O velho espírito latino.

Nós somos, antes de tudo, latinos. Nossos antepassados possuem um pé lá na Roma Antiga. Latino designa tanto o povo romano como sua cultura. Falavam o latim que seria o idioma a partir do qual surgem o português, o espanhol, o francês e o italiano.
Mas os romanos possuíam algumas características essenciais: eram conquistadores, guerreiros por natureza, desbravadores, destemidos e disciplinados. O exército romano ficou famoso por sua ferocidade e poder.
O povo romano seria a torcida, os espectadores que gritam, xingam e brigam por seus direitos. Dependem das decisões de seus líderes, mas vibram pela vitória do império.
Roma era governada pelo Imperador. Seria como o presidente de um time de futebol. Ele decidia as grandes estratégias em linhas gerais que seriam seguidas. O senado poderia representar os diretores e a equipe técnica. Os senadores debatiam as melhores ações para Roma.
Mas Roma dependia de seus guerreiros. O general seria algo como o técnico. É aquele que conhece seus comandados e é respeitado e amado por eles. Executa no campo de batalha – ou campo de futebol – as estratégias antes estabelecidas. Analisa as fraquezas e virtudes de seus inimigos antes de decidir atacar.
Os legionários eram os soldados que enfrentavam a morte no campo de batalha. Seriam os jogadores numa partida de futebol. A legião romana era formada por três tipos de soldados – ou ataque, meio de campo e defesa. Eram os hastados, os príncipes e os triários. Defesa e ataque deveriam estar sincronizados para obterem sucesso nas batalhas e na guerra.
O Santa Cruz é muito latino. Não apenas porque estamos na Sul-Americana, mas por sermos uma nação. Uma nação com esse sangue latino antigo: somos guerreiros, destemidos e acreditamos sempre. Perdemos a batalha de Medelín, mas não a guerra. Infelizmente, vem sendo recorrente o desentendimento entre nossa força de ataque e nossa defesa. O Santa Cruz é latino por ser essa tradução viva de batalhas e guerras contínuas.
Neste domingo que se aproxima teremos mais uma batalha. O inimigo, o Figueirense, é nosso adversário direto na briga pela permanência na elite guerreira. O campo de batalha, o Orlando Scarpelli, será palco de uma batalha aguerrida e sangrenta.
Torcer para que o general Doriva entenda que já está na hora de fazer um milagre estratégico e bélico para acabar com os erros infantis de nossa defesa. Basta de levar gols nos finais das partidas. É preciso exigir atenção.
Torcer para que o nosso ataque continue mantendo a média de gols. É preciso atacar e destruir – no bom sentido – para se ganhar a batalha.
Como diz Gerrá, somos uma nação santacruzense das bandas do Arruda. Somos latinos e guerreiros. Mas somos o povo. É nosso dever gritar, xingar, apoiar e lutar pelos nossos direitos. E o direito de todo tricolor é a vitória.
Como diriam os romanos: Anceps fortuna belli. (A sorte da guerra é incerta). Por isso a necessidade da luta.
Luta sempre. Até o fim.

Recife-São Paulo-Bogotá-Medellin

Mal acabou o jogo, aquele no qual eliminamos a turma da Abdias da Sulamericana, Gustavo e Leo compraram suas passagens para Medellin. Nem sabiam se o nosso adversário nas oitavas de final seria o time de Pablo Escobar.

Beto e Osmar preferiram esperar pelo jogo da volta entre o Luqueño e o Independiente. Depois do apito final, correram para o computador e marcaram suas viagens.

Ano passado, esses quatro cabras também estiveram presentes naquele inesquecível  jogo contra o Botafogo no Rio de Janeiro e trouxeram a vitória, 3 a 0 pra nós.

Ontem, eles arrumaram as malas e se mandaram pra Colômbia.

A aventura começou logo cedo. Recife-São Paulo-Bogotá-Medellin.

Às 14h30 da tarde estavam em São Paulo.

Por volta das 18h30, pegaram o voo para Bogotá.

E às 22h30, embarcaram para Medellin.

Entre despachar, pegar bagagens, subir e descer, umas quinze horas para chegar onde o Santa Cruz estar. Para passar o tempo, cerveja, petiscos, cerveja, petiscos e mais cerveja. Em Bogotá devem ter enchido a cara de Club Colombia.

Perto de uma hora da madrugada, o quarteto tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda, chegou ao hotel.

“Gerrá, pense numa aventura!” – falou Beto pelo zap.

“A viagem?” – eu perguntei.

“A viagem foi boa. A ida do aeroporto para o hotel é que foi doideira” – ele respondeu.

Capital da Antioquia, Medellín é uma cidade que fica localizada dentro de um vale, o “Valle de Aburrá” – ele respondeu.

O aeroporto de lá fica numa cidade vizinha, Rionegro.

Rionegro está a 2.143 metros de altitude. Já Medellin está 1.616 metros acima do nível do mar.

Pois bem, o sujeito precisa descer uns 500 metros para chegar à capital da província de Antioquia.

Ao invés de Uber, o quarteto decidiu pegar um táxi.

Logo que saíram do aeroporto repararam que o taxista estava bocejando e enfiando o pé no acelerador.

E aí, começaram as superdosagens de adrenalina.

“Meu velho, pense numa torada! A parte aérea foi tranquila. Só que o Aeroporto daqui fica longe pra caralho. E parece que fica no céu. Você tem que descer por uma estrada cheia de curvas perigosa. Puta-que-pariu, só na base do calmante. O taxista era um maluco. Foi foda!” – mandou, Leo.

“Lembramos daquelas tomadas aéreas que está na abertura de Narcos, com a vista da cidade dentro do Vale. Em vários momentos do trajeto, vimos aquilo.” – escreveu, Osmar.

“Rapaz, eu algo equivalente a quatro descidas do Cristo Redentor. A porra do motorista tava com sono. O doido fazia as curvas quase batendo na mureta de segurança. Já no fim, ele deu uma cochilada e Osmar deu um grito: TRIIIII! O cara tomou um susto do caralho, deu uma puxada na direção. Quase que a gente sobrava na curva”. – Beto enviou.

Hoje à tarde, os quatro vestiram o manto coral, compraram o seus ingressos e garantiram presença no Atanasio Girardot.

Medellin, aí vamos nós

Quando eu conto a algumas pessoas que certa vez, a gente saiu do Poço com 17 pessoas na Kombi Coral e fomos tocando forró dentro dela, a galera acha que é conversa mole. Na época que não havia bafômetro para atrapalhar nossas idas aos jogos do Santa Cruz, por várias vezes chegamos ao Arruda com umas vinte pessoas dentro da Kombi Coral. Comandada por Naná, a valente Kombi dava carona a todos que encontrasse no percurso. “Ei, tás indo pro Arruda? Bora, entra aí”

Uísque, cerveja e Pitú era nosso principal combustível.

Desde sábado que ligam pra mim ou me mandam mensagem querendo saber noticias da Kombi Coral.

Tenho tentado falar com Naná, mas não está fácil. Normalmente está dando fora de área e o gordinho não usa celular moderno. Acho que o aparelho dele nem tira foto. Wi-fi, nem pensar.

Ontem, ao final da tarde, consegui fazer contato com Peito de Pombo. Peito passou pra Naná.

Os caras estavam num astral altíssimo. E pelo visto, está tudo tranquilo e calmo.

Só sei que na próxima quarta-feira, enfrentaremos nosso primeiro jogo internacional pela Sulamericana. Infelizmente não pude ir nessa aventura.

Mas estou deveras confiante.

Na última quarta, vi o jogo do tal Independiente contra o Luqueño. Falto pouco para o nosso adversário ser do Paraguai. Meterem dois gols no primeiro tempo. Se fazem mais um na segunda etapa, iriam decidir na disputa por pênaltis. Até torci pelo Luqueño. Caso eles passassem pras oitavas, seria bem menos cansativo pra nós. Nosso time não precisaria viajar tantas horas de avião.

Mas deu o Independiente de Medellin.

Um time que não tem nada de mais. O goleiro é bem pior do que Thiago Cardoso nas saídas por cima. A defesa é lenta e o ataque trombador.

No último domingo, conta o modesto Jaguares de Córdoba,  eles apenas conseguiram empatar de um a um.

Tenho pra mim que se o Santa Cruz tiver consciência que está disputando uma Sulamericana, que nesses jogos é pé no bucho e mão na cara e que ninguém marca falta besta, a gente sai de lá com um resultado bom. Em jogo desse nível, vale muito mais a raça do que a técnica.

É encarar o inimigo e mandar um sonoro “hijo de puta”.

Eu sei que, mesmo que a gente não traga a vitória, vou ter inveja dessa turma que foi. Fico imaginando a farra, a cachaça, a tiração de onda.

Nessas horas, confesso que fico com uma inveja boa danada de quem pode foi.

 

Coluna dois.

Meu pai costumava dizer que a sexta-feira era um dia arretado. Ele saía do trabalho ao meio dia e ia direto para Dona Mira, lá em Casa Amarela, tomar todas.
Mas ele reclamava dos domingos:
“Quando toca essa música do Fantástico, dá uma dor no coração”.
Me lembro quando assistíamos ao resultado da Loteria. Léo Batista aparecia dizendo os placares dos jogos. De repente, aparecia uma porra de uma zebra falando:
“Coluna dois. Deu zebra… deu zebra… deu zebra..”.
Aprendi muito com meu pai. Não leciono na segunda pela manhã. Apenas à noite. Assim, neste domingo, poderei tomar todas sem me estressar com a segunda de manhã.
Vou deixar a feijoada já preparada e a cerveja gelando. Os trabalhos começarão com os amigos e a torcida por uma vitória quase impossível. Para ajudar na esperança, a lembrança de que Doriva foi o último a ganhar do Peixe no Pacaembu. Mas o nervosismo é grande.
Liguei para Gerrá:
“E aí, vais escrever algo para o Blog do Santinha antes do jogo de domingo?”
“Nada, ele disse, vou escrever para a Sula. Vai ser vitória fácil. Escreve tu. Desse uma sorte danada no último jogo”.
Caímos na gargalhada.
Como torcedor é um bicho meio maluco, fiquei viajando nesse jogo e pensando numa vitória sofrida de um a zero. O último gol do General me fez tomar consciência do que é ser, realmente, tricolor. E não é que acendeu ainda mais a esperança. Vai entender.
No meio do jogo já devo estar bêbado. Mas um bêbado consciente. O Santa Cruz deixa o cara eletrizado, é impressionante. Assim, já estou visualizando o resultado final: Santos 0 x 1 Santa Cruz.
Iremos tomar a saideira para celebrar a vitória. A ressaca da segunda-feira vai ser matadora. Mas tudo vai ter valido a pena. Milagres – ou seja lá o que for – acontecem.
Como costumam repetir os católicos: credo quia absurdum est. Acredito porque é absurdo. Eu disse, torcedor é um bicho maluco mesmo.
No final do domingo, a porra da zebra vai aparecer dizendo mais uma vez:
“Coluna dois. Deu zebra… deu zebra… deu zebra..”.
Que assim seja!

Canja de galinha e um pouco de razão não faz mal a ninguém.

O Renascimento foi um movimento intelectual europeu do século XIV que defendia a ciência e a razão como modelos de ação humana. Daí é que surgiram Da Vinci e Descartes. Estas ideias influenciaram o Iluminismo e as Revoluções Americanas e Francesas.
O Iluminismo era ainda mais radical. Só a razão poderia libertar o homem de sua ignorância, da superstição sufocadora, das crenças infundadas. Voltaire defendia a racionalidade com unhas e dentes.
Mas o futebol insiste em manter o espírito medieval da superstição, mística e ignorância. Entretanto, não adianta patuá, mandinga, reza braba, usar a camisa da sorte no dia do jogo, fazer promessa ou rezar o terço. Diante da incompetência, ruindade e falta de garra, só a razão para dar conta.
Bem que eu queria acreditar que Gerrá dá uma sorte arretada ao Santa Cruz quando escreve neste venerável blog antes de cada partida. Se assim o fosse, seríamos campeões do Brasileirão, da Libertadores e do Mundo. Mas este blog não possui linhas mágicas. A magia medieval não funciona. Mas quem tem culpa de tanta ruindade?
O jogo deste domingo me deu uma vontade danada de mandar para aquele lugar a presidência, a diretoria, comissão técnica, jogadores e a porra toda. Sigo aquela ideia do velho Ariano Suassuna: o bom mesmo é ser um realista esperançoso. Mas a esperança também cansa. Não joguei a toalha ainda – cara insistente da porra – mas estou puto da vida e de saco cheio com tanta grossura. Ainda bem que raiva passa.
Entendo que apenas a razão pode explicar a realidade. Em futebol, meus amigos, mística não dá competência, qualidade e resultados. Trata-se de uma questão de administração racional, baseada em análise e escolhas acertadas – e não decididas pelos astros ou por rituais misteriosos. (Só lembrei agora daquela besteira do boi da coisa).

O domingo conseguiu ficar ainda mais medieval com as barbáries das organizadas. Quando será que o MP e os governantes vão adotar a postura da Inglaterra em relação aos seus Hooligans? Dá até medo ir para um estádio que você sabe que vai se transformar num campo de batalha.

Quarta-feira teremos mais um capítulo desta via crucis. Esperar que a ressurreição ocorra, porque neste domingo, como disse meu amigo Samarone, “foi coice e queda”. A esperança cansa, mas também é a última a morrer.

Por enquanto, vou parafraseando Jorge Ben e receitando um pouco de canja de galinha e racionalidade para essas mentes medievais. Não faz mal a ninguém.

O Santa Cruz e seus perronhas

Desde domingo á noite que abro a página do word para escrever algo para esse Blog.

Comecei digitando sobre a solidariedade dos meus amigos tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda.

Primeiro foi Marconi. Mandou um zap. Logo em seguida Inácio telefonou. Depois Flávio Lins ligou. Todos perguntando se eu iria. Uns oferecendo carona. Até ingresso queriam me dar. Mas eu já havia me desprogramado e não fui. Ir para aquele fim de mundo precisa de toda uma logística.

Tentei fazer uma crônica sobre isto, mas travei e não saiu mais de dois parágrafos.

Pensei em falar sobre a partida. Mas, aí era impossível. Não assisti, nem ouvi. Acompanhei a peleja por mensagens de amigos do zap-zap. Até procurei Ivonaldo, o cara da xerox. Ele havia me dito que iria para Arena. Estava bem confiante. Mas o negão tinha saído pra fazer uns trabalhos de rua e fiquei sem a resenha dele.

Me veio outro assunto. Batucar umas linhas que falassem da nossa limitação técnica, das contratações erradas, dos buracos do gramado do Arruda, essas coisas. Mas iria ficar repetitivo. Iria chover no molhado.

Não sei vocês, mas quando o Santa Cruz se dá mal, bate uma morgação daquelas. Parece que até o otimismo de Zeca, o filósofo da Boa Vista, morgou também. E mais, minha esperança já está ficando cansada. Por mais que eu tente reanimá-la, ela insiste em ficar de baixo astral.

Corri para ver os melhores momentos da partida. Aí veio uma mistura de tristeza e raiva.

Tínhamos tudo para vencer. Mas o que estraga o futebol é a burrice e ruindade de uns miseráveis que por alguma sorte na vida conseguiram se transformar em atleta profissional.

Meus nobres, quando vi o lance do penalti,  só me veio a vontade de escrever sobre esses perronhas que insistem em jogar bola e nos encharcar de ódio. Seria capaz de fazer um livro. O título podia ser “A ruindade nos gramados” ou “Jogadores que eu mandaria para puta que pariu”.  Em cada capítulo, eu contaria a história dos vários pernas de pau que já passaram no Santa Cruz.

Destinaria um capítulo para falar sobre Danilo Pires.

 

 

Soy loco por ti Sul-Americana.

Na minha última postagem, escrevi que o jogo do Santa Cruz contra a coisa pela Sul-Americana poderia mudar o lado de nosso disco. E não é que isso realmente aconteceu?! A Banda de Chico Buarque começou a tocar a plenos pulmões. E melhor: a banda veio passando o rodo, dando rasteira, tapa na cara e metendo o dedo no fiofó da leoa.
O presidente da cachorrita de peluquera – como chamou Gerrá- deu a louca e desandou a falar besteira. O choro é livre, garota.
Meus discos, interessantemente, começaram a tocar versões diferentes:
“Soy loco por ti Sul-Americana… soy loco por ti Santa Cruz”.
“Vai minha alegria e diz pra ela.. que eu vou pra Medelín”.
“Alegria não tem fim… o Santinha me deixou assim”.
É muita felicidade. O ânimo da torcida agora é outro. Mas acredito que estamos no ponto zero, no ponto de mutação. Temos três jogos pela frente para reverter completamente nossa situação.
Porém, duas coisas serão necessárias: a garra dos jogadores e a presença da torcida. Como sou torcedor, tenho que torcer para que o espírito de guerreiro de nossos jogadores retorne com força total.
Mas também acredito que deveríamos fazer uma campanha: leve um amigo tricolor com você ao Mundão do Arruda. Chamar aquele velho amigo tricolor que há muito tempo não vai ao estádio. Já tenho confirmada a presença de três amigos que irão comigo ao jogo da Chapecoense no feriado. Um se transformou em quatro.
É preciso que a torcida mais apaixonada do Brasil volte a ser a torcida mais apaixonada do Brasil. Basta querermos… e convidar nossos amigos tricolores para lotarmos o Arruda, gritar e incentivar nosso Santinha. Nosso combustível será a doce lembrança de que despachamos a leoa no Campeonato Pernambucano, na Copa do Nordeste e na Sul-Americana. Não pode ter incentivo melhor do que esse.
Por aqui, comprei um estoque da cerveja Sul Americana. Deu uma sorte danada no último jogo.
E repetirei sempre: eu acredito no Santinha e não desisto nunca porque sou tricolor de corpo e alma e serei sempre de coração.

Porqué soy TRI…

Porque soy TRI. Soy TRI. Eliminamos lo leon. Soy tricolor en cabieza.

Mis amigos, és como dije lo cara de la xerox: Sulamericana és otra cosa. E las leonas se cagan cuando ver la cobrita. Elles arriban el rabo, si. Cambian una gatita. Una cachorrita de peluquera.

És pra se fuder, carajo. Aguera la gente lhega. És ganar de la chapecoense e despues empurriar la cachorrita para zeuna de rebajamiento. E yo quiero que seja en la ija da fantasia. En la nuestra casa de los festejos. Mas se quisieren, pueden levar para puta que los pariu, que la gente gana de las leonas.

Se non tiemos qualidade, és no grito e na raça. Porque acá, mi viejo, és cobra corale, carajo.

Que se fueda lo resto, yo soy Santa Cruces.

El Cabrón, mi hijo, donde estás? Vamos nessa.

– Chica, por favor, una cerveja! Si, claro. Santa Cruces, la cobrita de Arruda!

La Sulamérica nos espiera!

E pra non esquiecer: hey ixport, bá tomar no culo!

O cara da xerox

Toda vez que encontro com Ivonaldo, o cara da xerox,sou puxado para uma conversa. Na maioria das vezes, ele fala por nós dois.

Gente boa, ele é da turma que era frequentadora assídua do Todos com a Nota. Sempre que posso, dou um ingresso a ele.

No nosso papo é sempre música, política e futebol. Futebol não, o Santa Cruz, é claro. Tem uma frase dele que guardo comigo:

“A torcida só incentiva o time, se ele incentivar ela”.

Esbarrei com Ivonaldo no corredor do segundo andar. O cabra estava  com uma raridade nas mãos: o LP “Beijoqueiro do Amor”, de Paulo Márcio.

Me mostrou o disco, perguntou se eu conhecia.  E cantarolou:

“Oh, oh, sou beijoqueiro do amor/ Oh, oh, eu beijo mais que um beija-flor”

— Esse é fera – ele disse.

Eu concordei.

Começamos a falar do Santa Cruz. A decepção, a esperança, nossas chances, etc e tal.

— Sabe a Ponte Preta? O Centro de Treinamento deles só tem dois campos oficiais! – ele falou.

Confessei que não sabia.

— A Chapecoense tem CT! – afirmou Ivonaldo.

Perguntei se ele tava fazendo alguma monografia sobre centros de treinamento. Ele riu.

Pegamos o elevador. No andar de baixo, entrou uma coisa linda. Ivonaldo se calou um pouco.

Quando chegou ao térreo, o cara da xerox pegou no meu braço e mandou:

— Vou lhe dizer uma coisa. Pra fazer gol, só tem o Grafite. Ele já é nego véio. A turma achava que Negão ía tá iluminado do começo ao fim do campeonato. Inxiste isso?

E continuou a falação:

— A torcida?  Tem culpa, não. E é a gente que contrata, é? Quem contrata é o diretor e o treinador.

— Trouxeram cada desgraça pior do que a outra. Aquele Roberto, o tal do Bolañus, esse Marion… são ruim que dói.

— E Lelê? E o General? E Allan Vieira? Essas pestes é tudo jogador de seribê.

— E aquele Marcinho? O cabra veio somente pra fazer regime.

— A turma pensa que Seriá é Seribê. É não. É diferente. E né por nada não, esse time aí, se tivesse na seribê tava dando raiva. Olhe, sei não…

Concordei com tudo. Me despedi e perguntei se ele já havia jogado a toalha.

— Não. Oxente, só jogo a tolha quando a matemática provar que não dá mais pra gente se livrar.

E concluiu:

— Sim, essa Sulamericana tem nada a ver com seriá. E eles tem um medo arretado da gente.

Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu.

Assistir a uma partida de futebol sozinho em frente à TV é uma coisa esquisita. Explicar-me-ei. Passei o sábado tomando todas com alguns amigos. Fui dormir pra lá de bêbado. Assim, no domingo, acordei assustado, sem entender o que estava acontecendo. Olhei no relógio: 10 e 50.
“Eita porra, o jogo do Santinha!”.
Dei um salto da cama, tomei um banho voando e liguei a TV no início da partida. Não tive tempo de falar com ninguém e quem tentou se comunicar comigo deve ter percebido que meu celular estava descarregado ou que eu tinha morrido – até parecia que eu sabia que iria protagonizar naquele dia a célebre afirmação de Chico Buarque:
“Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”.
O estranho de assistir ao jogo sozinho é que o cara fica discutindo consigo mesmo, berrando para ouvidos imaginários, querendo que a bola entre num passe de mágica na meta do adversário. Até parece que a TV vai ouvir seus apelos e o gol redentor vai sair. Que nada. Cambada de surdos.
E o pior: eu estava de ressaca, sem cerveja, nervoso e sem esperança algum de beber até o fim do jogo. Por isso estou escrevendo estas linhas ainda sóbrio. Incrível.
Mas, novamente, não é que o Santa Cruz jogou bem no primeiro tempo. O que me surpreendeu foi o acerto tático da zaga.
“Isso é inacreditável”, disse para mim mesmo.
E se não fosse aquele travessão filho da puta, o negócio teria sido bem diferente. Mas o segundo tempo… ah, o segundo tempo, meus amigos. Dois gols em dez minutos. Apagão geral, erros infantis e a desesperança tomando conta.
O jogo acabou e liguei para alguns amigos:
“Vamos tomar uma que o dia hoje não começou bem”.
Vou sair agora para me embriagar, porque o mundo ficou muito pesado. Mas sou tricolor de corpo e alma e só jogo a toalha no final do final. Cara insistente da porra. Pois é, meus amigos. Pois é.
Liguei para Gerrá para saber se ele iria escrever sobre esta partida.
“Rapaz, estou pensando em escrever sobre uma receita de bolo”.
Mais um com o espírito de Chico Buarque na alma.
Torcer para que a Sul-americana nos permita mudar o lado do disco e que a música seja outra:
“A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor”.