Crônica de uma morte anunciada.

Meus amigos tricolores, aquele gol aos 30 segundos contra a Figueirense no último domingo decretou o início de um fim que tentamos negar a todo custo. E agora, com essa estranha eliminação da Sul-Americana, uma nuvem de desistência, amargor e ira parece se abater sobre nossa torcida.
Digo estranha porque jogamos muito bem, ganhamos… mas perdemos no primeiro jogo. Todo tricolor deve estar se perguntando: Por que danado Doriva não levou Keno, JP e Léo Moura para Medelín?
Em ambos os casos – Série A e Sula-Americana – temos essa sensação de algo premeditado.
Mas o que conduziu a esta crônica de uma morte anunciada? Penso que podemos elencar alguns pontos para debate.
1. A autonomia excessiva de uma diretoria que tomou decisões equivocadas ao longo de todo o segundo semestre de 2016. Mais autônoma do que a própria presidência. Acertou muito antes, mas errou muito depois.
2. Um presidente que ama o clube e que penhora parte de seus bens para manter a máquina andando parece indicar problemas mais profundos. Esse passivo crônico, histórico e imenso do Santa Cruz deve ser tratado por especialistas em finanças. Não basta a expertise de advogados apenas. E isso a partir de uma política voltada para um futuro promissor.
3. Causa e efeito. Jogadores com dois ou três meses de salário atrasado e funcionários que chegam a quatro ou cinco meses sem ver a cor do dinheiro. Por mais que o administrador conheça teóricos como Peter Drucker, Senge ou Lencioni, não tem como fazer milagres.
4. É preciso uma análise sociológica e econômica sobre o afastamento da torcida tricolor do Arruda. Da mais apaixonada do Brasil, passamos a ser a mais resmungona e ausente. Crise internacional e nacional que afeta o nosso bolso diretamente. Será que o excesso de jogos da Série A impede que um torcedor de pouca renda compareça ao estádio? Parece bem plausível.
5. Contratações tão ruins que indicam um total despreparo – quando se trata de análise futebolística – por parte daqueles que possuem o poder de decidir. E não escutar, ainda por cima, o apelo da torcida.
6. Uma zaga sofrível em todos os sentidos. Um corredor imenso na lateral esquerda que culminou com gols absurdamente ridículos. Escutei torcedores dizendo que estavam com saudade de Tiago Costa.
7. Por falar em gols ridículos, ainda continuo sem entender como Tiago Cardoso não foi parar no banco na Série A. Desde aquele frango contra o Fluminense no Arruda que seu desempenho é tão ambíguo que chega a assustar. O cara faz defesas espetaculares contra a coisa no primeiro tempo e descamba num espetáculo grotesco de erros no segundo. Os dois últimos gols contra a Figueirense foram lastimáveis. Nem goleiro bêbo e barrigudo de pelada.
8. A demora em mandar embora um técnico que se mostrou lunático. E a contratação de outro que parece zombar de onde trabalha ou, o que espero ser a verdade, desconhecer esta realidade em sua amplitude.
9. Cotas que nunca se realizaram em sua inteireza. Novamente, o passivo assombrando nosso presente.
10. Por fim, a questão do Arruda. A mais complexa de todas. Algo como se a UFPE decidisse vender o prédio do curso de Direito do centro do Recife ou como se a Igreja Católica decidisse vender a Igreja da Santa Cruz ou como se pudéssemos modernizar todo o Recife Antigo, acabando com o velho casario histórico. Identidade se constrói com História. Ainda mais, Samarone me chamou a atenção para uma coisa séria: qual presidente teria coragem de assinar a venda? Só penso naqueles torcedores que roubavam tijolos para construir o Arruda. A venda é solução de fato? A única?

Mais do que pontos acabados ou definitivos, creio que estes itens – e todos os que são relevantes e aqui não listados – valem para uma discussão séria sobre nosso amado Santinha.
Seria bom que aqueles que possuem o poder de decidir fossem mais humildes para escutar sua torcida.

Hoje, eu vou é pro Arruda.

Ivonaldo, o cara da xerox, vem me dizendo o tempo todo: “dotô, é outra competição. É outro jogo. Vá por mim!”

Eu não sei de onde Ivonaldo tirou a ideia que eu sou doutor. Nunca fiz doutorado, não sou médico e nem advogado.

De segunda-feira pra cá, o negro Ivonaldo tem dado uma injeção de otimismo nos tricolores corais santacruzenses da repartição.  

Mesmo depois de tanta lapada na seriá, o negro Ivonaldo tem suas razões para acreditar tanto.

— Dotô, quando a gente menos espera, a cobra levanta e dá o bote.

Balancei a cabeça concordando.

— Série A é uma coisa. Essa Sulamericana é outra!

Concordei também.

— Dotô, é como se o cabra tivesse duas mulher. Se ele broxa com uma, não quer dizer que ele vai farrapar com a outra. Pelo contrário, aí é que o camarada quer mostrar serviço.

Dei uma gargalhada e concordei mais uma vez.

— E sabe de uma coisa? Hoje quem não tiver pensamento positivo e não quiser apoiar os noventa minutos, é melhor ficar em casa vendo pela televisão ou escutando pelo rádio. Quero lá saber de jogador, treinador, diretor, essas porras. Eu sou é Santa Cruz.

Apertei a mão de Ivonaldo e dei uma ajuda para ele comprar o ingresso. Hoje, eu vou é pro Arruda.

Rafael, 5 anos de amor e paixão pelo Santa Cruz

Quando a gente perde de maneira vergonhosa, me bate um misto de raiva, tristeza, baixo astral e irritação.

Ontem foi de um jeito que até me esqueci da temática do aniversário de Rafa. A fihca só caiu, quando vi a primeira dama e minhas filhotas devidamente uniformizadas. “Oxente, é pra ir com a camisa do Santa Cruz?”

Nem precisou de resposta, vesti minha camisa e nos mandamos pra festa.

Seguimos para um campinho society em Campo Grande.

No banco de trás, as meninas riam da minha briga com o GPS.

“A 200 metros, vire à direita”.

“Virar à direita? Viro nada. Eu vou é em frente”.

No percurso, o Estádio do Arruda embeleza a paisagem.

Comentei com Alessandra sobre a mobilização que vários músicos estão fazendo para o jogo da quarta-feira pela Sulamericana. Estão montando o Orquestrão Tricolor. Já são mais de cem músicos confirmados.

“No dia que esse Santa Cruz acordar, ninguém segura ele. São poucos os clubes que tem a nossa força”, ela disse.

As meninas disseram que estavam com saudades do Arruda.

O GPS indicou para virar a esquerda e logo em seguida virar à direita. Eu segui em frente e virei à esquerda. Chegamos à festa. Até o porteiro do campo society estava vestido do Santa Cruz. Era Daniel, que também é porteiro do colégio de Rafa e das minhas meninas.

Qualquer dia, eu escrevo sobre Daniel. Sempre que a gente vence, silenciosamente ele tira a sua onda. Bota a camisa do Santa Cruz por baixo da farda e recebe todos com o mesmo sorriso de sempre e o mesmo bom dia. É impressionante a capacidade que Daniel tem de saber o nome de todos os alunos.

A mesa da festinha de Rafa tava uma beleza. O Santa Cruz em todos os lugares. O painel, as camisas que Refael tem do Santa Cruz. Desde a primeira roupinha até a de hoje.

O gramado estava quarado de pirralhos. Meninos e meninas jogando futebol, pula-pula, piscina de bolas e brincadeiras. Uma farra.

Lá pras tantas, um telão mostrando imagens de Rafael. Nos jogos, nos treinos, com  jogadores. Néris, Grafite e outros gravaram mensagens pro aniversariante.

Acho que tinha umas oitenta crianças. Um bocado do Santa Cruz, outros da turma da Abdias e dois da barbie, a prima de Rafa e um amiguinho dele.

Coisa linda o aniversário de Rafael. Futebol no seu mais belo formato. Sem preconceito de cor, sexo ou camisa.

O velho espírito latino.

Nós somos, antes de tudo, latinos. Nossos antepassados possuem um pé lá na Roma Antiga. Latino designa tanto o povo romano como sua cultura. Falavam o latim que seria o idioma a partir do qual surgem o português, o espanhol, o francês e o italiano.
Mas os romanos possuíam algumas características essenciais: eram conquistadores, guerreiros por natureza, desbravadores, destemidos e disciplinados. O exército romano ficou famoso por sua ferocidade e poder.
O povo romano seria a torcida, os espectadores que gritam, xingam e brigam por seus direitos. Dependem das decisões de seus líderes, mas vibram pela vitória do império.
Roma era governada pelo Imperador. Seria como o presidente de um time de futebol. Ele decidia as grandes estratégias em linhas gerais que seriam seguidas. O senado poderia representar os diretores e a equipe técnica. Os senadores debatiam as melhores ações para Roma.
Mas Roma dependia de seus guerreiros. O general seria algo como o técnico. É aquele que conhece seus comandados e é respeitado e amado por eles. Executa no campo de batalha – ou campo de futebol – as estratégias antes estabelecidas. Analisa as fraquezas e virtudes de seus inimigos antes de decidir atacar.
Os legionários eram os soldados que enfrentavam a morte no campo de batalha. Seriam os jogadores numa partida de futebol. A legião romana era formada por três tipos de soldados – ou ataque, meio de campo e defesa. Eram os hastados, os príncipes e os triários. Defesa e ataque deveriam estar sincronizados para obterem sucesso nas batalhas e na guerra.
O Santa Cruz é muito latino. Não apenas porque estamos na Sul-Americana, mas por sermos uma nação. Uma nação com esse sangue latino antigo: somos guerreiros, destemidos e acreditamos sempre. Perdemos a batalha de Medelín, mas não a guerra. Infelizmente, vem sendo recorrente o desentendimento entre nossa força de ataque e nossa defesa. O Santa Cruz é latino por ser essa tradução viva de batalhas e guerras contínuas.
Neste domingo que se aproxima teremos mais uma batalha. O inimigo, o Figueirense, é nosso adversário direto na briga pela permanência na elite guerreira. O campo de batalha, o Orlando Scarpelli, será palco de uma batalha aguerrida e sangrenta.
Torcer para que o general Doriva entenda que já está na hora de fazer um milagre estratégico e bélico para acabar com os erros infantis de nossa defesa. Basta de levar gols nos finais das partidas. É preciso exigir atenção.
Torcer para que o nosso ataque continue mantendo a média de gols. É preciso atacar e destruir – no bom sentido – para se ganhar a batalha.
Como diz Gerrá, somos uma nação santacruzense das bandas do Arruda. Somos latinos e guerreiros. Mas somos o povo. É nosso dever gritar, xingar, apoiar e lutar pelos nossos direitos. E o direito de todo tricolor é a vitória.
Como diriam os romanos: Anceps fortuna belli. (A sorte da guerra é incerta). Por isso a necessidade da luta.
Luta sempre. Até o fim.

Recife-São Paulo-Bogotá-Medellin

Mal acabou o jogo, aquele no qual eliminamos a turma da Abdias da Sulamericana, Gustavo e Leo compraram suas passagens para Medellin. Nem sabiam se o nosso adversário nas oitavas de final seria o time de Pablo Escobar.

Beto e Osmar preferiram esperar pelo jogo da volta entre o Luqueño e o Independiente. Depois do apito final, correram para o computador e marcaram suas viagens.

Ano passado, esses quatro cabras também estiveram presentes naquele inesquecível  jogo contra o Botafogo no Rio de Janeiro e trouxeram a vitória, 3 a 0 pra nós.

Ontem, eles arrumaram as malas e se mandaram pra Colômbia.

A aventura começou logo cedo. Recife-São Paulo-Bogotá-Medellin.

Às 14h30 da tarde estavam em São Paulo.

Por volta das 18h30, pegaram o voo para Bogotá.

E às 22h30, embarcaram para Medellin.

Entre despachar, pegar bagagens, subir e descer, umas quinze horas para chegar onde o Santa Cruz estar. Para passar o tempo, cerveja, petiscos, cerveja, petiscos e mais cerveja. Em Bogotá devem ter enchido a cara de Club Colombia.

Perto de uma hora da madrugada, o quarteto tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda, chegou ao hotel.

“Gerrá, pense numa aventura!” – falou Beto pelo zap.

“A viagem?” – eu perguntei.

“A viagem foi boa. A ida do aeroporto para o hotel é que foi doideira” – ele respondeu.

Capital da Antioquia, Medellín é uma cidade que fica localizada dentro de um vale, o “Valle de Aburrá” – ele respondeu.

O aeroporto de lá fica numa cidade vizinha, Rionegro.

Rionegro está a 2.143 metros de altitude. Já Medellin está 1.616 metros acima do nível do mar.

Pois bem, o sujeito precisa descer uns 500 metros para chegar à capital da província de Antioquia.

Ao invés de Uber, o quarteto decidiu pegar um táxi.

Logo que saíram do aeroporto repararam que o taxista estava bocejando e enfiando o pé no acelerador.

E aí, começaram as superdosagens de adrenalina.

“Meu velho, pense numa torada! A parte aérea foi tranquila. Só que o Aeroporto daqui fica longe pra caralho. E parece que fica no céu. Você tem que descer por uma estrada cheia de curvas perigosa. Puta-que-pariu, só na base do calmante. O taxista era um maluco. Foi foda!” – mandou, Leo.

“Lembramos daquelas tomadas aéreas que está na abertura de Narcos, com a vista da cidade dentro do Vale. Em vários momentos do trajeto, vimos aquilo.” – escreveu, Osmar.

“Rapaz, eu algo equivalente a quatro descidas do Cristo Redentor. A porra do motorista tava com sono. O doido fazia as curvas quase batendo na mureta de segurança. Já no fim, ele deu uma cochilada e Osmar deu um grito: TRIIIII! O cara tomou um susto do caralho, deu uma puxada na direção. Quase que a gente sobrava na curva”. – Beto enviou.

Hoje à tarde, os quatro vestiram o manto coral, compraram o seus ingressos e garantiram presença no Atanasio Girardot.

Medellin, aí vamos nós

Quando eu conto a algumas pessoas que certa vez, a gente saiu do Poço com 17 pessoas na Kombi Coral e fomos tocando forró dentro dela, a galera acha que é conversa mole. Na época que não havia bafômetro para atrapalhar nossas idas aos jogos do Santa Cruz, por várias vezes chegamos ao Arruda com umas vinte pessoas dentro da Kombi Coral. Comandada por Naná, a valente Kombi dava carona a todos que encontrasse no percurso. “Ei, tás indo pro Arruda? Bora, entra aí”

Uísque, cerveja e Pitú era nosso principal combustível.

Desde sábado que ligam pra mim ou me mandam mensagem querendo saber noticias da Kombi Coral.

Tenho tentado falar com Naná, mas não está fácil. Normalmente está dando fora de área e o gordinho não usa celular moderno. Acho que o aparelho dele nem tira foto. Wi-fi, nem pensar.

Ontem, ao final da tarde, consegui fazer contato com Peito de Pombo. Peito passou pra Naná.

Os caras estavam num astral altíssimo. E pelo visto, está tudo tranquilo e calmo.

Só sei que na próxima quarta-feira, enfrentaremos nosso primeiro jogo internacional pela Sulamericana. Infelizmente não pude ir nessa aventura.

Mas estou deveras confiante.

Na última quarta, vi o jogo do tal Independiente contra o Luqueño. Falto pouco para o nosso adversário ser do Paraguai. Meterem dois gols no primeiro tempo. Se fazem mais um na segunda etapa, iriam decidir na disputa por pênaltis. Até torci pelo Luqueño. Caso eles passassem pras oitavas, seria bem menos cansativo pra nós. Nosso time não precisaria viajar tantas horas de avião.

Mas deu o Independiente de Medellin.

Um time que não tem nada de mais. O goleiro é bem pior do que Thiago Cardoso nas saídas por cima. A defesa é lenta e o ataque trombador.

No último domingo, conta o modesto Jaguares de Córdoba,  eles apenas conseguiram empatar de um a um.

Tenho pra mim que se o Santa Cruz tiver consciência que está disputando uma Sulamericana, que nesses jogos é pé no bucho e mão na cara e que ninguém marca falta besta, a gente sai de lá com um resultado bom. Em jogo desse nível, vale muito mais a raça do que a técnica.

É encarar o inimigo e mandar um sonoro “hijo de puta”.

Eu sei que, mesmo que a gente não traga a vitória, vou ter inveja dessa turma que foi. Fico imaginando a farra, a cachaça, a tiração de onda.

Nessas horas, confesso que fico com uma inveja boa danada de quem pode foi.

 

Coluna dois.

Meu pai costumava dizer que a sexta-feira era um dia arretado. Ele saía do trabalho ao meio dia e ia direto para Dona Mira, lá em Casa Amarela, tomar todas.
Mas ele reclamava dos domingos:
“Quando toca essa música do Fantástico, dá uma dor no coração”.
Me lembro quando assistíamos ao resultado da Loteria. Léo Batista aparecia dizendo os placares dos jogos. De repente, aparecia uma porra de uma zebra falando:
“Coluna dois. Deu zebra… deu zebra… deu zebra..”.
Aprendi muito com meu pai. Não leciono na segunda pela manhã. Apenas à noite. Assim, neste domingo, poderei tomar todas sem me estressar com a segunda de manhã.
Vou deixar a feijoada já preparada e a cerveja gelando. Os trabalhos começarão com os amigos e a torcida por uma vitória quase impossível. Para ajudar na esperança, a lembrança de que Doriva foi o último a ganhar do Peixe no Pacaembu. Mas o nervosismo é grande.
Liguei para Gerrá:
“E aí, vais escrever algo para o Blog do Santinha antes do jogo de domingo?”
“Nada, ele disse, vou escrever para a Sula. Vai ser vitória fácil. Escreve tu. Desse uma sorte danada no último jogo”.
Caímos na gargalhada.
Como torcedor é um bicho meio maluco, fiquei viajando nesse jogo e pensando numa vitória sofrida de um a zero. O último gol do General me fez tomar consciência do que é ser, realmente, tricolor. E não é que acendeu ainda mais a esperança. Vai entender.
No meio do jogo já devo estar bêbado. Mas um bêbado consciente. O Santa Cruz deixa o cara eletrizado, é impressionante. Assim, já estou visualizando o resultado final: Santos 0 x 1 Santa Cruz.
Iremos tomar a saideira para celebrar a vitória. A ressaca da segunda-feira vai ser matadora. Mas tudo vai ter valido a pena. Milagres – ou seja lá o que for – acontecem.
Como costumam repetir os católicos: credo quia absurdum est. Acredito porque é absurdo. Eu disse, torcedor é um bicho maluco mesmo.
No final do domingo, a porra da zebra vai aparecer dizendo mais uma vez:
“Coluna dois. Deu zebra… deu zebra… deu zebra..”.
Que assim seja!

Canja de galinha e um pouco de razão não faz mal a ninguém.

O Renascimento foi um movimento intelectual europeu do século XIV que defendia a ciência e a razão como modelos de ação humana. Daí é que surgiram Da Vinci e Descartes. Estas ideias influenciaram o Iluminismo e as Revoluções Americanas e Francesas.
O Iluminismo era ainda mais radical. Só a razão poderia libertar o homem de sua ignorância, da superstição sufocadora, das crenças infundadas. Voltaire defendia a racionalidade com unhas e dentes.
Mas o futebol insiste em manter o espírito medieval da superstição, mística e ignorância. Entretanto, não adianta patuá, mandinga, reza braba, usar a camisa da sorte no dia do jogo, fazer promessa ou rezar o terço. Diante da incompetência, ruindade e falta de garra, só a razão para dar conta.
Bem que eu queria acreditar que Gerrá dá uma sorte arretada ao Santa Cruz quando escreve neste venerável blog antes de cada partida. Se assim o fosse, seríamos campeões do Brasileirão, da Libertadores e do Mundo. Mas este blog não possui linhas mágicas. A magia medieval não funciona. Mas quem tem culpa de tanta ruindade?
O jogo deste domingo me deu uma vontade danada de mandar para aquele lugar a presidência, a diretoria, comissão técnica, jogadores e a porra toda. Sigo aquela ideia do velho Ariano Suassuna: o bom mesmo é ser um realista esperançoso. Mas a esperança também cansa. Não joguei a toalha ainda – cara insistente da porra – mas estou puto da vida e de saco cheio com tanta grossura. Ainda bem que raiva passa.
Entendo que apenas a razão pode explicar a realidade. Em futebol, meus amigos, mística não dá competência, qualidade e resultados. Trata-se de uma questão de administração racional, baseada em análise e escolhas acertadas – e não decididas pelos astros ou por rituais misteriosos. (Só lembrei agora daquela besteira do boi da coisa).

O domingo conseguiu ficar ainda mais medieval com as barbáries das organizadas. Quando será que o MP e os governantes vão adotar a postura da Inglaterra em relação aos seus Hooligans? Dá até medo ir para um estádio que você sabe que vai se transformar num campo de batalha.

Quarta-feira teremos mais um capítulo desta via crucis. Esperar que a ressurreição ocorra, porque neste domingo, como disse meu amigo Samarone, “foi coice e queda”. A esperança cansa, mas também é a última a morrer.

Por enquanto, vou parafraseando Jorge Ben e receitando um pouco de canja de galinha e racionalidade para essas mentes medievais. Não faz mal a ninguém.

O Santa Cruz e seus perronhas

Desde domingo á noite que abro a página do word para escrever algo para esse Blog.

Comecei digitando sobre a solidariedade dos meus amigos tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda.

Primeiro foi Marconi. Mandou um zap. Logo em seguida Inácio telefonou. Depois Flávio Lins ligou. Todos perguntando se eu iria. Uns oferecendo carona. Até ingresso queriam me dar. Mas eu já havia me desprogramado e não fui. Ir para aquele fim de mundo precisa de toda uma logística.

Tentei fazer uma crônica sobre isto, mas travei e não saiu mais de dois parágrafos.

Pensei em falar sobre a partida. Mas, aí era impossível. Não assisti, nem ouvi. Acompanhei a peleja por mensagens de amigos do zap-zap. Até procurei Ivonaldo, o cara da xerox. Ele havia me dito que iria para Arena. Estava bem confiante. Mas o negão tinha saído pra fazer uns trabalhos de rua e fiquei sem a resenha dele.

Me veio outro assunto. Batucar umas linhas que falassem da nossa limitação técnica, das contratações erradas, dos buracos do gramado do Arruda, essas coisas. Mas iria ficar repetitivo. Iria chover no molhado.

Não sei vocês, mas quando o Santa Cruz se dá mal, bate uma morgação daquelas. Parece que até o otimismo de Zeca, o filósofo da Boa Vista, morgou também. E mais, minha esperança já está ficando cansada. Por mais que eu tente reanimá-la, ela insiste em ficar de baixo astral.

Corri para ver os melhores momentos da partida. Aí veio uma mistura de tristeza e raiva.

Tínhamos tudo para vencer. Mas o que estraga o futebol é a burrice e ruindade de uns miseráveis que por alguma sorte na vida conseguiram se transformar em atleta profissional.

Meus nobres, quando vi o lance do penalti,  só me veio a vontade de escrever sobre esses perronhas que insistem em jogar bola e nos encharcar de ódio. Seria capaz de fazer um livro. O título podia ser “A ruindade nos gramados” ou “Jogadores que eu mandaria para puta que pariu”.  Em cada capítulo, eu contaria a história dos vários pernas de pau que já passaram no Santa Cruz.

Destinaria um capítulo para falar sobre Danilo Pires.

 

 

Soy loco por ti Sul-Americana.

Na minha última postagem, escrevi que o jogo do Santa Cruz contra a coisa pela Sul-Americana poderia mudar o lado de nosso disco. E não é que isso realmente aconteceu?! A Banda de Chico Buarque começou a tocar a plenos pulmões. E melhor: a banda veio passando o rodo, dando rasteira, tapa na cara e metendo o dedo no fiofó da leoa.
O presidente da cachorrita de peluquera – como chamou Gerrá- deu a louca e desandou a falar besteira. O choro é livre, garota.
Meus discos, interessantemente, começaram a tocar versões diferentes:
“Soy loco por ti Sul-Americana… soy loco por ti Santa Cruz”.
“Vai minha alegria e diz pra ela.. que eu vou pra Medelín”.
“Alegria não tem fim… o Santinha me deixou assim”.
É muita felicidade. O ânimo da torcida agora é outro. Mas acredito que estamos no ponto zero, no ponto de mutação. Temos três jogos pela frente para reverter completamente nossa situação.
Porém, duas coisas serão necessárias: a garra dos jogadores e a presença da torcida. Como sou torcedor, tenho que torcer para que o espírito de guerreiro de nossos jogadores retorne com força total.
Mas também acredito que deveríamos fazer uma campanha: leve um amigo tricolor com você ao Mundão do Arruda. Chamar aquele velho amigo tricolor que há muito tempo não vai ao estádio. Já tenho confirmada a presença de três amigos que irão comigo ao jogo da Chapecoense no feriado. Um se transformou em quatro.
É preciso que a torcida mais apaixonada do Brasil volte a ser a torcida mais apaixonada do Brasil. Basta querermos… e convidar nossos amigos tricolores para lotarmos o Arruda, gritar e incentivar nosso Santinha. Nosso combustível será a doce lembrança de que despachamos a leoa no Campeonato Pernambucano, na Copa do Nordeste e na Sul-Americana. Não pode ter incentivo melhor do que esse.
Por aqui, comprei um estoque da cerveja Sul Americana. Deu uma sorte danada no último jogo.
E repetirei sempre: eu acredito no Santinha e não desisto nunca porque sou tricolor de corpo e alma e serei sempre de coração.