Nossa sorte é a ruindade dos outros

Eu não sei o que danado ainda me faz sair, para assistir a um jogo do Santa Cruz. Só pode ser algum tipo de esperança maluca, sem juízo nenhum, que me leva a telefonar para amigos, mandar mensagens, apressar a janta das filhas e enfrentar os engarrafamentos das ruas do Recife, para ver o já esperado futebol bizarro que o nosso time joga.

Ontem o que salvou a noite foi o caldinho, a cerveja gelada, o bode assado com macaxeira e o bom papo sobre política que tive com o diretor de fantasias da Troça Minha Cobra, Esequias Pierre.

O Santa Cruz atual é formado por um amontoado de péssimos peladeiros, comandados por um atordoado entregador de camisas que escala mal, substitui pior ainda e não fala nada com nada. Um sujeito pra lá de esquisito.

Não sei se por burrice, mas não consigo compreender praticamente nada do que essa figura de cabelo estilo dupla sertaneja dos anos oitenta tenta falar.

Leio, releio, leio de novo, olho outra vez,  e não entendo bulhufas do que é dito por ele. É provável que nem mesmo ele saiba o que está falando.

Pode ser que seja intencional. Ou então, é pura maluquice. Vai ver que ele só da entrevista doidão.

Enfim, seja lá o que for, tenho pra mim que este treinador é o maior gerador de lero-lero que já passou pelas Repúblicas Independentes do Arruda.

Se alguém lembrar de outro, favor compartilhar nos comentários.

Puxando aqui nos meus arquivos, encontro uma entrevista dele depois de mais uma vergonhosa eliminação na Copa do Brasil. Sobre o nosso time, Sérgio Lero disse assim:

“Nossa equipe é capaz e precisamos de uma transposição de categoria. Vamos nos reorganizar e reconstruir o time. Espero que eles assimilem bem e que a gente continue persistindo, pois o caminho é esse. A nossa função é de respaldo para os jogadores e queremos proteção”.

Transposição!(?). Em toda entrevista, ele fala nessa tal de transposição.

Não sei vocês, mas eu gostaria mesmo era de ver, esse enrolão sendo transportado daqui para outro lugar. De preferência para algum adversário nosso.

Fosse mais perto, a gente levava ele e jogava dentro do Rio São Francisco.

Ontem, após a horrível apresentação, Sérgio Enrolão Gudes saiu com essa:

“Colocamos o futebol para fazer a transição e a equipe deles se ajustou. Colocamos o time de uma maneira ofensiva demais e começamos a jogar de costas. Tivemos que mudar para alterar o panorama.”

Se alguém entendeu isto aí, por favor me ajude. Pois, não fica claro pra mim o que é que Ségio Guedes quer dizer. Anotei em um papel e aproveitei a hora do almoço para mostrar a alguns amigos. Não chegamos a conclusão nenhuma sobre essa fala. Aproveitamos para fazer piadas e gargalhar.

É, meus senhores, só tirando onda mesmo, pra aguentar esse treinador e sua equipe.

Nossa sorte é que os concorrentes são tão ruins quanto nós.

Ontem, por exemplo, se tínhamos Pingo no banco, eles tinham Pimentinha.

Se no comando deles estava Lisca, no nosso havia Sérgio Guedes.

Inventário de mazelas

Sabe o que é mais difícil na hora de escrever sobre mais uma humilhação como essa que a torcida do Santa passou na Copa do Brasil? É que a vontade é de descer a lenha em tudo, em todos, dar o maior pau em qualquer um que tenha que a gente acha que tenha um pouquinho só de culpa.

O risco é de fazer uma lista, um texto sem pé nem cabeça, um inventário de mazelas cheio de choramingos, incapaz de proporcionar um mínimo de prazer a quem o lê. Um texto caga-raiva, na linguagem chula. O problema é que somos mesmo bastante chulos, reconhecidamente chulos, vulgares até a válvula mitral, que fica entocada no coração. Por isso, daqui em diante vai ser só lapada.

A começar pelo pseudozagueiro que encontraram jogado na lata de lixo nos fundos da sede do Flamengo. Jogador profissional que tira a bola da área dando um passezinho cafofo pro meio só pode estar de sacanagem. Fiquei com uma vontade danada de fazer uma postagem dedicada exclusivamente para ele. Mas, convenhamos, seria perder tempo demais com um sujeito destinado ao esquecimento. E, além do mais, seria injusto.

Afinal de contas, como não falar mal do entregador de camisas? O cabeludinho anacrônico passou a semana toda pensando nas piores opções e em como não surpreender o adversário, em como não constranger o visitante. Infelizmente, ele alcançou seus objetivos quando abriu mão da regularidade de Danilo Pires e se agarrou com a inconstância de Pingo, um atacante cujas boas jogadas não passam de surtos, episódios raros, ilhas num oceano de ruindade.

Quando vejo Sérgio Guedes reclamando que o time está sonolento, eu, não sei porquê, só lembro da decisão do campeonato pernambucano de 2013. Lembram que ele era o técnico do Sport? Lembram como o time dele, que precisava ganhar de todo jeito, começou o segundo jogo na maior lerdeza e só acordou para Jesus quando Caça-Rato deixou o goleiro com a bunda no chão?

Pois é. Talvez Sérgio Guedes dê sono.

Já que o assunto é o técnico, gostaria de entender um negócio. Para que insistir em Renatinho improvisado se importaram dois laterais-esquerdos, o tal Julinho e Zeca, que só ontem foram me contar que permanece no clube? Se os caras não prestam, mandem embora e pronto, ora essa. Renatinho não entende nada de marcação, nem tem ideia do que se trata. Se fosse no dominó, era capaz de marcar o parceiro.

Renatinho, pobre coitado, é só parte do problema. A defesa toda é que é tá de lascar há um tempão e ninguém ajeita. Por sinal, esse seria outro assunto que rendia um texto enorme. Sinceramente, talvez o problema não seja ruindade só dos jogadores, mas de quem comanda os treinamentos dessa turma.

Teve uma hora que eu tava puto com Sandro Manoel, um volante que está perto de se tornar o maior especialista brasileiro em recuar a bola e dar passes para trás tão milimétricos quanto inúteis.

Comentei com um velho conhecido das sociais e de Olinda, o senhor Cássio, que talvez fosse melhor ele jogar de costas, aí quando pensasse estar recuando, estaria dando um passe para os meias ou atacantes. Cássio me corrigiu, disse que Sandro Manoel estava mesmo mal posicionado, mas que ele deveria jogar mais à frente, com Everton jogando meio de terceiro zagueiro. Não sei se é verdade, mas como meu amigo é engenheiro, entende de cálculo mais do que eu, achei melhor deixar pra lá o texto sobre Sandro Manoel.

De quem mais poderia falar mal? Do rebolador Carlos Alberto? Das pipocadas de Natan?

O que eu queria saber mesmo era quem vai pagar a conta do prejuízo. Espero que, amanhã ou depois, não me apareça um dirigente pedindo para a torcida comparecer, convidando para jantar de adesão a 200 contos, que o clube não vai conseguir fechar as contas, que a folha salarial está alta etc etc etc.

Depois de ontem, acho que o Santa Cruz está nadando em dinheiro. Jogaram foram, mais ou menos dois milhões de contos de réis, incluindo arrecadação de um mata-mata contra um time do sul, prêmio, cota de patrocínio. Talvez seja hora de fazer outro tipo de cálculo: em vez de não gastar um tostão e economizar no zagueiro ou no treinador, quem sabe não fosse melhor gastar esse tostão para ganhar três ou quatro mais adiante.

Pronto, acho que detonei tudo o que tinha para detonar numa tacada só. Sem poesia, sem lirismo, sem grandes arroubos literários, mas com muita tristeza.

Ah, ia esquecendo de alguém: o que é Adilson? Quem foi o empresário que botou no Santa Cruz um atacante que, em 2013, fez quatro gols jogando pelo XV de Pracicaba? Eu falei quatro (4, four, um-dois-três-quatro). Para poupar os tricolores, a edição do Globo Esporte não levou ao ar uma tentativa de voleio dele, aos 46 do segundo tempo, quando ele estava sozinho na grande do Cais de Santa Rita. Quase que acerta a própria cara com uma joelhada. Foi engraçado. Mas deu vontade de chorar.

Texto revisado e ampliado às 16h47min de sábado, 16 de agosto.

Longe de casa

Eu nunca fui muito chegado a esse negócio de dias dos pais. Aliás, sou arretado também com tudo que é dia. Das mães, das crianças, do natal, do amigo, da avó, de não sei que lá. Como diz meu pai, isso tudo foi inventado pro comércio vender, pra estourar o cartão de crédito do povo e pra todo mundo ficar estressado. Sim, essa quase obrigação que nos impõe de ter que presentear e ter que estar junto é o que me invoca.

Meu pai mora aqui em Recife. O pai da minha mulher mora na área rural de Bezerros. Tenho uma irmã que mora em Carpina. Além da minha esposa, meu sogro tem mais uma filha e um filho, ambos moram em Recife. E pra finalizar, o sogro do meu cunhado mora em Passira.

Dá pra imaginar a dificuldade para resolver essa logística.

Este ano, ficou decidido que iríamos fazer um churrasco no sábado em Bezerros  e no domingo desceríamos a Serra para almoçar em Carpina. Desta forma, a ida ao Arruda para ver o jogo foi pro beleléu.

Minha sorte é que a família toda é tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda. Aí, apressamos os comes e bebes para dar tempo de assistir ao jogo. Precisamente às 16h23 minutos estávamos entrando no Bar Lá em Casa, em Bezerros. Um lugar pra lá de simpático que Julio Vila Nova nos apresentou outro dia. Carne na brasa, cerveja Original gelada com preço de Skol, caldinhos e o melhor, reduto de torcedores do Santa. A começar pelo proprietário do estabelecimento. Se não me engano, o nome dele é Beto.

O primeiro tempo não foi lá essas coisas. Joguinho feio. Sem maiores emoções. No intervalo surge a primeira opinião interessante. Um cidadão de bigode, na faixa de uns cinquenta anos, dispara: “esse jogo está mais feio do que a minha finada sogra. Feia era ali”.

Pedimos dois caldinhos de feijão e outra Original. Na mesa ao lado, uma coroa dava beijos e abraços em um boyzinho.

O jogo recomeça. Thiago Cardoso faz um defesaço. Meu sogro já vai em quase uma carteira de cigarro. Everton dá um passe errado. O cidadão de bigode comenta: “a pior coisa que tem é o individuo querer ser o que não é”. O amigo dele completa: “isso é uma murrinha. ele pensa que sabe jogar”.

Uma chuvinha fina começa a cair. A televisão mostra o toró lavando o Arruda.

Keno parte com a bola, dribla metade do time alvirrubro e faz um gol de craque.

O Lá em Casa quase veio abaixo.

“É gol, fí de rapariga”. “Eu já tava pra esculhambar esse tal de Keno”. “Trás uma lapada de cana que eu agora me animei”.

A coroa pediu uma dose de Teacher, uma cerveja e tacou um beijo no boyzinho dela. O rapaz era só felicidade.

O alvirosa vem pra cima. Thiago Cardoso vai segurando e garantindo a rapadura. E aí, brilha a estrela de Léo Gamalho. Primeiro dar um passe para Wescley fazer o segundo gol. No Lá em Casa, Bezerros está em festa. Gritos, brindes, apertos de mãos, abraços e beijos.

Depois, nosso atacante deixa Carlos Alberto na cara do gol. O meia chuta pra fora. “Gol feito não pode ser perdido”, sentenciou o dono do bar. “Isso é miserave”, condenou Bigode.

Por fim, Léo Gamalho lança primorosamente para Wescley que dribla dois marcadores e fecha o caixão. 3 a 0. “Esse Leo Gamalho é um febrento. é a bobônica”, alguém elogiou.

Nesta quarta, de novo, estarei longe do Arruda. Desta vez por causa de compromissos profissionais.

Se tudo der certo, vou acompanhar o jogo no Bar Raízes, em Brasília. Tomando caipirinha, saboreando arrumadinho e batendo papo com Pablo e cia.

Espero que o Santa Cruz junte mais uma vitória.

 

 

 

Do tédio ao êxtase

Amigos corais, esse estádio do Arruda é um grande mistério da civilização ocidental. Tudo pode acontecer nele, durante aquelas horas sagradas que envolvem o antes, durante e depois de uma partida do nosso Santa Cruz.

Vou citar o meu caso, que é o mais fácil de contar.

O sábado começou com uma novidade. O Dia dos Pais, que é mundialmente celebrado no Domingo, foi antecipado para o sábado. Isso existe? Claro que a decisão familiar afetaria profundamente minha preparação física e psicológica. Fui lá, com minha mulher, dar o abraço no seu pai, que por sinal é tricolor. Estavam todos, a conversa animada, mas a frase necessária – “o almoço está servido” – só foi dita às 13h50.

Fui quase desagradável. Só esperei alguém fazer o primeiro prato que  avancei. Diria que furei até a fila do idoso, na minha ânsia de ir ao Arruda. Comi quase com deselegância, quase sem mastigar. Terminei, me despedi de todos e fui à luta.

Cheguei naquela rua perto do Extra, fui para a parada de ônibus, cada um que passava mais entupido de torcedores. Muitos resolveram viajar no teto dos coletivos, num projeto suicida de rara intensidade. Passaram cinco ou seis, dei a mão para sete ou oito taxistas e já me preparava para o pior – chegar ao Arruda após o início do Jogo.

Vou andando cabisbaixo, chutando pedrinhas, pensando “pôxa, bem que poderia aparecer uma carona”, quando pára um carro desses bem legais, com tração nas quatro rodas e a buzinada redentora. Um vidro baixa e a mulher diz a frase mágica da Língua Portuguesa:

“Queres carona para o Arruda?”

Quase chorei de emoção. Ao volante, a senhora Elizabeth e a filha, Amanda. Atrás, Ozineide, irmã de Elizabeth. Iríamos pegar Ceça, outra da turma. Ozitene, que completa o quinteto de mulheres entre os 20 e 60 anos (creio) que vão ao Arruda juntas, de carro, faça sol ou faça chuva, teve algum problema e não pôde ir.

Ozinete, obrigado por não ter ido, fato que proporcionou minha carona e minha crônica semanal.

No caminho, conversamos muito. Elas sabem mais sobre o Santa do que eu, Inácio e Gerrá juntos.

“Esse treinador está caçando Caça”, lembrou Ceça, que sentou ao meu lado.

Ozineide estava preocupada com o jogo ruim do time.

“Está pior do que na televisão”.

Elas contaram das viagens juntas, dos jogos, já foram até à Arena, naquele fim de mundo.

Dez minutos antes do combinado, cheguei ao apartamento de Inácio. Mais quinze de caminhada, paramos para uma cerva e depois fiz algo que não é de costume – fui ver o jogo nas sociais.

O gringo

Dei sorte. O portão para a arquibancada inferior estava aberto. Chegamos ao “Ventilão”, espaço lá em cima, onde estavam K2, Kiko, Fabiano, uma amiga e um sujeito de uns dois metros, branco, forte e sorridente. O sujeito falava inglês e parecia feliz.

Ele é irmão de um pianista famoso, que iria se apresentar no Santa Isabel domingo. Veio com o irmão para curtir o Brasil. A amiga, da produção do evento, era a cicerone. Os dois falavam um inglês perfeito, mas sem legenda. Eu só escutava e lamentava o que via em campo.

Ô jogo desgraçado.

“Eu quis mostrar um jogo de futebol, então trouxe para a torcida do Santa. A do Náutico é muito morgada”, disse minha amiga, torcedora do Náutico.

Kiko, ao meu lado, só blasfemava. Que era o pior jogo que tinha visto na vida. Que aquilo era uma desgraça. Que os caras não acertavam um passe. O mais dramático dos torcedores corais, o mais shakespereano, era o próprio Othelo. Eu esculhambava aquele preguiçoso do Keno, que ficava dando pedaladas num velocípede que não existia, até perder a bola. Fiquei implorando pelo retorno de Caça-Rato

Foi um primeiro tempo de doer na alma coral. Mas o gringo parecia feliz da vida. Falava sem parar. Ele se chama David, creio. É sobrinho do David Coperfield e primo do David Berkamp.

Até que o veio o segundo tempo. Lá pelas tantas, o Keno pega a pelota na esquerda, sai pedindo licença, ops, por favor, dá para fastar, vai tirando toda a defesa do Náutico da frente, eu começo a gritar “vai ser o gol da década, vai ser o gol da década”, ele dribla o diretor de futebol, o roupeiro, o massagista, dribla os reservas, os conselheiros do Náutico, até que chuta rasteirinha e a pelota balança a rede.

O Arruda mergulhou numa dessas explosões que deixam o mais cético em êxtase. Um golaço para abrir os caminhos da goleada.

A massa coral se abraçava, pulava, cantava. Olhei para o gringo. Estava num estado de perplexidade completa.

Depois vieram outros dois golaços. O David passou a ser parte da torcida. Teve uma hora que foi tratado como talismã, porque deu sorte.

Não sei o que aconteceu com vocês, mas eu saí do estádio em transe, de tanta felicidade.

Foi uma dessas tardes no Arruda que parece caminhar para o tédio, a irritação, o futebol meia-boca.

Vi crianças cantando no ombro dos pais, o gringo cantando o hino do Santa desde criancinha e lembrei das minhas amigas que me deram carona na ida.

Deviam estar do mesmo jeito que eu – em êxtase.

Arrogância mata. Jumentice também

O pior não é Everton Sena ficar com cara de pomba-lesa depois de tudo quanto é gol sofrido.

O pior não é Tiago Cardoso não saber se fica ou se sai.

O pior não é o paredão –de novo ele – cometer o pênalti mais previsível do mundo.

O pior não é Pingo desperdiçar uma bola atrás da outra.

O pior não é Danilo Pires dar uns balões doidos e pensar que finalizou um lance.

O pior não é Renatinho subir e não ficar ninguém na cobertura.

O pior não é Toni só voltar para marcar quando lhe dá telha.

O pior não é Sandro Manoel armar os contra-ataques dos adversários.

O pior não é perder.

O pior mesmo, mas o pior de verdade, é a arrogância.

Porque o problema não é tão somente “sono”, como não se cansa de repetir o pobre coitado que faz comentários para a Globo. Nem é apenas “desinteresse”, como lamentou nosso desnorteado treinador no intervalo do jogo de ontem.

A sonolência e a falta de tesão são, em minha humilíssima opinião, as formas com que a prepotência do time  coral se manifestam. Pelo menos essa é a minha impressão, opinião de quem está longe e que pode estar enganado.

O Santa Cruz está repleto de jogadores que, ou se acham a bala que matou Kennedy ou confiam demais nos serviços prestados em 2011, 2012 e 2013 e na paciência da torcida. Carlos Alberto, Nininho e Toni, por exemplo, enquadram-se no primeiro caso. Everton Sena e Renatinho, no segundo.

O time joga com times desconhecidos ou mais modestos como se pudesse ganhar a qualquer momento, basta querer e pronto, estaria resolvido o problema. “Não ganhamos fora de casa no final de semana? Vamos ganhar hoje porque somos melhores do que esses matutos”. Aposto que isso seria o que um telepata captaria da mente dos nossos jogadores antes da partida de ontem.

Bastou Léo Gamalho virar o jogo para o time todo subir no salto novamente. De repente, voltaram a ser as mesmas bailarinas do primeiro tempo.

E trata-se de uma arrogância burra, estúpida mesmo. Eles já deviam ter aprendido. Entraram do mesmo jeito contra o Vila Nova. Perderam. Também foi assim contra o Lagarto, de Sergipe. Complicaram um jogo baba. Em Vitória da Conquista, a mesma coisa. Contra o Salgueiro no estadual. Perderam. Contra o CSA. Lapada.

Foi a arrogância que nos eliminou da Copa do Nordeste de 2014, indo para cima do Sport como se nosso time fosse um esquadrão imbatível, e depois nos tirou da próxima.

Lamento muito o que vou dizer agora, mas isso não me sai da cabeça: a arrogância do time do Santa Cruz chega a parecer a arrogância rubro-negra de até pouco tempo atrás.

Aí dentro, Sérgio Guedes!

Interrompi minhas férias e fui ao Arruda. Depois da copa das copas, esta foi a segunda partida que assisti do Santa Cruz.

Vi o jogo contra o Vasco e este de hoje.

Meus amigos, há algo de errado no paraíso.

Treinamos uns 40 dias, fizemos alguns amistosinhos, tivemos uma intertemporda que, tivesse seguido o rumo natural das coisas, serviria para melhorar ainda mais nosso futebol. Sim, de quebra contratamos alguns atletas para reforçar o elenco.

Antes do mundial, éramos um time invicto. Levávamos  poucos gols. Depois da copa, estamos com uma média de quase três gols levados por partida. Tenho pra mim que hoje somos os reis dos lances bizarros na defesa. Nosso sistema defensivo, parece o ballet da turminha do infantil 2.

Pelo visto, nossos jogadores não estão entendendo nada que o treinador fala. Acho até que o próprio Sérgio Guedes não entende direito o que ele diz.

Fico aqui pensando, como é a preleção deste indivíduo. Deve ser uma conversa de doido.

“Sena, a bola virá de todos os lados. Está é a dinâmica do futebol. Quem cuida deste setor, o da defesa, precisa estar atento aos bombardeios campestres e aéreos. Suas velocidades, parábolas e perpendicularidades. Quero você ligado e aceso, para no final termos o orgulho de sacramentar a objetividade do que queremos construir. Entendeu?”

Everton Sena: “Oxi!”

“Sandro, temos a expectativa de cobrir bem os alas e uma preservação dos elementos expoentes que estão na retaguarda. Além de possíveis armações no contragolpe. Então, é de extrema necessidade que joguemos de maneira compacta e composta, a fim de que, aquela expectativa e preservação, estejam de comum acordo. Ok?”

Sérgio Manoel: “agora lascou!”

“Léo, na conjuntura de ataque, estão os defensores adversários. São supostas barreiras que deverão nos enfrentar e com isso há um contrapartida de um estímulo adverso. Nós que fazemos parte do loteamento que está dentro do campo adversário, temos que plantar nosso esquema para ultrapassar barreiras. Beleza?”

Léo Gamalho: “hein?!”

Hoje, voltando do jogo, escutei parte da entrevista que o Sérgio Lero-Lero Guedes. Ao falar do nosso desempenho, ele disse mais ou menos assim: “perdemos para um time mais canchado, que soube administrar o resultado”. E ficou repetindo essa história de canchado. “A equipe deles é mais canchada do que a nossa”. “Canchado isso…”. “Canchado aquilo…”.

Quando perguntado sobre as falhas da defesa, respondeu: “isto é uma preocupação que eu passo a ter”.

Pois é, depois de levar onze gols em quatro jogos seguidos, ele passa a se preocupar com a defesa.

E falou outras besteiras.  Depois de umas três respostas, mudei a estação do rádio. Preferi música estrangeira.

E fiquei cá comigo matutando. Se eu encontrasse o treinador, diria a ele: “aí dentro, Sérgio Guedes”.

Vou curtir minhas férias que é melhor.

No nada para lugar nenhum

Amigos corais, estava em Garanhuns sábado, naquele friozinho que é na medida, liguei para um amigo para assistirmos ao jogo do Santa em algum lugar legal, mas acabou dando errado e assisti na casa do sogro, que também é tricolor.

A única novidade deste jogo em que perdemos para o lanterna da Série B por 3 x 2 foi esta – assisti na casa do sogro, em Garanhuns.

O resto foi aquele marasmo coral que já começa a me preocupar. Entramos no recesso com 7 empates e três vitórias, saímos dele com duas derrotas em dois jogos, com um buraco na rede maior que as contas da Previdência – 7 gols em dois jogos.

Nada de novo. Nosso treinador continua a dar umas entrevistas que nem minhas leituras do filósofo alemão Nietzsche consegue decifrar. Ele gosta de desenvolver um pensamento na integralidade, fala de conceitos que vem desenvolvendo ao longo das últimas décadas, mas eu botaria umas boas doses de esporros na conversa, a la Muricy Ramalho. Essa conversinha mansa, educada, explicações em cinco parágrafos, não servem para um time de massa como o Santa. De educado, já basta o presidente. Só o vi engrossar mesmo num debate na TV Globo, numa das eleições que era candidato. Mas foi só contra outro tricolor. Depois voltou à calma de sempre.

Ali na beira do campo, meu amigo, tem que gritar, espernear. Teve algum problema com o árbitro, o nosso treinador, passou uns 13 minutos fazendo uns afagos no quarto árbitro, talvez pedindo desculpas e já com remorsos. Nunca vi tanta gente educada no Santa. Teve um jogador, ao final do jogo contra o Vasco da Grama, que chegou a afirmar que o time tinha feito um bom jogo. Ok, meu jovem, mas um bom jogo que termina num vareio de 1 x 4?

Nada de novo na zaga, que mais pode ser batizada de “ninguém se entende”. O primeiro gol do Vila Nova foi com uma bola que atravessou o Buraco da Previdência que é nosso miolo, o sujeito só fez correr e tocar com o bico da chuteira. No último, a bola cruzou a área inteira, a bola ficou pedindo “me chuta, me chuta” e o sujeito do Vila Nova foi o único que escutou o pedido. O Renan Fonseca há tempos não é mais o mesmo zagueiro.

Nada de novo no ataque. Nosso Gamalho está mesmo precisando de um banho de sal grosso. Não faz gol desde a reinauguração do Arruda, em 1972. O que entrou no lugar dele perdeu uma cabeçada sozinho, com a barra mais aberta que os financiamentos das empreiteiras para as campanhas.

Fica então a informação. A única novidade neste Santa pós-Copa do Mundo é que assisti meu primeiro jogo na casa do sogro, em Garanhuns. É uma informação inútil como esse joguinho meia-boca do Santa, que vai nos levar para um lugar bem conhecido.

Se continuarmos assim, vamos rapidinho do nada para lugar nenhum.

A bola nossa de cada dia

Onde foi mesmo que a gente parou? Sete empates encangados e três vitórias encarrilhadas. Time invicto, do meio para cima da tabela, algumas contratações e as velhas esperanças de sempre.

Voltamos amanhã às nossas saborosas imperfeições, ao futebol para quem gosta de futebol. A partir de agora, quem estiver a fim de entretenimento, vá ao teatro, vá ver Planeta dos Macacos no cinema do shopping. Porque o futebol nosso de cada dia é para quem não tem medo das viver as emoções totais e absolutas, sem meio termo, sem maquiagem. 

O sofrimento que nos espera a partir de agora poderá, finalmente, ser traduzido nos piores e mais terríveis palavrões, em pé atrás do gol, sem que ninguém peça para o sofredor sentar. A glória que está reservada é a glória cotidiana, aquela que nos diz respeito. Nada de deuses do Olimpo, de declarações polidas pelos relações públicas, nada de metrossexuais estupidamente bilionários.

Agora, somos obrigados a admitir: a Copa do Mundo deixa um legado. O Blog do Santinha descobriu como fazer bolões em sites especializados e vai repetir a dose na Segundona. Criamos o Bolão do Acesso Coral, com todos os jogos da série B. O bolão é aberto ao público, só precisa fazer um cadastrozinho de nada (quem participou do bolão da Copa, nem disso precisa). O link é esse aqui: http://www.vippredictor.com/pt-BR/Group/Index/67925

Vamos providenciar prêmios para os três primeiros colocados (Gerrá e Samarone não gostaram da minha ideia inicial de dar um CD da Minha Cobra para o primeiro lugar, um CD da Minha Cobra para o segundo lugar e um um CD da Minha Cobra para o terceiro lugar).

Por falar nisso, o ganhador do bolão da Copa foi Carlos Eduardo Campos, que vai receber um livro da Trilogia das Cores devidamente autografado pelos blogueiros autores. Vamos combinar para entregar o livro para ele no primeiro jogo do Santa dentro de casa com o acesso liberado para a torcida.

 

Agora é o Santa Cruz, Presidenta!

Pra nós que fazemos o Blog do Santinha, eu, Inácio e Samarone, a copa acabou. Agora é o Santa Cruz. É Dilma fazendo o T e nós também.

E aproveitando essa onda de apostas e bolões da copa, estamos pensando em fazer um bolão para o restante da série B. Amanhã, estaremos reunidos para definir as regras e a premiação.

Sobre a lapada de hoje, este histórico 7 a 1 que tomamos da Alemanha, só temos a dizer que foi uma vergonha (eita rimazinha medíocre).

 

Marlene e a joelhada

Lendo algumas matérias, vendo alguns programas, até parece que o garoto Neymar vai se aposentar por invalidez.

É lamentável o que aconteceu, é claro. Mas esse dramalhão que estão criando como caso, já encheu o saco até de Marlene, a nossa empregada.

Assim como milhões de brasileiros, Marlene não entende porra nenhuma de futebol. Não sabe o que é impedimento, nem o que é um tiro livre indireto, nem quantas substituições uma equipe pode fazer no decorrer da partida.

Mas isto é o que menos importa.

Marlene torce feitou uma louca pelo Brasil. Dia de jogo, ela enfeita a casa, prepara uns brebotes, compra umas bebidas e faz a festa. Derrama lágrimas quando assiste na televisão a torcida canarinha cantando o hino nacional.

Marlene também torce pelos africanos. Segundo ela, seus bisavôs por parte de pai, são filhos de escravos e vieram da África.

Voltemos à contusão de Neymar.

Não acredito que o objetivo do colombiano era quebrar uma vértebra do rapaz. Por outro lado, não tenho a menor dúvida que o tal do Zuñiga  deu aquela entrada com a intenção de tirar nosso atacante do jogo. Já haviam usado recurso parecido,  na partida contra o Chile, pelas oitavas de final. Naquela peleja, foi pancada em cima de pancada, até que conseguiram acertar um tostão na perna de Neymar que o fez mancar o resto do jogo.

Tem gente por aí, dizendo que aquela jogada é comum no futebol. Sim, concordo. E acrescento mais algumas que são comuns, porém proibidas: dar cusparada. Pisar no pé. Meter o dedo no fiofó do adversário. Bater no tornozelo. Tostão. Entrar de sola. Dar cama de gato. Chegar junto no joelho. Pé no bucho. Mão na cara. Etc e tal.

Hoje pela manhã, tomando café, consultei Marlene.

– Marlene, e Neymar? Tu visse?

– Coitado! – ela disse.

– Um amigo meu acha que aquilo foi uma jogada normal…. – eu falei.

– E foi? – ela perguntou em tom de deboche.

– Foi. Tu tás vendo? – eu dei corda.

– É cada uma que a gente escuta. Pimenta no oiti dos outros é tempero.

Minha pequena interrompeu a prosa e perguntou:

– Mamãe o que é oiti?

– É uma fruta, minha filha. – Alessandra respondeu.

Marlene continuou.

– Queria ver se aquela voadora fosse nas costas do seu amigo, se ele iria dizer que é normal. Eu dou duvida que ele ía dizer.

– Mas tu acha que foi sem querer? – eu perguntei.

– Sem querer? Se aquele mau-elemento daquele time das Colômbia não entrou na malícia, eu xoxe. – ela afirmou.

Alessandra aproveitou o embalo e emburacou na conversa.

– Ei Marlene, mas tu não chorasse, não, né?

– Chorei não Dona Alessandra. Aquilo que aconteceu é de futebol, mesmo!

Fez uma pausa e resmungou;

– Eu já tou é abusada de tanto ver essa história de Neymar.