Meus amigos tricolores, um dos lugares mais icônicos da velha guarda santacruzense é o Bar e Restaurante Santa Cruz que é capitaneado pelo tricolor mais respeitado que conheço: o Seu Sebastião.
O filho de Seu Sebastião ajuda no atendimento aos clientes, além do velho Geraldo e de Seu Manoel. Pense numa galera de primeira. E pense num lugar pitoresco em essência.
Toda semana aporto no recinto para tomar umas Brahmas, comer um guisado e filosofar sobre a existência. Vez ou outra me encontro com Sama lá para colocar o papo em dia e beber todas.
Neste domingo, estava lá em Seu Sebastião com alguns amigos. Na hora de pagar, notei uma foto do velho tricolor com dois amigos das antigas.
“Amigos tricolores, Seu Sebastião?”, perguntei.
“Claro. Mas tá vendo este aqui – ele disse apontando para um senhor de cabelos brancos – esse porra vivia no Arruda. Ia para jogo, treino, lançamento de camisa. Apaixonado”.
“Não vai mais?”.
“Esse meu grande amigo está doente. Vive em casa… amuado. Não pode ir mais ao Arruda. Não pode realizar sua maior paixão que é estar perto do Santa Cruz”.
Puta que pariu, pensei.
“E ia mesmo com o time na pior?”.
“Sempre. Tricolor apaixonado é assim mesmo, professor. Só quer saber mesmo é de estar perto do time”.
Fiquei matutando sobre esse amigo. Pensei na campanha que o Santinha está fazendo para convocar a torcida para o jogo no Arruda contra o América.
O mais interessante é que a campanha mostra funcionários humildes do clube. O povão. Gente trabalhadora, honesta e apaixonada pelo nosso Mais Querido. A essência do que esse clube representa historicamente.
Eu sempre vou ao Arruda. Espero ir até o fim dos tempos. Bem ou mal, subindo ou descendo, com ou sem crise, o Arruda é lugar da torcida.
Um espírito ancestral paira naquele lugar. E domingo estarei lá. A vitória seria uma grande homenagem ao amigo de Seu Sebastião: um tricolor de corpo e alma.
Santa Cruz na cabeça
Dos poucos grupos de zap-zap que participo, alguns são do Santa Cruz. Na verdade, quatro grupos são formados por tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda. Cada um com suas peculiaridades e suas doidices.
Um grupo com 19 pessoas. Outro tem 12. Tem um com 13 participantes. E, um deles, com 168 corais. Isso mesmo, cento e sessenta e oito apaixonados pelo Santa Cruz Futebol Clube.
No grupo dos dezesseis, reina a bipolaridade. Se o time estiver bem, o mundo é uma maravilha, o Brasil se livrou da corrupção e o Recife é uma cidade extremamente segura. Se nosso esquadrão perde, a vida vira uma desgraça. Nada presta. Tudo está perdido. Nesse grupo, eu me divirto com a ira de alguns malucos.
Na turma que tem treze tricolores, a amizade é antiga. O Santa Cruz nos uniu. Nesse grupo, tem uns que pensam que entendem de futebol, outros tem plena consciência que não entendem porra nenhuma e uns dois ou três, são daqueles chatos que só sabem criticar.
O dos doze é uma onda! Amigos de futebol, forró e carnaval. Alguns são ateus. Ninguém frequenta igreja. Todos são profissionais na bebida. Nesse grupo, tem hora que se fala mais de política do que de futebol. A cachaça e a farra estão acima de vitórias, empates e derrotas. Ninguém leva o Santa Cruz muito a sério. Nesse grupo Thiago Cardoso não é unanimidade, Luan Perez é chamado de zagueiro de condomínio, Milton Mendes é tratado como louco e Doriva faz parte da lista dos piores treinadores que já apareceram por aqui.
Já o grupão, o que tem 168 apaixonados pelo Mais Querido, esse merece um estudo. Primeiro que só é permitido assuntos que tratem do Santa Cruz. Quem manda piadas, vídeos, aquelas mensagens tabacudas de bom dia e outras donzelices, é esculhambado e sumariamente excluído. Engraçado são os pedidos para que incluam a pessoa de volta. Mas o melhor desse grupo é que não existe os chatos de plantão, os que só criticam e sentem orgasmo ao reclamar. Quando aparece um desse, naturalmente é engolido pelo positivismo.
Lá, o lema é acreditar sempre. Na derrota ou na vitória, é Santa Cruz na cabeça.
Frases do tipo: “Torcer qualquer um torce. Fazer parte de uma história de superação e travar uma guerra a cada campeonato, é para poucos!”
Ou: “Vamos firme e forte fazer o que fazemos de melhor : apoiar nosso time! Sempre!”
São comuns no grupo dos cento e sessenta e oito.
Essa semana, mandaram uma foto bem legal. Era de uma bandeira com o escudo do Santa e o seguinte texto: meu amor por ti nunca será rebaixado.
Sou fã da turma do grupão. Pra mim o Santa Cruz é igual àquela bebida preferida. Vez por outra dá ressaca danada. Mas basta passar a dor de cabeça, que a gente já tá salivando pra tomar outra. Triiiiii!
Transparência, meus caros.
Meus amigos tricolores, transparência é um elemento essencial para qualquer governo, empresa ou instituição que se diga séria e competente. Trata-se de atitude administrativa voltada para objetivos específicos e claros, cientes de sua cultura e metas, bem como das dificuldades e possibilidades do mercado.
Tornou-se comum falar em portais da transparência. Estes expedientes digitais permitem que todos que estão envolvidos com a empresa, governo ou organização possam compreender o que está sendo feito em termos de gestão.
Gestão envolve um universo de coisas: finanças, economia, política, planejamento, marketing, etc. E com um time de futebol não é diferente. A grande diferença é que um clube, mesmo sendo uma empresa, é, antes de tudo, sua história e sua torcida. Trata-se de um elemento universal que se mostra no particular da História: a mudança do elenco, dos treinadores, da diretoria e da presidência. O universal é a alma do time.
Jorge Arranja leciona na mesma faculdade em que ensino. Vez ou outra batemos um papo rápido sobre o Santa Cruz.
“Jorge, perguntei, e essa ideia de vender o patrimônio do Santinha para resolver o passivo? É possível?”.
Na sua habitual calma, ele me respondeu:
“Há tantos impedimentos legais, um universo burocrático tão complexo que creio ser inviável. Além do mais, o terreno foi doação de caráter sócio-esportivo. Ou seja, a base do patrimônio possui destinação social”.
Conversando com Gerrá sobre os problemas do clube, ele sugeriu:
“Zeca, escreve sobre transparência. Muita gente está falando nisso. Ninguém sabe o que rola nos bastidores. É muito complicado”.
Um professor de educação física que trabalha, também, na mesma faculdade, me disse:
“E mesmo que fosse possível vender o Arruda, tu não achas que as traças de sempre apareceriam para lapidar esse ativo? Tu és louco?!”.
Hoje Tininho apareceu fazendo um mea culpa na imprensa. Falou o que já estamos cansados de saber: faltou planejamento, erro de contratações, situação financeira…
Um dos grandes problemas é essa falta crônica de transparência de nossos dirigentes aliada a uma total incapacidade de escutar sua torcida. E aqui gostaria de frisar; escutar os sócios. O nome já está dizendo: ei, eu sou teu sócio, me diz aí a verdade sobre o que estou pagando e, de lambuja, escuta aqui minhas sugestões sobre o que acho que deve ser feito para melhorar.
Defendo a mais ampla transparência dentro do Santa Cruz com a criação de dois portais: o primeiro que nos permita visualizar a nossa real situação e um segundo, mais democrático e simples,em que a Direção e a presidência possam ter acesso à opinião dos torcedores realmente preocupados com o clube. Loucura? Nada. São práticas adotadas por empresas japonesas. A Honda e a Toyota que o digam.
No caminho da concentração
Do local de treinamento até a concentração, um hotel de médio porte, a distância não é tanta. Mais ou menos, uns 15 quilômetros.
O trânsito é intenso. O ônibus segue lento e a viagem é meio enfadonha.
No banco de trás, com um fone de ouvido verde-escuro, o lateral-esquerdo ouve um rap e balança a cabeça. Na cadeira ao lado, o atacante curte umas postagens no facebook. E, um pouco a frente, o zagueiro tenta dar um cochilo.
O lateral direito olha a paisagem pela janela. Era uma galeguinha desfilando pela calçada. Ela vinha da academia. Ou ía. Vestia aquelas roupas coladinhas no corpo.
O lateral, depois de mais de um mês entregue ao DM, finalmente volta a concentrar.
— Será que tu vai pelo menos pro banco? – perguntou o atacante reseva.
— Sei lá! – respondeu o ala – quem deve saber é o professor Pardal!
Professor Pardal está no cantinho dele. O terceiro assento do lado direito. Do lado dele, o auxiliar técnico.
Ele tem um ritual. Sempre senta no mesmo lugar, sempre está com um livro na mão. Na maioria das vezes é de auto-ajuda ou algo referente ao futebol. Alguns atletas tiram sua onda e dizem que o professor finge que gosta de livro, mas o que ele aprecia mesmo é revista de pornografia. Revista de mulher nua.
— Punheteiro safado! – um deles diz.
Todos caem na gargalhada.
Pardal está sério. Parece estar bem compenetrado. Lê um livro de psicologia esportiva. “A construção do tipo “Jogador de Futebol” sob o olhar da psicologia social do esporte”.
O engarrafamento é de encher o saco. O segundo goleiro faz um batuque e tenta puxar um pagode. Ninguém acompanha.
Do nada, o professor se vira para seu auxiliar técnico e diz:
— Vou te fazer uma pergunta?
O auxiliar balança a cabeça feito uma lagartixa e espera a questão.
Pardal manda:
— Você seria capaz de amar uma mulher fora do seu casamento?
— Como assim? – indaga o auxiliar.
— Não entendeu? Tou perguntando se você seria capaz da amar uma mulher fora do seu casamento.
Uns segundos de silêncio e o auxiliar levanta diz:
— Mestre, ninguém é dono de ninguém. E essa coisa de amar é muito subjetiva. Objetivamente o que é amar? O que é amor? O que é paixão?
O treinador foi ficando com um semblante esquisito.
O auxiliar continuou:
— Sabe, eu até hoje não sei se gosto de mulher. O que tenho certeza é que gosto mesmo é de buceta, de peito, de beijo na boca. E tenho muito amor no meu sangue. Daí, vez por outra preciso fazer uma doação.
O auxiliar do técnico terminou sua explanação com uma gargalhada. Não percebeu que Pardal estava com o olhar fixo perdido pela janela. Professor Pardal começou a chorar.
— Mestre o que foi?
— Nada, nada – ele respondeu choromingando.
Alguns jogadores viram e a notícia logo se espalhou. A noite a greia entre os atletas foi grande.
O atacante perguntou pro zagueiro:
— Tu visse o professor chorando?
— Vi. O que terá sido?
— Sei lá. Aquilo é um doido.
O zagueiro arrematou:
— Só pode ser gaia…
Um Nostradamus, urgente!
Meus amigos tricolores, neste final de semana fui para um congresso de Filosofia e estava na casa de um grande amigo – Gustavo Pedrosa – na capital de São Paulo. Deu uma vontade danada de me mandar para Campinas, mas não dava. Pedrosa é o maior anfitrião do mundo. Cerveja importada, gastronomia de alto nível, um papo inteligente e divertido e um coração do tamanho do mundo.
Investidor por natureza, o único defeito deste grande amigo é ter nascido coisado. Pois é, ele torce pela Coisa. Estávamos em seu apartamento em Barra Funda e eu calculando os quilômetros para Campinas. Entre uma cerva e outra e meus cálculos, minha esposa sentencia:
“Você não vai de jeito nenhum”. Cara dominado da porra, eu pensei.
Estava difícil. Decidi ficar vendo os dois jogos ao mesmo tempo: o suplício do Santinha e a desgraça do Vitória que não marca um pênalti nem a pau. Pedrosa pontuava os resultados que iam despontando na 31ª rodada.
O cara compreende os meandros da vida administrativa e olha para o futebol com aquele olhar de expertise de quem entende tudo como um negócio. Olha para o futuro, calcula os erros do passado e aposta no talento e na criatividade no presente.
“Zeca, o teu Santinha deveria ter profissionalizado a Diretoria. Veja o exemplo da Chapecoense. Administração enxuta, visão de mercado, controle nos custos, contas equilibradas, salários em dia. Jogadores medianos… e seguem na Série A”.
Parecia comentador do SporTV. “E o que mais?”, perguntaria o outro comentador.
“O Flamengo está corrigindo administrativa e financeiramente os erros cometidos. Cortaram a folha de pagamento, visualizaram os gastos, trabalham com a prata da casa, investem na base. Lembra-se como estava um desastre o clube no inicio do Brasileirão? Remodelaram completamente a gestão. Estão apostando num projeto de dez, vinte anos”.
Era triste, mas era verdade. Já estou cansado de falar dos erros que cometemos neste segundo semestre de 2016. Não adianta mais chorar o leite derramado.
“A Ponte Preta, ele prosseguiu, fez um trabalho de estruturar o clube para alcançarem os 45 pontos e seguirem no próximo ano na elite. Tudo isso é fruto de visão de futuro”.
Quando Doriva jogou a toalha e reconheceu que a situação é irreversível, pensei nas análises de meu amigo e em tudo o que já foi exaustivamente discutido aqui neste venerável blog.
Precisamos de um Nostradamus urgente. Ou profissionalizamos o que tem que ser profissionalizado ou podemos amargar um futuro pior do que os tempos presentes.
Desci no Recife nesta segunda. A pior ressaca de todas: a falta de esperança.
Li os comentários dos leitores deste blog. Concordei com todos. E é verdade: deu uma vontade filha da puta de mandar tudo para a puta que pariu.
Mas meu coração é tricolor. Estarei lecionando quarta à noite, mas logo que sair da faculdade, ligo o rádio e continuo torcendo pelo Santinha. Ciente dos erros, da tragédia e de um futuro incerto.
O visionário que entende de futebol
A gente havia feito uma partida ridícula contra o América. O jogo foi na Casa dos Festejos e apenas empatamos. 0 a 0.
Dos mil e poucos torcedores que foram, uns voltaram para casa revoltados, outros descrentes. Todos, arretados da vida.
Cláudio, amigo meu que trabalha na Celpe, foi duro: vou te dizer uma coisa! Se for pra série A com esse time aí, a gente vai fazer vergonha!
Naquela ocasião, eu achei um tanto exagerado o comentário dele. Afinal, ainda era o mês de março. Faltava quase dois meses para, depois de 10 anos, a gente jogar de novo na primeira divisão do brasileiro.
Nesse intervalo, fomos campeões da Copa do Nordeste e Bi do Pernambucano. Festa do povão!
Cláudio foi para Campina Grande e viu de perto o Santa levantar a taça.
Uma semana depois, outra festa. Tomou todas comemorando o título do pernambucano.
Logo em seguida, mandou um zap para mim: “isso não é time para uma série A. E esse treinador tem prazo de validade”.
Não respondi. Apenas pensei: que bicho chato do caralho!
Estreamos no brasileiro. Às 11 horas da manhã, num Arruda pegando fogo, metemos 4 a 1 no Vitória.
Na sequencia, fomos jogar contra o Fluminense. Lá no Rio, arrancamos um empate de 2 a 2. Naquele jogo, nosso time acabou a partida com seis atacantes em campo. Na ilusão, um bocado de gente (inclusive eu), achou que definitivamente o Santa Cruz havia se tornado um time moderno. Exceto, Cláudio.
Voltamos para Recife. Santa Cruz x Cruzeiro. Quatro a um de novo. Grafite fez um golaço. O Tricolor do Arruda, o Clube Mais Querido, virou a sensação do campeonato, ao ponto de um comentarista da Sportv dizer que nosso time era o mais arrumado do Brasil. Fiz questão de enviar o link pra Cláudio.
Como se estivesse escrevendo um telegrama, ele respondeu: estamos bem. Ainda é cedo. Campeonato é longo. Reunião.
No sábado seguinte, encontro com ele. Marcamos pra tomar umas e ver o jogo contra a Chapecoense. Empate fora de casa. Se o campeonato acabasse ali, o Santa Cruz tava na libertadores.
Pedi uma rodada de chopp, mas o porra do Cláudio, mais frio do que um presunto no fundo do congelador, saiu com essa: “Gerrá, esse time tá enganando. O grupo é limitado. Se tirar os bons que estão no time titular, não tem quem entre. E esse treinador, além de doido, gosta de fazer ciência na equipe e expor jogador ao ridículo. Logo, logo, ele perde o grupo. Sei não….”.
“Meu irmão, tu parece aqueles caras que tá no meio de um churrasco e vem avisar que carne vermelha não faz bem pra saúde. Vai te fuder. Bora comemorar, porra!”, eu disse.
Gargalhamos e fizemos um brinde.
Naturalmente, me afastei da chatice dele. Evitei mensagens e não marquei mais para ver jogos.
Passaram-se rodadas, os outros times foram melhorando, o Santa Cruz começou a descer a ladeira em direção a seribê, trocamos de treinador, contratamos uns perronhas e a profecia de Cláudio foi se consumando.
No jogo contra o Palmeiras, encontrei com Cláudio. Antes que ele falasse qualquer coisa, eu me antecipei: “eu não sei se tu és um visionário ou se tu entende mesmo de futebol. Ou as duas coisas juntas. Puta-que-pariu, tu tava certo!”.
Ele começou a rir.
Assistimos ao jogo juntos. Bebendo Itaipava e conversando ameninades.
Só resta secar, professor!
Meus amigos tricolores, no meu prédio tem um porteiro que é um tricolor muito especial. Seu Luís já é um senhor de idade, mas é tão elétrico e alegre que posso dizer que seu espírito continua jovem. Sempre cumprimenta a todos com um largo sorriso. Fala de maneira espontânea, gesticula como um ator de teatro e sempre tem uma tirada sobre tudo.
“Professor, ele me disse depois do jogo contra o Palmeiras, o negócio tá feio pro Santinha”.
“Série B à vista, Seu Luís”, respondi.
“Pois é. Também, com salário atrasado e com tanto jogador ruim… só podia dar nisso”.
“O senhor tem toda razão. Esse time está de lascar mesmo”.
“Pois é, professor. Só resta secar a Coisa para que eles desçam com a gente. Alegria de pobre é assim mesmo”.
Ri do comentário de Seu Luís e fiquei matutando sobre essas possibilidades.
A Coisa tem 33 contra 31 da Figueirense e vai pegar hoje o São Paulo que está na briga direta por pontos. A Figueirense pega o Botafogo que está brigando entre os dez. O Inter pega o Coritiba que ainda respira com 36 pontos. O Cruzeiro pega a Ponte que está um pouco acima na tabela. Pois é, o negócio está embolado. Mas vale a pena seguir o conselho de Seu Luís.
Para complicar tudo, o Santinha pega o Flamengo que está mais virado do que menino em festa de aniversário. Porém, domingo irei me preparar para tomar umas cervas e ver meu time jogando. Futebol é uma paixão doida mesmo.
Gerrá, ao ouvir meu comentário sobre Seu Luís, tirou a maior onda:
“Torcer, então, para que o Flamengo seja hepta”.
Rir para não chorar.
“Professor, disse Seu Luís, vai cair tudinho. Não vai ficar um. E nem Givanildo vai salvar as barbies”.
A velha e boa rivalidade futebolística em seu mais puro estilo recifense.
Hoje, ao sair para dar aula, Seu Luís veio me recepcionar:
“Vai torcer para o São Paulo hoje?”.
“Mas é claro”, respondi.
“Tem que secar mesmo, professor. E futebol é assim mesmo: bola pra frente”.
Ele fez um gesto como se jogasse uma bola imaginária no ar e soltou o seu grande sorriso.
Crônica de uma morte anunciada.
Meus amigos tricolores, aquele gol aos 30 segundos contra a Figueirense no último domingo decretou o início de um fim que tentamos negar a todo custo. E agora, com essa estranha eliminação da Sul-Americana, uma nuvem de desistência, amargor e ira parece se abater sobre nossa torcida.
Digo estranha porque jogamos muito bem, ganhamos… mas perdemos no primeiro jogo. Todo tricolor deve estar se perguntando: Por que danado Doriva não levou Keno, JP e Léo Moura para Medelín?
Em ambos os casos – Série A e Sula-Americana – temos essa sensação de algo premeditado.
Mas o que conduziu a esta crônica de uma morte anunciada? Penso que podemos elencar alguns pontos para debate.
1. A autonomia excessiva de uma diretoria que tomou decisões equivocadas ao longo de todo o segundo semestre de 2016. Mais autônoma do que a própria presidência. Acertou muito antes, mas errou muito depois.
2. Um presidente que ama o clube e que penhora parte de seus bens para manter a máquina andando parece indicar problemas mais profundos. Esse passivo crônico, histórico e imenso do Santa Cruz deve ser tratado por especialistas em finanças. Não basta a expertise de advogados apenas. E isso a partir de uma política voltada para um futuro promissor.
3. Causa e efeito. Jogadores com dois ou três meses de salário atrasado e funcionários que chegam a quatro ou cinco meses sem ver a cor do dinheiro. Por mais que o administrador conheça teóricos como Peter Drucker, Senge ou Lencioni, não tem como fazer milagres.
4. É preciso uma análise sociológica e econômica sobre o afastamento da torcida tricolor do Arruda. Da mais apaixonada do Brasil, passamos a ser a mais resmungona e ausente. Crise internacional e nacional que afeta o nosso bolso diretamente. Será que o excesso de jogos da Série A impede que um torcedor de pouca renda compareça ao estádio? Parece bem plausível.
5. Contratações tão ruins que indicam um total despreparo – quando se trata de análise futebolística – por parte daqueles que possuem o poder de decidir. E não escutar, ainda por cima, o apelo da torcida.
6. Uma zaga sofrível em todos os sentidos. Um corredor imenso na lateral esquerda que culminou com gols absurdamente ridículos. Escutei torcedores dizendo que estavam com saudade de Tiago Costa.
7. Por falar em gols ridículos, ainda continuo sem entender como Tiago Cardoso não foi parar no banco na Série A. Desde aquele frango contra o Fluminense no Arruda que seu desempenho é tão ambíguo que chega a assustar. O cara faz defesas espetaculares contra a coisa no primeiro tempo e descamba num espetáculo grotesco de erros no segundo. Os dois últimos gols contra a Figueirense foram lastimáveis. Nem goleiro bêbo e barrigudo de pelada.
8. A demora em mandar embora um técnico que se mostrou lunático. E a contratação de outro que parece zombar de onde trabalha ou, o que espero ser a verdade, desconhecer esta realidade em sua amplitude.
9. Cotas que nunca se realizaram em sua inteireza. Novamente, o passivo assombrando nosso presente.
10. Por fim, a questão do Arruda. A mais complexa de todas. Algo como se a UFPE decidisse vender o prédio do curso de Direito do centro do Recife ou como se a Igreja Católica decidisse vender a Igreja da Santa Cruz ou como se pudéssemos modernizar todo o Recife Antigo, acabando com o velho casario histórico. Identidade se constrói com História. Ainda mais, Samarone me chamou a atenção para uma coisa séria: qual presidente teria coragem de assinar a venda? Só penso naqueles torcedores que roubavam tijolos para construir o Arruda. A venda é solução de fato? A única?
Mais do que pontos acabados ou definitivos, creio que estes itens – e todos os que são relevantes e aqui não listados – valem para uma discussão séria sobre nosso amado Santinha.
Seria bom que aqueles que possuem o poder de decidir fossem mais humildes para escutar sua torcida.
Hoje, eu vou é pro Arruda.
Ivonaldo, o cara da xerox, vem me dizendo o tempo todo: “dotô, é outra competição. É outro jogo. Vá por mim!”
Eu não sei de onde Ivonaldo tirou a ideia que eu sou doutor. Nunca fiz doutorado, não sou médico e nem advogado.
De segunda-feira pra cá, o negro Ivonaldo tem dado uma injeção de otimismo nos tricolores corais santacruzenses da repartição.
Mesmo depois de tanta lapada na seriá, o negro Ivonaldo tem suas razões para acreditar tanto.
— Dotô, quando a gente menos espera, a cobra levanta e dá o bote.
Balancei a cabeça concordando.
— Série A é uma coisa. Essa Sulamericana é outra!
Concordei também.
— Dotô, é como se o cabra tivesse duas mulher. Se ele broxa com uma, não quer dizer que ele vai farrapar com a outra. Pelo contrário, aí é que o camarada quer mostrar serviço.
Dei uma gargalhada e concordei mais uma vez.
— E sabe de uma coisa? Hoje quem não tiver pensamento positivo e não quiser apoiar os noventa minutos, é melhor ficar em casa vendo pela televisão ou escutando pelo rádio. Quero lá saber de jogador, treinador, diretor, essas porras. Eu sou é Santa Cruz.
Apertei a mão de Ivonaldo e dei uma ajuda para ele comprar o ingresso. Hoje, eu vou é pro Arruda.
Rafael, 5 anos de amor e paixão pelo Santa Cruz
Quando a gente perde de maneira vergonhosa, me bate um misto de raiva, tristeza, baixo astral e irritação.
Ontem foi de um jeito que até me esqueci da temática do aniversário de Rafa. A fihca só caiu, quando vi a primeira dama e minhas filhotas devidamente uniformizadas. “Oxente, é pra ir com a camisa do Santa Cruz?”
Nem precisou de resposta, vesti minha camisa e nos mandamos pra festa.
Seguimos para um campinho society em Campo Grande.
No banco de trás, as meninas riam da minha briga com o GPS.
“A 200 metros, vire à direita”.
“Virar à direita? Viro nada. Eu vou é em frente”.
No percurso, o Estádio do Arruda embeleza a paisagem.
Comentei com Alessandra sobre a mobilização que vários músicos estão fazendo para o jogo da quarta-feira pela Sulamericana. Estão montando o Orquestrão Tricolor. Já são mais de cem músicos confirmados.
“No dia que esse Santa Cruz acordar, ninguém segura ele. São poucos os clubes que tem a nossa força”, ela disse.
As meninas disseram que estavam com saudades do Arruda.
O GPS indicou para virar a esquerda e logo em seguida virar à direita. Eu segui em frente e virei à esquerda. Chegamos à festa. Até o porteiro do campo society estava vestido do Santa Cruz. Era Daniel, que também é porteiro do colégio de Rafa e das minhas meninas.
Qualquer dia, eu escrevo sobre Daniel. Sempre que a gente vence, silenciosamente ele tira a sua onda. Bota a camisa do Santa Cruz por baixo da farda e recebe todos com o mesmo sorriso de sempre e o mesmo bom dia. É impressionante a capacidade que Daniel tem de saber o nome de todos os alunos.
A mesa da festinha de Rafa tava uma beleza. O Santa Cruz em todos os lugares. O painel, as camisas que Refael tem do Santa Cruz. Desde a primeira roupinha até a de hoje.
O gramado estava quarado de pirralhos. Meninos e meninas jogando futebol, pula-pula, piscina de bolas e brincadeiras. Uma farra.
Lá pras tantas, um telão mostrando imagens de Rafael. Nos jogos, nos treinos, com jogadores. Néris, Grafite e outros gravaram mensagens pro aniversariante.
Acho que tinha umas oitenta crianças. Um bocado do Santa Cruz, outros da turma da Abdias e dois da barbie, a prima de Rafa e um amiguinho dele.
Coisa linda o aniversário de Rafael. Futebol no seu mais belo formato. Sem preconceito de cor, sexo ou camisa.