do meu time. Ou seja, estávamos a meia hora do início da partida.
Havia um caos completo. A rua estava numa escuridão quase completa. Cenário perfeito para confusão, roubos, brigas.
Falam rios das “Torcidas Organizadas”, mas ninguém lembra que temos uma “Polícia Desorganizada”, incapaz de organizar o acesso de pessoas com ingresso a um evento esportivo.
A cada minuto, a multidão se amontoava, porque ninguém saia do canto.
Ficamos parados, por vários minutos, até que saí e fui para perto da entrada, ver o que estava acontecendo.
Os PMs da Tropa de Choque estavam retirando todas as barras de ferro que botam, em um jogo ou outro, para organizar a fila, e jogando na calçada!
Tudo isso no breu.
Era inevitável que, quando abrissem para a massa entrar, haveria mais confusão.
Minha sorte foi ter dado uma de jornalista, para ver a merda toda.
No meio desse caos completo, uma quantidade imensa de carros, no meio do povo que estava do lado, esperando algo se resolver.
Quando a PM liberou a massa, foi correria, gente caindo, chorando.
“Painho, painho!”, gritou um jovem, ao ver seu pai quase sendo esmagado. O homem se levantou e saiu correndo.
Foi assim que a torcida do Santa entrou ontem, nas arquibancadas. Tropeçando, correndo, esbaforida, tentando se proteger. Uma manada. Cada um tentando escapar de uma queda. Isso implica estudo, planejamento, previsão de torcida, reconhecimento do local.
Eu vivo batendo nesta tecla. A PM só vai trabalhar de forma decente e ordenada quando criar um batalhão não de CHOQUE, mas de acesso e acompanhamento de eventos esportivos.
Consegui entrar, porque no meio disso tudo, um sujeito afastou a barra de ferro e algumas pessoas conseguiram passar.
Quando passamos pelas catracas, parecíamos uns refugiados que tinham pisado em um solo seguro.
Teve gente entrando com 15, 20 minutos depois do jogo, e repetindo:
“Tem meio mundo de gente do lado de fora”.
Na saída do estádio, vocês sabem o que mais atrapalhava o fluxo da massa coral: a escuridão e os vários ônibus da PM.
Ou seja – o único lugar do entorno do Arruda que não poderia estar escuro, era na saída do Portão 9.
O único lugar que vários ônibus não deveriam estar, era junto da saída do Portão 9.
Sei que nem o governador, nem o comandante da PM, nem ninguém vai fazer porra nenhuma.
Torço para que o presidente do Santa Cruz Futebol Clube, Alírio Moraes, lidere um movimento por uma “Polícia Organizada” em Pernambuco, antes que tragédias aconteçam.
Até isso, vou perguntar seguidas vezes: Polícia para quem?
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Para quem quiser apoiar meu projeto literário, é só clicar:
www.catarse.me/ze_apml
(doações a partir de R$ 20,00)
A alma de um time em um gesto
Amigos corais, o futebol tem lances que são eternos. Lances e gestos.
Poderia passar a manhã lembrando alguns. Vou a um dos mais inesquecíveis.
Final da Copa de 1958, na Suécia. O Brasileiro jamais tocara na taça Jules Rimet. Final conta os donos da casa. Aos quatro minutos e pouco, gol da Suécia. Quem não gelou, lembrando da tragédia de 1958. Um jogador brasileiro que não identifico pega a pelota e Didi sai do meio de campo para buscá-la. Ele vai com ela segurando com a mão esquerda, altivo, dono de si. Vai caminhando mansamente, quase assobiando algum chorinho, como quem diz aos demais jogadores – “calma, que o jogo nem começou direito, vamos virar essa partida já já e dar olé nesses Zé Ruela”.
Resultado: apresentação de gala do Brasil. Vitória por 5 x 2 e o primeiro título mundial.
Não foi um lance, foi um gesto.
Mas não posso me estender. Já é final início da tarde e a cidade do Recife respira as três cores corais. Os telefonemas se multiplicam, o zap-zap está em tempo de entrar em colapso. Twitter, facebook estão feito a gora, gritos para chamar o vizinho para tomar umas, enfim. Tudo caminha para a Avenida Beberibe, logo mais à noite. São milhões de combinações de horários, lugares, botecos, barracas, caronas, desculpas no trabalho para sair mais cedo, além dos efeitos colaterais, como a absoluta falta de concentração para abotoar até a camisa, nervosismo para botar açucar no café ou para discutir qualquer coisa lógica. Se sua mão já está tremendo, não se preocupe, você é absolutamente normal, torce mesmo pelo Santa.
E no meio deste frenesi, um lance não me sai da memória.
O jogador do Bahia se prepara para bater a falta – perigosíssima, por sinal.
Nosso zagueiro, Alemão, está na barreira. Ele sabe que o lance pode ser fatal para o Santa, precisa fazer algo.
Então ele resolve provocar.
Começa a bater com a mão no peito esquerdo, olhando fixamente para o jogador do Bahia. Pela TV, dá para ver ele gritar:
“Chuta aqui, é! Aqui!”
Ele fica repetindo com força, e batendo no escudo coral. Parece tomado. Não tira o olho dos olhos do adversário. Está em transe. Ao seu lado, está nosso artilheiro Grafite, um mero coadjuvante.
Alemão segue aos berros. Foram alguns segundos, mas me pareceram intermináveis minutos.
“Aqui! Chuta aqui!”
Ninguém, em sã consciência, quer levar uma bicuda no peito. Quem joga pelada, sabe que isso dói pacas.
Mas Alemão, ali, preferia sentir a dor no corpo, do que sentir a dor da massa coral, em caso de um gol baiano.
Na hora me ocorreu estar presenciando um desses gestos inesquecíveis do futebol. Ali, Alemão sabia que estava sendo um dos milhões de torcedores do Santa Cruz, defendendo a barra do paredão Thiago Cardoso.
O jogador do Bahia, certamente querendo dar um troco, não chutou no ângulo, como costuma fazer. Pegou ar e acertou uma bicuda no nosso Grafite, que ficou vendo estrelinhas. A bola não chegou à barra e o jogo seguiu.
Para mim, o lance da falta, acompanhado do gesto do nosso zagueiro, definiu uma mudança definitiva nesta reta final de Série B.
São 11 homens correndo, chutando, brigando, batendo no peito, por causa de uma nação de apaixonados. Não por acaso, ele ficou batendo do lado do coração e do escudo coral.
Quem pensa que o jogo contra o Oeste vai ser fácil, pode tirar a sua Shinerayzinha da chuva. Vai ser osso duro, e teremos que lutar muito.
Mas até o mais depauperado torcedor coral repete isso, a cada rodada:
“As coisas nunca foram fáceis para o Santa”.
Mas o espírito do time, para mim, está representado no gesto de Alemão, batendo no peito e pedindo para levar um bombaço.
Ali estava alma do Santa Cruz, nesta jornada épica, para voltar à Série A.
Vamos todos ao Arruda, arrancar mais esta vitória.