Recife-São Paulo-Bogotá-Medellin

Mal acabou o jogo, aquele no qual eliminamos a turma da Abdias da Sulamericana, Gustavo e Leo compraram suas passagens para Medellin. Nem sabiam se o nosso adversário nas oitavas de final seria o time de Pablo Escobar.

Beto e Osmar preferiram esperar pelo jogo da volta entre o Luqueño e o Independiente. Depois do apito final, correram para o computador e marcaram suas viagens.

Ano passado, esses quatro cabras também estiveram presentes naquele inesquecível  jogo contra o Botafogo no Rio de Janeiro e trouxeram a vitória, 3 a 0 pra nós.

Ontem, eles arrumaram as malas e se mandaram pra Colômbia.

A aventura começou logo cedo. Recife-São Paulo-Bogotá-Medellin.

Às 14h30 da tarde estavam em São Paulo.

Por volta das 18h30, pegaram o voo para Bogotá.

E às 22h30, embarcaram para Medellin.

Entre despachar, pegar bagagens, subir e descer, umas quinze horas para chegar onde o Santa Cruz estar. Para passar o tempo, cerveja, petiscos, cerveja, petiscos e mais cerveja. Em Bogotá devem ter enchido a cara de Club Colombia.

Perto de uma hora da madrugada, o quarteto tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda, chegou ao hotel.

“Gerrá, pense numa aventura!” – falou Beto pelo zap.

“A viagem?” – eu perguntei.

“A viagem foi boa. A ida do aeroporto para o hotel é que foi doideira” – ele respondeu.

Capital da Antioquia, Medellín é uma cidade que fica localizada dentro de um vale, o “Valle de Aburrá” – ele respondeu.

O aeroporto de lá fica numa cidade vizinha, Rionegro.

Rionegro está a 2.143 metros de altitude. Já Medellin está 1.616 metros acima do nível do mar.

Pois bem, o sujeito precisa descer uns 500 metros para chegar à capital da província de Antioquia.

Ao invés de Uber, o quarteto decidiu pegar um táxi.

Logo que saíram do aeroporto repararam que o taxista estava bocejando e enfiando o pé no acelerador.

E aí, começaram as superdosagens de adrenalina.

“Meu velho, pense numa torada! A parte aérea foi tranquila. Só que o Aeroporto daqui fica longe pra caralho. E parece que fica no céu. Você tem que descer por uma estrada cheia de curvas perigosa. Puta-que-pariu, só na base do calmante. O taxista era um maluco. Foi foda!” – mandou, Leo.

“Lembramos daquelas tomadas aéreas que está na abertura de Narcos, com a vista da cidade dentro do Vale. Em vários momentos do trajeto, vimos aquilo.” – escreveu, Osmar.

“Rapaz, eu algo equivalente a quatro descidas do Cristo Redentor. A porra do motorista tava com sono. O doido fazia as curvas quase batendo na mureta de segurança. Já no fim, ele deu uma cochilada e Osmar deu um grito: TRIIIII! O cara tomou um susto do caralho, deu uma puxada na direção. Quase que a gente sobrava na curva”. – Beto enviou.

Hoje à tarde, os quatro vestiram o manto coral, compraram o seus ingressos e garantiram presença no Atanasio Girardot.

Medellin, aí vamos nós

Quando eu conto a algumas pessoas que certa vez, a gente saiu do Poço com 17 pessoas na Kombi Coral e fomos tocando forró dentro dela, a galera acha que é conversa mole. Na época que não havia bafômetro para atrapalhar nossas idas aos jogos do Santa Cruz, por várias vezes chegamos ao Arruda com umas vinte pessoas dentro da Kombi Coral. Comandada por Naná, a valente Kombi dava carona a todos que encontrasse no percurso. “Ei, tás indo pro Arruda? Bora, entra aí”

Uísque, cerveja e Pitú era nosso principal combustível.

Desde sábado que ligam pra mim ou me mandam mensagem querendo saber noticias da Kombi Coral.

Tenho tentado falar com Naná, mas não está fácil. Normalmente está dando fora de área e o gordinho não usa celular moderno. Acho que o aparelho dele nem tira foto. Wi-fi, nem pensar.

Ontem, ao final da tarde, consegui fazer contato com Peito de Pombo. Peito passou pra Naná.

Os caras estavam num astral altíssimo. E pelo visto, está tudo tranquilo e calmo.

Só sei que na próxima quarta-feira, enfrentaremos nosso primeiro jogo internacional pela Sulamericana. Infelizmente não pude ir nessa aventura.

Mas estou deveras confiante.

Na última quarta, vi o jogo do tal Independiente contra o Luqueño. Falto pouco para o nosso adversário ser do Paraguai. Meterem dois gols no primeiro tempo. Se fazem mais um na segunda etapa, iriam decidir na disputa por pênaltis. Até torci pelo Luqueño. Caso eles passassem pras oitavas, seria bem menos cansativo pra nós. Nosso time não precisaria viajar tantas horas de avião.

Mas deu o Independiente de Medellin.

Um time que não tem nada de mais. O goleiro é bem pior do que Thiago Cardoso nas saídas por cima. A defesa é lenta e o ataque trombador.

No último domingo, conta o modesto Jaguares de Córdoba,  eles apenas conseguiram empatar de um a um.

Tenho pra mim que se o Santa Cruz tiver consciência que está disputando uma Sulamericana, que nesses jogos é pé no bucho e mão na cara e que ninguém marca falta besta, a gente sai de lá com um resultado bom. Em jogo desse nível, vale muito mais a raça do que a técnica.

É encarar o inimigo e mandar um sonoro “hijo de puta”.

Eu sei que, mesmo que a gente não traga a vitória, vou ter inveja dessa turma que foi. Fico imaginando a farra, a cachaça, a tiração de onda.

Nessas horas, confesso que fico com uma inveja boa danada de quem pode foi.

 

O Santa Cruz e seus perronhas

Desde domingo á noite que abro a página do word para escrever algo para esse Blog.

Comecei digitando sobre a solidariedade dos meus amigos tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda.

Primeiro foi Marconi. Mandou um zap. Logo em seguida Inácio telefonou. Depois Flávio Lins ligou. Todos perguntando se eu iria. Uns oferecendo carona. Até ingresso queriam me dar. Mas eu já havia me desprogramado e não fui. Ir para aquele fim de mundo precisa de toda uma logística.

Tentei fazer uma crônica sobre isto, mas travei e não saiu mais de dois parágrafos.

Pensei em falar sobre a partida. Mas, aí era impossível. Não assisti, nem ouvi. Acompanhei a peleja por mensagens de amigos do zap-zap. Até procurei Ivonaldo, o cara da xerox. Ele havia me dito que iria para Arena. Estava bem confiante. Mas o negão tinha saído pra fazer uns trabalhos de rua e fiquei sem a resenha dele.

Me veio outro assunto. Batucar umas linhas que falassem da nossa limitação técnica, das contratações erradas, dos buracos do gramado do Arruda, essas coisas. Mas iria ficar repetitivo. Iria chover no molhado.

Não sei vocês, mas quando o Santa Cruz se dá mal, bate uma morgação daquelas. Parece que até o otimismo de Zeca, o filósofo da Boa Vista, morgou também. E mais, minha esperança já está ficando cansada. Por mais que eu tente reanimá-la, ela insiste em ficar de baixo astral.

Corri para ver os melhores momentos da partida. Aí veio uma mistura de tristeza e raiva.

Tínhamos tudo para vencer. Mas o que estraga o futebol é a burrice e ruindade de uns miseráveis que por alguma sorte na vida conseguiram se transformar em atleta profissional.

Meus nobres, quando vi o lance do penalti,  só me veio a vontade de escrever sobre esses perronhas que insistem em jogar bola e nos encharcar de ódio. Seria capaz de fazer um livro. O título podia ser “A ruindade nos gramados” ou “Jogadores que eu mandaria para puta que pariu”.  Em cada capítulo, eu contaria a história dos vários pernas de pau que já passaram no Santa Cruz.

Destinaria um capítulo para falar sobre Danilo Pires.

 

 

Porqué soy TRI…

Porque soy TRI. Soy TRI. Eliminamos lo leon. Soy tricolor en cabieza.

Mis amigos, és como dije lo cara de la xerox: Sulamericana és otra cosa. E las leonas se cagan cuando ver la cobrita. Elles arriban el rabo, si. Cambian una gatita. Una cachorrita de peluquera.

És pra se fuder, carajo. Aguera la gente lhega. És ganar de la chapecoense e despues empurriar la cachorrita para zeuna de rebajamiento. E yo quiero que seja en la ija da fantasia. En la nuestra casa de los festejos. Mas se quisieren, pueden levar para puta que los pariu, que la gente gana de las leonas.

Se non tiemos qualidade, és no grito e na raça. Porque acá, mi viejo, és cobra corale, carajo.

Que se fueda lo resto, yo soy Santa Cruces.

El Cabrón, mi hijo, donde estás? Vamos nessa.

– Chica, por favor, una cerveja! Si, claro. Santa Cruces, la cobrita de Arruda!

La Sulamérica nos espiera!

E pra non esquiecer: hey ixport, bá tomar no culo!

O cara da xerox

Toda vez que encontro com Ivonaldo, o cara da xerox,sou puxado para uma conversa. Na maioria das vezes, ele fala por nós dois.

Gente boa, ele é da turma que era frequentadora assídua do Todos com a Nota. Sempre que posso, dou um ingresso a ele.

No nosso papo é sempre música, política e futebol. Futebol não, o Santa Cruz, é claro. Tem uma frase dele que guardo comigo:

“A torcida só incentiva o time, se ele incentivar ela”.

Esbarrei com Ivonaldo no corredor do segundo andar. O cabra estava  com uma raridade nas mãos: o LP “Beijoqueiro do Amor”, de Paulo Márcio.

Me mostrou o disco, perguntou se eu conhecia.  E cantarolou:

“Oh, oh, sou beijoqueiro do amor/ Oh, oh, eu beijo mais que um beija-flor”

— Esse é fera – ele disse.

Eu concordei.

Começamos a falar do Santa Cruz. A decepção, a esperança, nossas chances, etc e tal.

— Sabe a Ponte Preta? O Centro de Treinamento deles só tem dois campos oficiais! – ele falou.

Confessei que não sabia.

— A Chapecoense tem CT! – afirmou Ivonaldo.

Perguntei se ele tava fazendo alguma monografia sobre centros de treinamento. Ele riu.

Pegamos o elevador. No andar de baixo, entrou uma coisa linda. Ivonaldo se calou um pouco.

Quando chegou ao térreo, o cara da xerox pegou no meu braço e mandou:

— Vou lhe dizer uma coisa. Pra fazer gol, só tem o Grafite. Ele já é nego véio. A turma achava que Negão ía tá iluminado do começo ao fim do campeonato. Inxiste isso?

E continuou a falação:

— A torcida?  Tem culpa, não. E é a gente que contrata, é? Quem contrata é o diretor e o treinador.

— Trouxeram cada desgraça pior do que a outra. Aquele Roberto, o tal do Bolañus, esse Marion… são ruim que dói.

— E Lelê? E o General? E Allan Vieira? Essas pestes é tudo jogador de seribê.

— E aquele Marcinho? O cabra veio somente pra fazer regime.

— A turma pensa que Seriá é Seribê. É não. É diferente. E né por nada não, esse time aí, se tivesse na seribê tava dando raiva. Olhe, sei não…

Concordei com tudo. Me despedi e perguntei se ele já havia jogado a toalha.

— Não. Oxente, só jogo a tolha quando a matemática provar que não dá mais pra gente se livrar.

E concluiu:

— Sim, essa Sulamericana tem nada a ver com seriá. E eles tem um medo arretado da gente.

Um duelo de gigantes tricolores

Texto de Zeca, o filósofo da Boa Vista

Desde os cinco anos de idade que vou aos jogos do Santa Cruz no Arruda. Meu parceiro constante era meu pai. O ritual era sempre o mesmo: espetinho e cachorro-quente na entrada do estádio, choppinho no campo (aquela velha garrafinha gordinha) e a espera pela sirene da vitória ao final do jogo.

Infelizmente, em 2014, um câncer devastador levou meu parceiro. Foi ele quem me ensinou a amar o Santinha e o Arruda – a mística que envolve esse lugar, sua torcida magnífica e as cores que tanto amamos: vermelho, preto e branco.

No próximo domingo teremos um duelo de tricolores no Arruda. Estarei lá sem meu parceiro. Numa retrospectiva histórica, os cariocas levam a melhor com mais vitórias. Mas futebol, como disse certa vez o comentarista Benjamim Wright, é uma caixinha de surpresas.

Minha memória seletiva só pensa nas nossas vitórias. Que se danem as derrotas. Tiago Costa já avisou que Doriva está dando uma injeção de autoestima no time. Vontade de vencer e atitude mental de guerreiro serão decisivas neste confronto. A vitória virá com suor e determinação, garra e incentivo da torcida.

Temos e vamos ganhar neste domingo: com ou sem dedo no fiofó do adversário, salário atrasado ou não, esquema novo, Doriva no comando, Pisano em campo,  acredito que a partir deste jogo decisivo iremos reverter a situação a nosso favor. Neste sentido, sou um torcedor otimista. Só desisto diante do inevitável. Até lá, acreditando e indo ao Arruda – ainda mais com ingressos por 20 reais.

No mundo real, estamos na 19ª colocação, míseros 19 pontos e uma probabilidade de 59,7% de rebaixamento. Mas torcer apaixonadamente é sair da esfera da estrita racionalidade e acreditar. E a torcida tricolor pernambucana é craque em levantar o time diante das adversidades.

Interessante que neste momento tão especial, o ex-presidente do Santa, João Caixeiro, lança o livro Santa Cruz de Corpo e Alma para ajudar na construção de nosso CT. Como a trilogia é cara pra cacete – 1000 reais – fico com a ideia animadora de amar o Santinha de corpo e alma. E é com esse espírito de pertencimento total ao Santa Cruz que estarei domingo no Arruda.

Tomarei umas cervas no estádio, espetinho e cachorro-quente, o calor da torcida e a beleza que vai ser ver o campo sendo invadido por dois times tricolores. Vai ser uma beleza só.

No final do jogo, quando tivermos mandado o Fluminense para a puta que pariu, vou me lembrar de meu pai, meu grande parceiro, e vou lhe dar um abraço imaginário, só alegria, dizendo apenas para ele:

“Tá vendo, velhão, juntamos mais essa vitória”.

E ele vai sorrir ouvindo a sirene imaginária tocando o som de mais uma conquista.

Eu gosto mesmo é do Santa Cruz

Não vejo a hora dessas olimpíadas acabarem. Pra mim já deu.

Vi algumas boas disputas. Mas confesso que não sou muito chegado a esta enxurrada de esportes de uma vez só. Na verdade, gosto de poucas modalidades esportivas.

Com apenas oito minutos de handebol, atestei para mim que não vejo graça naquele  esporte. Uns dribles que não tem beleza, gol que não acaba mais, um lá e cá que causa tédio. Enfim, uma chatice.

Por acaso, zapeei a TV e estava passando uma disputa por medalha de bronze no tênis de mesa. Era um japonês jogando contra um galego, cuja nacionalidade eu não me recordo. Pelo que vi, no tênis de mesa olímpico, parece que é proibido o cabra jogar com malícia. Se o atleta tiver a categoria para fazer um ponto numa casquinha, pede desculpa ao adversário. Me lembrei da minha adolescência. Teve uma época que praticamente todos os dias, a gente jogava ping-pong. Eu estudava de manhã, fazia as tarefas depois do almoço, no final da tarde batia uma peladinha na rua e, depois de jantar, a gente jogava ping-pong no terraço da casa de Mazinho, filho de Seu Itamar! No nosso ping-pong o golaço era a casquinha.

Esperando a decisão do boxe, assisti à uma disputa de levantamento de peso. É cada careta invocada que os caras fazem para levantar aquelas barras com não sei quantos quilos. Eu não teria a menor condição de ser torcedor de um troço desse. Quando o cabra não conseguisse levantar o peso, chamaria ele de fraco, mole, filho disso, filho daquilo.

Não me animo para ver nenhum tipo de ginástica. Não sei a razão, mas fico torcendo para ver algum atleta levando um baque. Daí, em respeito aos ginastas, prefiro não assistir.

A depender do jogo, o vôlei e o basquete me fazem ligar a televisão, abrir uma cerveja e ficar curtindo a partida. A bronca é que se começar a perder, eu fico logo invocado e desligo a TV. A não ser que seja vôlei de praia feminino. Pode estar ganhando ou perdendo. Pode ser do Brasil ou outra nacionalidade. O voleibol de praia feminino, eu vejo até o final.

Outro esporte legal é o polo-aquático.

Não entendo absolutamente nada de judô. Muito menos de esgrima.

O futebol feminino não me encanta. Acho apenas bonzinho. Mas, pra mim, Formiga era titular absoluta na nossa cabeça de área, Fabiana na lateral direita e Marta no meio-campo.

Enfim….  depois de ver algumas coisas das olimpíadas, eu tenho plena certeza que gosto mesmo é de futebol. Melhor ainda, se for do Santa Cruz. E de preferência, no mundão do Arruda.

Jogo, salário, suor, lágrimas e esperança

Texto de Zeca, o filósofo-metaleiro da Boa Vista

O torcedor entra em campo no meio da partida. Seu semblante é de desespero. Ele corre em direção ao artilheiro Rob Gol. Ajoelha-se diante de seu ídolo, chora e diz:

“Porra, Rob Gol. Não podemos cair, meu amigo. Temos que fazer alguma coisa!”.

Ainda me lembro como se fosse hoje dessa cena tão triste. E, pior, fiquei pensando nos jogadores que participaram, em diversos anos, da queda assombrosa em direção à Série D: Jorge Henrique, Carlinhos Bala, Kuki, Carlinhos Paraíba, Rosembrick e Sandro.

O boato que sempre rondou esses rebaixamentos era que os salários estavam atrasados. Lembro-me como se fosse hoje de meu pai esbravejando para todos os lados:

“Ora porra, mas como um time vai jogar decentemente se não pagam os salários dos jogadores? Jogador não é torcedor, não!”.

Recentemente, ouvi o mesmo boato de alguns conhecidos que trabalham dentro do Santa Cruz. Meu amigo Samarone não comenta o caso – princípio ético, é claro. Mas desde o início da queda do rendimento de nosso time querido na Série A que fiquei com essa impressão.

Será que é verdade que só quem recebe em dia é Grafite? Será que os salários estão realmente dois meses atrasados? Será que a imprensa não sabe ou faz vista grossa para  o caso? A cota da TV será a nossa salvação? Muitas questões e poucas respostas.

Neste domingo, o Santinha até que conseguiu se safar de um resultado ruim. Vencer o Vitória lá dentro não é tarefa fácil. E o empate foi um bom resultado. Estamos rezando a todos os deuses que Doriva faça um trabalho de recuperação deste time.

Mas é inegável que ninguém joga bola com salário atrasado. Meu pai estava muito certo. Jogador é um profissional. Como qualquer profissional, ele precisa receber para executar bem sua tarefa. Imagina se a moda pega: o profissional tem que dar o sangue, mesmo sem receber. Assim não dá.

Espero que a situação seja estabilizada e que possamos voltar a mostrar aquele futebol contra o Cruzeiro no primeiro jogo, contra o Inter e o Grêmio.

De outra forma, meus amigos, iremos entrar em campo no meio da partida, o semblante desesperado e iremos nos ajoelhar diante de Grafite dizendo:

“Puta merda, meu velho. Vamos realmente voltar para a Série B?”.

Espero que a resposta seja um sonoro NÃO!

Adeus Milton

Graças a Deus ele se foi.

Olhe, já vi muita gente doida nesse mundo de meu Deus, mas essa peste desse Milton Mendes era foda e graças a Deus se foi. Cheguei a conclusão que sou preconceituoso e assumo.

A primeira vez que percebi isso foi quando fui ver um Negão bluseiro americano no Marco Zero, anos atrás. Pense num som ducarai. Ai ele pára o show e convida uma mulher para cantar. Foi meia hora de elogios a ela. Imaginei aquelas bluseiras fuderosas. Mas quem me vem?  Uma brasileira magrinha, mais branca que leite, com cara de pagodeira ou cantora de Axé. Fiquei puto e ia sair até a mulher pegar o microfone e soltar a voz. Puta Que Pariu que voz. Percebi ai meu preconceito de cor.

A segunda vez foi quando o Santa anunciou Milton Mendes pro time do Povo. Puta Que Pariu De Novo! Um técnico de paletó no gramado? No time do povo? Não poderia dar certo nunca.

Tenho preconceito sim com quem usa paletó no gramado. Pronto falei. E foda-se também quem gosta do futebol certinho da Europa. Quem gostar vá pra lá.

Futebol é garra, sangue e suor. É a possibilidade do imponderável. Por favor, direção do santinha, quero um Técnico que saiba que meia joga na meia, que time não joga sem zagueiro, que lugar de goleiro é no gol.” – Odilon Lima.

“Como um passageiro clandestino em uma nau sem timoneiro. Era assim que eu vinha me sentindo desde aquele fatídico jogo contra a macaca, quando perdemos, em casa, por 0 x 3 e terminamos com cinco atacantes e sem nenhum zagueiro em campo.

Hoje, com a saída de Milton Mendes, a sensação que tenho é a de que a tripulação, finalmente, percebeu que não tinha ninguém no leme e o barco estava à deriva. Acordou. Eu, clandestino, escondido, suspiro aliviado. Ao menos, agora alguém vai assumir a direção.

O próximo timoneiro nem precisa ser formado em navegação nas terras do além mar. Basta que segure o leme com firmeza e nos conduza à margem com segurança.” – Alexandre Amorim de Vitória da Conquista.

Eu acho que a ingratidão no futebol não vai acabar nunca. E esse cultura de se demitir técnico, ainda vai demorar muito a deixar de ser um costume aqui no Brasil.

Milton Mendes nos deu dois títulos que ninguém esperava. Um deles inédito. Depois, entregaram a ele um elenco fraco, onde ele tirou leite de pedra.

Acho que a diretoria não teve força para suportar a pressão da torcida e demitiu injustamente o nosso treinador. E agora, trazer quem?

Discordo totalmente com a saída de Milton. O certo era ele ter ficado e o clube dar condições a ele de executar seu trabalho.

Outra vez, estaremos entregues a sorte.”  – Tarcísio Matias

“Grande Milton, agora só nos resta dizer MUITO OBRIGADO! Seu nome está escrito em nosso centenário clube, e somos gratos! Torcemos para que o clube cresça, você também, as portas do Arruda, estão sim, abertas.
Infelizmente, você vai embora sem ter conhecido a torcida do Santa Cruz (apesar de ter merecido) em sua forma original, pois a mesma sumiu.

Porém, quem sabe um dia?!

Estamos com dificuldade, mas hoje somos novamente O Terror do Nordeste, então novamente, muito obrigado!” – Movimento Popular  Coral

Eu fosse a diretoria, dava uma de doido

Fui criado convivendo com doidos. Doidos de grau 1, grau 2, grau 3, grau 4 e por aí vai.

Um deles, adorava futebol e venerava a polícia. Torcia pela cachorra de peruca, gostava do Santa Cruz  e odiava a barbie. Vez por outra chegava lá em casa pra tomar sopa ou comer cuscuz. Ele pensava que era policial. Vestia um paletó surrado e tirava onda de Delegado de Polícia. Era raparigueiro e frequentava igreja protestante. Pense numa lapa de doido.

Outro que lembro, era de uma família tricolor. Esse nem falar direito, falava. Magro, feio pra caramba, tinha na mente que era guarda de transito. Quando a gente largava do colégio e voltava para casa, ele tava na faixa de pedestre esperando o sinal fechar. Ficava no meio da rua, dava uns apitos e abria os braços. Aos domingos, o louco estava na missa.

No segundo grau, tinha um na minha sala que andava com um punhal na bolsa. O bicho falava gesticulando e dando banho de cuspe em quem estivesse por perto. O cara era gente fina, mas não tinha um pingo de juízo. Apesar de ter o físico de um esqueleto, ele tinha certeza que era halterofilista. Vivia dizendo que treinava numa academia. Botamos o apelido dele de João Halteres.

Um primo meu, doido de jogar pedra, teve que fugir para São Paulo. Entrou escondido na casa da namorada e foi pego dentro de guarda-roupas, pelo pai da garota. Saiu nas carreiras. Foi jurado de morte.

Lá no interior, o apelido dele era Assessor. Meu primo só vivia colado nos políticos. E ele incorporava a função. Era comum sai pelas cidades dos arredores, chegar nas festas e dizer que era Assessor de Dr. Fulano de Tal.

Havia também Túlio. Tulio Maravilha. Esse era figura. Quem não conhecia ele, jurava e apostava que o bicho era jogador de futebol. De trancelim no pescoço e porte físico atlético, Túlio tinha todo o gingado de jogador de futebol. O andar, o gosto musical e a raparigagem. Só era meio surdo e falava de forma estranha.

Certa vez, levei Túlio pra uma pelada. Avisei pra ele que não garantia que tivesse vaga, afinal Túlio era pior do que o lateral-direito Mário Sérgio e bem mais ruim do que o lateral-esquerdo Roberto. Mas ele não se intimidou. Chegou lá, foi logo botando o material. Caneleira, meião e chuteira de marca. Não percebi e a turma tirou o time escalando Túlio Maravilha na primeira pelada. A gréia foi grande e teve gente que ficou invocada comigo, achando que eu tinha feito sacanagem.

Toda vez que olho pra Milton Meme, me lembro dos vários doidos que conheci. Principalmente daqueles que acreditavam piamente que dominavam uma profissão. Milton Meme é assim. Ele tem certeza que é treinador de futebol e que entende do riscado. Fez cursos, dirigiu algumas equipes e botou na cabeça que é técnico. Dificilmente vai reconhecer o fracasso e entregar o cargo.

Eu fosse a diretoria, não esperava a sorte chegar na próxima rodada. Eu dava uma de doido e mandava esse técnico aluado pra puta que o pariu.