Fui ontem para o Arruda, junto com Marconi. A turma do bate-papo coral estava toda lá. Até Anizio foi pro jogo.
Uma parte foi para as sociais, outros foram para P10. Eu e Marconi ficamos acima do escudo.
Assim que entrei, encontrei Jathyles. Batemos um papo rápido. Em seguida Milton apareceu. Subimos uns degraus e ficamos abaixo da superior. Confesso que só gosto de assistir ao jogo, vendo as quatro linhas do gramado.
Nem bateu o centro, um senhor magro que estava ao nosso lado foi logo dizendo que a barbie já havia feito 1 a 0.
Um cara de boné branco, bermuda quadriculada e camisa do Santa, pegou o celular e gravou uma mensagem de voz.
— Eu quero que você se anime. Fique bem animadinho. No final vou botar no seu oiti! Faça gol. Faça gol! – ele gritou.
O jogo seguiu. O Santa Cruz era nitidamente superior em campo. O gol era apenas uma questão de tempo. Falta na entrada da área e Anderson Sales mete no ângulo. O goleiro paraibano consegue defender.
O cara do boné deu uma tapa da caralho no outro que tava do lado dele.
— Acredita, Miséria! A gente vai ganhar nessa porra!
O Senhor Magro era daqueles que gostam de apavorar. Nos avisou que o jogo lá no Ceará já estava 4 a 0.
Lá longe, avistei a cabeleira de Samarone.
A gente continuava dominando. Falta no lado da área. Anderson Sales mete uma curva na bola, a pelota caprichosamente bate no travessão. No ângulo de novo. A torcida foi à loucura. Aplaudiu de pé.
Meus amigos, faz tempo que eu não via no Santa Cruz, um batedor de falta feito esse zagueiro. Na hora do pênalti, eu fui o primeiro a gritar: “quem tem que bater é o zagueiro! É Anderson Sales!”
Ele foi lá e conferiu. Bateu o pênalti como se deve bater. Bola para um lado, goleiro para o outro. Vibramos. A esta altura, todos ali já éramos grandes amigos. O cara de boné deu socos no ar, abraçou quem tava ao redor, gritou se esgoelando. Pegou o celular e mandou: “Chuuupa! Chupa, porra! Aqui é Santa Cruz, caralho! Faz mais gol aí, faz mais. Vou botar no rabinho de vocês! Poooorrra!”. E gargalhou pro estádio todo ouvir.
No intervalo puxei conversa com Boné. Ele é conhecido de Milton. Boné é o otimismo em forma de gente. “A gente vai vencer esses paraibanos”. “Vou ser bicampeão do Nordeste”. “E vou ser outra vez campeão na casa dos festejos”. E sacudiu os braços pro ar.
Começa o segundo tempo. O Capibaribe já vencia por 6 a 0. Boné não estava nem aí. Vez por outra cutucava o zap. O Santa Cruz voltou com o freio de mão puxado. Parecia que tava satisfeito com o resultado. No único lance que corremos perigo, Anderson Sales nos salvou. Boné descontou no zap: “Seca, fela da puta. Seca! Eu gosto assim! Não perco esse jogo, não! Pode fazer 50 gol aí. É tricolor, porra”. E deu umas sacolejadas num pirralho que tava do lado dele.
— Tu tem que vim é numa decisão – Boné disse para o garoto.
Nos minutos finais, voltamos a dominar o jogo. Se o time tivesse perna, teria feito outro gol. Ao apito final, vibramos como nunca. Boné, já sem camisa, por pouco não leva uma queda. Abraçava um, empurrava outro. Deu uma tapa na cabeça do pirralho.
Toquei nele e avisei: tu não vai mandar mensagem não?
— Eita, é mesmo!
— Chupa, barbie. Chuuupa! – ele gritou.
E cantou em seguida: “quer dá cu, quer dá cu, vá torcer pelo timbu”.
Depois, descobri que Boné é xará do nosso lateral direito.