Meus amigos tricolores, aquele gol aos 30 segundos contra a Figueirense no último domingo decretou o início de um fim que tentamos negar a todo custo. E agora, com essa estranha eliminação da Sul-Americana, uma nuvem de desistência, amargor e ira parece se abater sobre nossa torcida.
Digo estranha porque jogamos muito bem, ganhamos… mas perdemos no primeiro jogo. Todo tricolor deve estar se perguntando: Por que danado Doriva não levou Keno, JP e Léo Moura para Medelín?
Em ambos os casos – Série A e Sula-Americana – temos essa sensação de algo premeditado.
Mas o que conduziu a esta crônica de uma morte anunciada? Penso que podemos elencar alguns pontos para debate.
1. A autonomia excessiva de uma diretoria que tomou decisões equivocadas ao longo de todo o segundo semestre de 2016. Mais autônoma do que a própria presidência. Acertou muito antes, mas errou muito depois.
2. Um presidente que ama o clube e que penhora parte de seus bens para manter a máquina andando parece indicar problemas mais profundos. Esse passivo crônico, histórico e imenso do Santa Cruz deve ser tratado por especialistas em finanças. Não basta a expertise de advogados apenas. E isso a partir de uma política voltada para um futuro promissor.
3. Causa e efeito. Jogadores com dois ou três meses de salário atrasado e funcionários que chegam a quatro ou cinco meses sem ver a cor do dinheiro. Por mais que o administrador conheça teóricos como Peter Drucker, Senge ou Lencioni, não tem como fazer milagres.
4. É preciso uma análise sociológica e econômica sobre o afastamento da torcida tricolor do Arruda. Da mais apaixonada do Brasil, passamos a ser a mais resmungona e ausente. Crise internacional e nacional que afeta o nosso bolso diretamente. Será que o excesso de jogos da Série A impede que um torcedor de pouca renda compareça ao estádio? Parece bem plausível.
5. Contratações tão ruins que indicam um total despreparo – quando se trata de análise futebolística – por parte daqueles que possuem o poder de decidir. E não escutar, ainda por cima, o apelo da torcida.
6. Uma zaga sofrível em todos os sentidos. Um corredor imenso na lateral esquerda que culminou com gols absurdamente ridículos. Escutei torcedores dizendo que estavam com saudade de Tiago Costa.
7. Por falar em gols ridículos, ainda continuo sem entender como Tiago Cardoso não foi parar no banco na Série A. Desde aquele frango contra o Fluminense no Arruda que seu desempenho é tão ambíguo que chega a assustar. O cara faz defesas espetaculares contra a coisa no primeiro tempo e descamba num espetáculo grotesco de erros no segundo. Os dois últimos gols contra a Figueirense foram lastimáveis. Nem goleiro bêbo e barrigudo de pelada.
8. A demora em mandar embora um técnico que se mostrou lunático. E a contratação de outro que parece zombar de onde trabalha ou, o que espero ser a verdade, desconhecer esta realidade em sua amplitude.
9. Cotas que nunca se realizaram em sua inteireza. Novamente, o passivo assombrando nosso presente.
10. Por fim, a questão do Arruda. A mais complexa de todas. Algo como se a UFPE decidisse vender o prédio do curso de Direito do centro do Recife ou como se a Igreja Católica decidisse vender a Igreja da Santa Cruz ou como se pudéssemos modernizar todo o Recife Antigo, acabando com o velho casario histórico. Identidade se constrói com História. Ainda mais, Samarone me chamou a atenção para uma coisa séria: qual presidente teria coragem de assinar a venda? Só penso naqueles torcedores que roubavam tijolos para construir o Arruda. A venda é solução de fato? A única?
Mais do que pontos acabados ou definitivos, creio que estes itens – e todos os que são relevantes e aqui não listados – valem para uma discussão séria sobre nosso amado Santinha.
Seria bom que aqueles que possuem o poder de decidir fossem mais humildes para escutar sua torcida.