Herança maldita.

Presidente do conselho deliberativo do Mequinha, vice de ALN em 2010 e candidato à vice de Albertino em 2017. Quem é? Pois é, meus amigos e minhas amigas, nosso presidente. O que isso significa? Significa que o nosso atual estado de coisas não tem nada de novo. Sempre do mesmo.

Esse discurso de que a culpa de nossa decadência é devido a uma herança maldita não se sustenta. E isso por duas razões.

Primeiro, como bem lembrou o torcedor coral Arthur Silva no Twitter, Joaquim Bezerra apareceu em uma live, ao assumir o cargo,  dizendo que o cenário era melhor do que eles esperavam. O Santinha tem uma das maiores folhas da Série C e foi, temos que admitir, uma competição nivelada por baixo.

Parece que um espírito amador, falta de conhecimento de mercado diante da competição e desacertos contínuos de gestão marcaram, em definitivo, nosso modo de encarar o futebol. E vale lembrar que se não fosse a nossa base herdada de gestões anteriores, possivelmente a nossa realidade fosse ainda pior.

Inegável afirmar que as diretorias anteriores não foram boas. Creio que essa sensação tinha que ser combatida e foi um dos fatores fundamentais para a eleição do ProSanta que soube muito bem conduzir esse sentimento da torcida.

Como bem argumentou Marcelo Almeida aqui no blog, faltou compreensão das dificuldades do que é disputar uma Série C e uma necessidade descabida de fazer uma varredura na comissão técnica e jogadores da temporada anterior. Até hoje tento entender a razão dos desligamentos de Paulinho e Didira. Além das contratações exageradas e equivocadas feitas a posteriori.

Segundo, se o argumento de uma herança maldita for levado a sério, então não poderemos votar em mais ninguém, pois a mesma sempre estará lá. Que os exemplos do Flamengo e do Cruzeiro – tão antagônicos – possam nos servir de inspiração. Acusar o passado imobiliza as ações do presente.

Se alguém for se candidatar, é óbvio que deve ter em mente os problemas atuais do clube. De minha parte, acreditei em Alírio e no ProSanta, confesso. Mas agora não tem torcedor que se ache o entendedor de política do clube, o maior tricolor coral de todos, aquele que vive e respira o Santinha que me convença a votar e acreditar em chapa alguma. Só acreditarei, no futuro, em resultados. Só assim irei apoiar essa ou aquela diretoria. Para mim já deu acreditar e sempre me deparar com desastres. Vivendo e aprendendo.

Prometeram o acesso à Série B como o grande objetivo desse ano e recebemos um vergonhoso rebaixamento para a Série D. Sim, o final de semana foi terrível e não teve fé ou esperança que nos ajudasse. O Floresta empatou e perdemos para a Tombense.  A Jacuipense perdeu, mas já estava decretada nossa queda.

Vamos penar na Série D novamente e não acredito em milagres quando se refere ao nosso atual quadro humano de tomada de decisões.

Nossa situação não é boa, mas torcedor e torcedora tricolor coral das bandas do Arruda jamais vai perder a paixão, o amor incondicional que nos alimenta e que nos move com tanta força. Sim, são em tempos sombrios que o espírito se reinventa, se agiganta e dá a volta por cima.

Como diz a célebre letra do samba-canção Volta por cima de Paulo Vanzolini: “Reconhece a queda e não desanima, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”.

Que tenhamos forças para sair desse inferno assim como o fizeram Orfeu e Sísifo. Com inteligência e vontade, quase tudo é possível.

Salve meu Santinha!

Credo quia absurdum est.

O aniversário de minha netinha de 4 anos será amanhã. Será um dia para celebrar, de alegria, brincadeiras e muita glicose no sangue com doces, bolos e refrigerantes (coisa que nunca faço durante o ano). Precisarei  malhar muito depois dessa. Apesar de muita gente pensar que sou o pai dela – o que faz muito bem para a vaidade do ego – eu, na verdade, me sinto como um pai renovado, uma nova e poderosa paternidade.

Mas o que isso tem a ver com o Santinha? Pois, meus amigos e minhas amigas, tudo. Pois esse sábado será um dia de descontração, um dia para relaxar e, sem aglomeração, estar junto com poucos familiares. O que será bem diferente do domingo quando o Mais Querido entra em campo com uma missão quase impossível, digna de Tom Cruise e suas ações mirabolantes.

Enquanto o sábado será só júbilo – isso se o Floresta perder para o Volta Redonda no sábado, jogo às 15 horas – o domingo representará sua antítese: um dia tenso onde a esperança, quase morta, dará seus estertores na busca de mais sobrevida. Se o Floresta empatar ou ganhar, já era. E a tarefa, para o Santinha,  não é nada fácil.  Após muita lambança de nossa atual diretoria de futebol, a nossa situação na Série C é periclitante: faltando apenas duas rodadas para encerrar o certame, temos apenas 11 pontos em 16 jogos, 2 vitórias, 5 empates e nove derrotas. São apenas 9 gols marcados contra 16 sofridos, um saldo negativo de 7 tentos. Nada animador.

E, caso, por um milagre inexplicável (como deve ser todo milagre) consigamos vencer, nosso martírio não terminará nesse jogo contra a Tombense que está em terceiro lugar no grupo. Além de torcer contra o Floresta, no sábado,  e a Jacuipense, no final do domingo,  ainda teremos, no dia 25, a última partida contra o Botafogo da Paraíba – e ainda tendo que torcer contra nossos adversários diretos. E isso nos melhores dos cenários.

Nesse momento de agonia, é bom lembrar a frase de Tertuliano, um cristão fervoroso: “Credo quia absurdum est”, ou seja, eu acredito porque é absurdo. Para o pensador nascido em Cartago, a fé, ou esperança, era superior à razão. Para Nietzsche, ao contrário, essa frase representava a bandeira de um fanatismo extremado. Fernando Pessoa, que não era besta,  transformou-a  poeticamente: “Nunca fui mais que um boêmio isolado, o que é um absurdo; ou um boêmio místico, o que é uma coisa impossível”.

E aí, cara leitora, caro leitor: você é alguém que ainda acredita, apesar de absurda e muito improvável nossa continuidade na Série C ou acha que acreditar, assim como demonstrou Roberto Fernandes na sua entrevista após a derrota contra o Altos, é coisa de fanático? Vale a pena ter esperança nessa fatídica reta final ou devemos jogar a toalha e nem ligar mais?

Irei acompanhar as resenhas durante a semana e tentar entender – o que acontece a cada jogo – qual será nossa escalação para essa tarefa quase inglória. Creio que nem o mais fanático torcedor do Santinha soube, de cor, todas as escalações nessa temporada. Era mudança que só a porra.

No domingo, após a alegria do sábado, começarei o dia tomando umas no Mercado da Boa Vista e depois em Seu Sebastião no Pátio da Santa Cruz. Irei para casa meio chapado para assistir a essa peleja que, queiramos ou não, possui algo de histórico. Só saberemos se o final de semana foi todo bom no final do domingo após os jogos do sábado e do próprio domingo. Ou se o final de semana trará uma nova tragédia para tricolores corais das bandas do Arruda.

Só o tempo dirá, além do time em campo, claro… e da sorte. Tem que ter muita cerveja gelada, um coração muito forte e uma porrada de palavrões para serem gritados durante o jogo. Bora ver. De minha parte, apesar de filósofo e prezar, antes de tudo, pela racionalidade, vou me entregar ao poder transcendente do futebol e da paixão pelo Santa Cruz – e olha que já há um elemento místico aí – e me permitir acreditar um pouco. Muito pouco mesmo. Quem sabe? Credo quia absurdum est ou Credo quia Santa Cruz est.

Salve meu Santinha!

Um casamento e um funeral.

O ProSanta surgiu como uma promessa de inovação, transparência e excelência na administração do clube. Cansados de uma história crônica de má gestão e a falta de bons resultados em campo, a galera de Frutuoso demonstrou que realmente sabe fazer marketing e que possui cacife político para ganhar uma eleição.

Antes das eleições, eu tomava umas no Pátio da Santa Cruz quando me encontrei com Esequias. Ele vaticinou: “Zeca, essas chapas são como o Centrão e a Direita no Congresso. Sempre do mesmo”. Na hora, eu pensei que era pessimismo dele, já que estávamos calejados com os tropeços anteriores.

Eu cheguei a acreditar em Alírio e me decepcionei. Não acreditei em Tininho, logo não houve decepção. E acreditei muito no ProSanta, confesso. Com as eleições ganhas, eu portava um sentimento de confiança, apesar de que Joaquim Bezerra soava estranho no meio de uma concepção de inovação, arroubo jovem e criatividade. E ainda havia o assombro do Mequinha.

As reuniões virtuais com todos os sócios, a luta pelas mudanças no estatuto, a transparência com a contabilidade, o direito ao voto e minhas conversas semanais, via WhatsApp, com meu amigo Juninho indicavam que era o casamento perfeito. Realmente, força de vontade e transparência é algo que não posso negar que há nessa turma.

Mas há um fato incontornável quando se quer fazer política em um clube de futebol: é preciso ganhar os jogos. E rebaixamento é a tradução de incompetência, limitação e equívocos. Foi Fábio Mendes do Jogo Aberto Pernambuco que traduziu o que já sabíamos: os erros contínuos da diretoria de futebol anunciavam um desfecho trágico para o Santinha. Fabiano Melo, ao assumir a gestão de futebol, não conseguiu acertar. Já estávamos lidando com uma porrada de treinadores sendo trocados e, agora, era uma penca de contratações aleatórias. O mesmo que havia sido feito por Tininho. Fim do poço à vista.

Para piorar a situação diante da torcida revoltada com tantas derrotas e com um péssimo aproveitamento em casa e com o fantasma da Série D batendo à porta, velhos medalhões do Santa Cruz foram convocados para ajudar na gestão. O que era novo nada mais era do que isolamento e certa falta de tato em lidar com a realidade. E ainda saídas de pontos estratégicos da gestão diante da pressão. A ira e decepção tomaram a torcida no Twitter: inevitável.

Após a derrota contra o Altos, Fernandes soltou o verbo, mas se absteve de apontar todos os culpados. Talvez haja uma maldição no DNA do Santinha que precisa de um exorcismo brabo.

Estou puto da vida com essa que pode ser uma das nossas piores temporadas, algo comparável à série de quedas históricas. Fiquei inadimplente de minha mensalidade de sócio, por enquanto. Curtindo minha raiva e frustração. Depois a vida segue seu curso. Talvez possa ser entendido como covardia ou revolta juvenil, mas é verdadeira, real. Indignado com esse time e com a aproximação calamitosa de uma Série D com 8 grupos e o inferno na terra novamente.

Mas isso não significa que defendo golpe dentro do clube como me alardearam. O pleito eleitoral foi legítimo, dentro da legalidade e da vontade da torcida. Isso é inegável e tem que ser respeitado. De Golpe basta o que sofremos em 2016 e deu no que deu. Que nos sirva, mais uma vez, de lição: fazer futebol, meus amigos e minhas amigas, não é para os fracos. O que era casamento virou nosso funeral. Enterraram, de novo, o Santinha. Mas sigamos. E que planejamento seja a palavra de ordem.

O mais dos otimistas vai dizer: ao menos, ano que vem, teremos a maior torcida em campo do país. Vai ser dureza. Mas tricolor coral das bandas do Arruda é um povo louco mesmo. Salve meu Santinha!

Nota: esse texto é um desabafo mesmo. Daí nosso súbito retorno.

Não precisa brilhar, precisa apenas jogar

Quem quiser que comemore o empate. Eu não tenho nada para comemorar. Saí do Arruda numa mistura de raiva e alivio. Pra mim, esse empate serve apenas para não ficarmos entre os últimos na classificação geral e para mostrar ao elenco e ao treinador que Serie C é mão no bucho e pé na cara. Por pouco não levamos uma lapada dos paraibanos. Uma equipe que tem como capitão um idoso de 44 anos.

O cidadão que foi ontem para o Arruda e que não havia assistido ao jogo contra o Fluminense, deve ter ficado desconfiado do que disseram do nosso futebol contra os cariocas. Já quem foi na quinta e foi ontem, ficou mordido de raiva com a postura e lerdeza do Santa Cruz contra o Treze Tapetão Clube.

É claro que não brilharemos sempre. Nisto eu concordo com o que o treinador do Santa falou. Mas meu nobre, não é necessário brilho nenhum para conseguir vencer um time como este do Treze.

Nesse jogo de estreia, nosso lado direito parecia uma BR-101 sem trânsito e sem lombada eletrônica. Por todo o primeiro tempo, os caras passavam tranquilos e calmos, do jeito que queriam e ninguém fazia nada.

No meio campo, criação zero.

No ataque, somente o esforço de Pipico e Augusto.

E Jô? Alguém precisa explicar que aberração é esta. Este rapaz não consegue cruzar uma bola certa. Não sabe driblar nem um cone e quando perde uma jogada, se joga no chão.

Jô é apenas um peladeiro ruim que teve a sorte de ser o cara que fez o primeiro gol e que iniciou a jogada do segundo gol no jogo contra o Fluminense. E que, por este fato histórico, hipnotizou e iludiu o técnico do seu time.

“Ele fez um gol e deu o passe para o outro gol”, assim disse Leston Jr na coletiva, justificando a escalação do desgraçado.

Nem o mais humilde torcedor se iludiu com a tal façanha de Jô. Antes do jogo de ontem, o que mais se ouviu foi: “puta-que-pariu, Jô vai entrar de frente”. Durante a partida, a turma se esgoelava na arquibancada: “vai te fuder! Que jogador ruim do caralho! Tira Jô, treinador burro. Tira essa miséria”!

Se for pelo raciocínio do nosso técnico, no jogo de ontem, Neto Costa e Guilherme Queiroz conquistaram a titularidade. Os caras entraram e fizeram os gols e nos salvaram de uma estreia vergonhosa na sericê.

Indo por essa lógica aí, quem também vai conseguir um espaço nas quatro linhas é o cachorro Muriçoca. Ele entrou em campo, desmantelou o time paraibano e garantiu uns minutos de descontos pra gente fazer o gol. Não sei como é que vão fazer para levar Muriçoca para os jogos fora do Recife. Mas do jeito que tem loja de animais pela cidade, dá para conseguir um patrocinador, tranquilamente.

Este texto era pra ter entrado ontem. Mas o blog precisou ficar fora do ar.

A mais apaixonada do mundo

Fui dar um abraço de aniversário em Chiló e me mandei pro Arruda. As ruas eram só preto, branco e vermelho. Já era a terceira viagem que o motorista do Uber fazia para o Arruda.

A fila para entrar no portão 7 estava chegando no canal. Uma senhora negra vestia uma camisa com a imagem de Nossa Senhora do Carmo estampada de canto a canto na frente da camisa. “Tou com a camisa do Santa por baixo” e levantou pra gente ver. “Passei o dia vestida com a camisa de Nossa Senhora da Conceição e vim pro jogo com essa. Sou devota de Conceição e de Nossa Senhora do Carmo. A gente vai ganhar”. O olhar dela era de fé. A fé que reza e paga promessa para santos e orixás. A fé no Santa Cruz.

Alessandra sorriu pra ela e sussurrou emocionada: “essa é a cara da nossa torcida. Linda”.

Conseguimos entrar, a bola já havia rolado. Encontramos Samarone, Julio Vila Nova e Helder. Fomos em bloco pro cimento. Conseguimos subir e nos posicionamos ao lado da P-10.

De longe avistei Chiló e Geó. Vi também Odilon. Anizio apareceu. Robson Sena nos encontrou. Encontramos Marconi. Um pouco mais adiante estavam Fabiano, Bruno Fontes e Kiko.

De corpo ou de alma, todos os tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda estavam ali.

Não me canso de ler os comentários sobre nós. André Rizek escreveu em seu twiter: ”  O determinado time do Santa Cruz deu aula de estratégia de como enfrentar um adversário superior. Sua espetacular torcida transformou o que era para ser um jogo protocolar em  noite memorável. Espetáculo da galera coral no Arruda. Serie A sem Pernambuco nem deveria ter esse nome.”

O peito se enche de orgulho e o coração de alegria. Mas tem que ter sangue, corpo e espirito com as cores corais, para saber o que é ser Santa Cruz.

É o povão que defende, bate falta e cobra escanteio. É a massa coral que corre, chuta e faz gol.

A arrancada de Augusto no segundo gol só foi possível porque a João, Simone, André Cabeção, Alicate e Morena aceleraram o passo do nosso ponta e ele disparou com a bola. Pipico só chegou para fazer o arremate final porque Raquel, Cris, Seu Amaro Mão de Oléo e Carlito deram fôlego ao nosso artilheiro.

Ontem fomos 25 mil em um mesmo grito, em um mesmo abraço, num mesmo sorriso.

Somos todos, um só. E quando o clube e o time se agarram a nós, tudo se transforma. Até Jô faz um golaço daqueles.

Segunda-feira, estaremos lá. Para começar a arrancada para Serie B.  Com a gente em campo, ninguém segura o querido Santa Cruz.

O homem de 1,9 milhão de reais.

Futebol é apaixonante porque, assim como a existência, é dialético. Tudo muda, nada é perene, apenas a paixão pelo time do coração. E quando o assunto é Santa Cruz – em essência um clube de paixão desde o nascimento – a coisa fica louca.

Todo tricolor coral estava emputecido até à alma com aquela vergonhosa derrota contra o Afogados. Perder três pênaltis é foda. Mas logo em seguida vem um jogo teste para cardíaco. Quem não sentiu um calafrio na espinha quando Anderson entrou na área do CRB nos momentos finais do jogo? Quem não pensou: “Puta que pariu, nos fudemos. Acabou”. Aí vem o gol nos minutos finais e uma disputa ensandecida de pênaltis.

Não foi diferente com o péssimo jogo contra o ABC lá. Na verdade, que dois times ruins da porra. Contudo, tratava-se de um jogo de 180 minutos e nada estava decidido. E a decisão foi aqui, no Mundão do Arruda.

O jogo de ontem corrobora a minha premissa maior acima exposta. O torcedor do Santinha estava confiante desconfiando. Anunciaram o retorno de Danny Morais na resenha, mas o jogador foi poupado. A esperança é que a bola chegasse em Pipico e o atacante voltasse a marcar. E não foi isso o que aconteceu?

Marcos Martins, em uma cobrança primorosa, levantou a bola na área e Pipico se antecipou ao zagueiro e fez um golaço de cabeça. O Arruda fervilhou.

Ainda no primeiro tempo, Ítalo Henrique rouba a bola do ataque do ABC e faz um lançamento lindo, digno de Champions League. Pipico passa pelo último homem da zaga, Henrique – que tinha acabado de entrar  e que deveria ter levado vermelho pela falta– e é derrubado antes de ficar na cara do gol.

Aí o negócio virou pintura. Charles bate a falta com força, numa trivela digna de Nelinho, faz um golaço e o Arruda, sem acreditar no que via, explode de alegria.

Mas não parou por aí. O homem de 1,9 milhão de reais – Pipico, o nosso ciborgue Steve Austin – recebe o passe de Allan Dias na grande área, é novamente marcado por Henrique, dá um senhor drible no marcador que mete a mão na bola e é pênalti. Uma questão: se esse puto já tinha um amarelo, por que não foi expulso ao meter a mão na bola na área?

Pipico foi lá e meteu 3×0 no fraquíssimo ABC. Pipico, o nome de 1,9 milhão de reais.

Foda-se se o time do ABC é muito ruim. Jogamos feito time grande. Evidente que não sou doido de achar que tudo se resolveu, tem muita coisa para ser corrigida ainda. Mas que o jogo foi digno da torcida e do nome glorioso do Santa Cruz, isso foi. A ressaca dessa quinta-feira tem nome e valor: Pipico e um milhão e novecentos mil reais. Valeu demais!

Santa Cruz…Santa Cruz… junta mais essa vitória!!!

Sopa de letrinhas de ruindade.

Copa do Brasil e Copa do Nordeste: uma verdadeira sopa de letrinhas: ABC e CRB. Mas a verdade seja dita: a ruindade desse time do Santinha está assustando. Alguns torcedores já levantaram a lebre: salários atrasados? Estou pesquisando com algumas fontes dentro do Arruda. Não é possível que a causa de tanta decadência seja novamente isso.

Mas nesse jogo contra o ABC tive um susto quanto Leston “filósofo de araque das redes sociais” Júnior decidiu colocar Jô “o pior jogador de todos os tempos” em campo.

“Puta que pariu, pensei, estamos fudidos demais”.

Qual foi o esquema tático mesmo? Não atacar e esperar apenas? Deixar o lento e fraquíssimo ABC ditar o “ritmo” do “jogo”. Caralho, coloco tantas aspas porque a dimensão de realidade desse jogo é algo surpreendente: a essência da ruindade de nosso time – e também do ABC – demonstram que o menos ruim iria se dar bem.

Alguém aí tem uma frase exemplar para a lambança de Augusto na frente do gol e com o goleiro já vencido?

Ou uma frase ainda mais exemplar para expressar a grossura absurda de Allan Dias na frente do gol e mandando a bola pra a puta que o pariu?

Ou uma frase de raiva para explicar a estupidez desmedida de Jô no gol que sofremos?

E que porra de gol válido foi aquele que foi anulado? Puta que pariu, alguém tem uma explicação minimamente racional?

A zaga até que se esforçou. O meio de campo é de uma falta de domínio dos fundamentos básicos do futebol que assusta. Será que “nosso” presidente consegue explicar tanta falta de talento?

A sopa de letrinhas segue nesse sábado no horário perverso das 20 horas. Mas estaremos lá. Torcedor é um bicho doente mesmo.

Creio que todo torcedor antenado está acompanhado nas resenhas o debate sobre a escassez de torcedores em campo e os prejuízos que os times daqui estão tendo nos jogos: borderô, FPF, impostos, comissões, funcionários, energia etc. É muita grana para fazer um jogo acontecer.

É preciso repensar, e logo, essa dimensão de nosso futebol. No jogo contra o CRB, o ingresso mais barato, da arquibancada superior, custa R$ 15,00. Pode parecer pouco, mas para quem ganha um salário mínimo, não é.

Alguém esqueceu a média de público durante a promoção “Todos com a nota”?

E tem coisa mais brochante do que ir a campo sabendo que seu time está jogando uma merda e que Jô pode entrar a qualquer momento?

Minha ressalva vai para nosso excelente goleiro Anderson. Jogou demais nessa partida de hoje. Mas até quando ele ficará no Arruda? Realmente, não sei.

Bem, sábado é dia de ir bêbo para o Arruda. Que algum santo ou orixá nos dê sorte. Depois do Afogados, fiquei ressabiado e muito puto com esses filhos da puta.

Futebol e cu (ou futebol-cu)


Meu pai sempre me levava pra ver o Santa Cruz, desde que o jogo fosse no nosso campo e num dia de domingo.

Foi no Arruda que pela primeira vez ouvi um ser humano falar com tanta ênfase a palavra cu. Eu tinha uns seis anos de idade.

“Soca esse apito no olho do teu cu, juiz filho-da-puta”, berrou um moço que estava ao lado da gente. Um grito tão grande que me deu a impressão que todo o estádio ouviu.

Passei o restante do jogo observando mais o cara que gritou aqueles palavrões, do que os lances da partida. Durante vários dias, aquele cu que ouvi ficou ecoando no meu juízo. Acho que pelo fato de, apesar de filho-da-puta ser um palavrão com mais sonoridade rítmica, cu é ser mais significativo.

Dali pra frente, todas as vezes que eu ía ao jogo do Santa, ficava ligado nessa coisa de cu.

Se não existisse essa palavra monossilábica, o trabalho das ambulâncias e dos bombeiros seria dobrado. Não fosse o diafragma expelir com tanto vigor os cus pelo estádio, muita gente passaria mal e até morreria.

Certa vez, um senhor gordão, por pouco não teve um ataque dos nervos perto da gente. Era um jogo a noite. Eu tinha uns doze anos. O gordão tinha um bigode e segurava um guarda-chuva. A gente dominava a partida, mas não fazia gol. A cada chance perdida, o gordo falava um palavrão: “puta-que-pariu! Vai te fuder! Porra! Caralho!” E, obviamente, vai- tomar-no-cu! Em um dos lances perdidos, o atacante entra na área. Ele, o goleiro e a barra. Um gol feito. Mas o chute sai torto e a bola vai pra fora.

 “Vai-tomar-no-cu. Vai-tomar-no-cu. Vai-to-mar-no-teu-cu, porraaaaa!”, a última frase já saiu com o restante de ar que estava dentro do gordão. Ele ficou vermelho e sem voz. A turma começou a abanar ele. Alguém pediu água. Um amigo do meu pai morria de rir. Um cara gritou: chama o bombeiro, chama o bombeiro. Mas o gordo sobreviveu, sem precisar de ajuda médica.

Na época da Sanfona Coral, nossa turma ficava na arquibancada, exatamente no lado que o bandeirinha estava. Para ser mais preciso, a Sanfona se posicionava olhando para o banco de reservas do adversário. Daí, estávamos sempre no pé do ouvido do bandeira. Numa ocasião, não lembro qual foi o jogo, Rosembrick meteu uma bola pra Carlinhos Bala, seria gol certo. Mas o bandeirinha marcou impedimento. No rádio disse que não estava impedido. A jogada era bem duvidosa. No meio dos xingamentos, um torcedor saiu com essa: “tu é corno de cu, bandeirinha”. Um garoto que estava perto, perguntou: “pai, o que é isso: corno de cu?”. A gargalhada foi geral.

Ontem, desde a hora que a escalação foi divulgada, a palavra cu foi a mais usada nos grupos de zap corais, no Arruda, nos bares, nas salas, em qualquer ambiente onde estivesse um torcedor do Santa Cruz.

Luiz Felipe escalado. “Esse rapaz deve estar comendo o cu de alguém no clube”.

Gol dos Afogados. “Puta-que-pariu, outro gol de cabeça. Vai-tomar-no-cu. Essa porra desse volante não pulou”.

O primeiro tempo acaba. “Jogo cu do caralho”.

Neto Costa vai entrar. “Um jogador cu desse, vai entrar pra que?”

Neto Costa perde o penalti. “Vai-tomar-no-cu. Jogador merda!”

E como diz um amigo meu quando está nervoso: time cu. Treinador cu. Presidente cu. Diretoria cu.

Depois ele se acalma e a vida volta ao normal.

Santa sorte.

Creio não errar nem um pouco ao afirmar que o único jogador do Santa Cruz que se salvou no jogo contra o Ceará foi o nosso goleiro. Demonstrou personalidade, fez defesas incríveis, bem posicionado e regular a partida toda.

Já o time… foi triste. O primeiro tempo foi enganador. O gol de Bruno Ré parecia profético: o time viria de ré no segundo tempo. Na verdade, o primeiro tempo foi sintomático de um time bastante limitado e que vem de uma maratona excessiva de jogos. O departamento médico está trabalhando feito louco.

Leston tem que se virar para tirar leite de pedra. Meu amigo Juninho me passou uma mensagem no zap soltando impropérios contra Cesinha. Concordei com cada palavra. Aquela queda no drible que teve como sequência o gol foi de emputecer qualquer tricolor coral. Esse caba não pode ser chamado de jogador profissional por ninguém que seja minimamente sério. Triste demais.

O segundo tempo… aí foi só pressão. E a pressão do torcedor deve ter ido para a puta que pariu, principalmente com aquele golzinho fuleiro no final do segundo tempo que foi um soco no estômago.

Mas não é que a despeito de todas essas ruindades a cobrinha continua firme e forte?! Nem precisa se preocupar com o jogo contra o Confiança, pois já estamos classificados com antecedência.

O Vitória pode até chegar aos 9 pontos na próxima rodada, mas terá vitórias a menos, o que garante nossa classificação. Vai entender essa tal de lógica futebolística ou essa sorte que nos acompanha nesse semestre.

Por fim, quanto a esse jogo, nunca é demais lembrar e ter consciência do abismo que separa as duas equipes.

Nos próximos jogos, parece fundamental torcer para que os jogadores que estão no departamento médico possam retornar, como é o caso de Pipico e Marcos Martins.

Diante de nossas deficiências, contar com a sorte – ou melhor, ser um pouco otimista – não faz mal nenhum, mas sempre ciente que temos muito o que fazer para melhorar para a séricê.

O bom dessa santa sorte é que o dinheiro está entrando e não tem desculpa nenhuma que a diretoria possa dar para atrasar o salário dos jogadores. O que já é um ponto positivo diante de nossa história recente.

Para quem acredita, pega o patuá, o pé de coelho, a ferradura, a camisa da sorte etc. De minha parte, acredito em trabalho, planejamento, racionalidade administrativa, coerência, visão da realidade e inteligência esportiva.

De dar calo na vista.

De dar calo na vista.

O jogo desse domingo do Santinha contra as barbies foi de dar calo na vista e irritação nervosa. O time do Santa Cruz vem em uma clara queda de produção. Tivemos dois resultados terríveis no Pernambucano e esse empate agora.

Como bem disse o amigo Anselmo no post anterior: “[…] até elogio o que esse grupo conseguiu até agora. Isso porque vivemos um paradoxo. Precisamos de competições para arrecadar e ter um financeiro melhor. Mas precisamos de tempo para treinar e conseguir jogar melhor. É uma situação difícil.”

O paradoxo é bem complexo mesmo. É preciso mais do que urgentemente contratar um meio de campo que saiba criar, se posicionar e tocar a bola. É assustador ver o maltrato que Lucas Gonçalves, Ítalo Henrique e Diego Lorenzi fazem com a bola e com o futebol em si.

Creio que todos se lembram como a torcida e a imprensa estava incensando o jovem Elias. Eu mesmo o tinha como uma grande revelação e de um futuro promissor. Escuto as mais diversas explicações entre os torcedores e a mídia para sua queda de qualidade: está empolgado demais com os elogios e acha que joga sozinho, está usando máscara para ir para outro clube, está com medo de se lesionar etc.

Difícil saber o que se passa na cabeça de jogador. Lembro-me bem do caso de Rosembrik. Tinha tudo para ser um grande jogador, mas as más línguas diziam que a marvarda da cachaça enterrou o seu talento e disposição. Espero que esse não seja o futuro do jovem Elias.

Quem viu o jogo contra as barbies viu um jovem tímido e sem garra, bem como um meio de campo atabalhoado, um time que só jogava reativamente, levando muita pressão e sentindo, de maneira nítida, a falta de Danny Morais, Martins e Allan Dias.

E quem diabos acredita no futebol desse Guilherme ou que Augusto ainda pode melhorar? Ser realista – para além do otimismo – dá nisso.

Perceberam, também, como parece que a FPF está levantando a bola, digo, a tabela dos jogos a favor do Do Recife? Foi o time que menos viajou para além da RMR. Coincidência?

Pelas bandas daqui, Leston saiu em defesa de seu elenco, o que é normal. Mas não tem como fazer vista grossa à franca decadência do futebol desse time. Algo tem que ser corrigido rapidamente, pois é muito jogo atrás do outro.

Creio não errar quando penso que esse Clássico das Emoções foi um dos mais sem emoção de todos os tempos. Valeu mesmo foi a faixa da torcida da barbie perguntando sobre o assassinato de Marielle Franco. Única emoção em um clássico insosso.

Mas vamos que vamos. Não podemos nos afogar diante dos Afogados nas quartas-de-final. Torcer para que os acertos surjam, já que agora é jogo decisivo a todo momento.